Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

segunda-feira, fevereiro 18, 2013


Consumo mínimo

1982. Nesse ano também havia e não eram verdes, eram tecnocratas. O render das gerações, em Portugal, por certeira “sobreposição cósmica” (Wilhelm Reich) ou queca (Clara Pinto Correia [1]), papás e mamãs avêm os genes que das melhores proles advêm. No verão de 82, Nandim de Carvalho, secretário de Estado do Turismo do Governo de Pinto Balsemão, refastelava-se: “correndo o risco de me considerarem vaidoso, considero que há, sem dúvida, uma certa classe técnica, entre os 30-40 anos, que se identifica com os secretários de Estado do Turismo [ele], Plano [José Robin de Andrade] e Comunicação Social [José Alfaia]. (…). É essa geração técnica – profissionais de contabilidade, engenharia, direito, economia – uma geração competente, que se reparte pela área daquilo a que eu chamo de convergência democrática (a que fez a revisão constitucional). (…). Todos nós fomos assistentes universitários, somos considerados de algum modo tecnocratas, não temos preconceitos antiquados, somos sociais-democratas intervenientes. (…). Direi apenas que não somos espalhafatosos mas temos preocupações sociais e estamos dispostos a trabalhar para fazer avançar este país” [2]. E, no princípio, avançar é o verbo. Recuemos.
Na quinta-feira, 15 de abril, o presidente da comissão da Comunidade Económica Europeia (CEE) visita Lisboa: “se os quase vinte milhões de contos de dádivas e empréstimos concedidos pela CEE não estão a ser utilizados em Portugal, a responsabilidade não é da Comunidade, mas sim de Portugal, que não apresenta projetos concretos para a utilização dessas verbas. A afirmação é de Gaston Thorn, que em Lisboa deixou bem clara a incapacidade do Governo e da Administração portuguesa para fundamentar as posições que assume nas negociações da adesão de Portugal ao Mercado Comum”. Ajuizava ele: “não basta introduzir dossiers, é necessário explicar e justificar as posições neles expostas. E isso é necessário para fazer avançar as negociações” [3]. “Thorn não hesitou em recordar que quando se discutiam os montantes a conceder a Portugal, os negociadores portugueses entendiam ser modesta a contribuição da CEE”, e por que os portugueses, no arco da moeda, não admitem modéstias, a recusa dessa ajuda da CEE esteve sobre a mesa farta.
Sexta-feira, 25 de junho, “os estudantes que fumam em recintos fechados destinados à ocupação de tempos livres vão estar sujeitos a uma multa de cem escudos – diz um decreto aprovado na Assembleia da República. O decreto antitabaco que o Parlamento aprovou por unanimidade vai obrigar a que os maços de tabaco ostentem frases sobre os efeitos nocivos do fumo. As infrações a esta norma estão sujeitas a multas de 50 a cem contos”. “O decreto proíbe o fumo em todas as unidades de saúde, nos locais destinados a menores, nos estabelecimentos de ensino, nos recintos desportivos fechados, salas de espetáculo ou outros locais de diversão ou de ocupação de tempos livres igualmente fechados”. Proíbe também, “todas as formas de publicidade ao tabaco através de canais publicitários nacionais ou com sede em Portugal”. (Será a Lei n.º 22/82 de 17 de agosto).
Terça-feira, 13 de julho, na Assembleia da República suava-se de árduo trabalho, esfandegavam-se os deputados na extinção do Conselho da Revolução, um clube de graduados taratas na função de Tribunal Constitucional. “O Partido Socialista terá proposto que o CR permanecesse em funções enquanto não existisse alternativa. O CDS advogava uma data fixa para a extinção do Conselho, quer estivessem, ou não, constituídas as alternativas. Os socialistas não concordaram com os democratas-cristãos e estes apresentaram uma nova proposta nos termos da qual o Conselho da Revolução é extinto até 15 de outubro. Se até lá não fosse substituído as funções de fiscalização da constitucionalidade ficariam no presidente da República, assessorado pela Comissão Constitucional”. Votaram os laboriosos deputados no dia seguinte: “foi possível ver Vítor Constâncio (ex-secretariado) votar a favor do acordo ou Manuel Alegre e Tito Morais (soaristas) pedirem a suspensão do mandato por não concordarem com todo este processo de negociações”. Quinta-feira, 28 de outubro é o adeus numa rajada de lágrimas: “a cerimónia de condecoração do capitão Marques Júnior com a Ordem da Liberdade, que teve lugar em Belém, foi marcada por forte emoção. Quando Marques Júnior ofereceu ao presidente da República e ao presidente da Assembleia da República as bandeiras nacionais que estiveram durante estes anos no Restelo, no Conselho da Revolução, as lágrimas caíram-lhe pelo rosto. E o mesmo aconteceu com vários outros convidados presentes: conselheiros da Revolução, deputados Jorge Miranda, Lopes Cardoso e Joaquim Gomes, major Sanches Osório, Maria de Lurdes Pintassilgo e outros convidados. O próprio presidente da República [Ramalho Eanes] não escapou à densidade deste clima emocional desencadeado pelo mais jovem capitão do MFA e as lágrimas correram também no seu rosto”.
