Party para sempre
Dias de glória, com futuros tão brilhantes como as pedras de pirite, como as penas dos corvos, como os anéis dos chulos, como as esmolas dos bispos, como os contos de H. P. Lovecraft aguardam Portugal. Mesmo que o futuro se escaqueire em milhentas realidades paralelas todas serão boas. Desta vez não falhamos. Acertamos no bull’s eye. Talvez por sermos um país de originais toiradas, com forcados a puxar o rabo do toiro, resolvemos olhar em frente. Para o que interessa. Para o redondo, sem arrestas, perfeito do ponto de vista filosófico, Progresso, produto da heraclitiana luta dos contrários, que faz o mundo pular e avançar, como uma bola de Berlim com creme entre as mãos de uns politicões, à cata de um Tratado Constitucional (o santo Graal da União Europeia). Descobrimos a pedra filosofal da harmonia e da conciliação. Depois de umas boas cornadas vem a bonança (chamada “síntese” por Hegel e “Memorial Arrangements” pelos Malevolent Creation). A paz no Oeste, após a passagem do Lucky Luke, e os irmãos Dalton na cadeia, depende de nós, caso consigamos vender o franchising como bem fizemos com a “organização de Euros” (os torneios europeus de futebol com essa designação e não a circulação de moeda).
(Com a força diplomática na guelra que temos vamos resolver o problema da entrada da Turquia na EU. É simples. Basta ouvir o Santo Padre. Bento XVI está farto de chiar contra os políticos europeus que se “esqueceram” de incluir as “raízes cristãs” da Europa na introdução da vindoura Constituição. Faz-se a vontade ao Papa e, para não destoar, obriga-se a conversão do Turco ao Cristianismo. Quando o mameluco beijar as sandálias de Pedro abrimos-lhe hospitaleiramente os braços. Se não… que fique na Ásia).
Doutos lentes esgadanhando-se pela reitoria, mobilada pela IKEA (não mogno trabalhado, ou cerejeira, como no tempo do Salazar, que lhe daria mais prestígio) da Universidade Independente é, em qualquer parte do mundo, uma cena profética. Duas tribos em confronto ao som dos Frankie Goes to Hollywood, não vão para Hollywood, mas para a “Viriatolândia”, lugar mítico onde proto-lusos viviam minding their own business, antes de serem incomodados pelo Império Romano. O ensino ficará deveras superior quando a poeira assentar. Daquela luta entre contrários choverá “especialistas”, “peritos” e “cientistas” que pavimentarão os novos montes Hermínios de algodão doce e carrinhos de choque numa feira perfeita. Virá o tempo retratado no anúncio televisivo do ministério das Finanças, em que um tipo passeia na rua e, sem saber ler nem escrever, todos lhe acenam e agradecem. Tal como o chinesinho Limpopó do Badaró o ministro “expilica”. Portugal inteiro agradece porque você pediu a factura depois do bitoque ou da pizza al prosciutto cotto. Peça a factura se faz favor. Facturar faz o país avançar. E se todos pagarem eu pago menos. (Não sejamos pessimistas pensando que mais maçaroca nos cofres do Estado significa mais gasto nas ditas obras megalómanas. Parece dor de corno da baixa oposição dizer que a Ota ficaria completa com um acento agudo no “a” e “rio” no fim. Se Portugal construiu dez estádios não há nenhuma razão plausível para não construir dez aeroportos).
Encontramos ao pontapé pequenos rascunhos deste renascido país. Prenúncio do que será o ofuscante futuro. Nas belas notícias de meia hora, com directos e jornalistas fritando veludínea prosa para as câmaras, ou nos quadradinhos de fim de página dos jornais estão exemplos de que não somos lanterna vermelha de coisa alguma. Dentro do primeiro grupo, em Cernadelo, na Lousada, pudemos assistir ao regresso da pequena Andreia raptada há cerca de um ano do hospital de Penafiel. A mãe, instruída pelos sábios psicólogos da Comissão de Protecção de Menores, fez uma entrada pela porta grande, como fazem as vedetas Michael Jackson, Madonna ou Angelina Jolie. Cobriu a criança com um casaco para preservar direito de imagem e privacidade. (Escusado será dizer que a idiossincrasia nacional será respeitada com uma peregrinação a Fátima organizada por uma diligente vizinha para agradecer a graça). No segundo grupo, lemos que a PT com 867 milhões de euros corta descontos aos reformados. Calma, não há razão para vilipendiar a empresa com citações de Kelly Osbourne. Continuamos dentro da generosidade cristã. Ensina o catecismo que devemos desejar para os outros aquilo que desejamos para nós. E é isso que os gestores da PT fazem. Se eles são ricos, os outros também são, logo não há motivo para borlas.
