Os pequenos prazeres da vida
Os Estados Unidos são o farol do mundo. Cristóvão Colombo mais Américo Vespúcio, (que lhe emprestou o nome) alcançaram um verdadeiro jackpot para a Humanidade. Um Euromilhões com 76 275 360 hipóteses para cada aventureiro. Uma Azinhaga do Ribatejo grávida de Josés Saramagos. Sexo tântrico em Las Vegas. Um tiro à queima-roupa no aborrecimento (dado por Lee Marvin). Naquela terra tudo é grande. As mamas da Dolly Parton, as carantonhas dos presidentes no monte Rushmore, o instrumento de trabalho de John Holmes (Mr. 33 cm), o Big Mac, Wbush e o seu side-car, Laura Bush. Esta família deixará saudades quando se reformar para o Texas e naqueles organismos internacionais que acolhem ex-presidentes com muito para dar ao mundo e habitantes. (Quem não verte uma lágrima de comoção ao ver o nosso “rabanete” – como lhe chamavam antanho por ser “vermelho” – no comando da Aliança das Civilizações, combatendo o mouro com a espada da persuasão e a chita do diálogo? arrepia… como o Prince a tocar “Purple Rain” ou os Belphegor, “Fornicationium et Immundus Diabolus”). A big show administração Wbush deu-nos clarividência sobre quem é o boss.
Boys & girls europeus de centro-esquerda ou centro-direita anseiam por visitar a terra da vida em fotogramas. Paula Abdul tropeça no seu chihuahua e parte o nariz. Ou, James Dean, nas festas, metendo a dentadura no copo dos convivas para galhofar. Ou, então Nick Lachey, no reality show “Newlyweds”, surpreendido pelo cheiro deixado pelas funções vitais do corpo da esposa, Jessica Simpson, na casa de banho, e surpreendendo ainda mais os telespectadores que, de um corpo daqueles, saísse tão desagradável pivete. (E dizem que a reality TV não ensina nada, quando evidencia neste caso duas lições importantes de serviço público. Que as mulheres boas como o milho não são deusas e que nunca se deve prescindir de um exaustor no WC). Como pirilampos hipnotizados pela luz de um grande ecrã num drive-in, os europeus querem participar no filme americano, convencidos de que nas suas terras nunca sairão de produções série B – inclusive os portugueses, bafejados pela sorte de terem os Governos com os melhores castings, (desde Afonso Henriques até hoje), não se importariam de pegar na mala de cartão e partir. (O magníloquo ministro, Mário Lino, diria no seu linguarejar claro que indo para poente evitam o deserto a sul. Para sul jamais).
Não há cinema nacional. Não há cinema americano. Há cinema universal que é ao mesmo tempo americano, porque Hollywood utilizou o seu poderio financeiro para moldar o gosto dos espectadores da 7ª arte. Transformada em arte de perder tempo numa sala escura, ou em frente de um plasma gigante, quando vemos a pobreza franciscana de ideias nos êxitos “Os piratas das Caraíbas” ou “Homem Aranha”. (Para se vender um produto é preciso criar nas pessoas o incontrolável desejo por esse produto, hoje, nenhum produtor europeu se arrisca a fazer um filme sem american flavour). A este processo de controlo mental, chamaram-lhe os Red Hot Chili Peppers, “californicar” o mundo. E, com justeza, Hollywood dá cartas, porque o cinema foi inventado por um americano. Claro que todos conhecem a biografia de Louis e Auguste Lumière e do sucesso financeiro das suas fotografias em movimento. Desde o primeiro espectáculo pago, no Grand Café, no Boulevard des Capucines, e a passagem por várias cidades do mundo, foi um arrecadar de proventos. “L’arrivé d’un train en gare de la Ciotat” ou “L’arroseur arrosé” foram êxitos de bilheteira. Mas nem eles acreditavam que a sua descoberta tivesse futuro pois as pessoas cedo se fartariam de ver comboios a passar, ou operários a sair de fábricas, ou tipos molhados pela pressão de uma mangueira. Foi Edwin Stanton Porter, machacaz empregado de Thomas Edison, quem teve a ideia do cinema.