Neste ano epilogou a novela PRP. Sexta-feira, 11 de junho, Carlos Antunes, dirigente do PRP, entra em greve de fome na cadeia de Custóias. “Foi preso em 20 de junho de 1978 e condenado a 9 de abril de 1980 a 15 anos de prisão sob a acusação da autoria moral de vários assaltos a bancos. Em julho do ano passado cumpriu 29 dias de greve de fome, que terminou com a carta-compromisso de 33 deputados de apresentar na Assembleia da República uma amnistia que abrangesse o caso PRP. A amnistia foi derrotada em maio passado na AR”. Dizia-se ele: “responsável da ingenuidade (compartilhada por alguns deputados) de ter aceitado acabar com a greve de fome na base de um compromisso de honra, ultrajado por alguns políticos sem escrúpulos”. “Enquanto Carlos Antunes inicia hoje o seu primeiro dia de greve de fome, Amílcar Romano e João Santos, detidos em Caxias, estão sem ingerir qualquer alimento há 21 e 11 dias, respetivamente”. Segunda-feira, 21, Isabel do Carmo, dirigente do PRP entra em greve de fome, “encontra-se neste momento na prisão das Mónicas, acompanhada do seu filho André de 4 anos”. Freitas do Amaral, vice-primeiro-ministro, democrata-cristão, rezava pela não libertação: que seria “a destruição dos fundamentos da sociedade e do Estado”. “Pelo facto de haver grevistas da fome isso não significa libertação”. “Uma prisão preventiva excessiva obriga ao aceleramento do julgamento, não à libertação”. Segunda-feira, 28, “foram necessários 28 dias de greve de fome para que um dos presos do PRP, João Silva Santos, recuperasse a liberdade. Esta, embora condicional, foi decidida por um juiz do Tribunal de Penas do Porto, depois de um parecer favorável do conselho técnico da cadeia de Custóias. Na base do parecer, três razões: o bom comportamento do detido, o facto de já ter cumprido metade da pena, e a consideração de que ele está recuperado para a reintegração social”. Sábado, 3 de julho, “terminou hoje, às 2 horas da manhã, a greve de fome dos quatro presos do PRP visto estes considerarem que estavam satisfeitas as condições de revisão do seu caso”. Joaquim Letria, porta-voz de Ramalho Eanes, na sexta-feira, lera um comunicado na TV: “o presidente da República tem acompanhado com preocupação crescente a situação em que se encontram os quatro portugueses que se mantêm em greve de fome. (…). Não pode o presidente da República deixar de considerar que os crimes de motivação política de que são acusados os presos do PRP decorreram num período da vida do país que teve ainda caraterísticas próprias de instabilidade institucional”. Quarta-feira, 7, “na sequência de um mandado de soltura emitido pelo juiz do 3.º Juízo Criminal de Lisboa, a militante do PRP, Fernanda Fráguas, foi libertada esta madrugada da prisão de Custóias (…). Detida há cerca de 4 anos, cumpria uma pena de 10 anos e meio de prisão maior. A sua libertação imediata deveu-se ao facto de não ter contra si qualquer outra acusação ou julgamento pendente”. Sexta-feira, 16, Carlos Antunes e Isabel do Carmo foram absolvidos do crime de “autoria moral” dos assaltos às agências bancárias da Moita e da Damaia. “No julgamento, que decorreu no tribunal da Boa Hora, o juiz reconheceu não existirem provas para incriminar aqueles dois dirigentes do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP)”.
No mundo, chorava-se e ria-se, como o palhaço. Sábado, 29 de maio suicida-se a atriz austríaca Romy Schneider, “nascida em Viena em 23 de setembro de 1938, encontrava-se muito abatida psicologicamente desde a morte do seu filho, David, de 14 anos, ocorrida em circunstâncias trágicas, em casa dos avós paternos em Saint-Germain-en-Laye, na região de Paris, no dia 6 de junho de 1981. Além deste filho, do primeiro casamento, [com o ator Harry Meyen, que também se suicidou em 1979, em Hamburgo], Romy Schneider deixa uma filha, Sarah, [4] do segundo casamento [com o seu secretário pessoal Daniel Biasini] (…). Iniciou a sua carreira cinematográfica em 1953 no filme “Lilases Brancos”. Romy interpretou o “drama de ciúme sexual e possessão”, numa vivenda em Saint-Tropez, “La piscine” (1969), um filme de Jacques Deray, c/ Jane Birkin; – no sul de França, também Charlotte Rampling se confrontou com as urgências da carne e as imaginações do espírito em "Swimming Pool” (2003) c/ Ludivine Saigner. – Sábado, 5 de junho “a atriz italiana, Sofia Loren, foi finalmente libertada. A atriz, condenada a 30 dias de cadeia por fuga ao pagamento de impostos, só cumpriu cerca de metade da pena imposta, tendo saído da cadeia de Caserta pouco depois das 6 horas da manhã em liberdade condicional (…). Após 17 noites de reclusão, a libertação de Sofia Loren, 47 anos, confirmou as previsões anunciadas ontem pelo seu advogado e primo, Vicenzo Sepe, de que sairia da cadeia apenas cumprida metade da sentença”.
