Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quarta-feira, agosto 13, 2008

Verão com olhos

O calor tem-se revelado muito útil para a Humanidade. O calor do fogo amoleceu a carne, poupando as mandíbulas do Homo Erectus, possibilitando o crescimento da caixa craniana, e do seu in-fólio hóspede, o cérebro. Nos milénios seguintes, esse cérebro foi usado para criar as maravilhas do Mundo. Porém, uma temperatura tem um significado especial. 451º Fahrenheit, no romance de Ray Bradbury, é o ponto de combustão do papel. Ora, uma estudante texana, Diana Verm, e o seu extremoso papá, Alton Verm, encetaram uma campanha para banir o livro do liceu, por atentar contra a Bíblia. Não é ironia que se queira proibir um livro, cujo tema é precisamente a proibição de livros, é um sinal de que o calor dilata a inteligência Uma caloraça destas convida a uma banhoca na única praia que interessa. “Do You, Do you, Do You Saint-Tropez”.

[[[cantada por Geneviève Grad no filme “Le Gendarme de Saint-Tropez” (1964). No Canadá, por uma aproximação fonética, a canção recebeu o titulo de “Douliou Douliou (Douliou) Saint-Tropez”, interpretada pela cantora do Quebeque, Jenny Rock.

No início da década de 60, a juventude sacudia o corpo ao som do Twist. Uma dança inspirada na canção “The Twist”, escrita por Hank Ballard, em 1959. Mas que só atingiu o primeiro lugar na lista de vendas de singles, nos Estados Unidos, no ano seguinte, devido ao empenho de Dick Clark, apresentador do programa de TV, American Bandstrand, na versão de Chubby Checker »»» “The Twist” »»» “Let's Twist Again”. Dançava-se, esfregando os pés no chão, num gesto semelhante ao de apagar beatas, e simultaneamente abanado as ancas. Em 1961, a discoteca de Nova Iorque, Peppermint Lounge, propriedade do chefe da máfia genovesa, Matthew Ianniello, através do grupo residente, Joey Dee & The Starliters, transforma-se no centro mundial do Twist »»» “Peppermint Twist”. Nela desfilaram as celebridades da época, desde Jacqueline Kennedy a Truman Capote, na demanda do sagrado abanão. E teve direito ao filme, “Hey, Let's Twist!” (1961), com a musa desta dança, Jo-Ann Campbell »»» “Let Me Do My Twist”.

A França importou o produto através de, por exemplo, Johnny Hallyday »»» “Let's Twist Again”. Les Chats Sauvages »»» “Est-ce Que Tu Le Sais” (versão de “What'd I Say” de Ray Charles). Les Chaussettes Noires »»» “Le Twist”. Edgar Morin, num artigo no Le Monde, baptizou esta geração de “yéyés”. Por osmose cultural, em Portugal, os nossos jovens tiveram a mesma etiqueta: o Conjunto Académico João Paulo »»» Os Conchas »»» Os Ekos »»» Luís Jardim e os Demónios Negros »»» Vítor Gomes e os Gatos Negros »»» Fernando Conde »»» Os Sheiks »»» Natércia Barreto.

Chez Les Yé-Yé” cantou Serge Gainsbourg, embora ele, com 32 anos, não estivesse à vontade nesta moda e os jovens troçassem das suas orelhas de abano e penca afilada. Noutra moda, o disco sound, Gainsbourg compreendeu a essência da praia »»» “Sea Sex and Sun”. Mas também percebia a natureza das mulheres »»» “Je T’aime... Moi Non Plus” (editada em 1968, num dueto com Jane Birkin. A primeira versão foi gravada em 1967, com sua namorada do momento, Brigitte Bardot, que findo o namoro lhe pediu para não publicar a canção). Ele morreu, a filha, Charlotte Gainsbourg, cresceu »»» “5:55”.

Afinal, no começo na década de 60, todos os corpos mexiam, inclusive Raquel Welsh »»» “I'm Ready to Groove” (1965). Que também fez a sua Space-Girl Dance e mediu o físico com Cher »»» “Woman”]]].

Nos nossos dias, o calor mais famoso é o “aquecimento global”. E, finalmente, os peritos compreenderam que o problema é uma questão de roupa. Uma simples fórmula matemática resolve-o: mais (+) calor (-) menos roupa / menos (-) calor mais (+) roupa (+c-r/-c+r).

Este Verão, a ONU lançou, na sua sede de Nova Iorque, o programa “Cool UN” (ONU fresquinha), incluído num idealizado plano de poupança energético. Nele solicita-se, a funcionários e corpo diplomático, que substituam os fatos e gravatas, por roupas mais arejadas, permitindo subir o termóstato do ar condicionado e economizar electricidade. Michael Adlerstein, responsável pelo projecto de modernização da sede da ONU, explicou numa conferência de imprensa: “não nos vamos meter a polícias da moda mas o que procuramos é que as pessoas possam vestir roupas mais frescas”. E, assim, conseguir um ambiente refrescante como uma cascata de letras japonesa. Adlerstein, um arquitecto nova-iorquino, partidário do tradicional fato escuro e gravata, deu o exemplo, aparecendo na conferência de camisa branca e calças caqui.