Os primeiros filmes eram constituídos por imagens contínuas, isto é, pegava-se na câmara e filmava-se até acabar a película. Porter imaginou que filmando imagens de forma descontínua no espaço e no tempo, e se depois as juntasse, poderia contar uma história. Descobriu a montagem. É seu o primeiro filme com enredo, “Life of an American fireman” e, também, o primeiro western “The great train robbery”. (Esta é a História vista do outro lado Atlântico. Obviamente que os franceses chutariam com Georges Méliès como arquitecto do cinema, e na época, chamavam-lhe o maior cineasta de sempre. Que, por um feliz acaso, descobriu as vantagens da descontinuidade das imagens na produção de filmes. Um dia, Méliès filmava pessoas nas ruas e a câmara emperrou por causa de uma avaria técnica, mas as pessoas continuaram na sua vidinha, quando retomou a filmagem as suas posições tinham-se, entretanto, alterado. Chamou a este método “stop-action”. Mas Méliès, dono do teatro Robert-Houdin, onde projectava as suas obras, não tinha por detrás o génio do negócio Thomas Edison para que a coisa desse certo).
Um dos melhores filmes americanos da actualidade desenrola-se ao nível da linguagem que as pessoas devem usar no dia a dia, em público, mas também em privado, pois a campanha é para mudar comportamentos enraizados nos hábitos e costumes. E diz respeito ao prestígio que os negros atingiram naquela sociedade que não se coaduna com certas expressões corriqueiras depreciativas. No mês passado, Don Imus, um sexagenário radialista americano, no seu programa “Imus in the morning show”, que também é transmitido por TV, referiu-se às jogadoras da equipa de basquetebol feminino da Universidade de Rutgers como sendo umas “nappy-headed hos” (“nappy” é calão para “encaracolado”, referido aos pêlos púbicos, e “ho” é uma abreviatura das ruas da palavra “whore”, ou seja, em português correcto, chamou-lhes “putas de carapinha”). As raparigas que não têm a fisionomia apurada de Beyoncé ou Rihana, mantendo ainda os traços dos seus antepassados vindos nos navios negreiros, mandaram-se aos arames. A sua treinadora vem levantar-lhes o moral afirmando que são jovens senhoras com classe e distinção, brilhantes e dotadas, sabem articular, são representativas de Deus em toda a extensão da palavra. E, saltaram para a arena os reverendos do costume, Jesse Jackson e Al Sharpton, para defenderem a minoria que, desde os anos 60 tanto progrediu económica e socialmente, de mais este preconceituoso ataque. Resultado Imus foi despedido. No final do ano passado, Michael Richards (actor que desempenhava o papel de Kramer na série “Seinfeld”) viu-se metido nos mesmos trabalhos quando usou a palavra “nigger” no meio de insultos proferidos contra uns tipos que lhe estavam a chagar o juízo durante um espectáculo de “stand-up comedy” no Laugh Factory, em Sunset Strip, na Califórnia. Nas réplicas da onda de choque a edilidade de Nova Iorque proibiu simbolicamente o uso do “n-word”. E de todos os lados surgem pedidos para que os músicos de hip-hop se coíbam de utilizar essas palavras nas suas letras. (Apesar de alguns barafustarem com a liberdade artística são capazes de ceder, pois aquilo já não dá a massa que dava, e o dinheiro fala mais alto que qualquer liberdade). Doravante teremos uma América bem-falante como a família que ocupa a Casa Branca – a 20 mil léguas submarinas de distância de Richard Nixon que chamava “puta” e “bruxa” a Indira Gandhi e “bastardos” aos indianos em geral.
