Os céus inflamam
Depois de Maquiavel o senhor que se segue na lista dos sagazes entendedores dos meandros da política é Napoleão Bonaparte. O desterrado de Santa Helena deu-nos coisas muito úteis noutras áreas como a numeração moderna das ruas – ímpares de um lado, pares do outro – e a vitória, no festival da Eurovisão, dos Abba, em 1974, colocando a obscura aldeia belga Waterloo no mapa turístico, ao ser derrotado pelas tropas de Arthur Wellesley, duque de Wellington, quando os ingleses eram british a fazer a guerra e não amerikanisch. O imperador apressado (em 1804, na sua coroação, retirou a coroa das mãos do hesitante e boquiaberto Papa Pio VII e colocou-a na cabeça) dizia que “na política a estupidez não é uma desvantagem”. Ainda bem! Porque a estupidez é uma qualidade humana, razoavelmente bem distribuída, para que a fornalha da liderança nunca se apague, por falta de troncos. “It´s raining men hallelujah”, rejubilavam as Weather Girls, embora lhes quisessem dar outro destino.
Eles são estúpidos mas não são parvos. No estilo de guerra en vogue praticado pelos Estados Unidos e Israel não se admite um adversário armado. É uma guerra de fanfarrões. Chia-se muito quando Viktor Bout vende ao inimigo uns “canhangulos”. (Viktor Bout, traficante de armas superstar, ex-major do KGB, aproveitou o fim da União Soviética para escoar toneladas de armamento improdutivo arrecado nos paióis. Como bom homem de negócios não descrimina clientes. Forneceu armas para a ONU, os americanos, os ingleses, os taliban ou Charles Taylor. Claro que os americanos, a ONU e os ingleses recorrem aos seus serviços para partes terceiras e não para comprar as suas armas. Os aviões de Bout carregaram armas para todos os conflitos: Angola, Congo, Ruanda, Sudão, Libéria, Iraque, Palestina etc. Ou para estes que Manu Chao aponta no seu formoso postal ilustrado mundial em “Rainin’ in Paradize”).
(Após a queda das torres do World Trade Center, consta que também Bout caiu… em desgraça. E os outrora amigos americanos, britânicos e ONU pintam-no nos jornais de parede da Justiça como o diabo de pistolas. Actualmente, vive em Moscovo onde o Kremlin marimba-se para o mandado internacional de captura da Interpol). Matar inimigos desarmados, modernamente chamados “terroristas”, não será mais fácil, eles fogem-se e escondem-se como os outros, dificultando o trabalho das tropas, mas evitam-se embaraçosas e dolorosas baixas. Fungadelas e ranhoca de famílias chorosas não são boas para os votos em democracia. Os israelitas barafustam contra um Hezbollah armado. Os americanos contra os Explosively Formed Penetrators vindos do Irão. Ambos gostam de matar mas não gostam de morrer. Aprenderam na mesma escola. E as mesmas coisas, que cantava o Pete Seeger em “What Did You Learn in School?”.
Por tradição a Universidade é um chão empapado de minas de estupidez. As academias ficam bem nos videogames que alvoroçam a placa gráfica do computador. Ou nos jogos universitários, como aquele que deu origem ao ininteligível nome da banda Limp Bizkit (diz-se que esta designação foi retirada de um jogo que fomenta o saudável espírito competitivo nas residências universitárias chamado “limp biscuit”. Fred Durst, vocalista dos Limp Bizkit, escreveu-o mal de propósito por ser mais apelativo aos jovens que curtem “kapas” e “zês”. Nesse jogo um grupo de estudantes numa roda masturba-se para cima de um biscoito. O último a ejacular tem de comê-lo). No resto as universidades são um deserto de ideias e máquinas de gerar fajarda classe política. A recente passagem de Mahmoud Ahmadinejad pela universidade de Columbia, Nova Iorque, propiciou um bom exemplo de como um tacho vale mais que mil integridades ou que duas mil regras de boa educação. O reitor, Lee Bollinger, acossado pelos que interessam na sociedade americana, foi simplesmente mal-educado. Talvez tivesse lido Virgílio (“os destinos encontram a sua via”) e decidiu não arriscar uma mudança de carreira. Ele sabia que, se enfrentasse as raízes do poder, a via do seu destino seria black triniton. Só encontraria emprego a lavar pára-brisas nos cruzamentos ou pedinte de porta de igreja. Bollinger, convenhamos, não é uma Arielle Dombasle para trocar a cátedra pelo cocktail-bar e servir “Rhum and Coca-Cola”.