Esta flexibilização do código de vestuário possibilitará usar “jodhpurs”, capacete colonial inglês e dizer “bwana”, no Verão. E, no Inverno, vestir U.S. navy peacoats, máscara de ski e verbalizar, com a boca na diagonal “first blood”, ficando bem na fotografia internacionalista. “Say Cheese! Smile Please”.

[[[pelos Fast Food Rockers »»» “Fast Food Song”. No Verão descuida-se a paparoca, substituída por outras prioridades, como festa dia e noite, na praia, na discoteca, rodeado de gajas boas, como D. Fernando e a música aligeirada. Passion Fruit »»» “The Rigga Ding Dong Song” »»» “Bongo Man”. Dulce Tentación »» “Dulce Tentación”. Chipz »»» “Waikiki Beach”. Hot Chip »»» “The Beach Party”. Não há festa estival sem Felix Da Housecat »»» “Like Something 4 Porno” »»» “What Does It Feel Like?” »»» “Radio”. 4 Strings com a bomba holandesa Vanessa van Hemert »»» “Summer Sun” »»» “Diving” »»» “Take me Away”. Estrella »»» “La Playa Del Sol” »»» “La Fiesta Loca”]]].

O calor afecta as pessoas de forma diferente. A Cavaco Silva dá-lhe para abrir a boca e falar Zlango (uma linguagem icónica inventada por Yoav Lorch). O Presidente da República é um MQT (“mais que tudo”). Fofinho como um anúncio da United Airlines. Uma bolsa de Doraemon nacional donde brotam soluções para os achaques do país. Cavaco é um reformista como todos os políticos de hoje. Colecciona reformas: 4.152.00 € do Banco de Portugal; 2.328.00 € da Universidade Nova de Lisboa; e 2.876.00 € do cargo de Primeiro-Ministro.

Há dias maquilharam-no, pentearam-no, vestiram-lhe o fatinho de ir à missa e engalaram-no com uma gravata vermelha para abrir os telejornais. No dia 31 de Julho, os portugueses sustiveram a respiração, intrigados com as razões, que levariam um cidadão, com massa no Banco, a interromper as férias. E Cavaco não decepcionou, cumprindo o seu dever constitucional de aumentar as audiências televisivas, e entreter os comentadores quanto baste. Ele falou tão claro como o Zlango. Disse, não me arranjem mais trabalho, se para dissolver a Assembleia Legislativa dos Açores, tenho de ouvir os deputados, nunca mais vou a casa ver o final da telenovela “Fascínios”. Alberto João Jardim deu-lhe o toque quando, rejeitou a sessão solene de boas-vindas, no Parlamento madeirense. Fazê-lo gramar um “bando de loucos”, com lamúrias e críticas, contrariava a celeridade democrática. (O calor psicológico assa frango como “Seasons in the Sun”).

[[[por Terry Jacks (os Nirvana tocaram uma versão). Os japoneses Luna Sea »»» “Into the Sun". Mad’ House »»» “Holiday” (da Madonna). Boogie Pimps »»» “Somebody to Love” (dos Jefferson Airplane). Não há curtes no Verão sem Sophie Ellis Bextor »»» “Today The Sun’s On Us” »»» “Catch You” »»» “Murder on the Dance Floor” »»» “I Won’t Change You” »»» “Music Gets the Best of Me” »»» “Take Me Home]]].

9 Comments:

  • At 5:05 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Ainda não foi desta que termino os vídeos e canções estivais. Não era má ideia continuar até ao Inverno, pois este é um país estival, serve para tudo. No vídeo dos holandeses Chip, o Allgarve passa por ser Wakiki Beach.

    Não há Verão sem Sophie Ellis Brextor, nem festa sem Felix Da Housecat.

    O Twist foi para lembrar uma época, mas quero ainda falar das danças modernas, que os jovens dançam.

     
  • At 7:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Táxi, não te esqueceste deste clássico?:

    http://www.youtube.com/watch?v=qCVQpcY1au4

     
  • At 7:39 da tarde, Blogger Armando Rocheteau said…

    Verão em grande. Aqui «vemos, ouvimos e lemos».

     
  • At 2:18 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Claro. Andei à procura da versão original mas não encontrei. Vi uma entrevista com o autor (não me lembro do nome), ele dizia que ela era tocada tantas vezes, que ele vivia dos direitos de autor dessa única canção. Esta versão dos Righeira, dos anos 80, não está má. Como ainda tenho dois posts (pelo menos) com música estival para fazer, talvez dê para meter.

    Têm de ver o anúncio da United Airlines e a cascata japonesa, são extraordinários.

     
  • At 5:10 da tarde, Blogger o que me vier à real gana said…

    A respeito do ratinho que os himalaias pariram (com a ajuda do parteiro cavaco), plenamente de acordo.
    Continua excelene, este espaço!

     
  • At 5:51 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    O Cavaco tem que aparecer se não ainda fica do tamanho do seu amigo Marques Mendes.

     
  • At 2:25 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    http://otomano.blogspot.com/2008/08/sexo-mormones-y-perros-clonados.html

     
  • At 5:57 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Ufa, que história! Para isso é que o amor move montanhas e a ciência dá felicidade. Venha a clonagem.

     
  • At 9:55 da manhã, Blogger SP said…

    É tão bom passar por aqui.
    Um abraço...

     

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