Pintar o cabelo
A lépida Teoria da Savana surgiu de um artigo publicado, em 1925, na revista Nature, pelo antropólogo australiano Raymond Dart. Escabichando pela África do Sul, Dart concluirá que mudanças climáticas (búúú, búúú, búúú) reduziram as matas e florestas. E, uma espécie ladina de primatas, chamada australopiteco (do grego “macaco do sul”), com 1,2 m de altura e um cérebro 35% inferior ao nosso, por questões de sobrevivência, abandonou a vida arborícola para se adaptar à savana. Nascia o Australopithecus Africanus, erecto e com o cérebro em vias desenvolvimento, antepassado do Homo Sapiens. (A Teoria da Savana tem sido amplamente contestada. Os cientistas também se adaptaram ao meio. Já não procuram verdades científicas. Procuram a patente milionária. Aquela que dá fama e dinheiro). Com o crânio a inflar, razão e linguagem desenvolvem-se, umas cambalhotas evolutivas depois estávamos no Homo Oeconomicus. Definido na Escola Clássica (que defende a “mão invisível” do Estado passada pelo rabo do Mercado para regular os preços) da seguinte forma: “o homem actua exclusivamente em observância de princípios económicos e de interesse pessoal, possui um comportamento racional na tomada de decisões, insere-se num mercado onde existe coerência perfeita e os aspectos de carácter estrutural não influenciam o seu comportamento”. A capacidade craniana na máxima potência, o homem económico caracteriza-se pela mundaneidade (vai às compras) e inteligência (protesta avulso). Mais realistas, os Korn defendem no seu vídeo “Evolution”, que o cérebro humano tem diminuído de tamanho.
Claro que o Australopithecus Afarensis, antepassado do australopiteco africano, (talvez, depende do cientista), não tinha a nossa consciência política para protestar contra as mudanças climáticas (fora, fora, fora), exigindo que elas fossem proscritas da meteorologia para garantir a sua perpetuidade na Terra e tramou-se. Nós não vamos incorrer no mesmo erro. Vamos ser eternos. Quando as neves derreteram nos cumes das montanhas e as estâncias turísticas minguaram, os ricos despertaram para a Ecologia. Tocou o clarim para proteger o ambiente. E bulhentos militantes zuiram contra tudo debaixo do sol e da lua, como se fossem o Marlon Brando, no filme “The Wild One”. Porém, caíram numa algaraviada de cérebro desencarapuçado de matéria funcional, em branco como uma tábua rasa de John Locke, e parecem sofrer de um bloqueio criativo semelhante ao de Gwen Stefani, antes de cair no país das maravilhas, em “What you waiting for?”.
(Na década de 50 surge um novo grupo consumidor – a Juventude. Os filhos dos veteranos da Segunda Guerra Mundial rejeitam a forma de vestir e falar, a música e o estilo de vida dos pais. “The Wild One” realizado por Lazlo Benedek é o primeiro filme sobre essa Juventude. Outro filme famoso será “Rebelde sem causa” (1955) de Nicholas Ray, com James Dean e Natalie Wood. Em “The Wild One” dois bandos de motociclistas confrontam-se numa pacata vila americana. Marlon Brando é “Johnny Stabler”, líder dos Black Rebel Motorcycle Club, conduz uma Triumph Thunderbird 6T de 1950 e catrapisca a filha do xerife local. Lee Marvin como “Chino” chefia o grupo rival, os Beetles. Bebem cerveja em vez do whisky dos velhotes. Querem ser cool e falam um calão alienígena. Sendo um filme de 1953 ouvem Bepop. O Rock ‘n’ Roll, a música desta rebelião, só aparecerá no ano seguinte com “Rock Around The Clock” de Bill Haley and the Comets. “The Wild One” tem um dos melhores diálogos do cinema sobre rebeliões. “Johnny revoltas-te contra quê?” – pergunta-lhe uma das raparigas. Johnny responde-lhe: “tudo o que aí tiveres”).