Então prometeu uma introdução à palestra de Ahmadinejad feita através do monóculo americano. Com perguntas fanfarronas (“tough questions”) abrangendo as opiniões de Ahmadinejad sobre o holocausto, a destruição de Israel, o seu apoio ao terrorismo e a bomba atómica. No calão universitário, Bollinger saltou para a tribuna para mandar uma mensagem forte, contextualizando a situação do Irão, antes de dar a palavra a Ahmadinejad. Na linguagem normal, achincalhou um seu convidado. Chama-lhe ditadozeco cruel para arrancar aplauso da assistência. E profetiza que Ahmadinejad não terá coragem intelectual de responder às suas questões fanfarronas e vai desbobinar a sua programada mente fanática (tipo cassete do Cunhal). A mente de Bollinger não está programada. Se ele repete a converseta de Wbush sobre o Irão, é um processo científico em acção, resultado de mentes homozigóticas. Ele não é um títere. Ele é livre. Tem a liberdade de atacar o frasco de Nutella quando as coisas não correm bem. Ou ir ao peep show com os Snake River Conspiracy em “Vulcan”.
A atitude de Bollinger tem um interesse sociológico importante. Ao frisar que, aquela reunião de mentes brilhantes, (excepto, Ahmadinejad e os seus guarda-costas iranianos), “nada tem a ver com os direitos do orador, mas com o nosso de ouvir e falar”, tocou no cerne do diálogo nas sociedades evoluídas. Nelas, o diálogo é uma conversa de surdos. Uma experiência que temos todos os dias, quando falamos com as pessoas nas ruas, ou ouvimos debates de especialistas na televisão, é legitimada pelo cozinheiro chefe da universidade de Columbia. O diálogo afinal é um solilóquio. Quem fala está a gastar o seu latim. (Se for evil está a gastar o seu árabe). Como se diz no nosso querido português: “cantas bem mas não me animas”. O catering da sociedade democrática provê liberdade de falar e liberdade de opinião mas não liberdade de entender o outro. Porque Bollinger engoliu a pílula da realidade americana nunca ouvirá o que Ahmadinejad disser. Publicitar uma universidade como um lugar de livre troca de ideias é vender margarina por manteiga. E esquecer as pistolas Taser muito em voga para calar estudantes palradores. Se as universidades ensinassem, como nos liceus, as moças a tocar “Linda Linda Linda”, no final do ano, já não seria mau.
Na toca do tio Sam Ahmadinejad defendeu-se bem. Provocou também a estrondosa gargalhada quando afirmou que não havia rabetas no Irão “como no vosso país”. A assistência farta de ver cantoras como Dana International, (nascida/o em Telavive com o nome de Sharon Cohen venceu o festival da Eurovisão, em 1998, com a canção “Diva”), estava familiarizada com o banal pingue-pongue entre o género recebido por nascença e o género adquirido na marquesa do cirurgião, e também porque acompanhou os engates do senador Larry “não sou gay” Craig no aeroporto de Minnesota, não acreditou na existência de uma zona livre de… panascas. Ahmadinejad repetiu que o holocausto precisa de ser estudado. Bollinger previdente já tinha dito que era um dos acontecimentos mais estudados e documentados da História. Refira-se, com certeza, o académico ao número de filmes feitos por Hollywood. Uma coisa são os campos de concentração nazis, outra muito diferente é o holocausto como Yom HaShoa (Dia da Recordação do Holocausto). Os primeiros foram acontecimentos históricos que podem ser estudados sem cair na simplicidade do líder tresloucado. Hitler foi a materialização de um ar que se respirava há muito nos cafés de Berlim e Viena. Por outro lado, o Yom HaShoa é uma cerimónia religiosa, que culpabiliza uns e santifica outros, como se a Segunda Guerra Mundial fosse igual ao filme “A Lista de Schindler”, com seráficos seres de cara banhada pelo luar e empedernidos carrascos. Uma realidade dividida entre bons e maus (ou bonitos e feios) só existe nos filmes. É pena. A vida seria mais fácil e mais bonita, pois teríamos orquestras filarmónicas como no vídeo “Destination Calabria” (música de Alex Guadino, voz de Crystal Waters).
