Ólh’as n’tícias fresquinhas, freguês!
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Parte 1
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A mentira piedosa é um direito universal do homem. Sobretudo do homem, o eterno iludido que, a leste do comborço, se orgulhece, por cima da divisória de vidro, para o colega de escritório: “a minha esposa, de lingerie Damaris [1], se enfarpela prá lida da casa!”. Que jura, rejura, trejura “não me enganas mais!” [2] no contexto doméstico e, com texto, lhe lancham as papas na floresta da cabeça. Não, que todos, – 91 –, os jornalistas falhem o teste de stress da Avelina [3], a sua benigna função compagina-se, na Page 3 Girls [4]. O leitor assenta-se no seu banco privado, por 0. 50 €, ao lado de uma água Perrier, cortesia de Dita Von Teese, e acede… ao essencial: “Flesh”! ao real rabo da princesa Beatrice [5]. Fora do essencial, estiraça-se uliginosas folhas enfatuadamente denominadas: jornalismo sério, “Oh Baby!” [6]. Sérias são as actrizes AV japonesas, o jornalismo “sério” moderno embeleca, é uma estória de corno: o consumidor de notícias é o último a saber. – Todavia… vale a pena se os média oferecer um Seat.
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[1] Damaris Evans fundadora e designer das marcas de lingerie Mimi Holliday e Damaris.
[2] Nos “Morangos Com Açúcar”, mais do que uma série de TV: a serralharia das novas gerações de artistas lusitanos e de modelos comportamentais dos jovens anónimos.
[3] “… são todos uns estupores, cada um à sua maneira” – certeira avaliação psicológica, escrita por Avelina no seu diário, sobre os vários elementos habitando a casa da Dona Carmindinha e do Dr. Cardoso quando, vinda das Bouças, para lá foi servir: José Vilhena em “Avelina”.
[4] Ou outra qualquer página: top 5 dos jornais.
[5] Filha da duquesa de York, Sarah Ferguson, abarrota o biquíni, desenche-o para a maratona de Londres, a irmã, a princesa Eugenie, também empanturra um estrelas e riscas, e salta fora das roupas pra desbundar com as colegas, entretanto a mãe encarraspana-se.
[6] Ana Bloom, certeza no airplay das rádios, nascida no Porto, em 1989, estudante do curso de Fotografia, na Escola Artística Soares dos Reis.
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A modernidade do jornalismo abasteceu uma necessidade de mercado, circunscreveu-a o sociólogo americano Robert E. Park: “na realidade, o motivo pelo qual temos jornais, no sentido moderno da palavra, remonta ao facto de, há cerca de cem anos, em 1835, para ser mais preciso, em Nova Iorque e em Londres, alguns proprietários de jornais terem descoberto: 1) que a maior parte das criaturas humanas, por muito pouco que soubessem ler, achava mais fácil ler as notícias do que os artigos de fundo, e 2) que o homem comum prefere ser ajudado a passar o tempo, mais do que ser edificado”. Os içados temas: o debate constitucional, o debate do Estado social, o debate do défice, ou outro debate: por que razão, sociológica ou metafísica, no Coração de Jesus, se concentra o maior número de castas pécoras: Cheila, Bianca, Madalena Moreno, Gabriely, Helena Portuguesa, Thalita Sales?… não carburam o consumidor de notícias, que esputa por “passar o tempo”: enfiar o seu boné TV e ver “Little Obama” (2010), o karaté kid da Indonésia.
