Jardim de begónias hortênsias azáleas
Na pequena aldeia da Lusitânia, sôbolo povo que vai, por Poceirão, lhe acharão, onde sentado, lhe governarão. Brando remanso, desperta calipígia invídia, e todos querem arrimar-se aos cabrestos de seu destino [1]. Fado elementar, entretido com enxada, lar, pão [2]. – Matada a gualtaria, o grau de governabilidade de um povo ensoalheira [3]. O ex-sindicalista Torres Couto elucidava, sobre possíveis sublevações, por falta de cheta nos cartões Multibanco populares: “violência social? Felizmente não vai haver porque… não somos gregos… os portugueses sentem-se vingados com uma greve geral, com uma boa manifestação. Eu penso que esse papel dos sindicatos é muito importante… que é o papel… o do enquadramento orgânico, exactamente”, umas febras, um tintol, uns estandartes, umas palavras de ordem e haja saúde! Escandaleira, só de Paris [4]. Do berço ao esquife, os lusos resinificam vasto brio nacional, que profliga montanhas e estorvos [5]. Uns votos são cautério, nos hematomas, para o progresso económico, embora o povo não vote sempre nos certos. Por José Sócrates ainda apresentar boa posição nas sondagens, o ilustre foliculário, João Pereira Coutinho, pôs a mão na sarda: “não podes, não podes também excluir a estupidez do eleitorado. Não! Quer dizer, como elemento de análise”, (no programa da tvi24, “a Torto e a Direito”). Felizão povo, que por ti eletrificam sábios, que melhor sabem, as encóspias para teu par de botas folgar [6]. Que se vendem, não por baça bacia de barbeiro, mas por um punhado de ricos “troikinhos”: é estrangeiro? escrito em inglês? é bom! Aplaudem o sebastiânico programa da troika que esmoncará o país dos entulhos ao crescimento. – Porque o programa do próximo Governo já está cozinhado, os líderes vestem avental de estraga-molhos, uns prometem orégãos, outros coentros, outros salsa frisada, outros cebolinho, nas próximas eleições, caveat emptor (= “cautela comprador”, “comprar por conta e risco”) [7]. Archie Bunker, da série “All in the Family” (1968-1979), explicava ao genro, a filosofia política de Nixon: “não esperem nada do vosso Governo. Façam pela vida”. E o povo que todos, finlandeses, alemães, franceses, belgas, apátridas, querem governar, ainda espera que desta vez é que vai acertar na eleição. Mas, quem topava os lusos, era José Manuel de Mello…
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[1] As alcatras lusas excitam desejo de poder, desejos de campanha, fome de votos, de gerir o Estado, na democrática Inglaterra, causam apreciação. No casamento real, a esposa ajoelhou, porém os olhos focaram-se no essencial e fundou-se a Sociedade Apreciadora do Rabo de Pippa Midleton, a irmã da noiva, Catherine: duquesa de Cambridge, enamorada do príncipe muito antes de o ver em carne e sangue azul: “ela até tinha um poster do seu dream boy na parede”, de quem os súbditos já entreviram as cuecas. Na party as nobres inglesas desfilaram a estranha maluquice por chapéus estrambólicos: a rainha; as filhas de Sarah Ferguson, as princesas Eugenie e Beatrice, na criação de Philip Treacy: “a minha inspiração é a beleza e a elegância. É um casamento real do século XXI”, sobretudo a carapuça de Beatrice prouve tanto, que o leiloaram para caridade, god save seu british traseiro; Victoria Beckham. E, para os plebeus, uma cerveja: Royal Virility Performance.
[2] Salazar arengava: “não devemos ser imodestos de considerar, lançar, executar o nosso plano para os próximos seis anos. Mas podemos sentir orgulho em afirmar que é filho dos mesmos princípios e se integra no nobre pensamento de alcançar, não com frases literárias, mas com realidades concretas atingíveis, para cada braço uma enxada, para cada família o seu lar, para cada boca o seu pão”.
[3] Como uma tarde com Rita de La Rochezoire, “23 anos, de Linda-a-Velha, licenciada em Sociologia, escreve argumentos para TV. Bandas preferidas: Pink Floyd, Pearl Jam. Desportos que pratica: ginásio”; com Chris Isaak em Cascais; na girl band MaxGirls: “quando conheci o futuro da banda em termos de som e de imagem, desisti. Eu, que até prefiro o rock ao pop, fui ficando cada vez mais distante do projecto”. Facebook.
