Coitus continuus
Rever o passado é um exercício de embelezamento interessante no Portugal optimista. A História como “ciência” descritiva (ou interpretativa) dos factos passados é uma mirabolante concepção dos historiadores que, tal como todos os outros “peritos”, têm de justificar a sua existência inventando um “objecto” de estudo. Mas tal coisa não existe. “Facto real” e “facto histórico” são realidades completamente diferentes. O primeiro acontece algures no espaço/tempo (e morre entre as brumas da memória, canta a mocidade portuguesa, nos egrégios estádios de futebol). O segundo é uma elaboração feita sobre o primeiro consoante a paparoca ideológica que o momento exacto que vivemos exige. (A História não existe para elucidar o passado mas para dar um certo sentido ao presente adequado às ambições da classe dominante). No Portugal dos empresários miraculados por gestores milagrentos, propagandeados pela publicidade oficial como capazes de proporcionar ovas de esturjão beluga para todos, é imperativo glorificar o passado para levantar o moral. Quem dá o corpo ao manifesto na produção de riqueza (chamava-se vender a “força de trabalho” noutras ideologias) precisa de acreditar no esplendor de Portugal, que já foi, mas pode voltar a ser, se forem para o trabalho cantando e rindo, em vez de quezilando e reivindicando. Assim serão levados, levados sim, pela voz do patrão de som tremendo. Das turbas, clamor com fim, dependurados no andaime, torres e torres erguendo, para que a riqueza doire o céu de Portugal. Lá vamos, que o sonho é lindo! (Claro que o andaime e as torres são metáforas, para não fugir muito do jolie poema de Mário Beirão do Hino da Mocidade Portuguesa, e abrangem a generalidade da actividade humana assalariada, não quer dizer que Portugal seja um país de cabouqueiros. Na imigração, a passagem pelas obras é uma espécie de ritual de iniciação para o sucesso no estrangeiro).
Dourar a pílula é o mot d’ordre, no sentido deleuziano, da nossa sina contemporânea. A linguagem oficial não descreve o passado mas sim diz-nos como ele deve ser entendido e pensado. A ferramenta mais importante do historiador actual é o Paint Shop para retirar feiosas rugas da tez lusitana, (excepto para José Hermano Saraiva. Ex-historiador amador, reconvertido em agente de viagens, prefere o folheto desdobrável das bonitas e progressivas terras portuguesas). Hoje é vox populi que os barões assinalaram. Que tenha sido a Taprobana, Copacabana, a papa da Joana, pouco importa. O que interessa é a sensação de bafo quente no pescoço provocada pela ufana glória que detrás vem. Se tão poucos, tanto fizeram, nós, que somos mais alguns, conquistaremos o universo, com a breca!
Em Portugal respira-se um ar teúrgico que (saudavelmente) tem toldado a perspectiva dos acontecimentos. Por exemplo, é muito comum elogiar-se o sucesso popular das charlas televisivas de Vitorino Nemésio. Fala-se como se, quando começava o programa “Se bem me lembro”, o povo acorresse aos magotes para frente do televisor para beber tão prodigioso discurso. Nada mais errado. Isso diz-se agora. Naquele tempo, o palanfrório do escritor açoriano, não era entendido pela maioria das pessoas, não pela complexidade dos conceitos manipulados, mas por simples má dicção. Maior sucesso tinha as imitações feitas pelos Parodiantes de Lisboa, essas sim atraíam pessoas para junto do transístor. (Excluindo, os jogos de futebol, a única vez que o país parou em frente do televisor foi durante a transmissão da telenovela “Gabriela, cravo e canela”. No último episódio não se via vivalma nas ruas. Até os deputados da nação fecharam a Assembleia mais cedo para assistir ao empolgante desfecho da coitadinha do Nordeste). Outro ápice histórico retratado com tons sépia (da interpretação ideológica) é a queda do Cessna que transportava Sá Carneiro. Diz-se que uma onda de comoção percorreu o país de lés-a-lés quando Freitas do Amaral, de ar compungido, leu a notícia na RTP. Durante vários dias o povo chorou pelas cebolas do Egipto. Um carismático líder caíra do céu (as senhoras mais beatas acreditaram que ele para lá voltara). As lágrimas vertidas salgaram ainda mais o mar. Os choros incomodaram o sono dos deuses. As lamúrias ecoaram nas pedras da calçada. Enfim, uma tragédia quasi grega. Mas, de facto, grande parte da população festejou o esfanicar do primeiro-ministro nos telhados de Camarate, porque a sua permanência no poleiro prefigurava um ditadorzeco no horizonte. Na época, Sá Carneiro empenhava-se na eleição de um títere (Soares Carneiro) para a Presidência da República. Queria governar à sua maneira. Com certezas de líder esclarecido que sabe o que é melhor para o povo. Não seria igual ao mauzão do Salazar, mas perdemos uma oportunidade para testar que a História se repete. A primeira vez como drama, a segunda como comédia.