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(Uma piedosa mentira foi posta a circular por arraposados políticos: “sem a adesão à U. E. teria sido muito pior”, seria um “Kick in the Teeth” (dos Papa Roach), um cataclismo para Portugal, no afrontamento da “crise”. Não estofamos para, como o Dr. Salazar, em 1965: “combatemos sem espectáculo e sem alianças. Orgulhosamente sós”, combatemos com espectáculo e acompanhados. Recebemos 50 mil milhões de fundos de compensação pelo atraso logo, 20 anos depois, temos fábricas, empresas, agricultura, pescas, uma boniteza! Não fosse a adesão (1986) chapuzaríamos no défice da balança pagamentos, na dívida soberana, nos impostos altos, no desemprego, na pobreza, em auto-estradas. Fanal do nosso futuro, a Europa veleja por nós. Oli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos, vapulou: “ambos os países (Espanha e Portugal) anunciaram, ou irão anunciar, reformas estruturais substanciais, mais deverá ser feito, e encorajo ambos os países a continuarem com as reformas estruturais, por exemplo, no mercado do trabalho e no sistema de pensões, com a determinação necessária nesta situação sensível”. Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, negou mais vezes do que uma esposa apanhada em flagrante: “não, não, não, não, não, não, não vou comentar isso, mas estou certo que ele não, não, não estava a pensar em Portugal, quando se referiu à reforma da Segurança Social. Estou certo que não é em Portugal que ele estava a pensar”.
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No balancete dos 900 anos: estamos muito melhor do que os indonésios que, por um erro de cálculo, rezavam virados para a Somália e não para Meca. Nós, no mínimo, rezamos para o lado certo).
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[Os grandes espíritos da sua (deles) geração infundem entesoirados modelos no povo comum e fecunda inspiração* nos artistas. Um desses picarotos civilizacionais foi Alberto Gonzales: Procurador-Geral da administração Bush, prestidigitou legislação para a extracção “não torturante”, nas prisões secretas, de informações dos terroristas e não terroristas, caçados pelos marines e serviços secretos. O copyright “não tortura” ferreteia a superioridade ética da América mas, perante as comissões do Congresso, Gonzales não se lembrava de corno, e ouvia-se-lhe lotes de: “I Don’t Recall”. Esta decorosa amnésia** artificiou uma cantata, composta por Melissa Dunphy – Twitter. – Outro cume da Civilização é Richard Nixon, presidente fabricante de cassetes, onde discutia assuntos de política ou sociais, como: as semelhanças das suas convicções (transcrição) e as de Archie Bunker sobre a homossexualidade, na visita de Roger, um amigo de Mike e Gloria, com aspecto rabichola, regressado de um país de rabetas: a Inglaterra, num episódio de “All in the Family” (1971-1979); ou o “espertalhaço son of a bitch” do Pierre Trudeau, quando o primeiro-ministro canadiano lhe foi implorar menos proteccionismo aos produtos americanos ou o défice do seu país ia pràs focas. A sua viagem à China florejou na Ópera “Nixon in China” de John Adams: na sequência do “estudo” preliminar The Chairman Dances” (1985) – com libreto de Alice Goodman, estreada na Houston Grand Opera a 22 de Outubro de 1987, produzida por Peter Sellars, coreografada por Mark Morris. Comentada pelo compositor e apresentada por Walter Cronkite, ela pode ser apreciada, como todas as Óperas devem ser apreciadas, como o pão Bimbo, “youtubisticamente” cortada: fatia 1 ◙ fatia 2 ◙ fatia 3 ◙ fatia 4 ◙ fatia 5 ◙ fatia 6 ◙ fatia 7 ◙ fatia 8 ◙ fatia 9 ◙ fatia 10 ◙ fatia 11 ◙ fatia 12 ◙ fatia 13 ◙ fatia 14 ◙ fatia 15 ◙ fatia 16 ◙ fatia 17.
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* David Kelly, o assessor em armas biológicas iraquianas do Tony Blair, que denunciou os relatórios “apimentados” – engulipados e perfilhados pelo Durão Barroso – para manipular, os eleitores ingleses, no assentimento da invasão do Iraque, também teve direito aos seus 15 minutos de Ópera, na Escócia; “A Morte de um Cientista”, com libreto de Zinnie Harris e música do seu marido John Harris, sobre os momentos finais da sua vida: a entrada no bosque de Harrowdown Hill, a ingestão do analgésico Co-Proxamol e o golpe no pulso esquerdo, com uma naifa que possuía desde adolescente (a versão governamental da sua morte em 2003).
