Viver a boa vidinha
Os dirigentes actuais poucos riscos físicos correm. Passou a fase em comprometiam a sua vida na linha da frente, ombro a ombro, com o povo que lideravam. Em que uns tiritos, ou uma bomba, poderiam levá-los precocemente para junto do Criador. Como nos bons velhos tempos da resistência anarquista contra o enriquecimento obsceno da burguesia e as condições miseráveis da maior parte da população. (O anarquista italiano, Caserio, em 24 de Junho de 1884, mata o Presidente francês Sadi Carnot. Em 14 de Setembro de 1901 Leon Czolgosz abateu o Presidente americano William McKinley). Nessa conturbada transição de século, quando os líderes subiam muito alto na torre de marfim, lançava-se-lhes uma bomba para cima, que os trazia de volta à realidade terrena, era limpinho como ginjas!
Na nossa passagem de século as coisas são mais complicadas. Comer em mesa farta. Habitar e trabalhar em boas habitações. Cirandar entre ricos e importantes. Viajar de motorista em carro de alta cilindrada com ar condicionado. Cercados por assessores praticamente nem precisam pensar, nem mexer uma palha para executar as suas funções. A boa vidinha separou os dirigentes do povo. Este, despido do “poder real”, é-lhe dado o “poder soberano” e uma arma não letal chamada “voto”, como a sua parte de um hipotético contrato social. (Uma patranha rousseana, adoptada por teóricos do Estado e sicários, de um facto muito mais ancestral que Rousseau. Na verdade, é a transposição de uma realidade biológica, - a existência do macho alfa entre os mamíferos -, para o âmbito social. Os mais fracos para protecção delegam nos mais aptos a sua defesa e liderança, como contrapartida abdicam de parte da sua liberdade). Assim, periodicamente, o povinho é chamado a escolher o líder da sua comunidade, mas pouco pode fazer para controlar os seus actos. Se exceptuarmos a grande léria política da submissão ao escrutínio do voto.
Os condutores de homens actuais são uma espécie de pranteadeiras trajando alta-costura. Durante as desgraças visitam hospitais, se forem de real família. Ou botam o choradinho discurso da solidariedade, se forem plebeus. Para si próprios traçam percursos estrambólicos: serem firmes nas ideias, perseguir ideais, honestidade nas decisões, lealdade institucional, respeito pelos seus princípios e, até, os mais ambiciosos, ficarem na História como cumpridores e executores de um desígnio supremo ou divino. Uma paleta de boas intenções a perder de vista num arco-íris pardacento estendido para um horizonte tantálico. A segurança do ordenado e a choruda pensão garantida dão outra perspectiva do mundo, muito diferente do cidadão comum que, todos os dias, entalado nos transportes públicos, tem de pôr comida em cima da mesa, atormentado pela incerteza do amanhã. (Viver com um belo vencimento aplica-se também aos políticos nacionais. Por exemplo, dizer-se que os políticos portugueses ganham pouco, revela a pequenez do povo português, que de forma natural gosta de se submeter a um ditador. Basta pensar que, por debaixo do folclore contestatário, nunca foi tão feliz como no tempo de Salazar. O político mais importante do século XX, que definiu a estranha maneira de ser lusa contemporânea, satisfeita num universo de Fado, Futebol e Fátima. E zero em inteligência. Os ordenados têm que comparados com os outros auferidos no país e não com o que ganha um político espanhol ou italiano. E dentro desta perspectiva os políticos portugueses são principescamente bem pagos).
A visão evangélica do mundo que nos últimos tempos se tornou moda apoiar, faz sentido na América, um país que deve a sua grandeza económica à ética protestante, sobretudo a calvinista. E na recente Administração ainda mais. O seu líder passou por uma experiência de dependência de drogas e consequente tratamento de desintoxicação. Se a dependência física é tratada com o recurso à química, a psicológica, regra geral, é curada com doses maciças de religião. Os doze passos do método de Minnesota procedem à substituição da droga por Deus, por isso, ninguém se admira que a palavra mais pronunciada por Wbush seja “rezar”. E, isso condiciona uma monolítica agenda política com apenas um objectivo: pôr o mundo a rezar. Podemos ver este desiderato na sua prioridade em direitos humanos. Para a Administração Americana esses direitos reduzem-se, essencialmente, à liberdade de culto religioso. A garantir que cada cidadão do mundo – que não seja “evil one” neste caso pode e deve ser torturado – tenha um lugar onde rezar sossegado, tal como Wbush e a sua equipa têm no sacratíssimo aconchego da Casa Branca. Ridículo, é vermos esta salgalhada político-religiosa ter eco nos politicalhões europeus que viajam pela Europa sem pôr o pé fora do BMW. Cada vez mais distantes das pessoas, ainda acabam por incluir as benditas referências ao cristianismo na Constituição Europeia, satisfazendo as reivindicações do Vaticano, e chateando ainda mais os turcos. Em tempos incertos, o Parlamento e a Igreja devem apoiar-se como duas faces da mesma moeda, como os dedos e anéis que se devem ferrenhamente preservar. A aliança entre o poder temporal e o poder divino funcionou na perfeição durante a Idade Média, não há nenhuma razão para que não funcione agora em que o excesso de informação lançou o mundo outra vez nas trevas.
O povo cingido ao voto, sem poder efectivo sobre os actos dos seus dirigentes, cada vez mais embrutecido pela publicidade e pelas técnicas de Relações Públicas, não lhe resta outra alternativa senão seguir a máxima maoista: se não consegues vencê-los junta-te a eles.