Intervalo para coroar mestre Ubu: Fernando Ulrich, presidente do BPI, quilovátio da banca, Roquefort da finança, viripotente marido, pai de truz e mais uma lista de qualidades enaltecidas por Paulo Teixeira Pinto nas reuniões do Conselho de Administração do Millennium bcp durante a falecida OPA. E também conhecido por ser um Tapperware atestado de boas ideias como aquela de baixar os salários (dos trabalhadores, não dos gestores) para espevitar a economia portuguesa. Há meses confidenciou aos jornalistas: “a minha filha levou-me a ver o Casablanca à Gulbenkian, já tinha visto, mas chorei para aí três vezes”. Pelo seu currículo é fácil adivinhar quando. Durante o genérico por não ver o seu nome nos créditos, quando Rick Blaine dispensa ao amor de sempre, Ilsa, os bilhetes de avião para Lisboa sem cobrar comissão e no genérico final, outra vez por não constar o seu nome. Um homem de ferro que chora, “co’os trezentos traques de Júpiter”, eis um bom rei para Portugal. Ubu roi!
Nunca é demais elogiar a iniciativa privada como oirichuva da nossa sociedade. O empresário, um herói sem collants nem capa, resolve problemas, ao contrário do gestor público que se limita a vadiar de carro de luxo. Só nos apoquentamos com a nossa precária situação porque não há coragem para ir até ao fim e privatizar tudo. Parafraseando um dichote popular “no privado é um descanso”. Se as esquadras fossem privatizadas erradicava-se o crime num estalar de dedos. Um patrão motivado para rentabilizar o seu investimento reduzia logo os custos do acto policial pondo os polícias a pagarem as balas e os tinteiros do computador. E, como os criminosos davam lucro, nem os “sei que pareço um ladrão” escapariam ao zelo do polícia privado. Outra área que beneficiaria das indiscutíveis vantagens do empreedorismo é obviamente a Justiça. Processos a engonhar anos a fio nos tribunais teriam os dias contados se os juízes trabalhassem à peça. Um empresário nas rédeas – após passagem pelo banco dos réus – aumentaria a produtividade com o seu know-how estabelecendo objectivos a cumprir, colmatando as deficiências das faculdades de Direito, que ensinam a folhear Códigos, mas não a trabalhar. E, por fim, quiçá, a área com mais impacto social porque a população portuguesa não vai para nova – a santa saúdinha. Privatizar os hospitais teria uma consequência imediata. Acabava com as mortes por doença. Continuaríamos a morrer mas saudáveis. Os privados são bons, mas não tão bons como Deus para alterarem o dia de entrada no cemitério. Tivemos esta semana uma lição de eficiência de ponta na Saúde quando Eusébio foi pagar 600 €, por dia, nos cuidados intensivos do Hospital da Luz. Recém-inaugurado com pompa e circunstância e Presidente da República e ministro, esta doença do mito da bola foi uma sorte para o marketing da instalação hospitalar, e para nós que observamos embasbacados máquinas de maravilhar, corredores não atravancados de macas e doentes felizes. O Director clínico José Roquette, com um especialista a tiracolo, respeitava a pontualidade que os telejornais antes exigiam aos políticos. Oito horas em ponto lá estavam eles a botar uma espécie de boletim clínico para sossegar o people. Assim, graças à eficácia da medicina privada ficamos a saber que as artérias que irrigam o cérebro do “pantera negra” estão entupidas e… mais espantoso ainda, que Eusébio tem cérebro.