Dizem que o centro geodésico da Europa (a vinte e sete) é a vila alemã de Gelnhausen mas seria mais correcto colocá-lo em Albuquerque, a cidade onde Bugs Bunny muda de direcção, porque o omnipresente Durão Barroso parece uma personagem de desenho animado. Animado ele é mas é só desenho. Numa conferência de imprensa conjunta com o presidente do Gana vem asseverar que será o porta-voz dos desfavorecidos na cimeira do G-8, em Heiligendamm, na Alemanha. Se o pilheriador da Comissão Europeia mordesse uma cenoura e dissesse “what’s up doc?” teria o mesmo efeito. Um político com uma capacidade camaleónica reconhecida de mudar segundo a vegetação, entre os ricos, faz como os ricos.
Pelo nosso Portugal respondemos ao chamamento dos padres para a oração. Contentamo-nos com pequenas coisas. Porque a alma não é pequena temos esperança que o mundo físico engrandeça. E às vezes o inesperado acontece. De uma agradável cavaqueira no gabinete de Fernando Charrua vem novos rumos para o Plano Tecnológico. Licenciaturas por fax seriam apenas o primeiro passo. O seguinte seria por teletexto da TV e, cocuruto dos cocurutos, por SMS. E, também, se aproveitará a contribuição que o escarcéu sobre o diploma de Sócrates traz para uma linguagem política do futuro, na clarificação da banda que segue os líderes. Mendistas, barrosistas, portastistas, cavaquistas, socratistas, são boas designações, mas não fica claro o seu posicionamento ideológico. (Para os vilipendiadores da política esta fauna faz lembrar o filme “O príncipe em Nova Iorque”. Na cena inicial, Eddie Murphy está espojado numa banheira redonda, a câmara aproxima-se num zoom e debaixo de água surge uma rapariga à sua frente que diz: “o pénis real está lavado”. Não quero dizer com isto que os “homens do sim” sirvam apenas para lavar o pénis - no nosso regime actual - republicano, têm outras aplicações, como papel de parede nas cerimónias oficiais ou palmas enlatadas nos discursos). Como, agora, somos obrigados a usar a expressão “sou engenheiro, mesmo engenheiro” para nos distinguirmos dos que possuem licenciatura duvidosa, basta extrapolar para o âmbito político. Sou mendista, mesmo mendista, não vou apunhalar o líder pelas costas. Ou, então, para caracterizar as matizes dentro dos partidos. Sou socialista, mesmo socialista, para identificar o grupo de Manuel Alegre e quejandos.
Os Estados Unidos são o farol do mundo. Cristóvão Colombo mais Américo Vespúcio, (que lhe emprestou o nome) alcançaram um verdadeiro jackpot para a Humanidade. Um Euromilhões com 76 275 360 hipóteses para cada aventureiro. Uma Azinhaga do Ribatejo grávida de Josés Saramagos. Sexo tântrico em Las Vegas. Um tiro à queima-roupa no aborrecimento (dado por Lee Marvin). Naquela terra tudo é grande. As mamas da Dolly Parton, as carantonhas dos presidentes no monte Rushmore, o instrumento de trabalho de John Holmes (Mr. 33 cm), o Big Mac, Wbush e o seu side-car, Laura Bush. Esta família deixará saudades quando se reformar para o Texas e naqueles organismos internacionais que acolhem ex-presidentes com muito para dar ao mundo e habitantes. (Quem não verte uma lágrima de comoção ao ver o nosso “rabanete” – como lhe chamavam antanho por ser “vermelho” – no comando da Aliança das Civilizações, combatendo o mouro com a espada da persuasão e a chita do diálogo? arrepia… como o Prince a tocar “Purple Rain” ou os Belphegor, “Fornicationium et Immundus Diabolus”). A big show administração Wbush deu-nos clarividência sobre quem é o boss.
