A flora fandanga
O jardim à beira-mar plantado sempre deu flores de mau cheiro, mas no início do século XXI, o fedor entope as narinas dos defensores do discernimento e do bom senso. O novo discurso positivo dos órgãos de Comunicação Social do Estado tresanda, entre o infantil e o trapalhão, atingindo toda a população com a sua mensagem de sopegar o moral nacional para um futuro brilhante. Mesmo a RTP, em eterna crise financeira, esforça-se por difundir um neotérico discurso em epopeico camoniano revisitado. Afirmativo, elevado, triunfante. De heróis acidentais povoado. Transmutando em ouro faits-divers e anedotas históricas cometidas em estranhas terras pelos portugueses da diáspora. A lista é variada. O pasteleiro responsável por tornar very british o pastel de nata. O piloto que por um triz não ganha o primeiro lugar no Grande Prémio de Indianápolis, (para tão descomunal proeza se concretizar bastava Schumacher ter chocado com Barrichello à saída das boxes, mas os fios das Parcas não se entrelaçaram a favor dos lusos, que sofriam em directo à frente do televisor). O merceeiro que fornece le dernier cri ao jet-set do gosto requintado. O músico, tipo vou ali e já venho, produtor de selecta associação de notas musicais em estúdio de gravação high tech revoluciona o hit parade em Londres. O actor secundário, descendo marmórea escadaria em Sunset Boulevard, sempre preparado para o seu close up. O padeiro, chamado Manuel, que através de secreta mistura de farinhas e fermentos moldou a internacionalmente afamada bunda brasileira. Toda uma neo-galeria de heróis lusitanos sai debaixo da calçada ao som do pífaro tocado por inteligentes pantólogos na tecelagem de filigrana semântica geradora de esperança e fé no cumprimento (finalmente) do quinto império e os segredos de Fátima (dois em um).
Os políticos, peritos do blablabla, mantém-se sempre na linha da frente para miracular o amargurado quotidiano, numa fatalidade aceitável, como se a vida do português fosse um eterno dia na Disneylândia. O povo com falta de heróis agradece. E prefere um simpalhão como o Alberto João, protegido pela mão que segura o solidéu, com a sua tendência para a moxinifada consegue quimerizar sobre o futuro brilhante, fazendo-nos esquecer o pequeno líder da oposição. Este, sem ideias e comprometido até às pontas do escasso cabelo com a situação desastrosa do país, não perdeu a vergonha e deu-lhe o amok da honestidade política, atacado de andromania pelos valores, prega a Moral para passar o tempo enquanto não chegam as próximas eleições que, confiante na amnésia dos portugueses, espera ganhar. Infelizmente, este desgraçado espectáculo não é a excepção mas a regra entre a classe política, que como uma nuvem de ampelófagos, ronda as vinhas da nossa ira para ganharem promoção pessoal, fortuna e uma modesta nota de rodapé na História. (Contrariando uma das frases feitas mais idiotas que se criaram de que “os políticos em Portugal são mal pagos”).
Os empresários, de rédea solta depois da falência dos sindicatos, preparam-se para o pultáceo jantar da globalização e transformar a Europa numa sweat shop. Numa nanóide imitação da China, sem segurança social, pensões de reforma e leis de protecção do trabalhador. Os empreendedores portugueses, que sempre sofreram de ergofobia, perceberam que a melhor forma de enricar é explorar o trabalho dos outros descaradamente. Os pruridos da consciência curam-se com o extracto de conta decuplado várias vezes. Secundados por gestores chamados a tumefazer o valor da empresa no mercado. Estes especialistas de gabarito chegam de laptop, munido com o layout de cenários informatizados aplicáveis às situações da realidade, como se fossem decalcomanias milagrosas da Economia sem ideias e de soluções massificadas. Ou os gestores topo de gama, com carro e cartão de crédito à descrição, provando que são os melhores na avicultura de capoeira recorrem à alectoromancia para encontrar soluções de administração e gerência criativa. Os lucros disparam tanto que o empresário tem de comprar malas novas para carregar o dinheiro para os off shores.
Mas as flores mais melindrosas do canteiro no fim da Europa plantado são os economistas. Uma vegetação realmente rasteira, sem cor nem brilho limitam-se a reproduzir fórmulas que não funcionam em lado algum. (Alguns chegam Presidentes da República). Uns gazolas que afocinham os problemas com palavras em inglês aprendidas no MBA tirado em Universidades de reconhecida notoriedade internacional em formar elites. Onde aprendem a borriçar a verborragia com uma roupagem científica para enganar o tolo que olha para a Ciência como um boi para um palácio. Contra esta tropa de choque, que olha o mundo como um tabuleiro de xadrez, para deslocar empresas na direcção da mão-de-obra mais barata, nunca a máxima de Marx – “proletários de todo o mundo, uni-vos” – esteve tão actual. Contra a exploração global só poderia resultar uma organização e uma luta globalizada para resistir às imposições unilaterais do Capital.
O povinho, que retrocedeu aos tempos de Columbano Bordalo Pinheiro, pode fazer como o jerosolimitano romeiro que bate à porta de D. Madalena de Vilhena trazendo notícias de seu marido, D. João de Portugal, perdido na batalha de Alcácer-Quibir. Mas, desta vez, invertendo a versão de Almeida Garrett no “Frei Luís de Sousa”, o povo deverá responder “ninguém mora aqui”, quando o inspector da polícia tributária lhe bater à porta. Porque, nesta altura do campeonato, já deveria ter percebido que o seu único futuro será de pagador de impostos para sustentar as milhentas flores de estufa que crescem no país.
