Bonito de se ver
Viver finalmente na sociedade que realizou o céu na terra abençoou-nos com vantagens que as gerações passadas nem sonhavam. Escritores mais ou menos visionários deram alguns lamirés sobre o futuro. Jules Verne imaginou uma grande parte da tecnologia que os epígonos irão realizar numa narcisista exibição de artefactos em feiras mundiais de geringonças. Começou à sombra da torre Eiffel a fantasia de que a vida da Humanidade estava irremediavelmente facilitada. Aldous Huxley previa uma vitória da genética sobre a diversidade humana quando a ciência governasse. E nas mãos das Comissões de Ética relegamos o patriarcal poder de distinguir o Bem do Mal. George Orwell falava do triunfo da política do controlo quando o mundo se transformar numa quinta governada pelos porcos. Esse momento chegou e as câmaras de vídeo-vigilância são as melhores amigas do polícia e do político. H. G. Wells concebe uma sociedade de aparente perfeição superficial onde o ameaçador perigo vem das profundezas. Amarga realidade dos nossos dias que toca a todos. Tanto à top model quando o espelho lhe devolve as primeiras rugas, como ao proletário que acreditava ter encontrado a fábrica eterna, como ao empresário confrontado com os ataques ao lucro ilimitado. De uma maneira geral, nenhum dos escritores se enganou nos quadros futuristas que descreveu. Mas o seu poder imaginativo não foi capaz de alcançar o que o porvir realmente nos destinava, ou seja, a realização da sociedade perfeita. Nenhum deles imaginou Wbush.
Os actuais 6 mil milhões de habitantes da terra não dão o devido valor à sorte que tiveram de serem contemporâneos do político americano. A sua obsessão pela “democracia” e pelo “processo político” revolucionaram o mundo, tal como, as canetas de feltro de Yves Saint Laurent revolucionaram o corpo da mulher quatro décadas antes. Os detractores dirão que Wbush apenas papagueia uma teoria de recurso depois das justificações para a invasão do Iraque se revelarem patranhas. Mas isso é o mesmo que dizer que Yves Saint Laurent queria unicamente ver modelos nuas em vez de criar Haute Couture. Pressupõe uma sonsice pouco própria de um homem temente a Deus. A verdade é que um e outro tornaram o planeta mais bonito. E fresquinho para viver.
A olho desarmado parece que Israel, aproveitando o inusitado poder que tem na actual administração americana, está a redesenhar a seu favor o mapa do Médio Oriente. Afastando Saddam Hussein que ajudava financeiramente as famílias dos suicidas. Apertando o Irão para continuar a ser única potência nuclear na zona. Matando palestinianos à tripa forra, tornando-lhes a vida impossível até conseguir correr com todos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Mas, numa análise armada da lente da crítica, o caso muda de figura. Israel, tutorada por Wbush, deu ao mundo a maior lição de civismo alguma vez vista. Somente equiparável a esse outro momento chave da História do civismo mundial – a introdução, no boxe, das regras do marquês de Queensbury. O povo de David trouxe um novo conceito para a resolução de conflitos. Em vez do recurso à dispendiosa e traumatizante guerra, ensaiam na Palestina uma inovadora abordagem, sem fogo nem sangue. Mais de acordo com o “efeito peeping Tom” dos omnipresentes Meios de Comunicação Social convenientemente auto-censurados nas imagens que podem mostrar. Isto é, o povo judeu adaptou-se aos tempos da TV em directo e a cores. Quem está lembrado da primeira evacuação da Faixa de Gaza, em 1967, transmitida em diferido, na fealdade do preto e branco, viu seres andrajosos, esqueléticos, a correrem para salvar a vida. Mulheres agarradas a crianças com o terror espelhado na cara. Tanques e bombas arrasando as suas míseras casas. Cadáveres misturados com areia. Homens carregando cadeiras desengonçadas. Uma chusma desnorteada a desaguar na Jordânia. E, compara com a recente retirada dos colonatos da mesma cobiçada zona, verifica perplexo, que não foi disparado um único tiro. Foram destinados quatro soldados para cada indivíduo a retirar. Dois para os membros inferiores outros dois para os membros superiores. Vivazes e esperneando as pessoas eram metidas em autocarros com destino a novel urbanização. Em vez de, moribundas, esticando o pernil, em ambulâncias, na direcção da quinta das tabuletas. Uma coisa tão bonita de se ver. Ficará na História este método revolucionário do exército israelita e já se pensa aplicá-lo no Iraque, no Afeganistão, no Irão e na Coreia do Norte. E… porque não, no Líbano.