Boys & girls europeus de centro-esquerda ou centro-direita anseiam por visitar a terra da vida em fotogramas. Paula Abdul tropeça no seu chihuahua e parte o nariz. Ou, James Dean, nas festas, metendo a dentadura no copo dos convivas para galhofar. Ou, então Nick Lachey, no reality show “Newlyweds”, surpreendido pelo cheiro deixado pelas funções vitais do corpo da esposa, Jessica Simpson, na casa de banho, e surpreendendo ainda mais os telespectadores que, de um corpo daqueles, saísse tão desagradável pivete. (E dizem que a reality TV não ensina nada, quando evidencia neste caso duas lições importantes de serviço público. Que as mulheres boas como o milho não são deusas e que nunca se deve prescindir de um exaustor no WC). Como pirilampos hipnotizados pela luz de um grande ecrã num drive-in, os europeus querem participar no filme americano, convencidos de que nas suas terras nunca sairão de produções série B – inclusive os portugueses, bafejados pela sorte de terem os Governos com os melhores castings, (desde Afonso Henriques até hoje), não se importariam de pegar na mala de cartão e partir. (O magníloquo ministro, Mário Lino, diria no seu linguarejar claro que indo para poente evitam o deserto a sul. Para sul jamais).
Não há cinema nacional. Não há cinema americano. Há cinema universal que é ao mesmo tempo americano, porque Hollywood utilizou o seu poderio financeiro para moldar o gosto dos espectadores da 7ª arte. Transformada em arte de perder tempo numa sala escura, ou em frente de um plasma gigante, quando vemos a pobreza franciscana de ideias nos êxitos “Os piratas das Caraíbas” ou “Homem Aranha”. (Para se vender um produto é preciso criar nas pessoas o incontrolável desejo por esse produto, hoje, nenhum produtor europeu se arrisca a fazer um filme sem american flavour). A este processo de controlo mental, chamaram-lhe os Red Hot Chili Peppers, “californicar” o mundo. E, com justeza, Hollywood dá cartas, porque o cinema foi inventado por um americano. Claro que todos conhecem a biografia de Louis e Auguste Lumière e do sucesso financeiro das suas fotografias em movimento. Desde o primeiro espectáculo pago, no Grand Café, no Boulevard des Capucines, e a passagem por várias cidades do mundo, foi um arrecadar de proventos. “L’arrivé d’un train en gare de la Ciotat” ou “L’arroseur arrosé” foram êxitos de bilheteira. Mas nem eles acreditavam que a sua descoberta tivesse futuro pois as pessoas cedo se fartariam de ver comboios a passar, ou operários a sair de fábricas, ou tipos molhados pela pressão de uma mangueira. Foi Edwin Stanton Porter, machacaz empregado de Thomas Edison, quem teve a ideia do cinema.
Os primeiros filmes eram constituídos por imagens contínuas, isto é, pegava-se na câmara e filmava-se até acabar a película. Porter imaginou que filmando imagens de forma descontínua no espaço e no tempo, e se depois as juntasse, poderia contar uma história. Descobriu a montagem. É seu o primeiro filme com enredo, “Life of an American fireman” e, também, o primeiro western “The great train robbery”. (Esta é a História vista do outro lado Atlântico. Obviamente que os franceses chutariam com Georges Méliès como arquitecto do cinema, e na época, chamavam-lhe o maior cineasta de sempre. Que, por um feliz acaso, descobriu as vantagens da descontinuidade das imagens na produção de filmes. Um dia, Méliès filmava pessoas nas ruas e a câmara emperrou por causa de uma avaria técnica, mas as pessoas continuaram na sua vidinha, quando retomou a filmagem as suas posições tinham-se, entretanto, alterado. Chamou a este método “stop-action”. Mas Méliès, dono do teatro Robert-Houdin, onde projectava as suas obras, não tinha por detrás o génio do negócio Thomas Edison para que a coisa desse certo).