[4] Portugal também estava sem vintém em 1664. Mas não foi a falta de ouro na fazenda que trouxe a rainha enfurecida à rua. D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, prima de Luís XIV, pelo arranjinho do conde de Castelo Melhor, casara com D. Afonso VI, rapaz impotente, amante de comida, putas e raids pelas ruas de Lisboa, com o seu gangue, partindo cabeças de incautos cidadãos que se lhes cruzassem. Certo dia a rainha, os calores da falta de assistência, desesperaram-na, com um grupo de barulhentas damas da corte, saiu à rua e armou um escarcéu, que o rei não era homem, que não levantava o pau, que ela preferia o cunhado, o futuro D. Pedro II, na cama. A Igreja concedeu a separação e ela casou e foi feliz. Prenderam D. Afonso VI nos Açores, depois no palácio de Sintra, onde morreu. Na corte de Paris foi o escândalo e Portugal vítima de chacota.
[5] Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto demissionário, exemplifica esse orgulho: “eu acho que nós temos todos a obrigação de olhar para esta final (taça da Liga Europa) como um dia de festa, um dia de festa para o futebol português, um dia de festa para os dois clubes que participam nessa final, e um dia de festa p’a Portugal. (…). Que devo valorizar é o facto de haver dois clubes portugueses nessa final e o facto dessa taça vir p’a Portugal. E o facto, e o facto, de ser um momento alto de afirmação do futebol português”: afirmado por grandes portugueses no Porto: Hulk, Falcão, Fucile, Helton, Sapunaru, Maicon, Otamendi, Cristían Rodriguez…; em Braga grandes portugueses afirmam: Artur Moraes, Marcos Alberto, Rodriguez, Paulão, Vinicius, Leandro Salino, Keita, Meyong….
[6] Kat (Linsey Shaw) personagem da série “10 Things I Hate About You” (2009-2010): “uma feminista de língua afiada, com um forte sentido de si mesma e um sagaz desprezo pelas armadilhas do liceu”, concorria para a Associação de Estudantes, no Padua High School, ignorando que a câmara estava ligada, desabafa: “bom, a verdade é que todas as manhãs acordo e penso quem são estas pessoas? Porque sou eu a única que se preocupa com algo que interessa? E todas as manhãs lembro-me de que eles são idiotas. Têm o cérebro do tamanho de uma ervilha, que só conseguem processar informação por Twitter, toque de telemóvel ou uma atualizaçao no Facebook. E se eles não pensam por eles, então precisam de alguém como eu para pensar por eles”.
[7] Foi o que fizeram os espectadores do último concerto dos Sex Pistols na América, 14 de Janeiro de 1978, no Winterland Ballroom,
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José Manuel de Mello nasceu “rico e em pequeno queria ser playboy”. Pipas de massa, fê-lo observador dos seus conterrâneos, em 2005, dizia: “acho que o português é o mais provinciano que há. Somos periféricos. O português é essencialmente pouco evoluído. Vive longe da realidade. Tem uma posição quase de espectador permanente. Mesmo todas as ligações com o mar, que é um dos meios de comunicação mais antigos, não tiveram em nós grande influência. Somos burgessos. Temos uma atitude meio saloia. Sinto-me incomodado com o país. Basta assistir a uma sessão da Assembleia da República. Fico maldisposto durante 8 dias. A primeira coisa que faço é pegar num avião e sair daqui, para ver se refresco” [1]. Mansos [2] e burgessos [3]. Seus jardineiros cavaram-lhes um bem granado futuro: a dívida pública será 101,7% do PIB em 2011, e 107,4% em 2012; recessão de 2,2% em 2011, e 1,8% em 2012; 13% de desemprego; 500 pessoas, por mês, entregam as chaves aos Bancos por incumprimento; falências; aumento de criminalidade e, se as estatísticas são apenas a matemática politizada, o jardim será ainda mais florido. E o povo escapulir-se-á da piranguice com uma boa manifestação. – Contra a Seleção, de mau resultado no Mundial da África do Sul, um popular de megafone, numa açougada, no aeroporto: “exacto. Então? Só tenho mais é que fazer. Então isto é uma vergonha. A Seleção é uma vergonha. Não vale a pena a Seleção. É, é, é o Queiroz não ‘tá lá a fazer nada. Ainda por cima assinou mais dois anos para quê? Para quê? Eh eh eh”. Os líderes, por seu lado, ainda gélidos pelo ataque de moca de Dominique Strauss-Kahn
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[1] Mal geral da Humanidade. The Doctor (Christopher Eccleston, na série “Doctor Who”): “são capazes de acreditar em algo invisível, mas se lhes aparecer à frente já não vêem. Há uma explicação científica para isso: vocês são burros”.
[2] Ferro Rodrigues enviado do PS à manifestação do 1º de Maio da UGT e da CGTP. Na primeira, passeou aprazível. Na segunda, ouviu: “vai trabalhar para França”, “são uns traidores da classe operaria!”. Ferro pacifica: “temos que compreender, que há muita gente que têm uma situação difícil, e portanto aproveitam os momentos para se exprimirem. Eu acho que isso é uma, um sintoma de que a nossa democracia está viva”. Já Vital Moreira ouvira na campanha para o Parlamento Europeu: “traidor, desgraçado, filhodaputa”.