Vivemos num bacanal contínuo. Quem não se organiza corre o risco de dançar o Vira-Vira dos Mamonas Assassinas (“roda, roda e vira, solta a roda e vem/me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém”). Numa época onde as pessoas se dividem em, fumadores e fumadores passivos, mais vale preparar-se para uma cigarrada depois de uma barrigada de prazer, do que carpir mágoas no último degrau da escala social. Sigamos o modelo Eduardo Catroga. Ex-ministro das Finanças com obra feita (obra é obra, mesmo má), ganha uma pensão de 9 693 euros, mas não se coíbe de açambarcar tachos e mandar o seu bitaque sobre economia. Ou, então imitemos Joe Berardo que se recenseou e vai votar pela primeira vez na vida para ajudar um amigo de negócios. É bonito de ver. Um homem cumpre o seu dever cívico enquanto ajuda outro homem.
E, por fim, a luminosa ideia da EDP de adicionar 91 cêntimos na conta, durante os próximos dez anos, para reduzir o dito “défice tarifário acumulado”, encaixa como uma luva no coitus continuus do nosso admirável quotidiano novo. Dará satisfação (sexual, no sentido freudiano) por muitos e muitos anos. Quando decorrer o período para saldar o tal défice vão reparar numa coisa assaz bizarra. Entretanto, foram acumulados outros prejuízos, porque não está prevista a vinda a Portugal de uma fadinha com a sua varinha de condão para transformar abóboras em gestores. Daqui a dez anos os clientes da EDP (nessa altura pronunciado em espanhol) terão de pagar mais 91 euros, em cada factura, para tapar outro défice e assim sucessivamente. (Ah... já me esquecia. Os lucros continuarão astronómicos, valha-nos isso).
Rever o passado é um exercício de embelezamento interessante no Portugal optimista. A História como “ciência” descritiva (ou interpretativa) dos factos passados é uma mirabolante concepção dos historiadores que, tal como todos os outros “peritos”, têm de justificar a sua existência inventando um “objecto” de estudo. Mas tal coisa não existe. “Facto real” e “facto histórico” são realidades completamente diferentes. O primeiro acontece algures no espaço/tempo (e morre entre as brumas da memória, canta a mocidade portuguesa, nos egrégios estádios de futebol). O segundo é uma elaboração feita sobre o primeiro consoante a paparoca ideológica que o momento exacto que vivemos exige. (A História não existe para elucidar o passado mas para dar um certo sentido ao presente adequado às ambições da classe dominante). No Portugal dos empresários miraculados por gestores milagrentos, propagandeados pela publicidade oficial como capazes de proporcionar ovas de esturjão beluga para todos, é imperativo glorificar o passado para levantar o moral. Quem dá o corpo ao manifesto na produção de riqueza (chamava-se vender a “força de trabalho” noutras ideologias) precisa de acreditar no esplendor de Portugal, que já foi, mas pode voltar a ser, se forem para o trabalho cantando e rindo, em vez de quezilando e reivindicando. Assim serão levados, levados sim, pela voz do patrão de som tremendo. Das turbas, clamor com fim, dependurados no andaime, torres e torres erguendo, para que a riqueza doire o céu de Portugal. Lá vamos, que o sonho é lindo! (Claro que o andaime e as torres são metáforas, para não fugir muito do jolie poema de Mário Beirão do Hino da Mocidade Portuguesa, e abrangem a generalidade da actividade humana assalariada, não quer dizer que Portugal seja um país de cabouqueiros. Na imigração, a passagem pelas obras é uma espécie de ritual de iniciação para o sucesso no estrangeiro).
Dourar a pílula é o mot d’ordre, no sentido deleuziano, da nossa sina contemporânea. A linguagem oficial não descreve o passado mas sim diz-nos como ele deve ser entendido e pensado. A ferramenta mais importante do historiador actual é o Paint Shop para retirar feiosas rugas da tez lusitana, (excepto para José Hermano Saraiva. Ex-historiador amador, reconvertido em agente de viagens, prefere o folheto desdobrável das bonitas e progressivas terras portuguesas). Hoje é vox populi que os barões assinalaram. Que tenha sido a Taprobana, Copacabana, a papa da Joana, pouco importa. O que interessa é a sensação de bafo quente no pescoço provocada pela ufana glória que detrás vem. Se tão poucos, tanto fizeram, nós, que somos mais alguns, conquistaremos o universo, com a breca!