A revolta contra os cereais transgénicos não faz muito sentido. Os contestatários temem que eles sejam forragem para a nossa barriguinha e que alterarão o nosso código genético ou que irão polinizar as culturas vizinhas gerando alhos com duas cabeças. Mas esquecem-se das prioridades da nossa sociedade. É mais importante a energia para o computador e o combustível para o popó que uma almoçarada ou uma jantarada. Provavelmente a produção agrícola encontrará outros caminhos diferentes do prato. Em Nova Iorque rareia o bom bife (conhecido como USDA Prime Grade) por causa do Programa Nacional de Energias Renováveis dos EUA. O milho é base da ração destas privilegiadas vacas que cedem as carnes para os paladares apurados. Por sua vez os agricultores preferem vendê-lo às fábricas de etanol para receberem subsídios do Governo resultando no bye bye steak. Mesmo assim creio que o risco de fome no mundo tem sido muito exagerado. Vejam este exemplo tirado do Beijing News. Os irmãos Xianchen e Xianyou Meng sobreviveram cerca de seis dias encurralados numa mina, comendo carvão e bebendo urina, enquanto caçavam um túnel para a luz do dia. Xianchen partilhou os seus segredos culinários como um chefe Silva ou uma Maria de Lurdes Modesto globais: “tinha tanta fome que comi um pedaço de carvão, e julguei-o bastante fragrante. Na verdade, o carvão é amargo e áspero, mas podemos chupá-lo em pedaços do tamanho de um dedo. Na mina pegámos em duas garrafas descartáveis de água e bebemos a nossa urina. Só se pode tomar pequenos golos de cada vez, e quando se acaba, fica-se com vontade de chorar”. Quem julgava que apenas vegetais e animais eram papáveis enganou-se redondamente. O planeta, no seu todo, é comestível. E os nossos militantes podem dar uma contribuição enorme para engrandecer ainda mais o país de Cristiano Ronaldo e… na sopa da pedra, comer a pedra, em vez de clamarem por revoluções démodées. “Uma geração envelheceu, outra tem alma, esta geração não tem destino”, cantavam os Jefferson Airplane em “Volunteers”. Mas esta tem novos pratos para degustar.
As mudanças climáticas (não passarão! não passarão!) são como os elefantes. Incomodam muita gente mas não a gente certa. Se a falta de água for uma realidade, e os desertos ocuparem a superfície terrestre, um lugar de certeza ABSOLUTA manter-se-á verde e viçoso – o campo de golfe. Fecundos como os coelhos prevê-se que fibra vegetal não vai faltar. Em último caso os famintos têm manjar assegurado depois de fintarem os Securitas. Quando as estâncias de esqui foram ameaçadas de extinção os ricos entraram em parafuso. Multiplicaram cimeiras, discutiram, criaram impostos verdes e realizaram concertos de música para promover consciência ecológica e, por tabela, os “conceituados” artistas. Imaginem o que farão se lhes comerem a relva. Uma consequência dramática deste cenário seria o fim dos presidentes americanos, que são escolhidos, e formandos nos campos de golfe. Aqui vão uns exemplos. William H. Taft foi o primeiro a trazer o golfe para a Casa Branca. Como pesava 150 kg, ou dormia, ou fugia dos afazeres presidenciais para jogar. E diz-se que terá comentado sobre uma visita do embaixador chileno: “diabos me levem se vou deixar o meu golfe para receber esse gajo”. Warren G. Harding, governou durante a Lei Seca, como gostava de beber, escondia as garrafas de whisky no saco dos tacos. Dwight D. Eisenhower amava o jogo. A primeira coisa que fazia pela manhã era pegar no taco. Construiu um campo na Casa Branca e pôs os serviços secretos a apanhar esquilos que entretanto invadiam o espaço. Quando não jogava, pintava quadros sobre golfe. O verdadeiro fanático! Gerald Ford realizou a cerimónia de perdão de Nixon no World Golf Hall of Fame. Na rua, manifestantes protestavam, enquanto ele discursava sobre a camaradagem do golfe. Para Richard Nixon jogar era passar um dia com os compinchas. Não era bom jogador e fazia batota quando os outros não estavam a ver. Mas, o fim do capim aparado provocará outro efeito ainda mais grave. Sem ele o mundo dos negócios terminará, como descobriram os nossos empresários de sucesso, o “bom negócio” começa no campo de golfe. (Joaquim Oliveira inicia a sua carreira a lavar pratos e a servir à mesa na pensão da mamã. A pensão Roseirinha, em Penafiel. E por lá teria ficado se um dia não descobrisse que jogar golfe era o melhor meio para conhecer as “pessoas certas”). Se os esfomeados atacarem os campos de golfe não faltarão motivos para mais lutas. E nunca se é velho para a revolução, basta pintar o cabelo, porque esta será uma revolução para duros, como a “Revolución” dos mexicanos Brujeria.