Nas outras questões fanfarronas Ahmadinejad continua a não dar peanut butter. E sem ela os americanos não entendem. Ele já tinha explicado o significado da expressão “destruir Israel”. Referia-se, disse ele, ao Israel colonialista que todos os dias maltrata os árabes e lhes ocupa as terras. Exemplificou com a Rússia comunista, que as pessoas rezavam e conspiravam pela sua destruição, mas ninguém queria varrê-la do mapa como nação. Desejavam mudar-lhe o sistema económico-político que nacionalizava escovas de dentes e busca-pólos. Para complicar Ahmadinejad propôs uma coisa impossível – que o povo da Palestina escolha o seu destino pelo voto. Democracia é muito bonita desde que vençam os certos, se ganham os errados temos… Tratado Reformador. Porém, os americanos têm conseguido passar outra treta – a teoria dos dois Estados. (Israel nunca permitirá a existência de um Estado palestiniano autónomo. Nem que Deus ordene através da Sarça Ardente, os israelitas abdicarão do direito de entrar lá dentro quando lhes aprouver, cobrar impostos ou controlar a água). É uma “Pretty Mess” cantava Vanity.
O dossier nuclear iraniano não é confusão nenhuma. Até tem o mérito de despoletar a risota. Ver-se tanto licenciado em Direito a falar de uma disciplina científica complexa, como o enriquecimento de urânio para bombas, fazendo-o parecer trabalho de polvorista, ocasiona sadios momentos de lazer nos meios de comunicação social. Há dois dogmas no Médio Oriente. O primeiro, é um dogma escrito e assumido: a supremacia militar de Israel na zona é sagrada. O segundo, é tolerado e desejado: Israel deve manter também a supremacia económica. Nenhum país árabe pode ter condições para o seu desenvolvimento (sem arriscar ao bombardeamento para retroceder ao tempo nómada). Permitir que os iranianos usem energia nuclear é libertá-los dos caprichos das empresas refinadoras de petróleo estrangeiras e “se Alá quiser” abrir uma porta ao crescimento económico. Para que isto não suceda é natural que expludam, ou se façam explodir, como o actor em “Burn My Shadow” dos Unkle (com Ian Astbury dos Cult e dos reciclados The Doors como vocalista).
Shakespeare escrevia no “Júlio César”: “quando morrem os mendigos não aparecem cometas. Os céus somente se inflamam na morte dos príncipes”. Mas não vale a pena olhar o céu quando Bollinger ou Ahmadinejad morrerem (ou outro qualquer). Eles inflamarão porque “todas as coisas são uma troca igual pelo fogo e o fogo por todas as coisas” (Heraclito). Se o próximo inquilino da Casa Branca tiver o bom senso de gritar “americanos esta noite jantamos no inferno” e iniciar mais uma guerra do nosso contentamento, então ouviremos “God We Look Good (Going Down In Flames)” dos The Exies. E os céus inflamarão… talvez não sejam de cometas.
Depois de Maquiavel o senhor que se segue na lista dos sagazes entendedores dos meandros da política é Napoleão Bonaparte. O desterrado de Santa Helena deu-nos coisas muito úteis noutras áreas como a numeração moderna das ruas – ímpares de um lado, pares do outro – e a vitória, no festival da Eurovisão, dos Abba, em 1974, colocando a obscura aldeia belga Waterloo no mapa turístico, ao ser derrotado pelas tropas de Arthur Wellesley, duque de Wellington, quando os ingleses eram british a fazer a guerra e não amerikanisch. O imperador apressado (em 1804, na sua coroação, retirou a coroa das mãos do hesitante e boquiaberto Papa Pio VII e colocou-a na cabeça) dizia que “na política a estupidez não é uma desvantagem”. Ainda bem! Porque a estupidez é uma qualidade humana, razoavelmente bem distribuída, para que a fornalha da liderança nunca se apague, por falta de troncos. “It´s raining men hallelujah”, rejubilavam as Weather Girls, embora lhes quisessem dar outro destino.
Eles são estúpidos mas não são parvos. No estilo de guerra en vogue praticado pelos Estados Unidos e Israel não se admite um adversário armado. É uma guerra de fanfarrões. Chia-se muito quando Viktor Bout vende ao inimigo uns “canhangulos”. (Viktor Bout, traficante de armas superstar, ex-major do KGB, aproveitou o fim da União Soviética para escoar toneladas de armamento improdutivo arrecado nos paióis. Como bom homem de negócios não descrimina clientes. Forneceu armas para a ONU, os americanos, os ingleses, os taliban ou Charles Taylor. Claro que os americanos, a ONU e os ingleses recorrem aos seus serviços para partes terceiras e não para comprar as suas armas. Os aviões de Bout carregaram armas para todos os conflitos: Angola, Congo, Ruanda, Sudão, Libéria, Iraque, Palestina etc. Ou para estes que Manu Chao aponta no seu formoso postal ilustrado mundial em “Rainin’ in Paradize”).