Em Portugal, o blusão verde de José Cid inaugura a TV a cores, decorria o ano de 1980. Desde esse dia a nossa vida mudou radicalmente. Passamos a viver os acontecimentos com mais intensidade dependentes da saturação de cor. Se bem me lembro, umas imagens a cores do Primeiro-ministro, de mão dada com a esposa, deambulando nos jardins de S. Bento, valiam mais, emotiva e culturalmente, que cinquenta programas, a preto e branco, do Vitorino Nemésio, passeando pelo quotidiano da alma portuguesa. Com a TV a cores ficámos mais católicos ainda. Em 1978 a eleição de João Paulo II não atraiu uma mosca. Era um assunto para beatas mais dedicadas. O ecrã a preto e branco nem permitia ver bem se o fumo era branco ou preto. No entanto, o espectáculo da morte e eleição do Papa parece concebido de propósito para uma transmissão colorida. Aqueles dourados, os brancos imaculados, os vermelhos vivos, o campo de profundidade das salas, o fausto das paredes, velhos de cabelos encanecidos movendo-se ao “ralenti”, um regalo para as câmaras digitais. Os papícolas compreenderam o poder prosélito e fotogénico dos seus rituais e abriram-se ao mundo do audiovisual com os resultados espectaculares que se conhece. Com a TV a cores a bandeira americana fica mais bonita, mais hipnótica, mais rabo de Bruce Springstein na capa do “Born in USA”, e ficamos a ver passar os aviões da Air Guantanamo para fazer um favor ao amigo Wbush.
Viver finalmente na sociedade que realizou o céu na terra abençoou-nos com vantagens que as gerações passadas nem sonhavam. Escritores mais ou menos visionários deram alguns lamirés sobre o futuro. Jules Verne imaginou uma grande parte da tecnologia que os epígonos irão realizar numa narcisista exibição de artefactos em feiras mundiais de geringonças. Começou à sombra da torre Eiffel a fantasia de que a vida da Humanidade estava irremediavelmente facilitada. Aldous Huxley previa uma vitória da genética sobre a diversidade humana quando a ciência governasse. E nas mãos das Comissões de Ética relegamos o patriarcal poder de distinguir o Bem do Mal. George Orwell falava do triunfo da política do controlo quando o mundo se transformar numa quinta governada pelos porcos. Esse momento chegou e as câmaras de vídeo-vigilância são as melhores amigas do polícia e do político. H. G. Wells concebe uma sociedade de aparente perfeição superficial onde o ameaçador perigo vem das profundezas. Amarga realidade dos nossos dias que toca a todos. Tanto à top model quando o espelho lhe devolve as primeiras rugas, como ao proletário que acreditava ter encontrado a fábrica eterna, como ao empresário confrontado com os ataques ao lucro ilimitado. De uma maneira geral, nenhum dos escritores se enganou nos quadros futuristas que descreveu. Mas o seu poder imaginativo não foi capaz de alcançar o que o porvir realmente nos destinava, ou seja, a realização da sociedade perfeita. Nenhum deles imaginou Wbush.
Os actuais 6 mil milhões de habitantes da terra não dão o devido valor à sorte que tiveram de serem contemporâneos do político americano. A sua obsessão pela “democracia” e pelo “processo político” revolucionaram o mundo, tal como, as canetas de feltro de Yves Saint Laurent revolucionaram o corpo da mulher quatro décadas antes. Os detractores dirão que Wbush apenas papagueia uma teoria de recurso depois das justificações para a invasão do Iraque se revelarem patranhas. Mas isso é o mesmo que dizer que Yves Saint Laurent queria unicamente ver modelos nuas em vez de criar Haute Couture. Pressupõe uma sonsice pouco própria de um homem temente a Deus. A verdade é que um e outro tornaram o planeta mais bonito. E fresquinho para viver.