Houve tempos mais inocentes quando se acreditava na pureza inicial do Homem. O meio era responsável pela corrupção da sua boa natureza. Arquitectando um meio perfeito obtinha-se homens perfeitos. Karl Marx contribuiu com teoria para este nobre objectivo. Segundo ele, a infra-estrutura económica determina a superstrutura (conjunto de ideias políticas, religiosas, filosóficas etc.). Ora, no modo de produção capitalista, os despojados de riqueza vendiam a sua força de trabalho ao dono da fábrica, que a usava para produzir mais-valia (diferença entre o valor, incorporado no objecto produzido, pelo esforço do trabalhador, e o salário que lhe era pago). Tínhamos uma sociedade dividida em duas classes. A dominante: os proprietários dos meios de produção. E a dominada: os detentores da força de trabalho. Para acabar com esta divisão, que acumulava a riqueza numa classe apenas, era necessário retirar-lhe os meios de produção das mãos. Pela revolução a burguesia desaparecia (ou ia pastar para o exílio) e brotava a sociedade sem classes. Tentou-se na Rússia mas não resultou. Nem os poemas de Maiakovski, (“camaradas, /inventai uma arte nova/que arranque/a República da lama”), salvaram a lama de atingir a ventoinha. E ainda hoje a maior parte da população mundial é obrigada a gritar “Freedom” com os Rage Against The Machine.
Mas quem apimentou a conjecturada revolução foi Wilhelm Reich. Tinha todos os defeitos (da altura). Era judeu, comunista e discípulo de Freud. Fugiu da Alemanha nazi em 1934 para a Escandinávia. Em 1939 entra nos Estados Unidos. Em 1947 começam as chatices por causa de artigos sobre o orgone. A Food and Drug Administration (FDA) manda o agente Woods investigar que diabo era aquilo. (Temiam o conto do vigário. O maior terror de uma economia de Mercado é que o consumidor compre gato por lebre). Conseguem uma ordem do tribunal proibindo que umas maquinetas – apelidadas de acumuladores de orgone – atravessassem as fronteiras federais. Reich desrespeita a ordem do tribunal e arma-se ao pingarelho. Encarrega-se da sua própria defesa, não aparece em tribunal e envia os seus livros para o juiz ler. Fatal! (Hoje sabemos que os juízes só lêem livros de Carolina Salgado ou de Pinto da Costa). Em 19 de Março de 1954, o juiz Clifford ordenou que todos os trabalhos onde aparecesse a expressão “energia orgónica” fossem destruídos e, para completar a limpeza, que o maldito conceito (não tinha sido benzido por Einstein) fosse igualmente retirado das futuras reedições dos seus livros já publicados. E Reich foi condenado em dois anos de cadeia por ter desrespeitado a sentença do tribunal. No dia 5 de Junho de 1956, os agentes da FDA destruíam os acumuladores de orgone guardados em Orgonon, a propriedade de Reich, no estado de Maine. Em Junho queimaram-lhe muitos livros. No dia 17 de Março de 1960 seis toneladas de livros e papelada variada foram reduzidos a cinzas no incinerador Gansevoort em Nova Iorque. Reich morreu de ataque de coração na penitenciária federal de Lewisburg, Pensilvânia, em 3 de Novembro de 1957. “Welcome to Planet Motherfucker” tocariam os White Zombie.
