Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

segunda-feira, abril 21, 2008

Preto ou gaja?

Escrito de boa fé. Com regras límpidas. Sem letras miúdas de rodapé. Assinado por baixo de olhos fechados, alhures nos primórdios do Homo Sapiens, e chamaram-lhe… Contrato Social. Segundo Jean-Jacques Rousseau, na génese da sociedade humana, estaria um acordo tácito, através do qual, o Homem abdica do original estado natural primitivo, sem Lei, Moral ou roupas decentes, pela necessidade de cooperação e dos benefícios que daí advém como as capas para os discos, o os protestos, o Nutraloaf, o hula hoop e o Salvador Dalí. E também a música pop iraniana.

[de Vigen Derderian, apelidado o “sultão do pop” ou o “sultão do jazz persa”, foi o introdutor da guitarra na música iraniana. Ele em #1 e #2. A música pop floresceu no Irão nos tempos do Xá Reza Pahlavi com Googoosh – em #2 e #3. Hayedeh – em #1 e com Vigen. Leila Forouhar – em #1 e #2 e #3. Alireza Eftekhari – em #1 e #2. Homeyra – em #1. E sobretudo o lendário Farhad Mehrad – em #2 e #3 e #4].

Encontramos um exemplo prático das teorias de Rousseau no contrato celebrado entre, Mme. Fanny Pistor Bagdanow e Léopold, cavaleiro de Sacher-Masoch, que estipula: “sob a sua palavra de honra, Léopold de Sacher-Masoch compromete-se a ser o escravo de Mme. de Pistor, e a executar absolutamente todos os seus desejos e caprichos e isso durante seis meses”. E continua: “por sua parte Mme. Fanny de Pistor não pedirá nada desonroso (que possa fazer-lhe perder a sua honra de homem e cidadão)”. Excluindo os “seis meses” estas são as regras do civilizado convívio democrático. Depois de aglomerados, os homens almejam um líder, um condutor de corpos e almas, um porta-bandeira, que dure mais de meio ano. Nem importa que venha do espaço, como num episódio da série “Quinta Dimensão” intitulado “Para Servir o Homem”. (Uns extraterrestres muito bonzinhos desembarcam na Terra trazendo avançada tecnologia para resolver todos os problemas que afectam as pessoas e ainda oferecem viagens turísticas ao seu planeta de origem. Mas há o intrigante livro, “Para Servir o Homem”, entendido logicamente como os preceitos para ajudar os humanos, até que o herói da fita descobre ser um livro de culinária). Ou seja escolhido por eleições directas, como nos partidos políticos, que delas querem todos os dias, ou por sufrágio universal ou geração espontânea, como nos países. “Say Hello”… meu líder.

[dos Deep Dish, duo de house music iraniano-americano. Em Dezembro de 2005, Mahmoud Ahmadinejad proibiu toda a música ocidental nas estações estatais e grande parte dos músicos emigrou. Os Deep Dish estão sediados em Washington. Eles em “Flashdance” e num sampler de “Dreams” dos Fleetwood Mac. Na Suécia vivem os Abjeez – em #1 e #2 e #3. E Laleh – em #1. No Canadá, Shadmehr Aghili – em #1 e #2. Alguns persistem no Irão como Reza Sadeghi – em #1 e #2 e #3. E a primeira banda mista, os Arian Band – em #1].

Se nos confins do espaço, “servir” os humanos, significa servi-los assados com batatas e uma maçã na boca, na Terra não se deseja um arranjinho tão drástico, para ser saudável e feliz. O “Leader of the Pack” [das Shangri-las] doseará perigo e conforto, pois o “homem e cidadão” prefere ser conduzido por um líder, duro como o basalto, mas maternal como uma ovelha, que ordene sem ferir a dignidade. O “escravo” actual evidencia um masoquismo quanto baste. Gilles Deleuze escreve no seu livro “Sade/Masoch”: “no masoquismo, é a boa mãe quem possui o falo, quem bate e humilha, e até quem se prostitui”. Ângelo Correia, presidente da Mesa do Congresso do PSD, confirma: “quem desenvolver melhor as minhas ideias é o meu líder”. O político português não é um badameco qualquer. Ele gravita à volta do Saturno do poder, e, apesar disso, anseia pela férula, a chibata nas nádegas, o látego no lombo, dados por um líder, porque vem da “mãe fálica” e não do “pai castrador”. Provoca prazer e não frustração. Uma mãe pune sem “Wound”.