(Após a queda das torres do World Trade Center, consta que também Bout caiu… em desgraça. E os outrora amigos americanos, britânicos e ONU pintam-no nos jornais de parede da Justiça como o diabo de pistolas. Actualmente, vive em Moscovo onde o Kremlin marimba-se para o mandado internacional de captura da Interpol). Matar inimigos desarmados, modernamente chamados “terroristas”, não será mais fácil, eles fogem-se e escondem-se como os outros, dificultando o trabalho das tropas, mas evitam-se embaraçosas e dolorosas baixas. Fungadelas e ranhoca de famílias chorosas não são boas para os votos em democracia. Os israelitas barafustam contra um Hezbollah armado. Os americanos contra os Explosively Formed Penetrators vindos do Irão. Ambos gostam de matar mas não gostam de morrer. Aprenderam na mesma escola. E as mesmas coisas, que cantava o Pete Seeger em “What Did You Learn in School?”.
Por tradição a Universidade é um chão empapado de minas de estupidez. As academias ficam bem nos videogames que alvoroçam a placa gráfica do computador. Ou nos jogos universitários, como aquele que deu origem ao ininteligível nome da banda Limp Bizkit (diz-se que esta designação foi retirada de um jogo que fomenta o saudável espírito competitivo nas residências universitárias chamado “limp biscuit”. Fred Durst, vocalista dos Limp Bizkit, escreveu-o mal de propósito por ser mais apelativo aos jovens que curtem “kapas” e “zês”. Nesse jogo um grupo de estudantes numa roda masturba-se para cima de um biscoito. O último a ejacular tem de comê-lo). No resto as universidades são um deserto de ideias e máquinas de gerar fajarda classe política. A recente passagem de Mahmoud Ahmadinejad pela universidade de Columbia, Nova Iorque, propiciou um bom exemplo de como um tacho vale mais que mil integridades ou que duas mil regras de boa educação. O reitor, Lee Bollinger, acossado pelos que interessam na sociedade americana, foi simplesmente mal-educado. Talvez tivesse lido Virgílio (“os destinos encontram a sua via”) e decidiu não arriscar uma mudança de carreira. Ele sabia que, se enfrentasse as raízes do poder, a via do seu destino seria black triniton. Só encontraria emprego a lavar pára-brisas nos cruzamentos ou pedinte de porta de igreja. Bollinger, convenhamos, não é uma Arielle Dombasle para trocar a cátedra pelo cocktail-bar e servir “Rhum and Coca-Cola”.
Então prometeu uma introdução à palestra de Ahmadinejad feita através do monóculo americano. Com perguntas fanfarronas (“tough questions”) abrangendo as opiniões de Ahmadinejad sobre o holocausto, a destruição de Israel, o seu apoio ao terrorismo e a bomba atómica. No calão universitário, Bollinger saltou para a tribuna para mandar uma mensagem forte, contextualizando a situação do Irão, antes de dar a palavra a Ahmadinejad. Na linguagem normal, achincalhou um seu convidado. Chama-lhe ditadozeco cruel para arrancar aplauso da assistência. E profetiza que Ahmadinejad não terá coragem intelectual de responder às suas questões fanfarronas e vai desbobinar a sua programada mente fanática (tipo cassete do Cunhal). A mente de Bollinger não está programada. Se ele repete a converseta de Wbush sobre o Irão, é um processo científico em acção, resultado de mentes homozigóticas. Ele não é um títere. Ele é livre. Tem a liberdade de atacar o frasco de Nutella quando as coisas não correm bem. Ou ir ao peep show com os Snake River Conspiracy em “Vulcan”.