Os dirigentes actuais poucos riscos físicos correm. Passou a fase em comprometiam a sua vida na linha da frente, ombro a ombro, com o povo que lideravam. Em que uns tiritos, ou uma bomba, poderiam levá-los precocemente para junto do Criador. Como nos bons velhos tempos da resistência anarquista contra o enriquecimento obsceno da burguesia e as condições miseráveis da maior parte da população. (O anarquista italiano, Caserio, em 24 de Junho de 1884, mata o Presidente francês Sadi Carnot. Em 14 de Setembro de 1901 Leon Czolgosz abateu o Presidente americano William McKinley). Nessa conturbada transição de século, quando os líderes subiam muito alto na torre de marfim, lançava-se-lhes uma bomba para cima, que os trazia de volta à realidade terrena, era limpinho como ginjas!
Na nossa passagem de século as coisas são mais complicadas. Comer em mesa farta. Habitar e trabalhar em boas habitações. Cirandar entre ricos e importantes. Viajar de motorista em carro de alta cilindrada com ar condicionado. Cercados por assessores praticamente nem precisam pensar, nem mexer uma palha para executar as suas funções. A boa vidinha separou os dirigentes do povo. Este, despido do “poder real”, é-lhe dado o “poder soberano” e uma arma não letal chamada “voto”, como a sua parte de um hipotético contrato social. (Uma patranha rousseana, adoptada por teóricos do Estado e sicários, de um facto muito mais ancestral que Rousseau. Na verdade, é a transposição de uma realidade biológica, - a existência do macho alfa entre os mamíferos -, para o âmbito social. Os mais fracos para protecção delegam nos mais aptos a sua defesa e liderança, como contrapartida abdicam de parte da sua liberdade). Assim, periodicamente, o povinho é chamado a escolher o líder da sua comunidade, mas pouco pode fazer para controlar os seus actos. Se exceptuarmos a grande léria política da submissão ao escrutínio do voto.
Os condutores de homens actuais são uma espécie de pranteadeiras trajando alta-costura. Durante as desgraças visitam hospitais, se forem de real família. Ou botam o choradinho discurso da solidariedade, se forem plebeus. Para si próprios traçam percursos estrambólicos: serem firmes nas ideias, perseguir ideais, honestidade nas decisões, lealdade institucional, respeito pelos seus princípios e, até, os mais ambiciosos, ficarem na História como cumpridores e executores de um desígnio supremo ou divino. Uma paleta de boas intenções a perder de vista num arco-íris pardacento estendido para um horizonte tantálico. A segurança do ordenado e a choruda pensão garantida dão outra perspectiva do mundo, muito diferente do cidadão comum que, todos os dias, entalado nos transportes públicos, tem de pôr comida em cima da mesa, atormentado pela incerteza do amanhã. (Viver com um belo vencimento aplica-se também aos políticos nacionais. Por exemplo, dizer-se que os políticos portugueses ganham pouco, revela a pequenez do povo português, que de forma natural gosta de se submeter a um ditador. Basta pensar que, por debaixo do folclore contestatário, nunca foi tão feliz como no tempo de Salazar. O político mais importante do século XX, que definiu a estranha maneira de ser lusa contemporânea, satisfeita num universo de Fado, Futebol e Fátima. E zero em inteligência. Os ordenados têm que comparados com os outros auferidos no país e não com o que ganha um político espanhol ou italiano. E dentro desta perspectiva os políticos portugueses são principescamente bem pagos).
A visão evangélica do mundo que nos últimos tempos se tornou moda apoiar, faz sentido na América, um país que deve a sua grandeza económica à ética protestante, sobretudo a calvinista. E na recente Administração ainda mais. O seu líder passou por uma experiência de dependência de drogas e consequente tratamento de desintoxicação. Se a dependência física é tratada com o recurso à química, a psicológica, regra geral, é curada com doses maciças de religião. Os doze passos do método de Minnesota procedem à substituição da droga por Deus, por isso, ninguém se admira que a palavra mais pronunciada por Wbush seja “rezar”. E, isso condiciona uma monolítica agenda política com apenas um objectivo: pôr o mundo a rezar. Podemos ver este desiderato na sua prioridade em direitos humanos. Para a Administração Americana esses direitos reduzem-se, essencialmente, à liberdade de culto religioso. A garantir que cada cidadão do mundo – que não seja “evil one” neste caso pode e deve ser torturado – tenha um lugar onde rezar sossegado, tal como Wbush e a sua equipa têm no sacratíssimo aconchego da Casa Branca. Ridículo, é vermos esta salgalhada político-religiosa ter eco nos politicalhões europeus que viajam pela Europa sem pôr o pé fora do BMW. Cada vez mais distantes das pessoas, ainda acabam por incluir as benditas referências ao cristianismo na Constituição Europeia, satisfazendo as reivindicações do Vaticano, e chateando ainda mais os turcos. Em tempos incertos, o Parlamento e a Igreja devem apoiar-se como duas faces da mesma moeda, como os dedos e anéis que se devem ferrenhamente preservar. A aliança entre o poder temporal e o poder divino funcionou na perfeição durante a Idade Média, não há nenhuma razão para que não funcione agora em que o excesso de informação lançou o mundo outra vez nas trevas.
O povo cingido ao voto, sem poder efectivo sobre os actos dos seus dirigentes, cada vez mais embrutecido pela publicidade e pelas técnicas de Relações Públicas, não lhe resta outra alternativa senão seguir a máxima maoista: se não consegues vencê-los junta-te a eles.
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