Algo se passou no universo para merecermos o dia 28 de Março. As estrelas alinharam-se para nos beneficiar. Ontem comemoraram-se os 100 anos da irmã Lúcia, os 25 do G.O.E. e os 31 do Corpo de Intervenção da PSP. Santos e polícias. A espinha dorsal da nação. Muita sorte tivemos nós em a Lúcia ser uma mentirosa, intrujona chamava-lhe o pai, e não uma multiorgástica como Santa Teresa D’Ávila. Pois hoje teríamos poesia sobre as setas atiradas por Cristo contra as carnes estremecentes de prazer em vez de um hígido santuário para rezar. Os guerreiros morais do Grupo de Operações Especiais são homens que trocaram os lençóis Teletubies pela bandeira nacional. Heróis que esborracham contra o chão os nossos mais feros inimigos (ou os deixam todos tremeliques com aquelas pistolas de descargas eléctricas). Quando há 31 anos trocaram o nome da polícia fascista os homens de pouca fé duvidaram. Hoje em vez da Polícia de Choque (brrrr! o nome até arrepia) temos o Corpo de Intervenção (que faz lembrar Nietzsche ou então Bataille). E o bater é diferente. Bate leve levemente que quase não se sente.
Mas o que nos fará cantar com o grupo hip-hop de Leça da Palmeira, Mundo Secreto, “ei! nós chegamos à party tá na hora de pôr as pedras de gelo no Baccardi”, é o facto dos portugueses perceberam quem é o rei. Quem é o maior. Quem rules the neighbourhood. E votaram no Salazar como maior português de sempre. É verdade que ele considerava a televisão um divertimento para a sala dos ricos e foi Marcello Caetano, que depois de uma visita a França regressou entusiasmado, e persuadiu o velho das polainas de que ali havia algo. Sem a autorização de Salazar não teríamos telenovelas, perdão ficção nacional, nem concursos, nem filmes americanos dentro de casa. Ele também não gostava de futebol mas deixou-se convencer na construção do Estádio Nacional. Hoje as mulheres, mas sobretudo os homens, podem sonhar com as pernas do Cristianão Ronaldão ou do Ricardão Quaresmão. Não é fácil aparecer outro Salazar. Não é como encontrar um trevo na tromba de um elefante. Cavaco, poupadinho como o beirão de Santa Comba Dão, não passa por uma luz acesa sem a apagar, tanto em casa, na travessa do Possolo, como no palácio de Belém, gostaria de ser um ditador (o Corpo de Intervenção deu as suas melhores cargas de porrada quando ele foi primeiro-ministro). Mas com aquela vozinha mais parece o Vasco Granja a apresentar desenhos animados dos países da Cortina de Ferro e só se assemelha ao Salazar quando pronuncia os advérbios de modo. No entanto, deixa obra feita. Elvira Gaspar, 74 anos, vive num 4º de andar de um prédio velho de Lisboa sem elevador. Vai para 3 anos que não sai de casa pelo seu próprio pé. Há 6 meses foi escolhida como exemplo dos Roteiros Contra a Exclusão. Iria ser visitada por Cavaco Silva. Que honra! Espana os móveis. Veste a roupinha domingueira e recebe aquela comitiva toda. Muito calor humano (ou seriam os focos das televisões?). Conversa quanto baste. Adeus e muitas felicidades. Carmona Rodrigues ao lado direito de Cavaco ouve os desejos da velhota. Queria uma casa sem escadas para poder ir à rua. Ele responde: “tá bem, depois arranjo uma casa térrea”. Era preciso despachar, o Sr. Presidente tinha mais alguém para incluir. Actualmente Elvira continua na mesma.
Dias de glória, com futuros tão brilhantes como as pedras de pirite, como as penas dos corvos, como os anéis dos chulos, como as esmolas dos bispos, como os contos de H. P. Lovecraft aguardam Portugal. Mesmo que o futuro se escaqueire em milhentas realidades paralelas todas serão boas. Desta vez não falhamos. Acertamos no bull’s eye. Talvez por sermos um país de originais toiradas, com forcados a puxar o rabo do toiro, resolvemos olhar em frente. Para o que interessa. Para o redondo, sem arrestas, perfeito do ponto de vista filosófico, Progresso, produto da heraclitiana luta dos contrários, que faz o mundo pular e avançar, como uma bola de Berlim com creme entre as mãos de uns politicões, à cata de um Tratado Constitucional (o santo Graal da União Europeia). Descobrimos a pedra filosofal da harmonia e da conciliação. Depois de umas boas cornadas vem a bonança (chamada “síntese” por Hegel e “Memorial Arrangements” pelos Malevolent Creation). A paz no Oeste, após a passagem do Lucky Luke, e os irmãos Dalton na cadeia, depende de nós, caso consigamos vender o franchising como bem fizemos com a “organização de Euros” (os torneios europeus de futebol com essa designação e não a circulação de moeda).