A atitude de Bollinger tem um interesse sociológico importante. Ao frisar que, aquela reunião de mentes brilhantes, (excepto, Ahmadinejad e os seus guarda-costas iranianos), “nada tem a ver com os direitos do orador, mas com o nosso de ouvir e falar”, tocou no cerne do diálogo nas sociedades evoluídas. Nelas, o diálogo é uma conversa de surdos. Uma experiência que temos todos os dias, quando falamos com as pessoas nas ruas, ou ouvimos debates de especialistas na televisão, é legitimada pelo cozinheiro chefe da universidade de Columbia. O diálogo afinal é um solilóquio. Quem fala está a gastar o seu latim. (Se for evil está a gastar o seu árabe). Como se diz no nosso querido português: “cantas bem mas não me animas”. O catering da sociedade democrática provê liberdade de falar e liberdade de opinião mas não liberdade de entender o outro. Porque Bollinger engoliu a pílula da realidade americana nunca ouvirá o que Ahmadinejad disser. Publicitar uma universidade como um lugar de livre troca de ideias é vender margarina por manteiga. E esquecer as pistolas Taser muito em voga para calar estudantes palradores. Se as universidades ensinassem, como nos liceus, as moças a tocar “Linda Linda Linda”, no final do ano, já não seria mau.
Na toca do tio Sam Ahmadinejad defendeu-se bem. Provocou também a estrondosa gargalhada quando afirmou que não havia rabetas no Irão “como no vosso país”. A assistência farta de ver cantoras como Dana International, (nascida/o em Telavive com o nome de Sharon Cohen venceu o festival da Eurovisão, em 1998, com a canção “Diva”), estava familiarizada com o banal pingue-pongue entre o género recebido por nascença e o género adquirido na marquesa do cirurgião, e também porque acompanhou os engates do senador Larry “não sou gay” Craig no aeroporto de Minnesota, não acreditou na existência de uma zona livre de… panascas. Ahmadinejad repetiu que o holocausto precisa de ser estudado. Bollinger previdente já tinha dito que era um dos acontecimentos mais estudados e documentados da História. Refira-se, com certeza, o académico ao número de filmes feitos por Hollywood. Uma coisa são os campos de concentração nazis, outra muito diferente é o holocausto como Yom HaShoa (Dia da Recordação do Holocausto). Os primeiros foram acontecimentos históricos que podem ser estudados sem cair na simplicidade do líder tresloucado. Hitler foi a materialização de um ar que se respirava há muito nos cafés de Berlim e Viena. Por outro lado, o Yom HaShoa é uma cerimónia religiosa, que culpabiliza uns e santifica outros, como se a Segunda Guerra Mundial fosse igual ao filme “A Lista de Schindler”, com seráficos seres de cara banhada pelo luar e empedernidos carrascos. Uma realidade dividida entre bons e maus (ou bonitos e feios) só existe nos filmes. É pena. A vida seria mais fácil e mais bonita, pois teríamos orquestras filarmónicas como no vídeo “Destination Calabria” (música de Alex Guadino, voz de Crystal Waters).
Nas outras questões fanfarronas Ahmadinejad continua a não dar peanut butter. E sem ela os americanos não entendem. Ele já tinha explicado o significado da expressão “destruir Israel”. Referia-se, disse ele, ao Israel colonialista que todos os dias maltrata os árabes e lhes ocupa as terras. Exemplificou com a Rússia comunista, que as pessoas rezavam e conspiravam pela sua destruição, mas ninguém queria varrê-la do mapa como nação. Desejavam mudar-lhe o sistema económico-político que nacionalizava escovas de dentes e busca-pólos. Para complicar Ahmadinejad propôs uma coisa impossível – que o povo da Palestina escolha o seu destino pelo voto. Democracia é muito bonita desde que vençam os certos, se ganham os errados temos… Tratado Reformador. Porém, os americanos têm conseguido passar outra treta – a teoria dos dois Estados. (Israel nunca permitirá a existência de um Estado palestiniano autónomo. Nem que Deus ordene através da Sarça Ardente, os israelitas abdicarão do direito de entrar lá dentro quando lhes aprouver, cobrar impostos ou controlar a água). É uma “Pretty Mess” cantava Vanity.
