E fez-se fumeiro
Portugal ficou tão interessante como o Iraque. Se na terra do Rafidain, explodem bombas pintalgando o quotidiano de um estonteante salpicado Jackson Pollock (em matizes de vermelho, principalmente), nesta, consagrada ao verde tinto, rebentam patacoadas embelezando o canteiro nacional da frescura micogénica do lar doce lar da família Addams. Aquela dança museológica, em Santa Comba Dão, entre dois ranchos folclóricos rivais, num gritante despique sobre o santanário cadáver de Salazar, não revela atraso civilizacional, como foi sugerido pelo grupo contra museu, porque o país não trilha esses paços, mas mostra a importância do homem providencial na vivência lusa. Sarandalhas esperava o povo sempre que mudava o rabo no trono, (para dias depois amaldiçoar a sorte macaca); de Sidónio Pais que imaculado partiu da estação do Rossio sem fazer estragos no Governo; de Salazar que foi um pai para os filhos, (os bons recompensados com pirolitos e os traquinas castigados com puxões de orelhas); de Ramalho Eanes que personalizou a Democracia exaurindo-lhe o indesejável anonimato. (Para quem lamenta a distância entre votantes e votados. Conta-se que um dia uma velhota se achegou de Ramalho e disse-lhe: “eu votei em si”. Ao que o Presidente dos óculos escuros inspirador dos melhores murais do MRPP respondeu: “a sua cara não me é estranha”).
Descido do céu no seu alazão branco como S. Tiago, parido entre palhas num presépio como Cristo, surgido da manhã submersa na névoa como D. Sebastião ou simples acaso da roleta genética como Paulo Portas, precisamos do “Homem Certo” como de megapixels na Olympus. Claro que homem é uma forma de falar. Pode muito bem ser uma mulher. Quando Fátima Felgueiras regressa das terras de Vera Cruz, para onde se escapulira para evitar a degradante prisão preventiva, o povo beijava-lhe as milagrosas mãos que, neste truque de ausência calculada do país, escaparam à esfregona de faxina numa ala da prisão de Tires ou na de Custódias. Aquelas imagens da mulher providencial que retorna ao seio dos munícipes-adoradores, mantendo incólume o penteado, ficarão na História autárquica e do misticismo religioso em Portugal. Por cá temos tanta fruta providencial que até exportamos – Carmo, uma das irmãs de Cinha Jardim, enviou o paladino da liberdade, Luís Delgado, para o mato de Moçambique para ensinar o uso, na perspectiva democrática, do garfo e faca ao líder (então rebelde) da RENAMO, Afonso Dhlakama.
Nestes dias recentes assistimos a outro exemplo deste visceral impulso do follow the (esclarecido) leader. No mesmo dia em que 120 mil almas trabalhadoras barafustavam nas ruas contra os estragos provocados pelas medidas do Governo nas malas, carteiras e bolsos, os três canais de televisão generalista abrem os respectivos telejornais com Henrique Granadeiro. O presidente da PT ia falar. Desde os tempos da Santa da Ladeira que as palavras não pesavam tanto no imaginário popular (jornalístico). Preparam-se os ouvidos para beberem as melíferas sentenças deste Spartacus que ousou vencer Crasso. Faz-se um compasso de espera enquanto ele ajeita os papéis e laracha bem disposto com Zeinal Bava sentado à sua direita. Os ansiosos jornalistas aproveitam para resumir a saga da OPA até a Assembleia-geral de accionistas que a matou. Que aquilo lhes deu pão para a boca durante um ano. Pelo desequilíbrio que produziria nas forças do mundo assemelhava-se à luta pelo “my precious” entre Frodo Baggins e Sauron. Foi uma épica lide pelo controlo da galinha dos ovos de ouro cravejados de diamantes. Entretanto, passava as imagens da entrada destes novos lutadores de SmackDown ou Raw. E vemos uma coisa deveras curiosa. Dirigentes sindicais, juntamente com trabalhadores da empresa, embandeirados e ensaiados para apoiar a administração da PT. Administradores, e accionistas associados, são recebidos pelos sindicalistas como o Undertaker, o Rey Misterio ou o Boogy Man, subindo para o ringue da fama. A facção contrária é apupada. Joe Berardo até aperta mãos como se fosse um dos putos dos D’ZRT ou dos 4 Taste. As gargantas gritam vivas e palavras de ordem: “a Sonae não passa”. Neste belo quadro (impressionista, porque impressiona) a luta de classes é substituída pela amizade de classe. Esqueceram-se todos que também gritaram “a reacção não passará”, ela passou e neste caso, os trabalhadores, com Belmiro ou Granadeiro, estão lixados. São úteis enquanto rendem depois… é flexisegurança, ou seja, agarrem-se onde puderem.