Um dos melhores filmes americanos da actualidade desenrola-se ao nível da linguagem que as pessoas devem usar no dia a dia, em público, mas também em privado, pois a campanha é para mudar comportamentos enraizados nos hábitos e costumes. E diz respeito ao prestígio que os negros atingiram naquela sociedade que não se coaduna com certas expressões corriqueiras depreciativas. No mês passado, Don Imus, um sexagenário radialista americano, no seu programa “Imus in the morning show”, que também é transmitido por TV, referiu-se às jogadoras da equipa de basquetebol feminino da Universidade de Rutgers como sendo umas “nappy-headed hos” (“nappy” é calão para “encaracolado”, referido aos pêlos púbicos, e “ho” é uma abreviatura das ruas da palavra “whore”, ou seja, em português correcto, chamou-lhes “putas de carapinha”). As raparigas que não têm a fisionomia apurada de Beyoncé ou Rihana, mantendo ainda os traços dos seus antepassados vindos nos navios negreiros, mandaram-se aos arames. A sua treinadora vem levantar-lhes o moral afirmando que são jovens senhoras com classe e distinção, brilhantes e dotadas, sabem articular, são representativas de Deus em toda a extensão da palavra. E, saltaram para a arena os reverendos do costume, Jesse Jackson e Al Sharpton, para defenderem a minoria que, desde os anos 60 tanto progrediu económica e socialmente, de mais este preconceituoso ataque. Resultado Imus foi despedido. No final do ano passado, Michael Richards (actor que desempenhava o papel de Kramer na série “Seinfeld”) viu-se metido nos mesmos trabalhos quando usou a palavra “nigger” no meio de insultos proferidos contra uns tipos que lhe estavam a chagar o juízo durante um espectáculo de “stand-up comedy” no Laugh Factory, em Sunset Strip, na Califórnia. Nas réplicas da onda de choque a edilidade de Nova Iorque proibiu simbolicamente o uso do “n-word”. E de todos os lados surgem pedidos para que os músicos de hip-hop se coíbam de utilizar essas palavras nas suas letras. (Apesar de alguns barafustarem com a liberdade artística são capazes de ceder, pois aquilo já não dá a massa que dava, e o dinheiro fala mais alto que qualquer liberdade). Doravante teremos uma América bem-falante como a família que ocupa a Casa Branca – a 20 mil léguas submarinas de distância de Richard Nixon que chamava “puta” e “bruxa” a Indira Gandhi e “bastardos” aos indianos em geral.
Dizem que o centro geodésico da Europa (a vinte e sete) é a vila alemã de Gelnhausen mas seria mais correcto colocá-lo em Albuquerque, a cidade onde Bugs Bunny muda de direcção, porque o omnipresente Durão Barroso parece uma personagem de desenho animado. Animado ele é mas é só desenho. Numa conferência de imprensa conjunta com o presidente do Gana vem asseverar que será o porta-voz dos desfavorecidos na cimeira do G-8, em Heiligendamm, na Alemanha. Se o pilheriador da Comissão Europeia mordesse uma cenoura e dissesse “what’s up doc?” teria o mesmo efeito. Um político com uma capacidade camaleónica reconhecida de mudar segundo a vegetação, entre os ricos, faz como os ricos.
Pelo nosso Portugal respondemos ao chamamento dos padres para a oração. Contentamo-nos com pequenas coisas. Porque a alma não é pequena temos esperança que o mundo físico engrandeça. E às vezes o inesperado acontece. De uma agradável cavaqueira no gabinete de Fernando Charrua vem novos rumos para o Plano Tecnológico. Licenciaturas por fax seriam apenas o primeiro passo. O seguinte seria por teletexto da TV e, cocuruto dos cocurutos, por SMS. E, também, se aproveitará a contribuição que o escarcéu sobre o diploma de Sócrates traz para uma linguagem política do futuro, na clarificação da banda que segue os líderes. Mendistas, barrosistas, portastistas, cavaquistas, socratistas, são boas designações, mas não fica claro o seu posicionamento ideológico. (Para os vilipendiadores da política esta fauna faz lembrar o filme “O príncipe em Nova Iorque”. Na cena inicial, Eddie Murphy está espojado numa banheira redonda, a câmara aproxima-se num zoom e debaixo de água surge uma rapariga à sua frente que diz: “o pénis real está lavado”. Não quero dizer com isto que os “homens do sim” sirvam apenas para lavar o pénis - no nosso regime actual - republicano, têm outras aplicações, como papel de parede nas cerimónias oficiais ou palmas enlatadas nos discursos). Como, agora, somos obrigados a usar a expressão “sou engenheiro, mesmo engenheiro” para nos distinguirmos dos que possuem licenciatura duvidosa, basta extrapolar para o âmbito político. Sou mendista, mesmo mendista, não vou apunhalar o líder pelas costas. Ou, então, para caracterizar as matizes dentro dos partidos. Sou socialista, mesmo socialista, para identificar o grupo de Manuel Alegre e quejandos.