Reich acreditava numa vida sexual saudável como antecedente e corolário da revolução. As massas, conduzidas pelo “partido comunista, minha perfumada flor”, libertar-se-iam economicamente, derrubando a burguesia e, sexualmente, desembaraçando-se da sua moral sexual repressiva. Uma vida sexual saudável significava atingir os 4 000 orgasmos (média humana) de forma plena. Seriam orgasmos com campainhas e fogo de artifício, e não o tremelique executado por dever de reprodução. Nesse orgasmo XPTO eclodia o tal orgone. (Os gregos antigos conheciam-no como Éter. O quinto elemento da matéria). Para Reich era uma energia que ocuparia o espaço universal e que poderia ser vista, no céu azul, como pontos luminosos. Reich construiu uma geringonça para captá-la. O acumulador de orgone era uma caixa que armazenava a energia da atmosfera e que, segundo ele, curava constipações, cancro e impotência. (Abrenúncio seria o toque de finados da indústria farmacêutica). Jack Kerouac descreve-o no seu livro “Pela estrada fora”: “o acumulador de orgones é uma vulgar caixa suficientemente grande para conter um homem sentado numa cadeira: uma camada de madeira, uma de metal, outra de madeira reúnem e concertam os orgones da atmosfera e mantêm-no o tempo suficiente para o corpo humano absorver uma dose maior que o normal. Segundo Reich, os orgones são átomos vibratórios atmosféricos do princípio vital”. E, os Hawkwind, conhecidos por darem concertos inspirados nos princípios da função do orgasmo, dedicaram-lhe uma canção.
Mikhail Bakunine escreveu: “aquele que faz planos para depois da revolução é um reaccionário”. Assim é melhor não fazer planos, a não ser para um Bloody Mary com a Tara Reid (“comecei agora a fazer Bloody Marys. Sempre pensei que pareciam nojentos, então bebi um. Há uma arte neles, desde o Tabasco ao Worcestershire”), ao som de “Anarchy in the U.K.” dos Sex Pistols no chalé Marmotte Mountain Retreat, em Chamonix, enquanto há… gelo.
A lépida Teoria da Savana surgiu de um artigo publicado, em 1925, na revista Nature, pelo antropólogo australiano Raymond Dart. Escabichando pela África do Sul, Dart concluirá que mudanças climáticas (búúú, búúú, búúú) reduziram as matas e florestas. E, uma espécie ladina de primatas, chamada australopiteco (do grego “macaco do sul”), com 1,2 m de altura e um cérebro 35% inferior ao nosso, por questões de sobrevivência, abandonou a vida arborícola para se adaptar à savana. Nascia o Australopithecus Africanus, erecto e com o cérebro em vias desenvolvimento, antepassado do Homo Sapiens. (A Teoria da Savana tem sido amplamente contestada. Os cientistas também se adaptaram ao meio. Já não procuram verdades científicas. Procuram a patente milionária. Aquela que dá fama e dinheiro). Com o crânio a inflar, razão e linguagem desenvolvem-se, umas cambalhotas evolutivas depois estávamos no Homo Oeconomicus. Definido na Escola Clássica (que defende a “mão invisível” do Estado passada pelo rabo do Mercado para regular os preços) da seguinte forma: “o homem actua exclusivamente em observância de princípios económicos e de interesse pessoal, possui um comportamento racional na tomada de decisões, insere-se num mercado onde existe coerência perfeita e os aspectos de carácter estrutural não influenciam o seu comportamento”. A capacidade craniana na máxima potência, o homem económico caracteriza-se pela mundaneidade (vai às compras) e inteligência (protesta avulso). Mais realistas, os Korn defendem no seu vídeo “Evolution”, que o cérebro humano tem diminuído de tamanho.
