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quinta-feira, fevereiro 23, 2023

O batalhão Azov

Com a vitória dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917, a Ucrânia acabou sendo integrada à União Soviética (URSS), chefiada pela Rússia. O líder russo Josef Stalin promoveu a coletivização forçada de terras, o que matou milhares e milhares de ucranianos de fome na década de 1930, abrindo feridas históricas. Na II Guerra Mundial, houve ucranianos que apoiaram a invasão pela Alemanha nazi, porque viam como chance de se livrarem de Stalin, mas, com o curso do conflito, a situação mudou. Com a dissolução da URSS em 1991, a Ucrânia passou a ser um país independente.

A independência política não significou o fim da dependência económica: a Ucrânia é um dos maiores importadores do gás natural produzido na Rússia. Em novembro de 2013, o então presidente Viktor Yanukovich não assinou o acordo de cooperação conduzido com a União Europeia, levando o país a um pacto de última hora com a Rússia de Vladimir Putin, que acenava com desconto de 2 mil milhões de dólares anuais na compra do gás. O país entrou em convulsão social, colocando em trincheiras opostas os defensores da União Europeia e da Rússia. Milhares de pessoas protestavam diariamente contra Yanukovich na praça Maidan, na capital Kiev, que, aos poucos, virou um campo de guerra entre população e forças oficiais do governo. Em 22 de fevereiro de 2014, o presidente renunciou e fugiu para Moscovo.

Nesse contexto, nasceram a Misanthropic Division e o Batalhão Azov, nacionalistas e defensores de uma Ucrânia livre da intervenção russa. Ao mesmo tempo, sobretudo no Leste, cresceram movimentos separatistas, apoiados veladamente por Putin. A Crimeia, de maioria separatista, foi anexada à Rússia, que enviou tropas não identificadas à região. Em abril, as cidades de Donetsk e Lugansk, pró-Rússia, declararam independência. O Protocolo de Minsk, assinado em setembro de 2014, previa o cessar-fogo e uma série de medidas para a paz, mas não está sendo respeitado.

Inicialmente, o Azov era um batalhão de voluntários. Entre 2014 e 2015, homens de várias partes do mundo juntaram-se à tropa por acreditar nos ideais ultranacionalistas e no antissovietismo. Foi o caso do italiano Francesco Fontana e também de um jovem de Canoas. Em 12 de novembro de 2014, o batalhão foi incorporado pelo governo que sucedeu Yanukovich. Tornou-se um regimento da guarda nacional da Ucrânia, vinculado ao Ministério dos Assuntos Interiores, na batalha contra a “invasão russa”. O seu líder era Andriy Biletski, hoje deputado pelo partido de extrema-direita Corpo Nacional.

As polémicas do Azov não tardaram: muitos dos seus soldados não escondiam orientações neonazis. A própria bandeira tem um símbolo que remete ao nazismo. Biletski chegou a declarar que o batalhão tinha a missão de “liderar a raça branca do mundo numa cruzada final pela sobrevivência”.

Fontes ucranianas com posições importantes no Brasil, ouvidas sob anonimato por ZH, negam que o regimento seja nazi. Dizem que um dos seus mantenedores iniciais era judeu e que o símbolo da bandeira é uma representação das iniciais I, de ideia, e N, de nação. Também atribuem à “propaganda russa” as vinculações com o nazismo, para desgastar as forças de defesa ucranianas junto à comunidade internacional. Argumentam que tropas pró-russas foram as que mais cooptaram lutadores latinos. Citam como exemplo o paulista Rafael Lusvarghi, preso recentemente na Ucrânia sob acusação de terrorismo por ter lutado ao lado dos separatistas.

Em 2015, os estrangeiros passaram a não ser mais aceites no Azov. Em junho de 2016, o presidente Petro Poroshenko publicou um decreto em que regulamentou a possibilidade de estrangeiros serem admitidos “no serviço militar contratual nas Forças Armadas da Ucrânia”. Os guerreiros podem, inclusive, receber salários. Por isso, alguns dos críticos costumam classificá-los como “mercenários”.

Na página do Azov na internet, é fácil preencher o formulário de alistamento, com perguntas sobre vida, ideologia e habilidades dos interessados. Também são listados os treinos militares necessários. A reportagem de ZH preencheu o documento, mas, como resposta, recebeu a informação de que somente ucranianos estão sendo aceites nas fileiras.

O conflito na Ucrânia arrefeceu, mas não completamente. Em 18 de dezembro de 2016, cinco soldados do país morreram em combate com tropas pró-russas na cidade de Debaltseve. Foram duas horas de ataques com artilharia pesada.

Fonte: GD!

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