Sexta-feira, 2 de julho, “o Jerusalem Post atribuía a Ariel Sharon [ministro da Defesa] uma afirmação, feita num círculo de amigos na Knesset (parlamento israelita), segundo a qual ‘se ele fosse primeiro-ministro ajudaria os palestinianos a formarem um Estado na Jordânia, derrubando o rei Hussein’. Segundo o mesmo Jerusalem Post, Sharon ‘concederia apenas 24 horas a Hussein para abandonar Aman, que deveria transformar-se em capital desse Estado palestiniano’. Por outro lado, ‘o futuro da Cisjordânia e da faixa de Gaza dependeriam das relações entre esse novo Estado e Israel’. (…). Admitiu que houve ‘um erro histórico de Israel’ na sequência do célebre Setembro Negro, quando os palestinianos foram expulsos dos territórios que ocupavam. ‘Israel não deveria nessa altura ter apoiado Hussein. Os palestinianos têm direito a território na Jordânia’”.
Domingo, 11 de julho, encerra em Madrid o Mundial 82 com a Itália campeã: “toda a Espanha se interroga sobre o aspeto financeiro da Taça do Mundo de Futebol. O próprio Governo, através da Comissão de Vigilância da Taça do Mundo, convocou o presidente do comité da organização, Raimundo Saporta, [“tenho um único chefe, o rei (…) quando tudo estiver terminado entregarei ao rei um cheque de 1000 milhões de pesetas”], para tentar esclarecer aquilo a que a imprensa espanhola chama ‘o mistério da bilheteira’. É que os estádios estiveram meio vazios, quando, oficialmente, os lugares estava todos vendidos. Segundo as previsões do secretariado de Estado do Turismo deviam ter vindo a Espanha à volta de um milhão e trezentos mil supporters estrangeiros. Na realidade apareceram apenas 250 a 300 mil. Possível explicação: a Mundiespaña, uma sociedade criada propositadamente e a quem foi entregue a exclusividade da exploração do Mundial 82 (agrupando algumas importantes agências de viagens e de cadeias hoteleiras), pagou a pronto à FIFA 50% dos bilhetes de entrada nos estádios. Isto é, cerca de um milhão duzentos e cinquenta mil. Depois esforçou-se por vender esses mesmos bilhetes acompanhados da instalação hoteleira… a preços proibitivos. Resultado: ao querer rentabilizar tanto este Mundial, provavelmente a Mundiespaña matou-o. Ao que se julga apenas conseguiu vender 500 mil bilhetes. Por tudo isto é generalizado o mau humor na indústria turística espanhola e algumas agências de viagens estão em risco de falência”. Miguel Angel Martínez do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) na oposição: “o projeto da FIFA, absolutamente legítimo no que lhes diz respeito, é organizar um grande festival de futebol-espetáculo em proveito de diversas multinacionais de que ela, FIFA, é o instrumento. Quero antes de mais referir-me a uma multinacional de equipamentos desportivos [Adidas]”. Pierre Georges do Le Monde simplificou: “num país que hoje tem dois milhões de desempregados, uma dívida externa, em 1981, de 2 500 mil milhões de pesetas e um défice da balança comercial de 1 067 milhões de pesetas, este Mundial só podia ser uma sorte ou um luxo perigoso” [5].
Portugal era um país falido em 82. Ontem como hoje, de abundante beef tenderloin ADN abastecido. Nandim de Carvalho é uma combinação genética detrás da gónada, um grande vulto da cultura portuguesa, que inovou, descalçou ele o turismo descalço: “eu referi-me ao turismo de pé descalço ou turismo caracol (os jovens que aparecem com as mochilas às costas). (…). Apenas quis, a exemplo do que acontece noutros países, impedir que em Portugal entrassem pessoas sem dinheiro. E fomos até bastante modestos: para entrar no país o estrangeiro tem que provar que tem consigo, no mínimo, cinco contos e, se vier para ficar mais de dez dias, tem que ter uma média de 500$00 por dia. (…). Quase que poderíamos dizer que estabelecemos uma espécie de consumo mínimo para entrar em Portugal. (…). Não faz sentido dizer que o Governo se desinteressa pelas divisas, poucas ou muitas, que os jovens estrangeiros trazem. O que não queremos é que venham trabalhar para Portugal para pagar as suas férias. (…). Descalços ou de topless – eu até prefiro o topless, tanto faz. O que é preciso é que tragam dinheiro. Por outras palavras: queremos turistas e não emigrantes clandestinos. Podem vir de viola às costas, descalços ou de sandálias, cabelos longos ao vento, como quiserem. Até é romântico e eu gosto disso. (…). Sou a antítese do sapato engraxado, da gravata, da brilhantina no cabelo. Mas isso não quer dizer que não seja rigoroso na análise dos problemas e que queira defender os postos de trabalho dos portugueses. (…). Certamente não quer continuar a ver jovens estrangeiros nas ruas a fazer e a vender cintos, anéis, colares, etc. etc. prejudicando os portugueses. Como vê, trata-se, no fundo, de atitude patriótica”.