Claro que o Australopithecus Afarensis, antepassado do australopiteco africano, (talvez, depende do cientista), não tinha a nossa consciência política para protestar contra as mudanças climáticas (fora, fora, fora), exigindo que elas fossem proscritas da meteorologia para garantir a sua perpetuidade na Terra e tramou-se. Nós não vamos incorrer no mesmo erro. Vamos ser eternos. Quando as neves derreteram nos cumes das montanhas e as estâncias turísticas minguaram, os ricos despertaram para a Ecologia. Tocou o clarim para proteger o ambiente. E bulhentos militantes zuiram contra tudo debaixo do sol e da lua, como se fossem o Marlon Brando, no filme “The Wild One”. Porém, caíram numa algaraviada de cérebro desencarapuçado de matéria funcional, em branco como uma tábua rasa de John Locke, e parecem sofrer de um bloqueio criativo semelhante ao de Gwen Stefani, antes de cair no país das maravilhas, em “What you waiting for?”.
(Na década de 50 surge um novo grupo consumidor – a Juventude. Os filhos dos veteranos da Segunda Guerra Mundial rejeitam a forma de vestir e falar, a música e o estilo de vida dos pais. “The Wild One” realizado por Lazlo Benedek é o primeiro filme sobre essa Juventude. Outro filme famoso será “Rebelde sem causa” (1955) de Nicholas Ray, com James Dean e Natalie Wood. Em “The Wild One” dois bandos de motociclistas confrontam-se numa pacata vila americana. Marlon Brando é “Johnny Stabler”, líder dos Black Rebel Motorcycle Club, conduz uma Triumph Thunderbird 6T de 1950 e catrapisca a filha do xerife local. Lee Marvin como “Chino” chefia o grupo rival, os Beetles. Bebem cerveja em vez do whisky dos velhotes. Querem ser cool e falam um calão alienígena. Sendo um filme de 1953 ouvem Bepop. O Rock ‘n’ Roll, a música desta rebelião, só aparecerá no ano seguinte com “Rock Around The Clock” de Bill Haley and the Comets. “The Wild One” tem um dos melhores diálogos do cinema sobre rebeliões. “Johnny revoltas-te contra quê?” – pergunta-lhe uma das raparigas. Johnny responde-lhe: “tudo o que aí tiveres”).
A revolta contra os cereais transgénicos não faz muito sentido. Os contestatários temem que eles sejam forragem para a nossa barriguinha e que alterarão o nosso código genético ou que irão polinizar as culturas vizinhas gerando alhos com duas cabeças. Mas esquecem-se das prioridades da nossa sociedade. É mais importante a energia para o computador e o combustível para o popó que uma almoçarada ou uma jantarada. Provavelmente a produção agrícola encontrará outros caminhos diferentes do prato. Em Nova Iorque rareia o bom bife (conhecido como USDA Prime Grade) por causa do Programa Nacional de Energias Renováveis dos EUA. O milho é base da ração destas privilegiadas vacas que cedem as carnes para os paladares apurados. Por sua vez os agricultores preferem vendê-lo às fábricas de etanol para receberem subsídios do Governo resultando no bye bye steak. Mesmo assim creio que o risco de fome no mundo tem sido muito exagerado. Vejam este exemplo tirado do Beijing News. Os irmãos Xianchen e Xianyou Meng sobreviveram cerca de seis dias encurralados numa mina, comendo carvão e bebendo urina, enquanto caçavam um túnel para a luz do dia. Xianchen partilhou os seus segredos culinários como um chefe Silva ou uma Maria de Lurdes Modesto globais: “tinha tanta fome que comi um pedaço de carvão, e julguei-o bastante fragrante. Na verdade, o carvão é amargo e áspero, mas podemos chupá-lo em pedaços do tamanho de um dedo. Na mina pegámos em duas garrafas descartáveis de água e bebemos a nossa urina. Só se pode tomar pequenos golos de cada vez, e quando se acaba, fica-se com vontade de chorar”. Quem julgava que apenas vegetais e animais eram papáveis enganou-se redondamente. O planeta, no seu todo, é comestível. E os nossos militantes podem dar uma contribuição enorme para engrandecer ainda mais o país de Cristiano Ronaldo e… na sopa da pedra, comer a pedra, em vez de clamarem por revoluções démodées. “Uma geração envelheceu, outra tem alma, esta geração não tem destino”, cantavam os Jefferson Airplane em “Volunteers”. Mas esta tem novos pratos para degustar.