9 Comments:
At 11:28 da manhã, A Chata said…
Excelente, como sempre.
Como gostava de saber expressar-me assim.
Veio-me à ideia as crónicas de Umberto Eco sobre a sua digressão nos EUA.
O hiperrealismo de uma réplica da estatua de Venus de Milo com braços, os museus Ripley, a tão propalada 'the real thing' e o tão publicitado conceito 'more'...
Tenho, cada vez mais, a sensação que este "farol" está a apagar-se e as gerações futuras (os que conseguirem sobreviver) terão uma visão mais "oriental" do Mundo.
Li ontem um artigo em que o Pentagono relata alguma preocupação com o crescimento do poder militar da China.
Segundo eles, a China tem vindo a seguir as máximas de Deng Xiaoping que dizem entre outras:
- Esconder as nossas capacidades e dar tempo ao tempo
- Esmerar-se por manter um 'low profile'
- Nunca se arrogar o papel de 'leader'
E, perante isto, houve logo alguém que afirmou:
"If China was really a threat, would we be moving our factories there at the rate of one a day?"
Realmente "grandes" filmes, onde os americanos salvam sempre o Mundo de ameaças extra-terretres (que falam todos americano e aterram sempre nos EUA), heróis invenciveis e patrioticos como nas histórias para crianças.
At 3:28 da tarde, GPC said…
Também sou do tempo da "quando a China acordar o mundo tremerá".
Mas isto:
"If China was really a threat, would we be moving our factories there at the rate of one a day?"
e o facto de haver chineses por todo o lado fez com que há muito tempo alterasse o sítio onde colocava a China. Agora fico é descansado, na verdade só fico descansado, quando a China se 'mete ao barulho'.
Em relação à América é com tristeza que o digo, espantem-se: procurem os cofres dos nossos valores: encontrá-los-ão na América (não em França nem noutro lado qualquer). Eu pelo menos acabo sempre por lá ir parar e, juro, não é por não tentar noutros sítios mais preferíveis.
Acho que é por os valorizarem mais.
Parodiando o que Mark Twain dizia sobre a música de Wagner: os americanos são melhores do que parecem.
At 7:42 da tarde, A Chata said…
A China já acordou há algum tempo e tem estado a:
. acumular reservas em moeda estrangeira ($1 trillion in foreign currency reserves)
. comprar a divida externa dos EUA
. comprar e desenvolver material bélico (the Pentagon said the Chinese are acquiring better missiles, submarines and aircraft )
. fazer reuniões com
a India e a Rússia
. manobrar em África e America do Sul para garantir o petroleo e materias primas que necessita
. e agora esta semana deu autorização aos seus bancos para começarem a comprar 'assets' , companhias e propriedades fora do país.
E, isto tudo, com pézinhos de lã.
Sou uma ignorante em economia mas,
parece-me que a China já está bem acordada...
A uma fabrica por dia, e uns milhares de empregos por mês, as proximas gerações do Ocidente vão trabalhar em quê e por que salários?
Pois eu, se não fosse pensar nas gerações futuras, podia estar sempre descansada, não tenho valores para por a render em lado nenhum, os valores dos mercados não me tiram o sono...
At 9:40 da tarde, GPC said…
Falo de valores morais, civilizacionais.
E de guerra, que o resto pouco me interessa. Há uma expressão -"proteger o investimento" - que me deixa descansado em relação à China. Para mim, que a temia, é uma alteração notável no modo como encaro o mundo.
