O sexo com neandertais tornou os humanos mais vulneráveis à Covid-19, mas com menos riscos de contrair HIV
Genes herdados dos homens de Neandertal podem reduzir a
probabilidade de ser infetados pelo vírus HIV pessoas que adoecerem gravemente
com a Covid-19, que o mesmo gene torna mais vulneráveis.
A herança neandertal voltou a dar cartas para explicar os
muitos acasos da evolução humana. As pessoas que tiveram Covid-19 têm um risco
27% menor de contrair o vírus do HIV, concluiu um estudo da autoria de Hugo
Zeberg, do Instituto Karolinska (Suécia), noticia o El País. As
razões para tal ainda não são claras, porém podem estar relacionadas com o
facto de esses genes herdados dos homens de Neandertal também protegerem contra
a varíola.
Já noutra investigação, em conjunto com o geneticista
Svante Pääbo, conclui que esta herança, encontrada no cromossoma 3, pode
colocar algumas pessoas em maior risco de adoecerem gravemente com a Covid-19,
e que foi introduzido na linha genética humana entre 50.000 e 70.000 anos atrás
por causa do sexo dos homo sapiens com os neandertais. Os cientistas repararam
que se encontra em 16 por cento da população europeia e em metade das pessoas
do sul da Ásia e quase não existe em África e no leste da Ásia.
“A evolução é uma questão de equilíbrio”, recorda
Cristian Cañestro, líder do grupo de investigação de Evolução e Desenvolvimento
da Universidade de Barcelona, ao mesmo jornal. “É possível que esta mutação
tenha dado algumas desvantagens, porque a proteína [CCR5, associada aos casos
de Covid-19 mais grave] não desempenha bem a sua função, mas se der mais
hipóteses de sobrevivência contra um vírus mortal, há uma vantagem frente ao
resto da população”, acrescenta.
Ou seja, uma mutação benéfica numa circunstância
pode não o ser noutra. Um estudo publicado na revista Science, em
2016, mostrou como um gene da espécie extinta tornou o sangue mais espesso e,
portanto, facilitou o aparecimento de coágulos. Para os seres humanos sem
médicos para suturar feridas de acidentes, essa coagulação rápida é uma vantagem
decisiva, enquanto para os que têm estilos de vida que favorecem as doenças
cardíacas, essa mesma variante genética é vista como um perigo para a saúde.
Esta ambivalência deve ser tida igualmente em consideração ao
avaliar a possibilidade de modificar embriões. Em 2018, na China,
nasceram duas meninas gémeas cujo gene CCR5 foi editado para desativá-lo.
Questionado sobre se estão em maior risco de ter uma infeção por Covid-19
grave, Zeberg não tem ainda uma resposta: “No momento, não temos motivos para
pensar que seja esse o caso”.
Fonte: Observador, 22 de fevereiro de 2022
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