(Com a força diplomática na guelra que temos vamos resolver o problema da entrada da Turquia na EU. É simples. Basta ouvir o Santo Padre. Bento XVI está farto de chiar contra os políticos europeus que se “esqueceram” de incluir as “raízes cristãs” da Europa na introdução da vindoura Constituição. Faz-se a vontade ao Papa e, para não destoar, obriga-se a conversão do Turco ao Cristianismo. Quando o mameluco beijar as sandálias de Pedro abrimos-lhe hospitaleiramente os braços. Se não… que fique na Ásia).
Doutos lentes esgadanhando-se pela reitoria, mobilada pela IKEA (não mogno trabalhado, ou cerejeira, como no tempo do Salazar, que lhe daria mais prestígio) da Universidade Independente é, em qualquer parte do mundo, uma cena profética. Duas tribos em confronto ao som dos Frankie Goes to Hollywood, não vão para Hollywood, mas para a “Viriatolândia”, lugar mítico onde proto-lusos viviam minding their own business, antes de serem incomodados pelo Império Romano. O ensino ficará deveras superior quando a poeira assentar. Daquela luta entre contrários choverá “especialistas”, “peritos” e “cientistas” que pavimentarão os novos montes Hermínios de algodão doce e carrinhos de choque numa feira perfeita. Virá o tempo retratado no anúncio televisivo do ministério das Finanças, em que um tipo passeia na rua e, sem saber ler nem escrever, todos lhe acenam e agradecem. Tal como o chinesinho Limpopó do Badaró o ministro “expilica”. Portugal inteiro agradece porque você pediu a factura depois do bitoque ou da pizza al prosciutto cotto. Peça a factura se faz favor. Facturar faz o país avançar. E se todos pagarem eu pago menos. (Não sejamos pessimistas pensando que mais maçaroca nos cofres do Estado significa mais gasto nas ditas obras megalómanas. Parece dor de corno da baixa oposição dizer que a Ota ficaria completa com um acento agudo no “a” e “rio” no fim. Se Portugal construiu dez estádios não há nenhuma razão plausível para não construir dez aeroportos).
Encontramos ao pontapé pequenos rascunhos deste renascido país. Prenúncio do que será o ofuscante futuro. Nas belas notícias de meia hora, com directos e jornalistas fritando veludínea prosa para as câmaras, ou nos quadradinhos de fim de página dos jornais estão exemplos de que não somos lanterna vermelha de coisa alguma. Dentro do primeiro grupo, em Cernadelo, na Lousada, pudemos assistir ao regresso da pequena Andreia raptada há cerca de um ano do hospital de Penafiel. A mãe, instruída pelos sábios psicólogos da Comissão de Protecção de Menores, fez uma entrada pela porta grande, como fazem as vedetas Michael Jackson, Madonna ou Angelina Jolie. Cobriu a criança com um casaco para preservar direito de imagem e privacidade. (Escusado será dizer que a idiossincrasia nacional será respeitada com uma peregrinação a Fátima organizada por uma diligente vizinha para agradecer a graça). No segundo grupo, lemos que a PT com 867 milhões de euros corta descontos aos reformados. Calma, não há razão para vilipendiar a empresa com citações de Kelly Osbourne. Continuamos dentro da generosidade cristã. Ensina o catecismo que devemos desejar para os outros aquilo que desejamos para nós. E é isso que os gestores da PT fazem. Se eles são ricos, os outros também são, logo não há motivo para borlas.
Algo se passou no universo para merecermos o dia 28 de Março. As estrelas alinharam-se para nos beneficiar. Ontem comemoraram-se os 100 anos da irmã Lúcia, os 25 do G.O.E. e os 31 do Corpo de Intervenção da PSP. Santos e polícias. A espinha dorsal da nação. Muita sorte tivemos nós em a Lúcia ser uma mentirosa, intrujona chamava-lhe o pai, e não uma multiorgástica como Santa Teresa D’Ávila. Pois hoje teríamos poesia sobre as setas atiradas por Cristo contra as carnes estremecentes de prazer em vez de um hígido santuário para rezar. Os guerreiros morais do Grupo de Operações Especiais são homens que trocaram os lençóis Teletubies pela bandeira nacional. Heróis que esborracham contra o chão os nossos mais feros inimigos (ou os deixam todos tremeliques com aquelas pistolas de descargas eléctricas). Quando há 31 anos trocaram o nome da polícia fascista os homens de pouca fé duvidaram. Hoje em vez da Polícia de Choque (brrrr! o nome até arrepia) temos o Corpo de Intervenção (que faz lembrar Nietzsche ou então Bataille). E o bater é diferente. Bate leve levemente que quase não se sente.