** A amnésia inspirara Peter Gabriel no álbum “Peter Gabriel (3 ou Melt)” (1980); e é uma discoteca a bombar em Ibiza].
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[Midnight Special (1972-1981) – programa de pop rock da NBC, das noites de sexta-feira, inovador. Primeiro, no início dos anos 70, as estações de TV não emitiam 24 horas , encerravam a programação com a mira técnica, quando Burt Sugarman propôs um programa de 90 minutos para as 01:00 horas, a NBC torceu o nariz. Ele compra o espaço, patrocinado pela Chevrolet e, com o sucesso da ideia, a estação destorce o nariz comprando o programa; segundo, contra o usança do playback, os grupos e artistas actuavam ao vivo:
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Doobie Brothers ◙ Jerry Lee Lewis ◙ New York Dolls ◙ Wilson Pickett ◙ Edgar Winter ◙ Electric Light Orchestra ◙ Argent ◙ Badfinger ◙ Chuck Berry ◙ Bee Gees ◙ Billy Preston ◙ T. Rex ◙ Aerosmith ◙ Ike & Tina Turner ◙ KISS ◙ Peter Frampton ◙ Kraftwerk ◙ Guess Who ◙ Steve Miller ◙ Electric Light Orchestra ◙ Earth, Wind & Fire ◙ Manfred Mann’s Earth Band ◙ Gladys Knight and B.B. King ◙ Vicki Sue Robinson ◙ The Sylvers ◙ Fleetwood Mac ◙ Heart ◙ Thin Lizzy ◙ Gary White ◙ KC and the Sunshine Band ◙ Bay City Rollers ◙ Donna Summer ◙ Rick James ◙ LeRoux ◙ Cheap Trick ◙ Ted Nugent ◙ The Cars ◙ Blondie ◙ Blondie ◙ The Pointer Sisters ◙ Journey ◙ Andy Kaufman].
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[Na época do choque de gerações, as fronteiras auditivas delimitavam-se por escalões etários: para os velhos, música era… Florbela Queiroz; para os novos… Arthur Brown. O programa de TV alemão Beat-Club (1965-1972) foi o mostruário da música popular anglo-americana: desfilou todos os ídolos, que os jovens europeus apenas sonhavam, em posters e capas de discos; na Era seguinte, das gajas boas e cabelos lacados, alterou o seu nome para Musikladen (1972-1984): transmitiu a bailarina de blusa transparente no “Funkytown” (1980) dos Lipps Inc e sim! o indeclinável A Flock of Seagulls. No final da década de 80, escovado o “peace and love” hippie e o “no future” punk, o telespectador espertou para o importante: carne e dinheiro: estrelou na altura “Colpo Grosso” (1987-1991), – em Portugal “Água na Boca”, na SIC, aos sábados à noite, no Brasil “Cocktail”, – um concurso com strip, de uma mulher e de um homem, para ganharem bago, e as frutescentes Cin Cin Girls:
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– uma delas, Zara Whites, holandesa de olhos verdes, nome verdadeiro Esther Kooiman, provinda de uma carreira nos serralhos de Roterdão, enquanto “ragazza cin cin” amantiza-se com um conde italiano; após a separação, desloca-se para Paris, para o sucesso na indústria porno, em França e nos Estados Unidos. Estabelecida em Paris, em 1992, descarta o hardcore de penduricalhos pelo hardcore berbigão, filmando somente cenas lésbicas, como em: “La Dresseuse” (1998) de Alain Payet – até se retirar em 2001. Vegetariana e ambientalista concorre nas legislativas francesas de 2007 com o nome de Esther Spincer e despiu-se, retalhada como uma vaca, para a PETA. É bloguista e autora do livro “Je Suis Zara Whites... Mais Je Me Soigne” (2006): crónica “da sua infância turbulenta no país do protestantismo, às primeiras aparições na televisão italiana, à sua consagração nos Estados Unidos, passando pelos bordéis na Holanda”].