As mudanças climáticas (não passarão! não passarão!) são como os elefantes. Incomodam muita gente mas não a gente certa. Se a falta de água for uma realidade, e os desertos ocuparem a superfície terrestre, um lugar de certeza ABSOLUTA manter-se-á verde e viçoso – o campo de golfe. Fecundos como os coelhos prevê-se que fibra vegetal não vai faltar. Em último caso os famintos têm manjar assegurado depois de fintarem os Securitas. Quando as estâncias de esqui foram ameaçadas de extinção os ricos entraram em parafuso. Multiplicaram cimeiras, discutiram, criaram impostos verdes e realizaram concertos de música para promover consciência ecológica e, por tabela, os “conceituados” artistas. Imaginem o que farão se lhes comerem a relva. Uma consequência dramática deste cenário seria o fim dos presidentes americanos, que são escolhidos, e formandos nos campos de golfe. Aqui vão uns exemplos. William H. Taft foi o primeiro a trazer o golfe para a Casa Branca. Como pesava 150 kg, ou dormia, ou fugia dos afazeres presidenciais para jogar. E diz-se que terá comentado sobre uma visita do embaixador chileno: “diabos me levem se vou deixar o meu golfe para receber esse gajo”. Warren G. Harding, governou durante a Lei Seca, como gostava de beber, escondia as garrafas de whisky no saco dos tacos. Dwight D. Eisenhower amava o jogo. A primeira coisa que fazia pela manhã era pegar no taco. Construiu um campo na Casa Branca e pôs os serviços secretos a apanhar esquilos que entretanto invadiam o espaço. Quando não jogava, pintava quadros sobre golfe. O verdadeiro fanático! Gerald Ford realizou a cerimónia de perdão de Nixon no World Golf Hall of Fame. Na rua, manifestantes protestavam, enquanto ele discursava sobre a camaradagem do golfe. Para Richard Nixon jogar era passar um dia com os compinchas. Não era bom jogador e fazia batota quando os outros não estavam a ver. Mas, o fim do capim aparado provocará outro efeito ainda mais grave. Sem ele o mundo dos negócios terminará, como descobriram os nossos empresários de sucesso, o “bom negócio” começa no campo de golfe. (Joaquim Oliveira inicia a sua carreira a lavar pratos e a servir à mesa na pensão da mamã. A pensão Roseirinha, em Penafiel. E por lá teria ficado se um dia não descobrisse que jogar golfe era o melhor meio para conhecer as “pessoas certas”). Se os esfomeados atacarem os campos de golfe não faltarão motivos para mais lutas. E nunca se é velho para a revolução, basta pintar o cabelo, porque esta será uma revolução para duros, como a “Revolución” dos mexicanos Brujeria.