Na lista dos homens imprescindíveis tem destaque Paulo Macedo. Manuela Ferreira Leite acertou em cheio ao abrir os cordões do erário público para contratar esta oitava maravilha de Portugal. O Director-Geral dos Impostos tem sido louvado como o príncipe perfeito para o cargo. No território nacional e comunidades imigrantes não se encontra um gémeo. Mesmo que tivesse as diferenças entre Arnold Schewarzenegger e Danny DeVito que felizes seríamos pelo achamento de mais um espécimen! Mas não há outro igual. A oposição pede ao Governo que faça uma excepção na lei para manter o Einstein da boa-cobrança. Afinal, limitar os ordenados dos administradores públicos ao valor que ganha o primeiro-ministro é castrante da qualidade dos serviços prestados. Está provado que nesta alta esfera laboral um f**dido e mal-pago perde o interesse na competitividade e quem se trama é o patrão que não vê lucros. Se fosse um varredor teria de dar o litro alegre e contente por receber algo no fim do mês. A ideia de um gestor a ganhar pouco é tão estapafúrdia como Fidel Castro retroceder na idade. Mas existe outra razão para introduzir uma excepção na lei. Quando esta malta se encontra para uma boys night out, um gestor público com 5000 euros mensais sentir-se-ia melindrado entre os colegas, contando os trocos, retraindo-se na gorjeta e indo para casa de táxi, enquanto os outros bazofiam o cartão dourado e partem nos Mercedes e Audis. Ninguém pensou que se dá o caso caricato de um gestor privado rir-se do que ganha Sócrates. Isso gasta ele em fruta e chocolate (sic, na outra esbanja muito mais).
No concurso “Grandes Portugueses”, da RTP, Salazar deveria ser o justo vencedor. Foi ele o homem providencial que arrumou as finanças do Estado em 1928. Depois de nomeado chefe do Governo em 1932 e nos 48 anos seguintes moldou a alma lusa. Devemos-lhe a espinha dorsal da portugalidade. Os famosos três efes, Futebol, Fátima e Fado, sem os quais seríamos espanhóis, franceses ou pior, ingleses. Passados trinta anos de democracia afinal só conseguimos acrescentar mais um efe nesta fórmula – o de Fumeiro. O país prepara-se para viver do Turismo e rebusca receitas nos conventos e baús das bisavós para apresentar uma culinária que faça os estrangeiros chuparem os dedos. Não há terriola que não tenha a sua Feira do Fumeiro para mostrar gastronomia original e saborosa e refocilar o luso espírito na arte de bem servir. Os turistas nacionais estão rendidos. Cirandam de vila em vila e, nalguns casos, quando o álcool tolda a visão e a vontade de chegar aperta, espatifam-se nas auto-estradas. Na atracção de “camones” ainda não existem resultados, mas como se sabe a pele trigueira fica bem na roupa branca de empregado de mesa, pode ser que eles gostem. Em todo o caso há sempre um McDonald’s de recurso à culinária nacional.
Portugal ficou tão interessante como o Iraque. Se na terra do Rafidain, explodem bombas pintalgando o quotidiano de um estonteante salpicado Jackson Pollock (em matizes de vermelho, principalmente), nesta, consagrada ao verde tinto, rebentam patacoadas embelezando o canteiro nacional da frescura micogénica do lar doce lar da família Addams. Aquela dança museológica, em Santa Comba Dão, entre dois ranchos folclóricos rivais, num gritante despique sobre o santanário cadáver de Salazar, não revela atraso civilizacional, como foi sugerido pelo grupo contra museu, porque o país não trilha esses paços, mas mostra a importância do homem providencial na vivência lusa. Sarandalhas esperava o povo sempre que mudava o rabo no trono, (para dias depois amaldiçoar a sorte macaca); de Sidónio Pais que imaculado partiu da estação do Rossio sem fazer estragos no Governo; de Salazar que foi um pai para os filhos, (os bons recompensados com pirolitos e os traquinas castigados com puxões de orelhas); de Ramalho Eanes que personalizou a Democracia exaurindo-lhe o indesejável anonimato. (Para quem lamenta a distância entre votantes e votados. Conta-se que um dia uma velhota se achegou de Ramalho e disse-lhe: “eu votei em si”. Ao que o Presidente dos óculos escuros inspirador dos melhores murais do MRPP respondeu: “a sua cara não me é estranha”).
Descido do céu no seu alazão branco como S. Tiago, parido entre palhas num presépio como Cristo, surgido da manhã submersa na névoa como D. Sebastião ou simples acaso da roleta genética como Paulo Portas, precisamos do “Homem Certo” como de megapixels na Olympus. Claro que homem é uma forma de falar. Pode muito bem ser uma mulher. Quando Fátima Felgueiras regressa das terras de Vera Cruz, para onde se escapulira para evitar a degradante prisão preventiva, o povo beijava-lhe as milagrosas mãos que, neste truque de ausência calculada do país, escaparam à esfregona de faxina numa ala da prisão de Tires ou na de Custódias. Aquelas imagens da mulher providencial que retorna ao seio dos munícipes-adoradores, mantendo incólume o penteado, ficarão na História autárquica e do misticismo religioso em Portugal. Por cá temos tanta fruta providencial que até exportamos – Carmo, uma das irmãs de Cinha Jardim, enviou o paladino da liberdade, Luís Delgado, para o mato de Moçambique para ensinar o uso, na perspectiva democrática, do garfo e faca ao líder (então rebelde) da RENAMO, Afonso Dhlakama.
