A quimera do ouro
Agora que Portugal encontrou finalmente a senda da glória, aquele povo de aspecto amacacado que no princípio do século XX, vestido de preto, descalço e cabeça coberta de xaile, via senhoras do céu aparecerem, dependuradas em árvores e rochas, ficou para trás na História. Graças a Deus, hoje, vestimos colorida urban wear e decoramos a cabeça com futuristas penteados tipo cabeça de Klingon – os inimigos confessos do capitão Kirk, no “Caminho das Estrelas”. Enfim, somos civilizados e bonitos, como aqueles personagens nos remakes da História, escritos pelo Moita Flores.
O “povo do banquinho”, (como era conhecido entre os diplomatas amigos), que tinha de recorrer a estratagemas artificiais e empolamentos históricos para parecer mais alto e chegar ao nível dos outros, (quais 15cm de saltos da castelhana princesa Letizia para alcançar o ombro de seu amado príncipe Felipe), inventou o meio de se manter sempre no alto, um verdadeiro ovo de Colombo intelectual que poderemos chamar: “efeito euro2004”. Um simples truque mental que consiste em auto convencer-se de que para a realização de determinada tarefa é necessária uma inteligência do tamanho do Airbus A-380. Concluída a empreitada com sucesso, e aí reside a novidade desta invenção lusa, não há forma de falhar porque, de facto, é uma tarefa tão banal que uma criança seria capaz de a realizar, lança-se foguetório e vivas aos possuidores de tão grande capacidade organizativa, espalha-se a ideia de que os outros povos a nós recorrem para conselhos e imitação. (O facto da estação de TV al-Jazeera se referir a Portugal como o país mais pobre e insignificante do Ocidente não nos deve preocupar e explica-se pela inveja que os realmente grandes provocam. Eles também dizem cobras e lagartos dos americanos e no entanto…).
O “efeito euro2004” é responsável pelo sucesso dos nossos empresários, gestores, investigadores, políticos, futebolistas, etc. que deixaram de ser uns perfeitos idiotas aos nossos olhos, para serem os heróis que faltavam numa triste realidade quotidiana de um povo vadio, incapaz de uma organização racional do trabalho, e que se esgota em concêntricas voltas sem ir a lado algum. Basta entrar num tribunal e verifica-se que os famigerados atrasos na Justiça não se devem à falta de juízes ou funcionários judiciais mas porque, simplesmente, os que lá estão não sabem trabalhar, e o mesmo nas repartições públicas, escolas, empresas, obras, hospitais, notários.
Esta nova atitude lusa tem-se revelado ideal para a criação de uma nova auto-estima que irá atapetar a era Cavaco. Recreando através do “efeito euro2004” mitos antigos, entramos no novo século. E ficaremos melhor nas fotografias que os nossos avós e bisavós. Bem… o Quinto Império é melhor esquecer, porque com dois submarinos apenas não podemos partir para conquistas. Mas o novo D. Sebastião está entre nós, é de carne e osso, caminha e ri folgazão, mais maduro e ajuizado que o primeiro, (até já se reproduziu e tudo), e pressagia reputação mundial para Portugal sem ser preciso conquistar as arábias. Não há aparições como em Fátima, (que se tornou num negócio venal para a Igreja Católica), mas o vidente de Celorico de Basto aquece as nossas peticegas necessidades de orientação e sugere de onde poderão vir milagres. Quem se lembra do brilho nos seus olhos quando falava do jovem Martunis? Que na distante Indonésia com a sua camisola da Selecção Portuguesa de Futebol, (falsificada na China), sobreviveu ao maremoto e comoveu um povo crente nos poderes mágicos do tecido sintético, que lhe ofereceu o equipamento inteiro para assim o proteger de catástrofes futuras. Novas políticas florescem em solo pátrio com direito a figurar nos manuais estrangeiros como, por exemplo, a “jardineira” na Madeira. Com uma fórmula muito simples: um político desbocado + um povo agarrado à batina do padre = milagre económico. É uma brilhante legatária do “rotativismo” (a alternância no poder entre os partidos Regenerador e o Progressista) ou da “viradeira” (como era chamada a política de D. Maria I). Portugal exporta e produz para consumo interno políticos bushistas com prodigalidade no falar e consistência nas ideias, formados em Ciência Política nessas Universidades que privam de perto com o poder, e cuja sapiência trará de volta a confiança para o seio do povo.
Esta grandiosidade que vivemos nos dias de hoje requer mais dinheiro e aguardamos com serenidade que o Governo seja célere no aumento dos impostos. Temos de alimentar esta fogueira de criatividade que lusificará o planeta outra vez. (Temos de partir ovos para fazer omoletas enquanto o fogo está aceso). E talvez não seja demais lembrar o afortunado aforismo: “se os impostos são razoáveis, ninguém vai pensar em evasão fiscal. Mas se o Estado fica com cerca de metade dos rendimentos, então, nesse caso, é moralmente justo fugir aos impostos”. O seu autor não é Sir Robin de Locksley (vulgo Robin dos bosques) ou o Zé do telhado. É de alguém menos romântico e mais prosaico, o magnata da televisão, Silvio Berlusconi quando era primeiro-ministro de Itália.