Em Portugal respira-se um ar teúrgico que (saudavelmente) tem toldado a perspectiva dos acontecimentos. Por exemplo, é muito comum elogiar-se o sucesso popular das charlas televisivas de Vitorino Nemésio. Fala-se como se, quando começava o programa “Se bem me lembro”, o povo acorresse aos magotes para frente do televisor para beber tão prodigioso discurso. Nada mais errado. Isso diz-se agora. Naquele tempo, o palanfrório do escritor açoriano, não era entendido pela maioria das pessoas, não pela complexidade dos conceitos manipulados, mas por simples má dicção. Maior sucesso tinha as imitações feitas pelos Parodiantes de Lisboa, essas sim atraíam pessoas para junto do transístor. (Excluindo, os jogos de futebol, a única vez que o país parou em frente do televisor foi durante a transmissão da telenovela “Gabriela, cravo e canela”. No último episódio não se via vivalma nas ruas. Até os deputados da nação fecharam a Assembleia mais cedo para assistir ao empolgante desfecho da coitadinha do Nordeste). Outro ápice histórico retratado com tons sépia (da interpretação ideológica) é a queda do Cessna que transportava Sá Carneiro. Diz-se que uma onda de comoção percorreu o país de lés-a-lés quando Freitas do Amaral, de ar compungido, leu a notícia na RTP. Durante vários dias o povo chorou pelas cebolas do Egipto. Um carismático líder caíra do céu (as senhoras mais beatas acreditaram que ele para lá voltara). As lágrimas vertidas salgaram ainda mais o mar. Os choros incomodaram o sono dos deuses. As lamúrias ecoaram nas pedras da calçada. Enfim, uma tragédia quasi grega. Mas, de facto, grande parte da população festejou o esfanicar do primeiro-ministro nos telhados de Camarate, porque a sua permanência no poleiro prefigurava um ditadorzeco no horizonte. Na época, Sá Carneiro empenhava-se na eleição de um títere (Soares Carneiro) para a Presidência da República. Queria governar à sua maneira. Com certezas de líder esclarecido que sabe o que é melhor para o povo. Não seria igual ao mauzão do Salazar, mas perdemos uma oportunidade para testar que a História se repete. A primeira vez como drama, a segunda como comédia.
Intervalo para coroar mestre Ubu: Fernando Ulrich, presidente do BPI, quilovátio da banca, Roquefort da finança, viripotente marido, pai de truz e mais uma lista de qualidades enaltecidas por Paulo Teixeira Pinto nas reuniões do Conselho de Administração do Millennium bcp durante a falecida OPA. E também conhecido por ser um Tapperware atestado de boas ideias como aquela de baixar os salários (dos trabalhadores, não dos gestores) para espevitar a economia portuguesa. Há meses confidenciou aos jornalistas: “a minha filha levou-me a ver o Casablanca à Gulbenkian, já tinha visto, mas chorei para aí três vezes”. Pelo seu currículo é fácil adivinhar quando. Durante o genérico por não ver o seu nome nos créditos, quando Rick Blaine dispensa ao amor de sempre, Ilsa, os bilhetes de avião para Lisboa sem cobrar comissão e no genérico final, outra vez por não constar o seu nome. Um homem de ferro que chora, “co’os trezentos traques de Júpiter”, eis um bom rei para Portugal. Ubu roi!
Nunca é demais elogiar a iniciativa privada como oirichuva da nossa sociedade. O empresário, um herói sem collants nem capa, resolve problemas, ao contrário do gestor público que se limita a vadiar de carro de luxo. Só nos apoquentamos com a nossa precária situação porque não há coragem para ir até ao fim e privatizar tudo. Parafraseando um dichote popular “no privado é um descanso”. Se as esquadras fossem privatizadas erradicava-se o crime num estalar de dedos. Um patrão motivado para rentabilizar o seu investimento reduzia logo os custos do acto policial pondo os polícias a pagarem as balas e os tinteiros do computador. E, como os criminosos davam lucro, nem os “sei que pareço um ladrão” escapariam ao zelo do polícia privado. Outra área que beneficiaria das indiscutíveis vantagens do empreedorismo é obviamente a Justiça. Processos a engonhar anos a fio nos tribunais teriam os dias contados se os juízes trabalhassem à peça. Um empresário nas rédeas – após passagem pelo banco dos réus – aumentaria a produtividade com o seu know-how estabelecendo objectivos a cumprir, colmatando as deficiências das faculdades de Direito, que ensinam a folhear Códigos, mas não a trabalhar. E, por fim, quiçá, a área com mais impacto social porque a população portuguesa não vai para nova – a santa saúdinha. Privatizar os hospitais teria uma consequência imediata. Acabava com as mortes por doença. Continuaríamos a morrer mas saudáveis. Os privados são bons, mas não tão bons como Deus para alterarem o dia de entrada no cemitério. Tivemos esta semana uma lição de eficiência de ponta na Saúde quando Eusébio foi pagar 600 €, por dia, nos cuidados intensivos do Hospital da Luz. Recém-inaugurado com pompa e circunstância e Presidente da República e ministro, esta doença do mito da bola foi uma sorte para o marketing da instalação hospitalar, e para nós que observamos embasbacados máquinas de maravilhar, corredores não atravancados de macas e doentes felizes. O Director clínico José Roquette, com um especialista a tiracolo, respeitava a pontualidade que os telejornais antes exigiam aos políticos. Oito horas em ponto lá estavam eles a botar uma espécie de boletim clínico para sossegar o people. Assim, graças à eficácia da medicina privada ficamos a saber que as artérias que irrigam o cérebro do “pantera negra” estão entupidas e… mais espantoso ainda, que Eusébio tem cérebro.