O dossier nuclear iraniano não é confusão nenhuma. Até tem o mérito de despoletar a risota. Ver-se tanto licenciado em Direito a falar de uma disciplina científica complexa, como o enriquecimento de urânio para bombas, fazendo-o parecer trabalho de polvorista, ocasiona sadios momentos de lazer nos meios de comunicação social. Há dois dogmas no Médio Oriente. O primeiro, é um dogma escrito e assumido: a supremacia militar de Israel na zona é sagrada. O segundo, é tolerado e desejado: Israel deve manter também a supremacia económica. Nenhum país árabe pode ter condições para o seu desenvolvimento (sem arriscar ao bombardeamento para retroceder ao tempo nómada). Permitir que os iranianos usem energia nuclear é libertá-los dos caprichos das empresas refinadoras de petróleo estrangeiras e “se Alá quiser” abrir uma porta ao crescimento económico. Para que isto não suceda é natural que expludam, ou se façam explodir, como o actor em “Burn My Shadow” dos Unkle (com Ian Astbury dos Cult e dos reciclados The Doors como vocalista).
Shakespeare escrevia no “Júlio César”: “quando morrem os mendigos não aparecem cometas. Os céus somente se inflamam na morte dos príncipes”. Mas não vale a pena olhar o céu quando Bollinger ou Ahmadinejad morrerem (ou outro qualquer). Eles inflamarão porque “todas as coisas são uma troca igual pelo fogo e o fogo por todas as coisas” (Heraclito). Se o próximo inquilino da Casa Branca tiver o bom senso de gritar “americanos esta noite jantamos no inferno” e iniciar mais uma guerra do nosso contentamento, então ouviremos “God We Look Good (Going Down In Flames)” dos The Exies. E os céus inflamarão… talvez não sejam de cometas.
3 Comments:
At 5:33 da tarde, Táxi Pluvioso said…
O site da Arielle Dombasle está um mimo. Por isso meti o link. Mas sou levado a crer que Bernard-Henry Lévy nada teve a ver com o assunto. Filosofia não move moinhos.
A canção “Linda Linda Linda” é do grupo punk pop japonês Blue Hearts. Faz parte da banda sonora do filme japonês com título homónimo. Esta é a cena final do filme. As raparigas, depois do filme, continuaram como banda com o nome de Paranmaum.
Letra:
Linda Linda
Do-bun ne zu-ni Mita-ini
Utsukushiku nari-tai
Sya-shi-n-niwa utsuranai
Utsuku-shisa-ga aru-kara
Linda Linda (X2)
*Moshi-mo Boku-ga itsuka
Kimi-to deai hanshi aunara
Sonna tokiwa do-ka Ai no
Imi-(w)o Shit-te kuda-sai
Linda Linda
Do-bun ne zu-ni Mita-ini
Dare-yorimo yasa-shii
Do-bun ne zu-ni Mita-ini
Na-niyouimo Ata-ta-kaku
Linda Linda
*Moshi-mo Boku-ga itsuka
Kimi-to deai hanshi aunara
Sonna tokiwa do-ka Ai no
Imi-(w)o Shit-te kuda-sai
Aija na-kutemo Koja na-kutemo
Kimi-(w)o hanashi-wa-shi-na-i
Keshite makenai
Tsuyoi chikara-(w)o
Boku-wa hito-su-dake motsu
Linda Linda
I wanna be beautiful like a water rat
He's got beauty you can't see in a picture
Linda Linda
*If I see you and have a talk
Please catch the meaning of love
Linda Linda
Just like a water rat, nicer than anyone else
Just like a water rat, warmer than anyone else
Linda Linda
*If I see you and have a talk
Please catch the meaning of love
Even though it may not be love, I'll never leave you
I'll get power, the only power nothing can beat
Linda Linda
PARANMAUM - Linda Linda
At 2:38 da manhã, Ana Cristina Leonardo said…
Em 1964 já Kubrick tinha explicado tudo em Dr Strangelove or How I Learned To Stop Worryng and Love the Bomb. Sinal dos tempos, a bomba democratizou-se. Vivo um pouco mais preocupada.
At 3:46 da tarde, Táxi Pluvioso said…
A bomba do Irão e o comentário político em geral lembra a história do rapaz que gritou lobo. Mas apatetada como convém aos nossos tempos.
O rapaz que pastava as ovelhas na serra grita "lobo" e a aldeia aparece em peso para ajudar. E ele a rir-se atrás da árvore por ter enganado os vizinhos.
Grita uma segunda, e uma terceira, e uma quarta vez sempre falso alarme. Quando o lobo aparece de verdade, os vizinhos não acodem porque pensam ser mais uma bricadeira do pastor.
Fazer uma bomba atómica não é fácil. Os conhecimentos teóricos, qual estudante pode adquiri-los na universidade, mas conseguir a tecnologia para enriquecer o urânio para uma bomba A, neste momento, deve ser impossível.
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