[3] A maior piada nacional é os musiquins lusos, auto-arrogados “bitóvens”, culparem a pirataria por não venderem as suas sinfonias. Entregam IPs, de quem partilhe ficheiros, na
[4] “Ode to Women”, dos Your Best Friend’s Ex; o rapper Troy Dunnit descreve-a como “uma faixa jocosa, mas uma canção muito séria, de uma banda muito séria”. No vídeo participam várias vedetas do porno: Wendy Fiore, Jordan Carver, Veronica Ricci e Mina Stefan: “a chave para o seu coração: cereais e videojogos”.
[5] Paródia de jogadores de Dungeons and Dragons de “Like a G6”, dos Far East Movement; G6 é o Gulfstream 650, “o jato executivo de longa distância mais rápido” construído pela Gulfstream Aerospace, preço: 58.5 milhões de dólares.
[6] A Arte imita esta tendência no filme “Inimigo Sem Rosto” (2010) de José Farinha: “isto é um filme de intervenção er er er ao jeito do, da música de intervenção dos anos 70 e 80, portanto é um filme de denúncia”, “um realizador não pode fazer rigorosamente nada er er er pode é er er dar alguma auto-estima à Polícia Judiciária no sentido de continuarem er er no seu bom trabalho, trabalho er er na procura da verdade e de de novos casos”. Outro que também defende a obrigatoriedade do consumidor gramar-lhe a “Arte”: “que se fizesse uma lei, semelhante à lei da rádio, que obrigasse as distribuidoras a passar mais filmes em português”.
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Václav Klaus, alcunhado “a Margaret Thatcher da Europa central”, presidente da república Checa, é uma figura de ação. Jorra-se-lhe bordoada de cinema pelos interstícios. Em Abril de 2010, lecionava numa conferência em Praga, para um mediano professor de Economia, eleito pelo povo português seu chefe por dois mandatos, Cavaco Silva: “para mim é inimaginável que os países possam admitir um tal défice como aconteceu nos últimos tempos. Como ministro das Finanças e como primeiro-ministro, eu nunca admitiria tal défice”, para Václav se admitiu tem que pagar. E pagá-lo em juros, altos, altíssimos, Louboutins [1]. Controlar o défice, para não aleitar dependência de dinheiro emprestado, e quem empresta, aos de corda ao pescoço, imporá juros cada vez mais altos, é sensatez governativa. Quando se descobriu que uma grande fatia da riqueza capitalista era falsa, ou existia em dívida incobrável, só os países com dirigentes poupadinhos se safaram: no Chile, em 2011, Václav palma uma caneta. Uma caneta cerimonial, incrustada com pedras semipreciosas, lápis-lazúli chilenas: “Tudo o que tenho a dizer é que não é uma caneta mas apenas uma esferográfica”, esclareceu Václav. – “Phone Sex Grandma” (2006): “uma avó de 60 e tal anos opera uma linha erótica numa pequena cidade fantasma sulista”, é na realidade um falso documentário interpretado por Opal Dockery, escritora, oradora, atriz e cineasta, durante 20 anos, dançarina de burlesco e autora de “Thoughts of a Stripper: A Mother's Story”, mãe do realizador desta curta-metragem Jack Truman, sobrinho-neto do presidente Harry Truman, cineasta, diretor de teatro e cinema, ator e escritor, e realizador de vários filmes com a mãe, como “The Old Bitch” (2007). – Laya Raki, sex-symbol alemão dos anos 50, nascida em Hamburgo, Brunhilde Marie Alma Herta Jörns, admiradora da bailarina austro-germânica La Jana: em Indira, uma dançarina indiana, no filme “The Indian Tomb” (1938) – e apreciadora de raki, a bebida nacional turca, assumiu o nome artístico de Laya Raki. Também ela dançarina, o seu corpo 96-58-91, 1,
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[1] Lady GaGa subiu mais alto com uns tacões dildo.
[2] Mark Kermode critica os filmes de Bay de uma só vez. (Uma crítica na língua Hulk).
