Abaixo de burro
Passar de cavalo para burro é mau mas descer abaixo de burro não. Que o diga Plutão! Situado nos confins do sistema solar, a uma distância de seis mil milhões de quilómetros da Terra, fez-se difícil de encontrar, como se fosse a carta “Black Lotus” do jogo “Magic: the Gathering”. Percival Lowell procurou mas morreu de velho e não achou. Foi o jovem Clyde Tombaugh, em 1930, quem localizou o evasivo corpo celeste. Venetia Phair, uma criança inglesa, de 11 anos, propôs-lhe o nome quando os encanecidos sábios não chegavam a acordo. Desenterram-lhe um satélite que, para fazer pandan com o deus dos infernos, foi baptizado de Caronte (o barqueiro do Estige, rio que descreve nove círculos em torno do inferno). E, durante anos, rodou em volta do sol no seu demorado período orbital de 248 anos. No ano de 2005, o telescópio Hubble descobre-lhe mais dois satélites. Os finórios astrónomos, para manterem tudo em família, apelidaram-lhes de Nix, mãe de Caronte e deusa da Morte e da Escuridão, e Hydra, o monstro de cabeça de serpentes e corpo de dragão que guarda o mundo interior de Plutão. Estava composto um belo bouquet para inspirar contos negros como “A dream of wolves in the snow” dos Cradle of Filth.
Mas em 2006, nem de propósito, principia uma verdadeira descida aos infernos para o 9º planeta. Após o achamento doutro objecto sideral, também situado no cinto de Kuiper, a União Astronómica Internacional decide modificar a definição de planeta, e cria a categoria de nano-planeta, para Plutão e o recém-descoberto pedregulho, apelidado de Éris (a deusa da Discórdia). Plutão passou de cavalo para burro por assim dizer. Mas os cientistas não estavam satisfeitos com esta terminologia. Em 2007, o ex-planeta sofre outra despromoção. É incluído na segunda posição desta nova categoria porque Éris é realmente granjola. E o que pinta o nono calhau a contar do sol neste enredo de palavreado científico empapado de mitologia grega? Absolutamente nada. Continua a mover-se como se nada fosse com ele. Porque no céu mandam os que lá estão. Nos assuntos humanos, cá em baixo, só custa passar de cavalo para burro, depois, são palavras que as traz o vento, e não aquecem nem arrefecem – se não pensarmos como Laurie Anderson que verbaliza numa canção “Language is a virus” (uma ideia de William S. Burroughs, segundo a qual a linguagem seria um vírus vindo do espaço, não necessariamente para facilitar a comunicação, mas para se reproduzir usando o homem como hospedeiro).
O primeiro-ministro tem suado o fato Dolce & Gabbana para estacionar o país no parque dos espertos. Ele deseja qualificar a população para que os investidores tenham um rebanho (ou cáfila, depende da margem do Tejo onde apascentam) de trabalhadores capazes de adaptarem os seus gestos aos rompantes da indústria, para produzir objectos importantíssimos, que nos proporcionam uma vida de inspector Gadget (mais fácil que o “abre fácil”). A formação não serve apenas para pagarmos mais desafogadamente as contas no fim do mês e, acima de tudo, criar mais riqueza para os outros, mas também para engatar miúdas. Na Índia ocidental, no estado de Rajasthan, um agricultor chamado Shivcharan Jatav, de 73 anos, chumbou 39 vezes o exame do décimo ano. Em criança não frequentou a escola para contribuir para a marmita da família. Só no ano de 1969 foi arrebatado por esta fúria pelo diploma quando um recrutador lhe disse que uns estudos lhe trariam melhores hipóteses para entrar no Exército (refúgio profissional nos países subdesenvolvidos donde Portugal saiu como podemos confirmar pelas opções dos jovens lusos. Para além da tropa têm a GNR e a PSP). Nestas infrutíferas tentativas Jatav somente obtém aproveitamento no exame de sânscrito mas apesar dos 39 desaires promete não desistir. Sem conhecer José Sócrates de lado algum convenceu-se que a certidão da secretaria melhorará a sua profissão e aumentará as hipóteses de encontrar uma esposa. A instrução tem destas coisas. É capaz de despoletar optimismo aos rodos. E, com 73 anos, ainda sonhar com as garotas da Blitz na praia de “Biquini de bolinha amarelinha tão pequenino”.