Vivemos num bacanal contínuo. Quem não se organiza corre o risco de dançar o Vira-Vira dos Mamonas Assassinas (“roda, roda e vira, solta a roda e vem/me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém”). Numa época onde as pessoas se dividem em, fumadores e fumadores passivos, mais vale preparar-se para uma cigarrada depois de uma barrigada de prazer, do que carpir mágoas no último degrau da escala social. Sigamos o modelo Eduardo Catroga. Ex-ministro das Finanças com obra feita (obra é obra, mesmo má), ganha uma pensão de 9 693 euros, mas não se coíbe de açambarcar tachos e mandar o seu bitaque sobre economia. Ou, então imitemos Joe Berardo que se recenseou e vai votar pela primeira vez na vida para ajudar um amigo de negócios. É bonito de ver. Um homem cumpre o seu dever cívico enquanto ajuda outro homem.
E, por fim, a luminosa ideia da EDP de adicionar 91 cêntimos na conta, durante os próximos dez anos, para reduzir o dito “défice tarifário acumulado”, encaixa como uma luva no coitus continuus do nosso admirável quotidiano novo. Dará satisfação (sexual, no sentido freudiano) por muitos e muitos anos. Quando decorrer o período para saldar o tal défice vão reparar numa coisa assaz bizarra. Entretanto, foram acumulados outros prejuízos, porque não está prevista a vinda a Portugal de uma fadinha com a sua varinha de condão para transformar abóboras em gestores. Daqui a dez anos os clientes da EDP (nessa altura pronunciado em espanhol) terão de pagar mais 91 euros, em cada factura, para tapar outro défice e assim sucessivamente. (Ah... já me esquecia. Os lucros continuarão astronómicos, valha-nos isso).
17 Comments:
At 6:35 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Lembro que também a empresa Águas de Portugal tem um défice tarifário acumulado, por isso esperem novidades na conta da água.
At 2:23 da tarde, A Chata said…
Espere só até começarmos a contar anedotas como os australianos:
"The good news is we'll all soon be drinking recycled sewage. The bad news is there will not be enough to go."
(Anedota que corre em Perth)
At 2:35 da tarde, A Chata said…
As dimensões na India são outras.
Veja só esta noticia do Times of India (li isto 4 ou 5 vezes para me convencer que não estava a alucinar).
Sobre as eleições a decorrer no Uttar Pradesh:
"Of the 863 candidates in the fray for 58 assembly seats in this round, as many 115 face criminal charges while there are 61 multimillionaires."
Amadores é o que os nossos politicos e autarcas são, ficam-se pelas acusações e multimilionários, que se saiba, nem um...
At 8:24 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Os australianos vão ter que apoiar o seu amigo americano numa guerra pela água. Depois do petróleo é o futuro. Com a falta de água eles devem estar desesperados por causa da cerveja. Creio que são necessários seis litros de água para fazer um de cerveja, líquido muito apreciado down under, mais que o h2o.
Também quando há eleições no Brasil muitos candidatos estão presos e nem por isso a democracia deixa de funcionar. Por cá já faltou mais. Vamos no bom caminho. Começa pelas Câmaras Municipais, mas espero ver um presidente da república no Linhó, em vez de Belém, sem que isso interfira nas inaugurações e distribuições de medalhas.