__________________________________
[1] Queca com vagar é… amor. “Quando fazer amor se transforma numa queca está tudo perdido. Há a ideia de que é preciso despachar tudo a correr, nada é para fruir calmamente”. Entre janeiro e fevereiro de 2010, o marido, o fotógrafo Pedro Palma, expôs no Centro Cultural de Cascais” “Sexpressions”, dez fotos artísticas da boa esposa durante o paroxismo sexual c/ cigarro no fim, o vulgo “vir-se” dos menos favorecidos das letras. “Nenhuma pessoa fica bonita no sexo, mas uma pessoa apaixonada e entregue à pessoa que ama transfigura-se. Fica com um sorriso que não tem em circunstância alguma, um brilho nos olhos que não é deste mundo e que a levanta não sei quantos centímetros acima do chão”.
[2] No futuro (2011), cada combinação genética, cada melro. Carlos Moedas, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro: “o país só tem duas escolhas para ser mais competitivo, ou baixa a Taxa Social Única, ou baixa salários. Portanto, quem tem uma agenda escondida tem que ser o PS, ou então o PS não quer que o país seja mais competitivo. Porque só temos estas duas soluções técnicas”. “Eu acho que Portugal deve exigir uma nova geração de políticos, de pessoas, que digam as coisas como elas são”.
[3] Em 1977, escrevera Thorn sobre o alargamento da CEE ao sul da Europa: “se a Comunidade não for capaz de fornecer uma resposta aos novos problemas que serão suscitados pelo alargamento ela será submetida a pressões internas tão fortes que se desintegrará progressivamente: talvez subsista um nó integrado à volta da RFA, com os países ao norte e ao sul, que ficarão mais ou menos ligados por acordos de cooperação a níveis diversos”.
[4] Também atriz, Sarah Biasini, estreou-se no telefilme “Julie, chevalier de Maupin” (2004).
[5] Calculou Pierre Georges: “a West Nally, sociedade de capitais suíços, alemães e britânicos, sedeada no Mónaco e cujo acionista maioritário era, até uma data muito recente, a firma Adidas, obtém, grosso modo, a exclusividade da comercialização publicitária. Uma das filiais, Rofa Sports Merchandising, tem a exclusividade dos contratos publicitários e conclui vários contratos com várias multinacionais, ao todo uma dezena. Estas serão representadas por painéis publicitários nos dezassete estádios espanhóis por uma soma equivalente a duzentos e dezasseis mil contos por sociedade, outra filial, a Consortium Mundial de Televisão, tem o agrément da FIFA e do Comité Real para a Gerência dos Direitos das Rádios e das Televisões. Por fim, a West Nally criou, com a Federação Espanhola de Futebol, uma sociedade, a Ibermundial, encarregada da exploração dos símbolos da Taça do Mundo. O mercado é importante visto que mais de oitenta sociedades vão fazer figurar o Naranjito, [criadores, María Dolores Salto e José María Martín], a pequena laranja-mascote da prova, e outros símbolos, nos seus produtos. No conjunto destas operações, a West Nally ou as suas filiais, devem ter investido uns quatro milhões e duzentos mil contos. Elas poderiam, segundo números necessariamente aproximativos, ter um lucro limpo de um milhão e duzentos mil contos a um milhão e oitocentos mil contos”.