[dos Meera, grupo iraniano de rock alternativo – em #1. Outra banda similar é O-Hum – em #1. E os NABZ – em #1].

Explicava Rousseau no “Contrato Social”: “quando muitos homens reunidos se consideram como uma só entidade, só podem ter uma vontade, e esta tenderá para a conservação comum e o bem-estar geral”. Não há que enganar! O corriqueiro votante, de bom grado, se submete aos “desejos e caprichos” do amo por um pedaço deste céu. Mas a escolha do líder não está fácil, nesta época confusa, onde Roma corre risco de ser conquistada pelo Islão, os homens finalmente podem parir, as raparigas têm pelo na venta e a população mundial confronta-se com decisões inevitáveis para conter as mudanças climáticas. Felizmente, os líderes europeus, trepadeiras de profissão, sem capacidade para comandar uma cidade Lego, tomaram consciência da sua inutilidade e aguardam, em pulgas como adolescentes, o desfecho das eleições americanas, para saberem qual o seu dono. E a América exporta, através dos Meios de Comunicação Social, um dilema pioneiro. Como Hichkas.

[Hichkas é um pioneiro do rap iraniano – em #1 e #2. E também o grupo Zedbazi – em #1 e #2].

Nas próximas eleições americanas exclui-se, por razões de estrutura do sistema político, o candidato libertário, Mike Gravel [versão melhorada da canção “Helter Skelter” dos Beatles]. Quem não pertence a um dos dois partidos, tem mais possibilidades de achar uma nota de um milhão de dólares, que entrar no boletim de voto para a Casa Branca. Os actuais feiticeiros de Washington pavimentaram a estrada do futuro, de um cinzento terrorista, para o desembarque heróico de Rudy Giuliani. Ele que era afamado por comer terroristas ao pequeno-almoço seria a salvação da América. Depois aconteceu uma coisa inesperada, durante a campanha, Giuliani abriu a boca e… falou. E só saiu, o termo técnico-político é, “shit”. Enquanto mayor de Nova Iorque, no 11 de Setembro, ele fora louvado como condutor de homens, admirado por ter pulso firme, muitos pensavam que ali havia líder. Mas depois dele abrir a boca constataram que, um político medicado com o seu Prozac, o seu Xanax e o resto da farmacopeia internacional, (como sucedia também com Wbush), parece um Napoleão com dois metros de altura. Um Zaratrusta!

[dos Soashyant, grupo de thrash metal – em #1. Também os Ahoora – em #1. Os Aliaj – em #1. E os Kahtmayan – em #1 e #2].

Os líderes europeus alapam o rabo no sofá para assistir ao novo duelo no Ok Corral. Restringem-no a Hillary Clinton versus Barack Obama. E o outro que todos esperam não chova ou o mundo não será salvo. Os líderes europeus estão acagaçados com a imagem do Santo Padre, (o rottweiler de Deus como lhe chamam os americanos), despojado dos chanatos de S. Pedro, desenho exclusivo Prada, partir para o exilo em Avinhão ou nas Berlengas, segurando pelas correias um burro, carregado de parcos paramentos e uns Zurbarán ou el Greco para vender. Ou que o maluco onzenar da banca desmorone a riqueza do continente. Colocam as esperanças na “experiente senhora da política” e no “jovem senador negro”. Mas com o coração a palpitar por um deles. “Incessant Winds of Despair”.

[dos Arthimoth, grupo iraniano de death metal. Também os Ekove Efrits – em #1]