Alguns dos nossos políticos, se calhar não são bilionários, não serão RICOS, mas são… riquinhos. Não lhes falta nada do bom e do melhor.
At 5:32 da tarde, A Chata said…
Mas importante mesmo foi a noticia, no Guardian, que anunciava a morte da cabra Rose, (é mesmo um animal de 4 patas) no Sudão.
O animal morreu sufocado ao tentar deglutir um saco plástico nas ruas de Juba e deixou viúvo o sudanês que tinha sido obrigado a casar com ela o ano passado.
O editor do jornal de Juba comentou:
"Following the marriage Rose had a male kid, but "not a human one", Mr Rhodes said.
A traidora!!!
At 9:39 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Uma má notícia para o esposo mas uma boa notícia para a humanidade civilizada!
Estas uniões estranhas, mas aceitáveis visto que o dote de uma mulher deve ser muito superior ao de uma cabra, provocarão mudanças nos (amados por todos) direitos humanos. (Se calhar até será possível encontrar alguma perdida na berma da estrada, ou porque o dono morreu, ou porque foi trabalhar para a África do Sul). Este casamento entre duas criaturas criadas por Deus deve ser a única situação em que a infidelidade da esposa é celebrada pelo marido. Este paga copos para todos na tasca local para celebrar a chegada de uma fonte de rendimento (de quatro patas, claro. Os de duas também são fonte de rendimento naquelas bandas). Se uma esposa do mundo dos bípedes com o córtex desenvolvido se atrevesse a tamanha desfaçatez esperava-lhe um simpático apedrejamento ou outro correctivo tradicional consoante a religião do casal.
Os organismos competentes da ONU deveriam fazer mais um peditório internacional para banalizar este curioso costume. Primeiro liberdade para os animais escolherem um parceiro sexual sem ser o legítimo consorte e o resto vem por acréscimo. Aos poucos com certeza eles aceitarão eventuais escapadelas da esposa antropóide.
At 12:14 da tarde, A Chata said…
"visto que o dote de uma mulher deve ser muito superior ao de uma cabra, "
Olhe que não.
Em Marrocos, por exenplo, um camelo é muito mais valioso que uma mulher.
O senhor sudanês foi obrigado, pelo concelho de mais velhos, a casar com a cabra depois de o dono da dita o ter apanhado a ter relações sexuais com o animal com o intuito de o envergonhar.
Outras culturas...
At 3:57 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Outras culturas não muito distantes da nossa. No passado recente a primeira experiência sexual dos jovens lusos, suburbanos e provincianos, passava por uma cabra ou uma galinha ou outro animal apanhado a jeito. Os bem humurados Gato Fedorento fizeram uma canção sobre este hábito português - "O rap dos matarruanos".
Por muito humor que se lhe queira pôr corresponde a uma realidade difícil de estudar, porque, em matéria de sexo os portugueses mentem muito. Até hoje não encontrei um estudo sobre o assunto feito por esses peritos das ciências humanas com o mínimo de credibilidade.
At 12:22 da tarde, A Chata said…
Talvez precisemos de nos preocupar mais agora com o hábito de comer e beber todos os dias que vamos mantendo.
Há um palavrâo que aprendi recentemente Agflation ou, em português Agflação (suponho).
Indice do aumento de preços da "comidinha" (cereais, carne, peixe,...) que, segundo o Economist, está a subir.
Diz o artigo:
"The prices of rice, wheat, corn, barley, cattle and pork are all up by more than 30% since March 2005."
e
"Food prices are rising faster, relative to other measures of core producer-price inflation, than at any time since the early 1980s."
Ora, com as alterações climáticas que estão a ocorrer, o melhor talvez seja começarmos a mudar esse hábito de comer e beber todos os dias e várias vezes ao dia.
O artigo do Economist tinha um título interessante:
"Nuns mug orphan!"
(e, claro, não havia nenhuma freira, nem orfão na história)
Quando a "bolha" do endividamento estoirar, penso que haverá uma grande mudança de hábitos sociais...
At 3:25 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Estive a ler uma notícia curiosa. Em 2006, com 37 mil toneladas de carne de cavalo exportadas, a Argentina tornou-se no maior exportador mundial deste petisco. Os russos ficaram com 17 941 toneladas para desenjoar do caviar.