na sala de cinema

American Gigolo” (1980), estreia em Portugal a 12 de setembro de 1980 no Tivoli; argumento e realização de Paul Schrader inspirados no filme “Pickpocket” (1959) de Robert Bresson. “O atraente Julian Kaye (Richard Gere) ganha a vida como acompanhante de senhoras ricas. O seu chulo, Anne (Nina Van Pallandt), percebe que ele é o seu prostituto vedeta. Ela combina um trabalho altamente remunerado com uma mulher que está prestes a chegar da Europa, mas ele parece mais interessado em obter uma percentagem maior dos lucros. Após alguma negociação, Julian sai recusando o convite para tomar banho de sol com outras duas moçoilas (Michele Drake [1] e Linda Horn). Algumas vezes, Julian tenta encontrar as suas próprias clientes. Assim, uma noite, faz uns avanços a Michelle Stratton (Lauren Hutton), que está sentada sozinha num restaurante de luxo. Na conversa que se seguiu, Michelle vê Julian por aquilo que ele é, embora ele afirme ser guia e motorista”. Na fase de crescimento económico, Julian cobra mil dólares, conduz um Mercedes Benz 450 coupé preto de duas portas, veste Armani, vive num apartamento de luxo, quando o ciclo descende, reajusta-se, empobrecendo, e oferece os seus serviços a um chulo roscofe: “como paneleiros. Faço esquisitices. Farei qualquer coisa que queiras que eu faça”; inadvertidamente, da ficção, uma saída profissional real para os jovens desempregados portugueses [2]. “À nous amours” (1983), estreia dia 21 de dezembro de 1984 na sala 1 do Quarteto; na banda sonora “The Cold Song”, de Klaus Nomi. “Suzanne (Sandrine Bonnaire) tem 15 anos e faz sexo com muitos rapazes, apenas por diversão, mas não conseguiu amar realmente nenhum deles. A sua família não a entende. O pai não gosta do seu comportamento. Quando ele sai de casa, a mãe torna-se um pouco neurótica. E o irmão de Suzanne, Robert, começa a espancá-la como castigo”. Sandrine Bonnaire não se envergonhava de seus bens móveis e prodigalizou-os propulsionando cinema em arte nos filmes “Tir à vue” (1984) ou “Police” (1985). “Gelado de Limão” uma charola de judiaria fílmica que muito refrescou os cinéfilos portugueses nos anos 80. “Lemon Popsicle / Eskimo Limon” (1978), publicitado em Portugal como “o sabor doce e ácido de quando se é jovem, o filme surpresa do ano, Gelado de Limão”, estreia dia 14 de dezembro de 1979 no cinema Castil pelas 15:30: “Bentzi, Momo e Yuda’leh são três adolescentes que crescem no Israel dos anos 50, que não é muito diferente dos EUA em 1950, se acreditar no que vê no filme. É claro que eles estão obcecados com uma única coisa – sexo”. “Going Steady / Yotzim Kavua” (1979), estreia: 12 de setembro 1980 pelas 21:30 no Castil, Éden e Estúdio 444: “quando uma nova moça, Tammy, chega à cidade, Bentzi apaixona-se profundamente por ela. Depois de tentar todos os truques para levá-la a sair com ele, ela finalmente concorda”. “Hot Bubblegum / Shifshuf Naim” (1981), estreia, 17 de dezembro 1981 pelas 21:30 no Castil e no Roma: “Momo e Yuda’leh revezam-se curtindo com a rechonchuda prima estrangeira de Bentzi, mas Yuda’leh e ela ficam um com o outro. Momo eleva a fasquia ainda mais alto provando os rumores de permissividade de uma roliça tutora de piano mais velha, Fritzi [Christiane Schmidtmer, a Liebesbombe berlinense ocidental]. Bentzi procura o amor”. “Private Popsicle / Sapiches” (1982), estreia, 25 de março 1983 pelas 15:30 no Avis e no Roma: “os três jovens israelitas alistam-se no exército, e logo se vê que eles estão mais interessados em perseguir saias que seguir ordens”. “Baby Love / Roman Za'ir” (1984), estreia, 18 de julho 1986 no Avis e no Roma: “Bentzi anda às turras com Ginny, a irmã mais nova de Momo, quando percebe que ela já não é uma criança e cresceu numa atraente mulher”. “Up Your Anchor / Harimu Ogen” (1985): “com Momo de férias nos EUA, Bentzi e Yuda’leh estão à cata de raparigas”. “Young Love / Ahava Tzeira” (1987): “enquanto os seus pais estão de férias Yuda’leh e os seus amigos Momo e Bentzi sacam o carro para uma passeata à procura de raparigas. Depois de perseguir um gang de raparigas Yuda’leh estampa o carro contra uma árvore”. “Summertime Blues / Blues BaKaitz” (1988): “Yuda’leh, Momo e Bentzi estão um pouco mais velhos e procuram todos trabalho quando Yuda’leh sugere que comprem um clube chamado West of Eden, mas Yuda’leh esqueceu-se de mencionar que é uma espelunca”.
__________________________________
[1] Miss maio 1979 na revista Playboy, Michele Drake, 1,65 m, 49 kg, 86-60-86, foi uma das virgens vestais no filme de Mel Brooks “History of the World: Part I” (1981), neste filme, as outras sacerdotisas de Vesta, quase todas virgíneas playmates, eram: Lisa Sohm, Jeana Tomasino, Lisa Welch, Janis Schmitt, Heidi Sorenson, Karen Morton, Kathy Collins, Lori Sutton e Lou Mulford.
[2] Somente no estrangeiro. Porque no país nem isso. Pelo líder da oposição se vê o andar baratinho do país; António José Seguro, descreve-se: “eu sou uma pessoa muito bem disposta, não tenho nenhuma razão para ser uma pessoa mal disposta. Sou uma pessoa muito bem disposta” (de cachecol, em Vila Nova de Gaia, sobre o humor da sua reposta à carta do Governo para a refundação do Estado). E descreve sua política: “em nenhuma circunstância o Partido Socialista será muleta deste Governo e não seremos cúmplice de uma política que é uma política de empobrecimento e que tem levado o nosso país a uma situação que eu considero de pré-rutura social”.