Agora que Portugal encontrou finalmente a senda da glória, aquele povo de aspecto amacacado que no princípio do século XX, vestido de preto, descalço e cabeça coberta de xaile, via senhoras do céu aparecerem, dependuradas em árvores e rochas, ficou para trás na História. Graças a Deus, hoje, vestimos colorida urban wear e decoramos a cabeça com futuristas penteados tipo cabeça de Klingon – os inimigos confessos do capitão Kirk, no “Caminho das Estrelas”. Enfim, somos civilizados e bonitos, como aqueles personagens nos remakes da História, escritos pelo Moita Flores.
O “povo do banquinho”, (como era conhecido entre os diplomatas amigos), que tinha de recorrer a estratagemas artificiais e empolamentos históricos para parecer mais alto e chegar ao nível dos outros, (quais 15cm de saltos da castelhana princesa Letizia para alcançar o ombro de seu amado príncipe Felipe), inventou o meio de se manter sempre no alto, um verdadeiro ovo de Colombo intelectual que poderemos chamar: “efeito euro2004”. Um simples truque mental que consiste em auto convencer-se de que para a realização de determinada tarefa é necessária uma inteligência do tamanho do Airbus A-380. Concluída a empreitada com sucesso, e aí reside a novidade desta invenção lusa, não há forma de falhar porque, de facto, é uma tarefa tão banal que uma criança seria capaz de a realizar, lança-se foguetório e vivas aos possuidores de tão grande capacidade organizativa, espalha-se a ideia de que os outros povos a nós recorrem para conselhos e imitação. (O facto da estação de TV al-Jazeera se referir a Portugal como o país mais pobre e insignificante do Ocidente não nos deve preocupar e explica-se pela inveja que os realmente grandes provocam. Eles também dizem cobras e lagartos dos americanos e no entanto…).
O “efeito euro2004” é responsável pelo sucesso dos nossos empresários, gestores, investigadores, políticos, futebolistas, etc. que deixaram de ser uns perfeitos idiotas aos nossos olhos, para serem os heróis que faltavam numa triste realidade quotidiana de um povo vadio, incapaz de uma organização racional do trabalho, e que se esgota em concêntricas voltas sem ir a lado algum. Basta entrar num tribunal e verifica-se que os famigerados atrasos na Justiça não se devem à falta de juízes ou funcionários judiciais mas porque, simplesmente, os que lá estão não sabem trabalhar, e o mesmo nas repartições públicas, escolas, empresas, obras, hospitais, notários.
Esta nova atitude lusa tem-se revelado ideal para a criação de uma nova auto-estima que irá atapetar a era Cavaco. Recreando através do “efeito euro2004” mitos antigos, entramos no novo século. E ficaremos melhor nas fotografias que os nossos avós e bisavós. Bem… o Quinto Império é melhor esquecer, porque com dois submarinos apenas não podemos partir para conquistas. Mas o novo D. Sebastião está entre nós, é de carne e osso, caminha e ri folgazão, mais maduro e ajuizado que o primeiro, (até já se reproduziu e tudo), e pressagia reputação mundial para Portugal sem ser preciso conquistar as arábias. Não há aparições como em Fátima, (que se tornou num negócio venal para a Igreja Católica), mas o vidente de Celorico de Basto aquece as nossas peticegas necessidades de orientação e sugere de onde poderão vir milagres. Quem se lembra do brilho nos seus olhos quando falava do jovem Martunis? Que na distante Indonésia com a sua camisola da Selecção Portuguesa de Futebol, (falsificada na China), sobreviveu ao maremoto e comoveu um povo crente nos poderes mágicos do tecido sintético, que lhe ofereceu o equipamento inteiro para assim o proteger de catástrofes futuras. Novas políticas florescem em solo pátrio com direito a figurar nos manuais estrangeiros como, por exemplo, a “jardineira” na Madeira. Com uma fórmula muito simples: um político desbocado + um povo agarrado à batina do padre = milagre económico. É uma brilhante legatária do “rotativismo” (a alternância no poder entre os partidos Regenerador e o Progressista) ou da “viradeira” (como era chamada a política de D. Maria I). Portugal exporta e produz para consumo interno políticos bushistas com prodigalidade no falar e consistência nas ideias, formados em Ciência Política nessas Universidades que privam de perto com o poder, e cuja sapiência trará de volta a confiança para o seio do povo.
Esta grandiosidade que vivemos nos dias de hoje requer mais dinheiro e aguardamos com serenidade que o Governo seja célere no aumento dos impostos. Temos de alimentar esta fogueira de criatividade que lusificará o planeta outra vez. (Temos de partir ovos para fazer omoletas enquanto o fogo está aceso). E talvez não seja demais lembrar o afortunado aforismo: “se os impostos são razoáveis, ninguém vai pensar em evasão fiscal. Mas se o Estado fica com cerca de metade dos rendimentos, então, nesse caso, é moralmente justo fugir aos impostos”. O seu autor não é Sir Robin de Locksley (vulgo Robin dos bosques) ou o Zé do telhado. É de alguém menos romântico e mais prosaico, o magnata da televisão, Silvio Berlusconi quando era primeiro-ministro de Itália.
1 Comments:
At 2:12 da manhã, Unknown said…
I am looking for my memories through the stories, the narrative of people. I feel it is difficult but I will try.
povaup
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