[3] As “medidas” são o novo gadget dos políticos. Todos tiram as medidas ao Zé-povinho. Alberto João Jardim: “a troika ouviu atentamente. Ficou muito surpreendida com o boicote que tinha sido feito à zona franca, porque a intenção deles é tomar medidas duras, mas no sentido de alavancar a economia e dissemos que a parte fiscal aceitávamos, desde que fosse para alavancar a economia e não para continuar a engordar este Estado socialista que temos”. Já José Sócrates mensurava: “eeee, ele (Passos Coelho) eee fala em, desculpe, desleixo e má governação, não percebo aonde? Nós temos uma execução orçamental de dois meses, Janeiro e Fevereiro, não há na História política portuguesa uma redução significativa da despesa, como a que tivemos em Janeiro e Fevereiro. Em 2010, Portugal conseguiu atingir o melhor resultado do que aquilo que estava no nosso objetivo abaixo dos 7,3. O dobro do crescimento económico. Onde é que está a má governação? Onde é que está o desleixo? (pausa dramática). Provavelmente, fala de desleixo e má governação quem nunca governou, nem, quem nunca foi capaz de tomar medidas difíceis. Eu não posso aceitar essa crítica. Essa crítica é profundamente injusto, injusta”.
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[John Downland – (1563-1626) compositor (1), cantor e tocador de alaúde, nascido um ano antes de Shakespeare (2), cultor da “engenhosa profissão da música” desde a infância. Converteu-se ao catolicismo em Paris, cerca de 1580, aquando de serviço aos embaixadores ingleses na corte francesa, Sir Henry Cobham, e do seu sucessor, Sir Edward Stafford. Em 1594 concorre a uma vaga para tocador de alaúde na corte de Isabel I, uma corte protestante, não lhe concedem o cargo, reclama ele que por causa da sua religião, a rainha terá comentado: “era um homem para servir qualquer príncipe no mundo, mas era um papista obstinado”. Talvez a razão fosse o seu feitio irascível, pois outros compositores católicos, como William Byrd, frequentaram a corte da “rainha virgem” com sucesso. De
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(1) As letras das suas canções ainda renascem: no grupo austríaco de darkwave Die Verbannten Kinder Evas (= “os filhos exilados de Eva”) ▬ “In Darkness Let Me Dwell” ♫ “Praise Blindness Eyes” ♫ “Virtues Cloak” ♫ “Mistrust”; – os eletrónicos ingleses Banco de Gaia, formados por Toby Marks em 1989, antes “Marks mudou-se para Portugal em 1986 e tocava música dos Beatles para os turistas” ▬ “Flow My Tears, the Android Wept”; – ou na deslembrada banda de metal sinfónico de Minneapolis Aesma Daeva em “Darkness”, a voz de Rebecca Cords sobre versos de “Flow My Tears” ♫ vocalista substituída, no segundo CD, pela extraordinária Melissa Ferlaak: “Ancient Verses” ♫ “D’Oreste” ♫ “Since the Machine” ♫ “The Tisza”.
(2) Thomas Thorpe, em 1609, publicou os sonetos de Shakespeare, talvez sem a sua autorização, com o chamativo título comercial “SHAKE-SPEARES SONNETS: Never before imprinted”. “Os primeiros 17 sonetos, tradicionalmente chamados sonetos de procriação, são supostamente escritos para um jovem, incitando-o a casar-se e a ter filhos, de modo a imortalizar a sua beleza, transmitindo-a para a próxima geração. Outros sonetos, expressam o amor do narrador por um jovem, meditam sobre a solidão, a morte, e a transitoriedade da vida; parecem criticar o jovem por preferir um poeta rival; expressam sentimentos ambíguos pela amante do orador; e faz um trocadilho com o nome do poeta”. Clinton Heylin, autor de “So Long as Men Can Breathe: The Untold Story of Shakespeare's Sonnets”, defende que o “adorável rapaz”, é o lascivo William Herbert, duque de Pembroke, e que os sonetos foram escritos para matar o tempo e lidar com questões pessoais, como algumas tendências larilas do poeta, no soneto 20, e nunca para publicação. Justifica Heylin que, se hoje apanhar na regueifa é normal, no século XVI, incorria-se num crime grave.
(3) Exemplos de seu mester: “Waft Her, Angels, Through the Skies”, do oratório de Handel, “Jephtha” ♫ “Magnificat em ré maior, BWV 243”, de Johann Sebastian Bach.
(4) “Hamlet 2” (2008), a sequela musical, melhora o dramalhão de Shakespeare: “Rock Me Sexy Jesus” ♫ “Raped in the Face” ♫ “You’re Gay as the Day is Long”. Mas a melhor interpretação hamletiana de sempre é addamsiana: Wednesday Addams (Chistina* Ricci) e Pugsley Addams no 5º acto (abreviado): “ó orgulhosa morte, que banquete é servido na tua cela eterna? Doce esquecimento, abre os teus braços”, no filme “The Addams Family” (1991). ___ * “Eu penso que a razão principal pela qual uma quantidade de crianças estrelas não singram, é que é difícil ver alguém tão fofinho e, em seguida, de repente, vê-las como tendo mais profundidade. Eu acho que apenas tive sorte, que, quando era pequena, ninguém achava que eu era fofinha”. Imagem do filme “Black Snake Moan” (2007)].