Mas o que nos fará cantar com o grupo hip-hop de Leça da Palmeira, Mundo Secreto, “ei! nós chegamos à party tá na hora de pôr as pedras de gelo no Baccardi”, é o facto dos portugueses perceberam quem é o rei. Quem é o maior. Quem rules the neighbourhood. E votaram no Salazar como maior português de sempre. É verdade que ele considerava a televisão um divertimento para a sala dos ricos e foi Marcello Caetano, que depois de uma visita a França regressou entusiasmado, e persuadiu o velho das polainas de que ali havia algo. Sem a autorização de Salazar não teríamos telenovelas, perdão ficção nacional, nem concursos, nem filmes americanos dentro de casa. Ele também não gostava de futebol mas deixou-se convencer na construção do Estádio Nacional. Hoje as mulheres, mas sobretudo os homens, podem sonhar com as pernas do Cristianão Ronaldão ou do Ricardão Quaresmão. Não é fácil aparecer outro Salazar. Não é como encontrar um trevo na tromba de um elefante. Cavaco, poupadinho como o beirão de Santa Comba Dão, não passa por uma luz acesa sem a apagar, tanto em casa, na travessa do Possolo, como no palácio de Belém, gostaria de ser um ditador (o Corpo de Intervenção deu as suas melhores cargas de porrada quando ele foi primeiro-ministro). Mas com aquela vozinha mais parece o Vasco Granja a apresentar desenhos animados dos países da Cortina de Ferro e só se assemelha ao Salazar quando pronuncia os advérbios de modo. No entanto, deixa obra feita. Elvira Gaspar, 74 anos, vive num 4º de andar de um prédio velho de Lisboa sem elevador. Vai para 3 anos que não sai de casa pelo seu próprio pé. Há 6 meses foi escolhida como exemplo dos Roteiros Contra a Exclusão. Iria ser visitada por Cavaco Silva. Que honra! Espana os móveis. Veste a roupinha domingueira e recebe aquela comitiva toda. Muito calor humano (ou seriam os focos das televisões?). Conversa quanto baste. Adeus e muitas felicidades. Carmona Rodrigues ao lado direito de Cavaco ouve os desejos da velhota. Queria uma casa sem escadas para poder ir à rua. Ele responde: “tá bem, depois arranjo uma casa térrea”. Era preciso despachar, o Sr. Presidente tinha mais alguém para incluir. Actualmente Elvira continua na mesma.
4 Comments:
At 3:10 da tarde, A Chata said…
Como dizia Juca Chaves, a hiena, um animal que só faz amor uma vez no ano e come merda , ri de què?
Talves seja isso que nos resta rir como a hiena...
At 8:41 da manhã, Táxi Pluvioso said…
A luta pelo "ouro" da Universidade Independente tem a sua graça. Aquilo é uma empresa de explicações de alta cilindrada que depois de "explicados" os alunos vão arranjar o canudo numa universidade decente.
Quanto ao Salazar não há dúvida que calou fundo na alma lusa. Ou melhor ele é a alma lusa.
At 11:55 da manhã, A Chata said…
Quando era miuda, lembro-me de ouvir falar do "Coco, Ranheta e Facada" (infelizmente não me lembro da história associada ao titulo) mas foi o que me sugeriu as acusações mutuas destes senhores.
Não acha que dava um belo titulo para esta história?
Não é só cá que a festa continua.
As anedotas continuam imparáveis.
Depois de listas de espera para presos, panfletos para ensinar a população a defecar correctamente, aulas de dança pagas pelo NHS para combater a obesidade, agora, numa inspiração sem limites, colocação de milhares de camaras com altifalantes pela ruas das cidades para vigiar e criticar os comportamentos anti-sociais da população.
Para quando esta medida em Portugal.
Srs. do governo, já viram o belo negócio que é. Contractos para comprar, instalar milhares de camaras.
Nomeações para cargos de direcção para o novo departamento de vigia com ordenados a condizer.
Já estou a imaginar:
Cidadão a ser assaltado e uma voz (de alguém que estar numa sala a 200 Km) a dizer:
"Sr. assaltante, você com a mascara, pare imediatamnete de espancar e roubar esse cidadão!"
At 6:53 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Acho que a Inglaterra vai pelo bom caminho. Não é nada que não se tenha visto no filme "Demolidor" com Stallone. Em que vozes metálicas avisam os cidadãos das infracções cometidas e saem logo os respectivos talões da multa. Mas os ingleses apenas têm 4.2 milhões de câmaras CCTV (uma para cada 14 cidadãos). Será preciso mais um esforço financeiro (talvez mais uma guerra com Wbush para espevitar a economia) para cada inglês ter uma. E um chip GPS implantado na nuca.
O português em terras de sua magestade está tramado, quando ouvir em inglês, "você aí de bigode e camisa aos quadrados volte atrás e apanhe lá o papelinho".
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