no aparelho de televisão

Teenage Mutant Ninja Turtles” (1987-1996): “They're the world's most fearsome fighting team (We're really hip!) / They're heroes in a half-shell and they're green (Hey - get a grip!) / When the evil Shredder attacks / These Turtle boys don't cut him no slack!”. Estreou na RTP 1 em 1991 aos sábados de manhã. “Splinter era anteriormente um ser humano, um honorável mestre ninja chamado Hamato Yoshi. Yoshi foi banido do clã Foot, no Japão, depois de ser enganado pelo sedicioso Oroku Saki, que prendeu o dogi (uniforme para artes marciais) de Yoshi à parede com uma faca, impedindo-o de se ajoelhar perante o seu sensei, o que era visto como um insulto. Quando Yoshi removeu a faca, o sensei foi novamente insultado, acreditando que Yoshi desembainhara a lâmina contra ele. Exilado do clã ninja, Hamato Yoshi mudou-se para Nova Iorque, onde vivia nos esgotos. Enquanto vivia nos esgotos com os ratos como seus amigos, Yoshi, um dia, encontrou quatro tartarugas, recentemente compradas numa loja de animais de estimação por um rapaz que, acidentalmente, as deixou cair no esgoto. Yoshi regressou um dia das suas explorações ao redor de Nova Iorque e encontrou as tartarugas cobertas com uma estranha gosma brilhante. A substância transformou as tartarugas – mais recentemente expostas a Yoshi – em humanóides, enquanto que Yoshi – mais recentemente exposto aos ratos – tornou-se num rato humanóide. (…). Yoshi adota as quatro tartarugas como seus filhos e treina-as na arte do ninjutsu”. O poder tartaruga! salvou Lisboa, cowabunga! no episódio “Ring of Fire” (1992), Splinter constata: “a festa do touro aqui em Lisboa é muito pitoresca”. Uma aventura que visita os esgotos de Lisboa, largadas de touros nas ruas da capital, as praias da cidade, a praça de touros do Campo Pequeno com os seus cartazes publicitários “Linda de Suza”, “Aldeia Vela”, “Porto”… de onde Shredder retira a areia ultra silício ideal para construir lentes. – Foram produzidos vários filmes com atores reais, os espetaculares “Teenage Mutant Ninja Turtles” (1990) c/ “This What We Do” do MC Hammer, estreado em Portugal a 21 de dezembro de 1990, e “Teenage Mutant Ninja Turtles II: The Secret of the Ooze” (1991) c/ Vanilla Ice em “Ninja Rap”, estreado a 15 de Agosto de 1991 [1].
__________________________________
[1] E mais “Teenage Mutant Ninja Turtles III” (1993) c/ “Tarzan Boy” dos saudosos Baltimora, Jimmy McShane morreu de sida em 1995, e a animação digital “TMNT” (2007) c/ “Roses” de Meg and Dia.

na aparelhagem stereo

Falinhas musicais sobre clave de sol e chuva. “Alguns objetos produzem imediatamente uma sensação agradável por causa da estrutura original dos nossos órgãos, e, por isso, são denominados BONS; enquanto que outros, por causa da sua imediata sensação desagradável, são chamados de MAUS. Assim, o calor moderado é agradável e bom; o calor excessivo, doloroso e mau”, David Hume na “Dissertação sobre as paixões” (1757). Miguel Guedes comentador do F.C. Porto e vocalista dos Blind Zero (1995): “como sabes o rock é um bocadinho importado de algumas coisas que vêm lá de fora, nomeadamente dos Estados Unidos, e também é por aí um bocadinho que nos regemos, ou seja, vamos buscar moldes, que se calhar nos são um bocadinho externos e tentamos europeizá-los um bocadinho”, no programa da RTP1 86-60-86 (1994-1998), apresentado pela Sofia Aparício [1]. Fernanda de Sousa, “L’amour à la française” (1979) de Art Sullivan, trabalhadora heroína de “Heróis trabalhadores” (1975): “Sonhar com mais tratores / Para trabalhar a terra / Sonhar, sonhar, sonhar / Sonhar que bom que é”, com o nome de palco, Ágata: “com as Doce, saíram para jantar e quando voltámos, as entradas eram pagas e nós dizíamos, mas nós queríamos passar, somos as Doce, dizia o senhor lá na entrada da porta: não quero saber se são doce ou são treze, aqui tem de pagar bilhete e mais nada”. Kátia Guerreiro, ex-vocalista dos Charruas e neo-fadista: “a ideia foi chegar ao estúdio o mais virgem possível, e ser o mais autêntica que eu conseguisse na minha interpretação e dar o meu cunho pessoal, porque, se não, estaria a fazer o mesmo que os outros fizeram, e para isso não estaria aí, não estaria a acrescentar nada de novo”. Marco Paulo, um alentejano de papelotes: “os meus brinquedos era a música que eu não tinha brinquedos. Eu não tinha brinquedos e como, não tinha brinquedos, eu ouvia rádio e depois cantava e entretinha-me precisamente a cantar. Sabes qual era o meu brinquedo nessa altura? Era uma vassoura. A minha vassoura era o meu microfone e foi precisamente uma vassoura que me deu a possibilidade de hoje cantar como eu canto. Foi precisamente uma vassoura. Eu brincava com uma vassoura a fazer de microfone, é engraçado”, no seu programa “Eu tenho dois amores” (1995).