At 10:19 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Parece que a China está lançada para uma posição económica de relevo mas não sei se as coisas serão assim tão fáceis. Há muita confusão sobre o Império do Meio. Por exemplo, diz-se que o Mandarim é a Língua mais falada no mundo, porque se deduz ser falada pelos chineses, no entanto, li que a maior partes deles não percebe nada dessa Língua. Na questão das armas, os americanos não os querem com rédea solta por causa de Taiwan, mas por outro lado é um óptimo negócio para os Estados que não pode ser descurado, julgo que lhes estão a vender tecnologia intermédia para contentar o pagode. É verdade que eles têm muitos espiões nas fábricas de armamento americanas – volta e meia é apanhado um – veremos se aquele poderio militar será “pai” para o “tio Sam”. (Para um “tudo em família” bélico).
Para dominar não basta a via da economia. Ajuda. É meio caminho andado. Todos gostam de comprar barato no chinês. Mas para atingir uma posição de domínio absoluto é preciso entrar no âmbito da Cultura. E as diferenças abissais entre o Ocidente e a China serão um impedimento. É da Cultura que vem o poder americano. A nossa pátria pode ser a Língua (que nada vale) mas o nosso “chão” é a América. Qualquer europeu conhece melhor a Cultura americana do que a do seu vizinho (e até do seu próprio país). Sou capaz de reconhecer uma cidade americana, citar actores, escritores etc. etc. americanos, mas terei alguma dificuldade de fazer o mesmo para europeus. E eu leio algumas coisas, não me limito a ver filmes, imagino quem não leia patavina.
A americanização do mundo não se fez só através do dinheiro (desde o plano Marshall ao Banco Mundial). Os três instrumentos da americanização foram: dinheiro, imagens e tecnologia. Marilyn Monroe (ou Britney Spears para ser mais recente) foi tão importante como o dólar para o domínio americano. Falo numa actriz de Hollywood mas pode ser outra coisa qualquer. A felicidade prometida pelo Marlboro, ou o Cadillac, ou o hambúrguer, ou as personagens Disney etc. A propósito a banda desenhada Disney foi usada para difusão de ideologia americana, nos países subdesenvolvidos, na época do capitalismo versus comunismo. (Ariel Dorfman e Armand Mattelart escreveram um livro sobre o assunto chamado “Para ler o pato Donald”)
Alterei o template espero não ter modificado a visualização do blog. Algo ficou diferente no meu computador. Ficou com uma discrepância entre o tamanho da letra na janela do post e o blog. Não é grave. O melhor é não mexer mais. Meti uma janela de pesquisa de letras de música. Nem vi bem o site que aquilo abre. Estou focalizado nas letras das canções. Até lá têm os Belphegor. Poucos conhecem os Belphegor? São austríacos, creio, tocam death metal. Uma música com alguma expressão económica nos países nórdicos mas a partir daí é o célebre deserto do sul. (É incrível como esta metáfora ministerial tem tantas aplicações).
Pareceu-me ser um site brasuca que vende discos. Que lhes faça bom proveito. Não penso comprar nada. Sou a favor do boicote ao consumo como única arma de protesto eficaz (se lhes tocarmos nos dólares ou euros eles acordam. Agora se viermos para a rua gritar, das duas, uma. Uma carga da polícia se a manifestação não foi registada no local próprio. Ou uma dor de garganta ao fim da tarde se for legal). Esta forma de protesto aplica-se aos discos, (que acho terem um preço obsceno e as editoras auferem lucros ainda mais obscenos), como a outra coisa qualquer. Se, por exemplo, um determinado sector económico paga mal aos trabalhadores, se, em vez da greve, não adquirissem os produtos (ou serviços) que esse sector produz outro galo cantaria. Na nossa época, um consumidor consciente é mais perigoso que um sindicalista (revolucionário no século XX para melhorar as condições de trabalho e salários mas um anacronismo no século XXI. Tempos novos. Novas armas).
Agora espero encontrar um site com o código HTML que permita ler livros para meter outra janela. Pensando bem poderia ser também de acesso a museus, galerias de arte... ou o CCB.
At 12:38 da tarde, GPC said…
"É da Cultura que vem o poder americano."
