E nós pumba, catrapumpa, pumba
A terra dos lusos avança na senda da grandiosidade camoniana, dos heróis de pura alma e coragem na sua liça, do cheiro a pétalas de rosa do defunto corpo libertado, dos feitos tão grandes que têm de ser encaixados na História a golpe de pontapé, como o envenenado (e inchado) corpo de Alexandre VI, o Papa Borgia, no seu caixão. Para trás fica o irritante “se”. Se… eu tivesse nascido num país a sério, um génio seria, mostraria a John Archibald Wheeler que os “buracos negros” têm pêlos. Se… eu tivesse nascido num país com um meio científico descobriria uma engenhoca matemática para captar a respiração do gato de Schrödinger. Se… eu tivesse nascido noutro lado amigaria com Brad Pitt e Angelina Jolie. Se… cá crescesse mangas e papaias, fazia-se cá salada de frutas. Se… a CIA transportasse os prisioneiros de bicicleta, hoje os euro-deputados investigariam as “bicicletas das CIA”.
Nas matérias importantes damos cartas (e de Bridge, que é mais difícil). Na organização de eventos desportivos cantamos em coro com Britney Spears “oops! … I did it again”. Depois dos retumbantes sucessos na bola chegou a vez dos popós. O foguetório para a realização do Lisboa-Dakar 2007 foi lançado pelo canal de TV para o qual pagamos taxa. Foi a melhor organização de sempre! Os elogios rasgavam o sinal aberto da RTP. O secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, luziluzia felicidade na tenda VIP, agarrado ao rico pastelinho de bacalhau, calando as más-línguas que insistem em afirmar que não existem VIPs em Portugal mas sim ICCs (Importantes Como o C***). Fazendo um parêntesis linguístico: há quem diga que os acrónimos não têm plural mas fica estranho dizer “tenho a colecção dos CD do Tony Carreira” e não “sou o afortunado proprietário da colecção inteirinha dos CDs do Tony Carreira”. De volta às Wacky Races, esqueçamos que as emissões de CO2 do combustível gasto durante a prova totalizam 3 625 toneladas, um planeta mais quentinho poupa-nos nos blusões e peúgas, para o povo esta prova motorizada foi mais um motivo para a febra e o tintol. Era vê-los pernoitando em tendas (normalecas, não VIP), empoleirados em árvores, estoicamente alapados num sítio para marcar lugar, satisfeitos por verem passar os veículos – moderna variante do “ver passar os bois”.
Para ajudar na festa os santos de casa fizeram milagres. Os nossos aceleras nos carros e nas motas atravessaram o território no primeiro lugar da classificação. E não se pense que foi um jeitinho relações públicas dos outros pilotos para com os pagantes anfitriões, a luta foi renhida, dura e poeirenta. Sucede que no Portugal do planeamento antecipado não nos podemos refugiar na velha sabedoria popular para encolher os ombros derrotados, sem pelejar para brilhar dentro de fronteiras, porque a alma é pequena logo não vale a pena. As realizações caseiras têm sido elefantes cinzentos, enormes, palpáveis, e, como consequência, a sabedoria popular renova-se. De facto, “em casa de ferreiro espeto de ferro”, reflecte melhor a nossa maneira de ser no terceiro milénio.
Segundo parece esta nova alma lusa vem de longe, dos recuados tempos do Cavaco Silva estudante universitário, quando ele frequentava o Martinho da Arcada. Enternecedor explicou-nos, na comemoração dos 225 anos da popular casa de comes e bebes, que no início do mês havia "massa" para o lanche de iogurte, copo de leite e torrada ou queque. E que no resto dos dias os empregados fechavam os olhos tolerantes ao “minhoca dos livros” que ocupava uma mesa a tarde inteira com um copito de leite na conta. Esta realidade paralela foi benéfica para o país da complacência democrática porque prevaleceu sobre uma outra realidade daqueles tempos. Quem estudou em Lisboa sabe que as coisas se passavam de forma diferente. Sempre que se sacava dos canhenhos nos cafés os empregados trocavam olhares desconfiados. Os donos dessas baiucas não permitiam que se estudasse no estabelecimento e muitos tinham afixado o afugentador cartaz: “proibido estudar”. (Seria aterrador se esta realidade tivesse predominado. Hoje estaríamos garrotados com atraso económico e assombrados por funâmbulos no poder a equilibrarem as finanças mais uma legislatura e quem vir a seguir que feche a porta).
A terra dos lusos avança na senda da grandiosidade camoniana, dos heróis de pura alma e coragem na sua liça, do cheiro a pétalas de rosa do defunto corpo libertado, dos feitos tão grandes que têm de ser encaixados na História a golpe de pontapé, como o envenenado (e inchado) corpo de Alexandre VI, o Papa Borgia, no seu caixão. Para trás fica o irritante “se”. Se… eu tivesse nascido num país a sério, um génio seria, mostraria a John Archibald Wheeler que os “buracos negros” têm pêlos. Se… eu tivesse nascido num país com um meio científico descobriria uma engenhoca matemática para captar a respiração do gato de Schrödinger. Se… eu tivesse nascido noutro lado amigaria com Brad Pitt e Angelina Jolie. Se… cá crescesse mangas e papaias, fazia-se cá salada de frutas. Se… a CIA transportasse os prisioneiros de bicicleta, hoje os euro-deputados investigariam as “bicicletas das CIA”.