No final do século XIX, início do XX, a América viveu um clima semelhante. A luta travou-se, não entre gaja ou preto, mas entre branco e preto. Jack Johnson, nascido em 1878 e alcunhado “o gigante de Galveston”, foi um boxeur preto com um petardo que mandava os adversários directos para os anjinhos. Venceu todos os pugilistas da sua raça alcançando o título do World Colored Heavyweight Championship em 1903. Mas o ambicionado World Heavyweight Championship era outra liga. Os pugilistas brancos não combatiam contra pretos. Por coincidência, o mundo do boxe atravessava um período de marasmo. O campeão, James J. Jeffries, não tinha oponente e retira-se para a sua quinta de alfafa. Tommy Burns, um canadiano, fica com o título. Os empresários de Johnson conseguem agendar um combate com ele, na Austrália, em 1908. Foi um massacre. Johnson torna-se o primeiro preto campeão dos pesos pesados. Regressa aos Estados Unidos em glória. Ele gostava de roupas finas, “fast cars, fast women e slow gin”. Casa com Etta Duryea, uma branca divorciada. O clero sulista pedia linchamento. O governador da Carolina do Sul afirma: “só há um castigo quando um preto põe as mãos numa mulher branca”. Para complicar, ele gostava de se pavonear, metendo uma toalha enrolada dentro dos calções, com efeito lascivo delirante nas mulheres brancas e ódio mortal entre os brancos. Os pretos estão radiantes. Vêem em Johnson o vingador de todas as humilhações causadas pelo racismo vigente. A América branca vê a superioridade da raça ameaçada. Inicia-se a campanha para resgatar o orgulho branco. A esperança posta em Stanley Ketchel, campeão dos pesos médios em 1904, foi em vão. Ele é derrotado. Convencem Jeffries a voltar. O escritor Jack London chama-lhe “a grande esperança branca”. Jeffries explica: “entro neste combate com o único propósito de provar que o homem branco é melhor que o preto”. O governador de S. Francisco não autoriza o combate na Califórnia. Ele é deslocado para Reno, no Nevada. O único meio de comunicação era o telégrafo. As pessoas reuniram-se nos jornais e nos teatros que liam as tiras de papel saídas da máquina. Quando Jeffries foi ao tapete rebentaram motins no país. E Johnson foge para a Europa. Mais tarde irão apanhá-lo com a lei Mann, feita para proteger as brancas que eram levadas para a prostituição, proíbe o tráfico de pessoas através das fronteiras estaduais. Utilizam Belle Schreiber, funcionária sexual num bordel de luxo, que testemunhará ter tido sexo em Nova Iorque, Atlanta, Chicago, durante as viagens de comboio de Johnson. A História Preta só surgirá mais tarde. E, pelo menos, mudou as origens do rock. De uma maneira geral aceitava-se a canção "Rock Around the Clock”, de 1954, por Bill Haley & His Comets, como o marco inicial do Rock 'n' Roll. Com a revisão provocada pela chegada dos pretos à História essa origem deslocou-se para “Rocket 88”, (de 1951), de Ike Tuner & the Kings of Rhythm.

3 Comments:

  • At 9:25 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Manuel o post atrasou-se porque tentei dar uma visão alargada da música iraniana e meter uns links, mais ou menos engraçados. Faltou-me o principal: as ideias de Kissinger para tratar com os subdesenvolvidos. Ainda não o encontrei. Mas há-de aparecer.

    Não podes perder o vídeo do candidato libertário à presidência USA, Mike Gravel, está fantástico. E o do Salvador Dalí, sempre Dalí, mesmo num programa de TV.

    Na música, os Abjeez e os Arian Band são bons e o Farhad Mehrad é extaordinario.

    Na história do Jack Johnson encontrei certas discrepâncias entre os meus apontamentos e a Wiki. Não sei quem está certo. Mas, conhecendo a América da altura, parece-me mais plausível a história que tenho. Não consegui contá-la toda, pois isto já ia muito longo.

     
  • At 12:59 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Só tu para descobrir a pop iraniana e pôr o Angenheiro Êngelo Correia a confirmar o Deleuze.

     
  • At 2:26 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Acho muita piada ao Ângelo. Ele tem aquele ar efeminado, mas é duro como um diamante, e valioso também. Uma pérola para o país.

    Tentei colocar os melhores músicos. O critério foi a melodia, harmonia, qualidade vocal etc. Porque não percebo nada do que dizem… até podem ser versículos satânicos, tive que ir por critérios mais ou menos universais.

    Para continuar no eixo do mal gostaria de ir à música norte-coreana. Se da China e do Irão tinha algumas (poucas) luzes, da Coreia do Norte não percebo patavina. Era bom que fossem só marchas militares. Aquelas paradas fazem inveja à nossa garbosa GNR.

     

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