Nestes dias recentes assistimos a outro exemplo deste visceral impulso do follow the (esclarecido) leader. No mesmo dia em que 120 mil almas trabalhadoras barafustavam nas ruas contra os estragos provocados pelas medidas do Governo nas malas, carteiras e bolsos, os três canais de televisão generalista abrem os respectivos telejornais com Henrique Granadeiro. O presidente da PT ia falar. Desde os tempos da Santa da Ladeira que as palavras não pesavam tanto no imaginário popular (jornalístico). Preparam-se os ouvidos para beberem as melíferas sentenças deste Spartacus que ousou vencer Crasso. Faz-se um compasso de espera enquanto ele ajeita os papéis e laracha bem disposto com Zeinal Bava sentado à sua direita. Os ansiosos jornalistas aproveitam para resumir a saga da OPA até a Assembleia-geral de accionistas que a matou. Que aquilo lhes deu pão para a boca durante um ano. Pelo desequilíbrio que produziria nas forças do mundo assemelhava-se à luta pelo “my precious” entre Frodo Baggins e Sauron. Foi uma épica lide pelo controlo da galinha dos ovos de ouro cravejados de diamantes. Entretanto, passava as imagens da entrada destes novos lutadores de SmackDown ou Raw. E vemos uma coisa deveras curiosa. Dirigentes sindicais, juntamente com trabalhadores da empresa, embandeirados e ensaiados para apoiar a administração da PT. Administradores, e accionistas associados, são recebidos pelos sindicalistas como o Undertaker, o Rey Misterio ou o Boogy Man, subindo para o ringue da fama. A facção contrária é apupada. Joe Berardo até aperta mãos como se fosse um dos putos dos D’ZRT ou dos 4 Taste. As gargantas gritam vivas e palavras de ordem: “a Sonae não passa”. Neste belo quadro (impressionista, porque impressiona) a luta de classes é substituída pela amizade de classe. Esqueceram-se todos que também gritaram “a reacção não passará”, ela passou e neste caso, os trabalhadores, com Belmiro ou Granadeiro, estão lixados. São úteis enquanto rendem depois… é flexisegurança, ou seja, agarrem-se onde puderem.
Na lista dos homens imprescindíveis tem destaque Paulo Macedo. Manuela Ferreira Leite acertou em cheio ao abrir os cordões do erário público para contratar esta oitava maravilha de Portugal. O Director-Geral dos Impostos tem sido louvado como o príncipe perfeito para o cargo. No território nacional e comunidades imigrantes não se encontra um gémeo. Mesmo que tivesse as diferenças entre Arnold Schewarzenegger e Danny DeVito que felizes seríamos pelo achamento de mais um espécimen! Mas não há outro igual. A oposição pede ao Governo que faça uma excepção na lei para manter o Einstein da boa-cobrança. Afinal, limitar os ordenados dos administradores públicos ao valor que ganha o primeiro-ministro é castrante da qualidade dos serviços prestados. Está provado que nesta alta esfera laboral um f**dido e mal-pago perde o interesse na competitividade e quem se trama é o patrão que não vê lucros. Se fosse um varredor teria de dar o litro alegre e contente por receber algo no fim do mês. A ideia de um gestor a ganhar pouco é tão estapafúrdia como Fidel Castro retroceder na idade. Mas existe outra razão para introduzir uma excepção na lei. Quando esta malta se encontra para uma boys night out, um gestor público com 5000 euros mensais sentir-se-ia melindrado entre os colegas, contando os trocos, retraindo-se na gorjeta e indo para casa de táxi, enquanto os outros bazofiam o cartão dourado e partem nos Mercedes e Audis. Ninguém pensou que se dá o caso caricato de um gestor privado rir-se do que ganha Sócrates. Isso gasta ele em fruta e chocolate (sic, na outra esbanja muito mais).
No concurso “Grandes Portugueses”, da RTP, Salazar deveria ser o justo vencedor. Foi ele o homem providencial que arrumou as finanças do Estado em 1928. Depois de nomeado chefe do Governo em 1932 e nos 48 anos seguintes moldou a alma lusa. Devemos-lhe a espinha dorsal da portugalidade. Os famosos três efes, Futebol, Fátima e Fado, sem os quais seríamos espanhóis, franceses ou pior, ingleses. Passados trinta anos de democracia afinal só conseguimos acrescentar mais um efe nesta fórmula – o de Fumeiro. O país prepara-se para viver do Turismo e rebusca receitas nos conventos e baús das bisavós para apresentar uma culinária que faça os estrangeiros chuparem os dedos. Não há terriola que não tenha a sua Feira do Fumeiro para mostrar gastronomia original e saborosa e refocilar o luso espírito na arte de bem servir. Os turistas nacionais estão rendidos. Cirandam de vila em vila e, nalguns casos, quando o álcool tolda a visão e a vontade de chegar aperta, espatifam-se nas auto-estradas. Na atracção de “camones” ainda não existem resultados, mas como se sabe a pele trigueira fica bem na roupa branca de empregado de mesa, pode ser que eles gostem. Em todo o caso há sempre um McDonald’s de recurso à culinária nacional.
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