As roupas da Cenoura salvaram uma década:
Ministars, primeira banda infanto-juvenil portuguesa. António Manuel Rolo Duarte importou da Holanda / rebentou em Portugal um dique de ouro: “consistia em selecionar um grupo de crianças (recrutados no Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras), organizar um repertório com os sucessos nacionais e internacionais do momento e, neste último caso, fazer as versões das canções em língua portuguesa, encenar uma coreografia moderna, com guarda roupa da última moda infantil (da marca Cenoura, ou equivalente: Pakalolo, Benetton… para os espetáculos em palco e em televisão) e dar aos temas um tratamento muito próximo dos originais”. Editaram o seu primeiro single e LP em 1986 ► “Cantar em português” (1986) ♠ “Jackpot” (1987), c/ uma balbuciação de Rui Veloso ♠ “Só me quero divertir” (1991) ♠ “Super Mac” (1991) ♠ “É bom cantar para ti” (1992) ♠ “Abanar o capacete” (1993) ♠ “Já ninguém acredita” (1993). – Deste pepino torceram-se uns grandinhos como a Joana Pedro ► “O tempo que me faz voltar” ou o neo-fadista Pedro Moutinho; em 1994, os Ministars mudam-se para a Vidisco, como a antiga editora, a Edisom, era proprietária do nome, mudaram-no para Starkids ► “O bicho” ♫ Onda Choc, grupo infanto-juvenil engendrado pela Ana Faria [2] no final de 1896 ► “A bamba” (1987), voz principal Tiago Pinto ♠ “Naquele oásis” (1988), Rute Lobo do Vale ♠ “Vais pedir-me para namorar” (1989), Susie Gonçalves ♠ “Bater, tocar, chamar” (1990), Joana Seixas ♠ “Ela só quer só pensa em namorar” (1991), Bárbara Remédios ♠ “Ele é o rei” (1993), Vanda Antunes ♠ “Comboio sem volta” (1994), Patrícia Matos ♠ “Carinha de santo” (1995), Diana Pires, Diana Franco, Inês Martins ♠ “Tenho o meu rádio sempre a tocar rádio” (1996), Inês Martins ♠ “Sem ti (perdi a esperança)” (1997), Ana Filipa, Marisa Liz, Rita Alves ♠ “Confia em mim” (1997), Marisa Liz. – Desta onda quebraram na praia do sucesso a atriz Joana Seixas  a atriz Patrícia Resende  o ator Manuel Melo  a jornalista Cláudia Pinto  a argumentista das Produções Fictícias Patrícia Castanheira  a empresária Patrícia Matos  a gestora de produto Andreia Alvaleide  a produtora de TV Rute Lobo do Vale  a engenheira florestal Raquel Lobo do Vale  a locutora Lara SantosBruno CorreiaPedro CamiloSusanaMicaelaSérgio dos Maxi  Marisa Liz, vocalista dos Donna Maria e dos Amor Electro [3],  Nuno Ribeiro, o “Ricky”, crisalidou antes e, a 4 de novembro de 2008, esvoaçou, depois de uma operação de reajustamento sexual, na cantora Patrícia Ribeiro: “gostava de brincar com bonecas e de estar junto das meninas. Dos 10 aos 16, ia para a rua vestida de miúda, mas às escondidas da minha mãe. Depois dos 20, comecei a tomar hormonas e aos 23 fui a uma consulta que mudou a minha vida”. “A vagina, propriamente dita, por dentro, é feita com excertos de jejuno do intestino delgado, portanto é uma vagina com autolubrificação e obviamente que tenho sensibilidade e obviamente que tenho prazer” ► “Vamos dançar o natal” ♫ Popeline, engendração feminina de Ana Faria ► “Madalena” ♠ “Sem idade” (1995) ♫ Ultimatum, os filhos da Ana Faria ► “Se fores no meu carro” ♠ “Esta canção mexe comigo” ♫ Malta Pop, com alguns Onda Choc, Ana Rita Rolo, Inês Martins, Ana Ferreira, Vanda Antunes… ♫ PopKids. – O futuro infanto-juvenil da pátria perdurará após a extinção do país, uma promessa, Ana Malhoa ► “Lambada” (1989) ♫ uma certeza, Starlie, nome artístico de Mafalda Tavares, de Vila Nova de Gaia, aos 3 anos, na Academia de Música de Vilar de Paraíso, estudou Iniciação Musical, Coro Infantil, violino, ballet, formação musical, jazz e flauta transversal, trabalhou nos musicais de Filipe La Féria, “Música no coração”, aos 12 anos, “Um violino no telhado”, “A gaiola das malucas”, foi “Patrícia Silveira” na série 8 de “Morangos com açúcar” (2010-11); o seu desejo para 2013: “2013, espero que a Starlie continue a bombar, ainda mais do que esteve em 2012, e vou tirar a minha carta de condução” ► “Nada nos pode parar / Quero-te aqui” ♠ “Over You”.