Aqui está uma boa solução para os preços cada vez mais elevados da alimentação. Comer todos os animais do planeta. Desde os insectos aos mamíferos. Não são necessários para nada. No futuro, os jardins zoológicos terão células dos vários animais para serem clonadas. Um pai, com desafogo económico, que queira mostrar um leão à família só tem que telefonar, através do telefone que tem implantado no cérebro, e marcar a hora da visita. Depois de uma tarde bem passada, num ambiente asséptico de ecrãs vídeo, poderá abater o leão para mostrar ao filho como se caçava no tempo do Tarzan.
Tinha a ideia de escrever uma ficção/previsão de vida no futuro. Mas tenho andado doente e até o próximo post está atrasado. Eis o que penso do futuro da alimentação. Dentro de pouco tempo, no supermercado compraremos células estaminais, em saquinhos hermeticamente fechados, em vez de carcaças ensanguentadas. Introduz-se o saco sem abrir numa espécie de microondas mas que funciona com um útero e voilá… temos um animal pronto a ser cozinhado. Pela manipulação genética, a galinha, por exemplo, já sairá depenada e com os miúdos separados.
Como é que os ingleses fizeram a palavra agflation? Agriculture + inflation?
At 1:02 da manhã, A Chata said…
Lamento que esteja doente, espero sinceramente que melhore rapidamente.
Faz-nos falta.
Obrigada pelo sonho. Estava a precisar mesmo de sonhar.
Com a sua ajuda, já estou novamente na onda dos Python:
"Always look at the brightest side of life...
Quanto ao palavrão, agflação, é conversa de economistas que sairam do seu "mundinho" e foram ao supermercado comprar comida para a familia.
At 3:10 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Os Monty Python perceberam a essência do mundo. Que este é absolutamente risível. Eis mais uma cena que dentro em breve veremos por aí (talvez o mesmo “aí” por onde anda Santana Lopes, quem sabe? seria bom para Portugal. Seria mais pontos para nós).
Cientistas americanos conseguiram modificar geneticamente a levedura saccharomyces cerevisiae para que esta fique verde fluorescente quando no ar existir partículas de DNT (que existe no TNT. É o mesmo elemento que os cães conseguem farejar). Estes sábios alcançaram esta proeza modificando a levedura com a junção de um gene de ratazana (talvez alguma da administração Wbush). Por sua vez esta levedura é usada no fabrico do pão e da cerveja. Isto vem publicado no Nature Chemical Biology. Ora, é fácil deduzir as aplicações práticas de mais esta maravilha da ciência.
Em breve, veremos os polícias nos aeroportos armados com, literalmente, cacetes (tipo pão francês) para detectarem bombistas suicidas ou outros inimigos que entretanto surgirão. (E os nossos com aquelas fardas pretas ficarão tão garbosos de casqueiro à cintura). Claro que o pão ficará ao ar livre para que endureça e maximize as potencialidades do “dois em um”, como agora é muito comum nos produtos domésticos. Será um detector de explosivos e simultaneamente um cassetete para pôr malfeitores KO.
Para o caso de operações mais sigilosas (undercover, na linguagem correcta, já usada pela PSP) poderão ser enviados polícias à paisana, com um inocente copo de cerveja na mão, fingindo vir de uma farra, para junto da casa onde pernoitam os alegados malfeitores, e apanha-los em flagrante na manufactura de engenhos explosivos. Mal, posso esperar pelo admirável mundo novo, nem Aldous Huxley imaginou que a tanto chegássemos.
De regresso ao presente, se eu fosse adepto das teorias da conspiração diria que, quem raptou a menina inglesa no Algarve, foi Carmona Rodrigues para que os jornais deixassem de falar da Câmara de Lisboa. Ou pelo menos não com tanta contundência como seria de esperar se não houvesse aquela diversão que ocupa os nossos homens das notícias. (Ouvi um tipo dizer na TV que o "caso Carmona" surgiu para desviar a atenção do "caso diploma Sócrates" e da supermagistrada designada pelo Procurador para fazer a investigação. Seria algo para ensinarem nos cursos de jornalismo. Porem os alunos a verificarem como se substituem as notícias).
At 3:41 da tarde, A Chata said…
E o verde fluorescente é uma coisa tão gira, brilha no escuro e tudo...
E os detectores podem sempre ser reciclados em boas migas de tomate quando sairem de uso ou mesmo em açordas suculentas.
Anime-se, a Primavera está no ar.