O jardim à beira-mar plantado sempre deu flores de mau cheiro, mas no início do século XXI, o fedor entope as narinas dos defensores do discernimento e do bom senso. O novo discurso positivo dos órgãos de Comunicação Social do Estado tresanda, entre o infantil e o trapalhão, atingindo toda a população com a sua mensagem de sopegar o moral nacional para um futuro brilhante. Mesmo a RTP, em eterna crise financeira, esforça-se por difundir um neotérico discurso em epopeico camoniano revisitado. Afirmativo, elevado, triunfante. De heróis acidentais povoado. Transmutando em ouro faits-divers e anedotas históricas cometidas em estranhas terras pelos portugueses da diáspora. A lista é variada. O pasteleiro responsável por tornar very british o pastel de nata. O piloto que por um triz não ganha o primeiro lugar no Grande Prémio de Indianápolis, (para tão descomunal proeza se concretizar bastava Schumacher ter chocado com Barrichello à saída das boxes, mas os fios das Parcas não se entrelaçaram a favor dos lusos, que sofriam em directo à frente do televisor). O merceeiro que fornece le dernier cri ao jet-set do gosto requintado. O músico, tipo vou ali e já venho, produtor de selecta associação de notas musicais em estúdio de gravação high tech revoluciona o hit parade em Londres. O actor secundário, descendo marmórea escadaria em Sunset Boulevard, sempre preparado para o seu close up. O padeiro, chamado Manuel, que através de secreta mistura de farinhas e fermentos moldou a internacionalmente afamada bunda brasileira. Toda uma neo-galeria de heróis lusitanos sai debaixo da calçada ao som do pífaro tocado por inteligentes pantólogos na tecelagem de filigrana semântica geradora de esperança e fé no cumprimento (finalmente) do quinto império e os segredos de Fátima (dois em um).
Os políticos, peritos do blablabla, mantém-se sempre na linha da frente para miracular o amargurado quotidiano, numa fatalidade aceitável, como se a vida do português fosse um eterno dia na Disneylândia. O povo com falta de heróis agradece. E prefere um simpalhão como o Alberto João, protegido pela mão que segura o solidéu, com a sua tendência para a moxinifada consegue quimerizar sobre o futuro brilhante, fazendo-nos esquecer o pequeno líder da oposição. Este, sem ideias e comprometido até às pontas do escasso cabelo com a situação desastrosa do país, não perdeu a vergonha e deu-lhe o amok da honestidade política, atacado de andromania pelos valores, prega a Moral para passar o tempo enquanto não chegam as próximas eleições que, confiante na amnésia dos portugueses, espera ganhar. Infelizmente, este desgraçado espectáculo não é a excepção mas a regra entre a classe política, que como uma nuvem de ampelófagos, ronda as vinhas da nossa ira para ganharem promoção pessoal, fortuna e uma modesta nota de rodapé na História. (Contrariando uma das frases feitas mais idiotas que se criaram de que “os políticos em Portugal são mal pagos”).
Os empresários, de rédea solta depois da falência dos sindicatos, preparam-se para o pultáceo jantar da globalização e transformar a Europa numa sweat shop. Numa nanóide imitação da China, sem segurança social, pensões de reforma e leis de protecção do trabalhador. Os empreendedores portugueses, que sempre sofreram de ergofobia, perceberam que a melhor forma de enricar é explorar o trabalho dos outros descaradamente. Os pruridos da consciência curam-se com o extracto de conta decuplado várias vezes. Secundados por gestores chamados a tumefazer o valor da empresa no mercado. Estes especialistas de gabarito chegam de laptop, munido com o layout de cenários informatizados aplicáveis às situações da realidade, como se fossem decalcomanias milagrosas da Economia sem ideias e de soluções massificadas. Ou os gestores topo de gama, com carro e cartão de crédito à descrição, provando que são os melhores na avicultura de capoeira recorrem à alectoromancia para encontrar soluções de administração e gerência criativa. Os lucros disparam tanto que o empresário tem de comprar malas novas para carregar o dinheiro para os off shores.
Mas as flores mais melindrosas do canteiro no fim da Europa plantado são os economistas. Uma vegetação realmente rasteira, sem cor nem brilho limitam-se a reproduzir fórmulas que não funcionam em lado algum. (Alguns chegam Presidentes da República). Uns gazolas que afocinham os problemas com palavras em inglês aprendidas no MBA tirado em Universidades de reconhecida notoriedade internacional em formar elites. Onde aprendem a borriçar a verborragia com uma roupagem científica para enganar o tolo que olha para a Ciência como um boi para um palácio. Contra esta tropa de choque, que olha o mundo como um tabuleiro de xadrez, para deslocar empresas na direcção da mão-de-obra mais barata, nunca a máxima de Marx – “proletários de todo o mundo, uni-vos” – esteve tão actual. Contra a exploração global só poderia resultar uma organização e uma luta globalizada para resistir às imposições unilaterais do Capital.
O povinho, que retrocedeu aos tempos de Columbano Bordalo Pinheiro, pode fazer como o jerosolimitano romeiro que bate à porta de D. Madalena de Vilhena trazendo notícias de seu marido, D. João de Portugal, perdido na batalha de Alcácer-Quibir. Mas, desta vez, invertendo a versão de Almeida Garrett no “Frei Luís de Sousa”, o povo deverá responder “ninguém mora aqui”, quando o inspector da polícia tributária lhe bater à porta. Porque, nesta altura do campeonato, já deveria ter percebido que o seu único futuro será de pagador de impostos para sustentar as milhentas flores de estufa que crescem no país.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home