A olho desarmado parece que Israel, aproveitando o inusitado poder que tem na actual administração americana, está a redesenhar a seu favor o mapa do Médio Oriente. Afastando Saddam Hussein que ajudava financeiramente as famílias dos suicidas. Apertando o Irão para continuar a ser única potência nuclear na zona. Matando palestinianos à tripa forra, tornando-lhes a vida impossível até conseguir correr com todos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Mas, numa análise armada da lente da crítica, o caso muda de figura. Israel, tutorada por Wbush, deu ao mundo a maior lição de civismo alguma vez vista. Somente equiparável a esse outro momento chave da História do civismo mundial – a introdução, no boxe, das regras do marquês de Queensbury. O povo de David trouxe um novo conceito para a resolução de conflitos. Em vez do recurso à dispendiosa e traumatizante guerra, ensaiam na Palestina uma inovadora abordagem, sem fogo nem sangue. Mais de acordo com o “efeito peeping Tom” dos omnipresentes Meios de Comunicação Social convenientemente auto-censurados nas imagens que podem mostrar. Isto é, o povo judeu adaptou-se aos tempos da TV em directo e a cores. Quem está lembrado da primeira evacuação da Faixa de Gaza, em 1967, transmitida em diferido, na fealdade do preto e branco, viu seres andrajosos, esqueléticos, a correrem para salvar a vida. Mulheres agarradas a crianças com o terror espelhado na cara. Tanques e bombas arrasando as suas míseras casas. Cadáveres misturados com areia. Homens carregando cadeiras desengonçadas. Uma chusma desnorteada a desaguar na Jordânia. E, compara com a recente retirada dos colonatos da mesma cobiçada zona, verifica perplexo, que não foi disparado um único tiro. Foram destinados quatro soldados para cada indivíduo a retirar. Dois para os membros inferiores outros dois para os membros superiores. Vivazes e esperneando as pessoas eram metidas em autocarros com destino a novel urbanização. Em vez de, moribundas, esticando o pernil, em ambulâncias, na direcção da quinta das tabuletas. Uma coisa tão bonita de se ver. Ficará na História este método revolucionário do exército israelita e já se pensa aplicá-lo no Iraque, no Afeganistão, no Irão e na Coreia do Norte. E… porque não, no Líbano.
Em Portugal, o blusão verde de José Cid inaugura a TV a cores, decorria o ano de 1980. Desde esse dia a nossa vida mudou radicalmente. Passamos a viver os acontecimentos com mais intensidade dependentes da saturação de cor. Se bem me lembro, umas imagens a cores do Primeiro-ministro, de mão dada com a esposa, deambulando nos jardins de S. Bento, valiam mais, emotiva e culturalmente, que cinquenta programas, a preto e branco, do Vitorino Nemésio, passeando pelo quotidiano da alma portuguesa. Com a TV a cores ficámos mais católicos ainda. Em 1978 a eleição de João Paulo II não atraiu uma mosca. Era um assunto para beatas mais dedicadas. O ecrã a preto e branco nem permitia ver bem se o fumo era branco ou preto. No entanto, o espectáculo da morte e eleição do Papa parece concebido de propósito para uma transmissão colorida. Aqueles dourados, os brancos imaculados, os vermelhos vivos, o campo de profundidade das salas, o fausto das paredes, velhos de cabelos encanecidos movendo-se ao “ralenti”, um regalo para as câmaras digitais. Os papícolas compreenderam o poder prosélito e fotogénico dos seus rituais e abriram-se ao mundo do audiovisual com os resultados espectaculares que se conhece. Com a TV a cores a bandeira americana fica mais bonita, mais hipnótica, mais rabo de Bruce Springstein na capa do “Born in USA”, e ficamos a ver passar os aviões da Air Guantanamo para fazer um favor ao amigo Wbush.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home