__________________________________
[1] No vídeo dos Wraygunn “Honey You’re Too Much”, no beijo a Elsa Raposo em “Um estranho em casa” (2002), atriz e manequim de Viana do Castelo: “quando me maquilho, uso base da marca Hakansson, blush Guerlain, máscara L’Oréal Paris e hidratante de lábios Dior”.
[2] Em 1977 era um elemento do grupo de adoçamento da tradição oral para os ouvidos urbanos, Terra a Terra, com Mário Piçarra (filho de Luís Piçarra), Jaime Ferreira, Rosário Pires, Jorge Vieira, Eduardo Torres, Mário Luís Pontes e Luísa Vasconcelos. Em 1982 gravou um marco da música infantil, “Brincando aos clássicos”, um disco harmonizado com a idade mental do povo redutor das tabelas etárias para a idade única de meninice. Depois de uma paragem, no final da década, empreende nos grupos de cantores infanto-juvenis como os Jovens Cantores de Lisboa, (onde aos 11 anos cantava Mónica Sintra), os Onda Choc, as Popeline ou com os seus filhos Pedro, Nuno e João Faria Gomes, nos Queijinhos Frescos. É casada com o produtor de discos Heduíno Gomes, dito o “Vilar”, um secretário-geral do PCP (M-L). Que em 1974 “era eu um jovem e inteiramente dedicado comunista que — graças a Deus! —, dez anos antes, já tinha percebido que o comunismo soviético era coisa infecta”. “Oficialmente exilado na Bélgica mas permanentemente de serviço em Paris”, à notícia da queda de Marcello Caetano, não pulou de alegria: “então porque é que um comunista no exílio, com sete anos e tal dele às costas, desejoso de poder falar e fazer a sua propaganda livremente, cheio de saudades da família, dos cantos da sua casa, do cheiro da leira de coentros da horta do seu avô, do sol e das coisas boas que só há em Portugal, pensava que um golpe de Estado a derrubar o regime e a permitir o seu regresso não era uma boa coisa? A reposta é muito simples. (…). Sabia que o duo Brejnev-Cunhal constituía o inimigo principal de Portugal”. Em Novembro de 1975, “naquela noite, o grupo político-militar de Melo Antunes e Eanes traiu os portugueses e traiu os Comandos, que, chefiados por Jaime Neves (a quem Portugal muito deve e pouco reconhece), tiveram um papel determinante na vitória sobre a esquerda do PREC, [quando não marginalizaram o PCP do social-fascista Álvaro Cunhal]”. O Partido Comunista de Portugal (Marxista-Leninista) foi um campo de reeducação de comunistas bacteriologicamente puros, maoistas, em bons PSDês. Além de Heduíno, também se PSDizou o fundador da secção do norte do partido, José Pacheco Pereira: “nós acompanhámos de perto o ciclo político europeu e mundial - muito mais do que os de 62 -, vivemos em tempo real, somos muito diferenciados na nossa visão do mundo no que toca aos costumes, ao entendimento das relações familiares, à vida sexual, à cultura. É a primeira geração portuguesa cuja cultura é mais anglo-saxónica do que francesa. É pós-existencialista, interessa-se pela literatura anglo-saxónica, a banda desenhada, a ficção científica, os meios audiovisuais. Se você verificar o percurso posterior dessa mesma geração - para lá dos que estão na política e que são mais fáceis de identificar -, encontra centenas deles na rádio, na televisão, nos meios de comunicação social, no cinema, etc. E trocámos a Françoise Hardy e o Bécaud pelos Beatles. Há aí uma grande diferença cultural”. Guinou Pacheco à direita no CEL. “O Clube da Esquerda Liberal é em grande parte uma construção de três pessoas: eu, o João Carlos Espada e o Manuel Villaverde Cabral. Todos com percursos diferentes. Eu conheci o Espada de capuz. Numa reunião em casa da Vieira da Silva em que eu, como pertencia ao setor clandestino, estava de capuz, o que além de ser ridículo criava um enorme problema. Muitas vezes dormíamos no chão das casas em que reuníamos e mesmo nessa altura tinha de usá-lo. Reuni muitas vezes com um capuz enfiado na cabeça”.
[3] Marisa Liz sobre o CD dos Amor Electro: “é um disco de música portuguesa, pop, com influências dos quatro, rock, eletrónica, mas um disco de música, mesmo, acho eu, ou achamos nós”; sobre o hit “A máquina (parou)”: “ eu acho que esta letra fala, acho não, fala de amor, a máquina é vista, do meu ponto de vista, como o nosso coração. Mas acho que qualquer pessoa pode interpretar à sua maneira, como muitas letras. Acho que fala sobre coisas que todos nós já passámos, de uma maneira ou doutra. E cada um leva p’a aquilo que quer, ou p’a parte positiva ou p’a parte negativa. Cada um sabe de si”.