Até no frio mundo dos negócios, o Amor está bem vivo que o diga Lord Browne da BP e Paul Wolfwitz do Banco Mundial.
Escutam-se novas canções:
"Bomb, bomb, bomb, bomb, bomb Iran"
por John MacCain com música dos Beach Boys.
http://www.youtube.com/watch?v=o-zoPgv_nYg
"Barak the Magic Negro" com músics de Puff the Magic Dragon e letra de
Rush Limbaugh. (esta já retirada do Youtube)
"The secret Downing street memo"
by John Bourne Harbor
http://www.youtube.com/watch?v=SV-3Efq-zKs
mas, a minha preferida continua a ser esta:
http://www.youtube.com/watch?v=m_0mVTOv1qw
chame-me romantica...
At 7:29 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Claro. As baguettes, depois de cumprido o dever, vão para reciclagem. Reciclar é muito importante. Temos de ser amigos do ambiente. Apesar de eu pertencer ao grupo que está preocupado com a impressão que vamos causar no futuro. Se continuarmos nesta febre de eliminação de lixos não deixaremos vestígios para sermos estudados daqui a mil ou dois anos. Desaparecemos que nem suevos, alanos ou vândalos.
Privaremos os arqueólogos do futuro da emoção da descoberta de uma lata Coca-Cola, uma embalagem Doritos ou uma Barbie decapitada. Privaremos as universidades do debate sobre a função das lojas de conveniência e das discussões académicas sobre as subtis diferenças entre super e hipermercado, e onde diabo entra o indiano da fruta neste intricado sistema social. Privaremos os museus de exibirem um automóvel ou um poste de iluminação pública. É preocupante.
Wolfowitz e Browne são duas belas almas. Exemplos da multiplicidade de escolhas sexuais no cardápio actual e de como a grande força do amor não inspira só poetas. Venus in (ricas) furs! John McCain sofre do mesmo mal que os outros velhinhos americanos sofrem: senilidade. Mas isso é bom, deixa-os bem colocados na corrida à Casa Branca, que é o objectivo deste senador. Puxa dos galões por ter estado no Vietname apresentando-se como um herói. Defende a guerra no Iraque segundo o princípio: ela foi mal iniciada mas agora é que é. E canta Barbara Ann numa pessoalíssima versão. Temos material para presidente U.S.A.
O Google dá erro nos outros endereços. Questiono-me sobre o tamanho desta janela “billgatiana”. Será possível continuar a meter comentários até ao infinito?
At 4:29 da tarde, A Chata said…
Até ao infinito, não diria, talvez até os bytes se esgotarem.
Mas para não gastar só os seus bytes, tenho muito gosto que gaste alguns dos meus visitando o meu diário de bordo
http://ohwhatwonderfulworld.blogspot.com/
e ver e ouvir as canções da Primavera.
ps Como vai a sua saúde? Está melhor?
At 3:10 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Espero esta semana retomar a escrita. Não sou um escritor compulsivo. Se algo não está bem, não consigo concentrar-me, é uma chatice. Ainda por cima tenho que escrever aos nossos dirigentes. Há um certo tempo que não lhes mando uma carta para dar trabalho aos assessores (dezenas por cabeça). São muito educados, respondem sempre com uma atenciosa minuta assinada de carimbo (até parece o Rumsfeld a participar às famílias os entes queridos mortos no Iraque). A melhor é da Presidência da República, em papel timbrado e de boa qualidade, um orgulho para um povo grande no futebol, na arte, na ciência, na tecnologia...
Não consegui aceder ao endereço do blog. Pouco percebo de informática. Copiar, colar, enter e não sei se devo rezar uma prece para que o Google chegue a bom porto. Como bom português acho que uma ave-maria + um pai-nosso tem mais poder que um curso de engenharia informática. Tentarei ir através do Sapo.
At 9:36 da tarde, A Chata said…
Estou deconfiada que os nossos dirigentes fizeram 'outsourcing' e, na volta, as respostas que recebe são escritas por algum indiano em Bombaim.
Se até a Reuters já tem cerca de 1000 empregados na India a escrever as noticias.
De acordo com Millôr Fernandes,
o método para se tornar idiota é:
Ler diariamente todos os jornais e assistir aos programas do horário nobre (quando se usa esta expressão já se está no caminho certo).
Nada como um texto seu para me retirar dessa rotina perigosa. Fico a aguardar.
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