Nas matérias importantes damos cartas (e de Bridge, que é mais difícil). Na organização de eventos desportivos cantamos em coro com Britney Spears “oops! … I did it again”. Depois dos retumbantes sucessos na bola chegou a vez dos popós. O foguetório para a realização do Lisboa-Dakar 2007 foi lançado pelo canal de TV para o qual pagamos taxa. Foi a melhor organização de sempre! Os elogios rasgavam o sinal aberto da RTP. O secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, luziluzia felicidade na tenda VIP, agarrado ao rico pastelinho de bacalhau, calando as más-línguas que insistem em afirmar que não existem VIPs em Portugal mas sim ICCs (Importantes Como o C***). Fazendo um parêntesis linguístico: há quem diga que os acrónimos não têm plural mas fica estranho dizer “tenho a colecção dos CD do Tony Carreira” e não “sou o afortunado proprietário da colecção inteirinha dos CDs do Tony Carreira”. De volta às Wacky Races, esqueçamos que as emissões de CO2 do combustível gasto durante a prova totalizam 3 625 toneladas, um planeta mais quentinho poupa-nos nos blusões e peúgas, para o povo esta prova motorizada foi mais um motivo para a febra e o tintol. Era vê-los pernoitando em tendas (normalecas, não VIP), empoleirados em árvores, estoicamente alapados num sítio para marcar lugar, satisfeitos por verem passar os veículos – moderna variante do “ver passar os bois”.
Para ajudar na festa os santos de casa fizeram milagres. Os nossos aceleras nos carros e nas motas atravessaram o território no primeiro lugar da classificação. E não se pense que foi um jeitinho relações públicas dos outros pilotos para com os pagantes anfitriões, a luta foi renhida, dura e poeirenta. Sucede que no Portugal do planeamento antecipado não nos podemos refugiar na velha sabedoria popular para encolher os ombros derrotados, sem pelejar para brilhar dentro de fronteiras, porque a alma é pequena logo não vale a pena. As realizações caseiras têm sido elefantes cinzentos, enormes, palpáveis, e, como consequência, a sabedoria popular renova-se. De facto, “em casa de ferreiro espeto de ferro”, reflecte melhor a nossa maneira de ser no terceiro milénio.
Segundo parece esta nova alma lusa vem de longe, dos recuados tempos do Cavaco Silva estudante universitário, quando ele frequentava o Martinho da Arcada. Enternecedor explicou-nos, na comemoração dos 225 anos da popular casa de comes e bebes, que no início do mês havia "massa" para o lanche de iogurte, copo de leite e torrada ou queque. E que no resto dos dias os empregados fechavam os olhos tolerantes ao “minhoca dos livros” que ocupava uma mesa a tarde inteira com um copito de leite na conta. Esta realidade paralela foi benéfica para o país da complacência democrática porque prevaleceu sobre uma outra realidade daqueles tempos. Quem estudou em Lisboa sabe que as coisas se passavam de forma diferente. Sempre que se sacava dos canhenhos nos cafés os empregados trocavam olhares desconfiados. Os donos dessas baiucas não permitiam que se estudasse no estabelecimento e muitos tinham afixado o afugentador cartaz: “proibido estudar”. (Seria aterrador se esta realidade tivesse predominado. Hoje estaríamos garrotados com atraso económico e assombrados por funâmbulos no poder a equilibrarem as finanças mais uma legislatura e quem vir a seguir que feche a porta).
Nasceu um país de mangas arregaçadas para o trabalho, do esforço suado em bica, do calo na mão (ou no órgão que trabalha). Só no ano passado o Governo criou 79 grupos de trabalho. Desta vez não foram distribuídos apenas tachos para os boys & girls, mas criaram-se equipas competentíssimas, encharcadas de conceitos em inglês, para uma profunda avaliação de situações, identificação de problemas e apresentação de soluções para melhorar o que pode ser emendado e exterminar o que não tem conserto. Não deixa de ser premonitório que o quarto de Cavaco Silva dos tempos de estudante seja agora uma casa de banho. Lugar onde o esforço é sempre recompensado. Tal como sucederá aos trabalhadores portugueses que arrastam o novo fado económico, inventor da fórmula mágica para os problemas do Capitalismo: “trabalhar mais e ganhar menos”.
3 Comments:
At 11:35 da manhã, A Chata said…
Cada vez mais PUMBA!
Antigamente, ainda havia a possibilidade de emigrar e tentar ter uma vida melhor.
Mas, agora, emigrar para onde?
Bem leio jornais e livros para tentar descobrir um lugar no Mundo onde se viva melhor e o futuro não pareça tão negro mas, até agora, nada!
Talvez para outro planeta (se as viagens não fossem tão inacessíveis).
At 5:35 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Recomendo uma vista de olhos pelos telejornais. São os meus programas humorísticos preferidos. Muitas vezes não consigo ver até ao fim, não tenho memória para acumular tanta piada ( ou velocidade para tirar apontamentos). São verdadeira "comédia sentada" que nunca mais nos rimos com Woody Allen ou Adam Sandler.
At 12:10 da tarde, A Chata said…
Mas, na leitura dos jornais também se dá umas boas gargalhadas (algumas de puro panico):
A fúria do crédito fácil:
Bank issues credit card to cat
POSTED: 0149 GMT (0949 HKT), January 3, 2007
SYDNEY, Australia (Reuters) -- An Australian bank has apologized for issuing a credit card to a cat after its owner decided to test the bank's identity security system.
Reality a qualquer preço:
Fury as TV teenagers play house with REAL babies
By Paul Sims & Michael Seamark Last updated at 22:19pm on 3rd January 2007
Parent class: The teenage cast of the BBC reality show
The BBC has outraged child protection experts by producing a reality TV show where infants are handed over to live with teenage 'parents'.
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