Mas é que é mesmo! Da cultura antiga, clássica, europeia. A cultura que muitos julgam ser o que lhes falta, sem darem conta que é o contrário que acontece - a Europa, de cultura, está enjoada, nem pode ouvir falar disso. Aqui já estamos é pela ignorância!(lembram-se?)
Ainda ontem aconteceu ouvir uma coisa muito ilustrativa: o crítico de cinema , na rádio, a dizer que o júri de Cannes foi preconceituoso em relação aos americanos.
De Ciência então, nem vale a pena falar.
E têm uma grande vantagem: continuam a recolher tudo de bom que vêem em nós (que por preconceito viramos costas e tentamos sempre, de uma maneira ou doutra, reduzir ao ridículo o que vemos neles)
Temos é que lhes dar tempo: aquilo é muito grande e ainda mal passaram 100 anos sobre a miséria e selvajaria (Oklahoma, gangs de Nova Iorque). Entusiasmo têm eles.
Como já foi dito, a China não tem pretensões - nunca teve - de domínio (A China sempre foi dominada e servil. Ainda hoje todos vemos os Chineses (emigrantes, pelo menos) como servis). Pode acontecer é que - tal como as formigas das selvas tropicais que se transformam num poder total que leva tudo à frente - acabem por o ter 'naturalmente'.
Há, claro, um aproveitamento perverso da cultura americana. Mas é a posteriori do interesse genuíno que ela desperta (por ser boa, humana, simples, universal, e, sim, com pretensões humanistas)
O filme que ganhou Cannes - com os temas recorrentes onde os europeus parecem ter encalhado ("hiper-realismo", parece que lhe chamam - dá-me vómitos.
Temo que a minha fé nos resultados positivos que um comportamento de consumo racional pode trazer é nula: a alternativa é sempre outra e pior do que o que pensamos.
Já não é mau que sirva para aniquilar (mas sempre com cuidado porque a alternativa pende sempre para pior. Quero dizer que acho melhor operar a montante 'oferecendo' alternativas às fontes).
At 2:12 da tarde, A Chata said…
gpc
Peço desculpa pela má interpretação(é o trauma das minhas visitas aos blogs dos nossos economistas liberais).
Gostaria de esclarecer que a única coisa que considero ameaçadora é a especie humana, sem distinção de nacionalidade, credo, sexo ou localização geográfica.
Por curiosidade, quais são os valores morais e civilizacionais a que se refere?
At 12:45 da manhã, Gil Afonso Prata Costa said…
"Como devem os homens viver?"
Pois.
Mas são aqueles que um homem culto escolhe como adequados ao seu tempo, tentando adoptá-los e defendê-los.
Kennedy convidou, certo dia, para jantar na Casa Branca, todos os galardoados americanos com o prémio Nobel. Ao entrar na sala e ao olhar para aqueles homens e mulheres disse: Não se via tanto talento reunido nesta sala desde que Thomas Jefferson cá jantou sozinho.
Há coisas muito difíceis de definir mas muito fáceis de reconhecer.
(Em Ciência também: energia, por exemplo. Ninguém sabe o que é mas todos sabem reconhecê-la com facilidade.)
At 12:11 da tarde, A Chata said…
"Mas são aqueles que um homem culto escolhe como adequados ao seu tempo, tentando adoptá-los e defendê-los."
Pois, no meu caso, como não sou uma mulher culta, preferi escolher aqueles que várias fontes que considerei sensatas me mostraram que seriam os melhores para a boa convivência entre seres humanos e tento viver de acordo como eles.
Deste conceito que aprendi numa religião que abandonei, por completo, aos 10 anos de idade:
- não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem.
e
de uma canção popular que diz:
"só tenho inveja a quem bebe àgua em todas as fontes"
retirei os valores mais importantes para mim: a tolerância e o respeito por mim e pelos os outros e que todas as "fontes" me podem ensinar alguma coisa.
Prefiro valores intemporais.
Afinal a diferença entre o homem das pequenas tribos iniciais e o da super-tribo não são assim tão fundamentais como queremos fazer crer na nossa arrogância de conhecimento.
Desmond Morris mostra bem isso.
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