Houve tempos mais inocentes quando se acreditava na pureza inicial do Homem. O meio era responsável pela corrupção da sua boa natureza. Arquitectando um meio perfeito obtinha-se homens perfeitos. Karl Marx contribuiu com teoria para este nobre objectivo. Segundo ele, a infra-estrutura económica determina a superstrutura (conjunto de ideias políticas, religiosas, filosóficas etc.). Ora, no modo de produção capitalista, os despojados de riqueza vendiam a sua força de trabalho ao dono da fábrica, que a usava para produzir mais-valia (diferença entre o valor, incorporado no objecto produzido, pelo esforço do trabalhador, e o salário que lhe era pago). Tínhamos uma sociedade dividida em duas classes. A dominante: os proprietários dos meios de produção. E a dominada: os detentores da força de trabalho. Para acabar com esta divisão, que acumulava a riqueza numa classe apenas, era necessário retirar-lhe os meios de produção das mãos. Pela revolução a burguesia desaparecia (ou ia pastar para o exílio) e brotava a sociedade sem classes. Tentou-se na Rússia mas não resultou. Nem os poemas de Maiakovski, (“camaradas, /inventai uma arte nova/que arranque/a República da lama”), salvaram a lama de atingir a ventoinha. E ainda hoje a maior parte da população mundial é obrigada a gritar “Freedom” com os Rage Against The Machine.
Mas quem apimentou a conjecturada revolução foi Wilhelm Reich. Tinha todos os defeitos (da altura). Era judeu, comunista e discípulo de Freud. Fugiu da Alemanha nazi em 1934 para a Escandinávia. Em 1939 entra nos Estados Unidos. Em 1947 começam as chatices por causa de artigos sobre o orgone. A Food and Drug Administration (FDA) manda o agente Woods investigar que diabo era aquilo. (Temiam o conto do vigário. O maior terror de uma economia de Mercado é que o consumidor compre gato por lebre). Conseguem uma ordem do tribunal proibindo que umas maquinetas – apelidadas de acumuladores de orgone – atravessassem as fronteiras federais. Reich desrespeita a ordem do tribunal e arma-se ao pingarelho. Encarrega-se da sua própria defesa, não aparece em tribunal e envia os seus livros para o juiz ler. Fatal! (Hoje sabemos que os juízes só lêem livros de Carolina Salgado ou de Pinto da Costa). Em 19 de Março de 1954, o juiz Clifford ordenou que todos os trabalhos onde aparecesse a expressão “energia orgónica” fossem destruídos e, para completar a limpeza, que o maldito conceito (não tinha sido benzido por Einstein) fosse igualmente retirado das futuras reedições dos seus livros já publicados. E Reich foi condenado em dois anos de cadeia por ter desrespeitado a sentença do tribunal. No dia 5 de Junho de 1956, os agentes da FDA destruíam os acumuladores de orgone guardados em Orgonon, a propriedade de Reich, no estado de Maine. Em Junho queimaram-lhe muitos livros. No dia 17 de Março de 1960 seis toneladas de livros e papelada variada foram reduzidos a cinzas no incinerador Gansevoort em Nova Iorque. Reich morreu de ataque de coração na penitenciária federal de Lewisburg, Pensilvânia, em 3 de Novembro de 1957. “Welcome to Planet Motherfucker” tocariam os White Zombie.
