Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

segunda-feira, outubro 09, 2006


Os barões assinalados

A passagem do Reino da Estupidez (Jorge de Sena) para o Reino da Tolice foi um dos acontecimentos históricos que menos custou aos portugueses realizar. Pois, sempre foram tolos ab ovo (“desde o início”), que em bicos de pés tentavam chegar onde os outros povos chegaram. Tiveram uma classe política de “primeira água” que os levou para o seu lugar na História. Quem não se emociona com os rendados reis, os bigodaças da República, ou os Dolce & Gabannizados actuais.

Nos dias de hoje aos portugas só serve procumbir, nada de passos atrás, para a frente é a queda… e são “futuristas e tudo”. Os nossos gestores, cientistas e investigadores já descobriram de tudo: planetas, afiadores sem lâmina, facas sem gume, quadrados redondos, bigodes sem pêlo, cães sem o osso, supermercados com prateleiras, sarna sem comichão, mensagens em garrafas, rodas para carros, sandálias para ir a Fátima. Em tudo somos bons, até o Vasco da Gama descobriu Portugal quando vinha da Índia.

O abdominoso português dá lugar ao corredor de maratonas, o comedor de mexerufada dá lugar ao paladar fino, o inquilino de prédios açamoucados dá lugar ao ser híbrido do Parque das Nações. As mudanças são tão vertiginosas que nós somos vistos em todo o mundo como a nova Pérsia. Aquele povo enfezado e mefítico dá lugar aos modernos “futuristas e tudo” da festiva civilização da tasquinha e do chouriço. Novíssima em folha com mitos, sonhos, santos, heróis envoltos em farpela nova. Até um “novo desejado” aguarda a manhã de nevoeiro para deixar os seus muito elogiados cargos na Europa e vir nos salvar.

Nesta prazenteira época assobia-se o Hino Nacional ao lado do “Vestido Azul” – o celebrado hino da Floribella. Beija-se um polícia ou um padre e a bandeira é o novo pano da moda. O ornamento de sítios e órgãos. O adiáforo acessório. O bloco de notas para dar autógrafos. Vê-se em camisolas, calças, cuecas, meias, cachecóis e bonés. Tanto embrulha postas de peixe como mulheres nuas. As bandeiras fabricadas em Hong Kong, (com pagodes em vez de castelos), compradas, oferecidas, emprestadas, doadas, coloriram o nosso contentamento, neste grande ensejo da Pátria, na melhor época balnear da nossa História (o Verão de 2004). Agora falta ao Estado manter a calma, porque os símbolos são do povo, pagaram por eles ao chinês da esquina. Condenar quem maltrata a bandeira estampando-lhe publicidade, ou queimando por gozo, serve para mais uma risada pelo ridículo subsequente da intervenção da Justiça. Os tribunais com funcionários a mais, superlotados de juízes com pouca formação técnica e nenhum conhecimento da realidade cultural a que são chamados julgar, incapazes de organizar racionalmente o trabalho, fazem dos julgamentos o melhor exemplo da comédia vicentina. Fazer um cidadão passar por isto pode ser traumatizante mas, sobretudo, é dar-lhe um “banho de realidade”, findando com todos os sonhos adquiridos no Verão2004 nos ecrãs da Praça Sony.

Os portugueses emigram e de repente cumprem o seu sonho de propriedade: é o Inter de Figo, é o Paris Saint-Germain de Pauleta, é o Manchester de Cristiano, é o Chelsea de Mourinho. É tiro e queda. Chegam e são logo donos. E têm vidas extraordinárias como o Joe Berardo do anúncio American Express. Para o seu país os portugueses deveriam querer algo mais do que uma presiganga no meio do Atlântico como num qualquer romance de Saramago. E reduzir os Cursos Superiores para três anos é o primeiro passo, pois, não faz sentido demorar muito tempo a formar os nossos sábios para que eles cedo partam à conquista do mundo. São sábios supersónicos, de atar e pôr ao fumeiro que ficam bem em qualquer comunidade científica. O ideal seria Cursos Superiores de vinte minutos para que os portugueses possam cumprir os seus legítimos anseios. Mesmo aquele de punir os responsáveis pelo fiasco das obras públicas sem ser preciso olhar para um espelho e perceber que séculos de idiotice não se apagam com o Windows XP.