Reich acreditava numa vida sexual saudável como antecedente e corolário da revolução. As massas, conduzidas pelo “partido comunista, minha perfumada flor”, libertar-se-iam economicamente, derrubando a burguesia e, sexualmente, desembaraçando-se da sua moral sexual repressiva. Uma vida sexual saudável significava atingir os 4 000 orgasmos (média humana) de forma plena. Seriam orgasmos com campainhas e fogo de artifício, e não o tremelique executado por dever de reprodução. Nesse orgasmo XPTO eclodia o tal orgone. (Os gregos antigos conheciam-no como Éter. O quinto elemento da matéria). Para Reich era uma energia que ocuparia o espaço universal e que poderia ser vista, no céu azul, como pontos luminosos. Reich construiu uma geringonça para captá-la. O acumulador de orgone era uma caixa que armazenava a energia da atmosfera e que, segundo ele, curava constipações, cancro e impotência. (Abrenúncio seria o toque de finados da indústria farmacêutica). Jack Kerouac descreve-o no seu livro “Pela estrada fora”: “o acumulador de orgones é uma vulgar caixa suficientemente grande para conter um homem sentado numa cadeira: uma camada de madeira, uma de metal, outra de madeira reúnem e concertam os orgones da atmosfera e mantêm-no o tempo suficiente para o corpo humano absorver uma dose maior que o normal. Segundo Reich, os orgones são átomos vibratórios atmosféricos do princípio vital”. E, os Hawkwind, conhecidos por darem concertos inspirados nos princípios da função do orgasmo, dedicaram-lhe uma canção.
Mikhail Bakunine escreveu: “aquele que faz planos para depois da revolução é um reaccionário”. Assim é melhor não fazer planos, a não ser para um Bloody Mary com a Tara Reid (“comecei agora a fazer Bloody Marys. Sempre pensei que pareciam nojentos, então bebi um. Há uma arte neles, desde o Tabasco ao Worcestershire”), ao som de “Anarchy in the U.K.” dos Sex Pistols no chalé Marmotte Mountain Retreat, em Chamonix, enquanto há… gelo.
5 Comments:
At 6:57 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Tenho que dedicar este post ao 2+2=5 e aos seus insurrectos bloguistas. Que não sejam perseguidos pelos U.S. Marines.
Na tradução do filme do Marlon Brando optei pelo sentido em vez da tradução literal. Mas no link está o original. Creio que o filme, em português, se chama “O rebelde”. Esteve proibido na livre Inglaterra até 1968. Foi estreado na época da rivalidade Mods versus Rockers. E, claro, foi logo adoptado pelos Rockers como filme para ver muitas vezes.
Mantive o texto de Kerouac como tal como está na minha edição. O tradutor chama-lhe acumulador de orgones. No plural. Não sei como está na versão em americano. Por acaso li o livro no avião para Moçambique. Achei que não estava numa estrada, logo não corria o risco de encontrar operações stop, nem vagabundos (dharma).
E Armando aqui está o link de que te falei. Também meti A Internacional (para recordares a boa música) mas refiro-me aos 4 000 orgasmos.
At 12:50 da tarde, Armando Rocheteau said…
Fico-te agradecido pela dedicatória, por me avivares a memória e ainda pelo Reich.
At 4:28 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Já não se fazem pessoas como o Reich. Hoje não é possível dizer “cidadãos fodam livremente” como declaração política, sem se acusado de atentado ao pudor, obscenidade, abuso sexual e mais horrores. Ares da moral sexual americana. (Distingue-se da moral sexual repressiva descrita por Reich por parece liberal mas não é). Moral muito dentro do compasso da padralhada portuguesa. (Os nossos padres até permitem o coito a tergo se dentro do casamento. E pensar que Byron teve que fugir para Sintra por semelhante coisa).
At 5:09 da tarde, Ana Cristina Leonardo said…
correndo o risco de ser reaccionária, parto fazendo planos de ler isto no regresso. os horários da cp não se compadecem com o tamanho deste post (grande, literalmente, e também no resto).
At 4:06 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Espero que leia. Foi a Ana que me recordou o Kerouac que, no seu "Pela estrada fora", tem umas coisas interessantes.
Como, por exemplo, segundo ele escreve, S. Francisco estava cheia de volkswagens (rapazes que pegam por trás). Para onde foram eles nos tempos hippies? Será que o LSD cura essa maleita bíblica? Ou simplesmente entraram no armário? Enquanto Ronald Reagan (governador na época) criava uma cidade mais moderna?
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