Ao lado, na China, a importância da instrução escolar é igualmente sobrevalorizada. É mais importante que a vida. E assim deve ser. Sem ela, adeus fábricas de bricabraque para as sociedades industriais, ou cozinhas de shop-soi de porco e arroz chao-chao nas capitais do mundo. No mês de Janeiro, na província central de Henan, um casal mata a filha, com menos de três anos, ao pontapé e murro por esta não conseguir identificar um ideograma. O pai Zeng e a mãe Zhang não acharam piada quando o rebento não era capaz de reconhecer o caracter “jiao” (que significa “banana”). No início do mesmo mês, outra mãe foi presa por suspeita de matar a filha de quatro anos por uma boa razão. O raio da catraia não sabia contar, e é voz corrente a utilidade da matemática, para os ricos contarem os biliões e os pobres, os trocos. Os pais chineses querem o melhor para os seus filhos. Sem uma educação escolar, ou a aptidão para a adquirir, não valem as células onde estão impressos. Nem para censores de filmes americanos servem pois não têm o cérebro ginasticado para perceber subtilezas culturais. (A Administração Estatal da Rádio, Filme e Televisão reduziu para metade a actuação de Chow Yun-Fat no filme os “Piratas das Caraíbas: nos confins do mundo”. O actor de Hong Kong interpreta o papel do capitão Sao Feng, um pirata chinês, careca, cicatriz profunda na cara e longa barba, considerado um aviltante estereotipo de demonização de Hollywood dos chineses. Na China estão costumados à figura mais simpática do chinoca careca e longa trança como Hop Singh, cozinheiro da família Cartwright, na série de TV “Bonanza”). Esta aparente violência dos papás chineses, não é originária dos filmes de Kung Fu, mas nos ensinamentos do pedagógico “Livro Vermelho” do camarada Mao Zedong. O grande timoneiro do povo definiu com clareza os inimigos. Escreveu ele que o imperialismo e os reaccionários, numa perspectiva estratégica, ou seja, da possibilidade de sua destruição, são “tigres de papel”, mas do ponto de vista táctico, isto é, da sua continuidade para sempre, são “tigre de ferro”. São firmes e hirtos como uma barra de ferro e, a única solução, é juntar-se a eles, e sentar-se no banco da escola à espera de novas oportunidades. E, conforme parece, morrer pela instrução na China é um “Necessary Evil” (cantariam os Napalm Death) para ganhar a corrida de ser o 9º ricaço calhau no G8.
A vontade de saber atingiu Portugal como um “Spine Buster” desferido pelo westler Bobby Lashley. A escola aos poucos substitui a igreja e a taberna. Jovens e velhos compreenderam a justeza das pretensões dos empresários para não desperdiçarem partes do cérebro que, desenvolvidas por um professor, darão muito dinheiro para todos. Temos que ser poupadinhos naquilo que de melhor temos – o miolo. Uma pessoa, já com curso tirado, vem dar-nos um cabal exemplo de como a massa cinzenta disciplinada funciona em prol do bem do país. O ministro da Saúde, Correia de Campos, imergido na consecução da sustentabilidade do pelouro que lhe coube na rifa, durante uma conferência na Ordem dos Economistas, avançou uma ideia para controlar o emaranho do erário público nas despesas com a Saúde. Propôs, o ministro, que se desse os medicamentos fora de prazo aos pobres para não haver desperdício. (Percebe-se o raciocínio desta mente treinada. Se eles comem iogurtes e bolachas, com validade caducada, nos caixotes de lixo dos supermercados, umas pastilhas ainda em bom estado não lhes farão mal). Talvez ele encomende um estudo sobre a viabilidade desta ministerial medida para aproveitar a profusão de peritos e especialistas jorrados dos estabelecimentos de ensino. São tantos os estudos, por tudo e por nada e mais alguma coisa, que de certeza também os alunos dos liceus participam na sua execução. (Descarto como absurda a suspeição do Estado estar a engordar sempre os mesmos “especialistas”). Nalguns casos, como o aeroporto de Lisboa, são feitos em catadupa saborosos relatórios, ricos em vitaminas e sais minerais, e também ómega 3. Tão prestigiosos são, que empresários e investidores espremem-se para pagar um, como o voluntarioso Joe Berardo. Finalmente os capitalistas tomam a dianteira da sociedade e vão ouvir “A Internacional” pelos Garotos Podres (banda Punk brasileira pouco garotos e, em vez de podres, estão gordos).
Do lado estudantil a impaciência cresce para receber o diploma. Mas quando se agita muito a cenoura o burro encarniça como sucedeu na Universidade do Minho. José Fernandes, presidente da Escola de Direito, foi esfaqueado por um estudante chamado simplesmente Sérgio. Descrito pelos colegas como uma pessoa muito pacata que anda um bocado sozinha. Na América são estes que pegam na Glock e abreviam licenciatura e vida aos companheiros de carteira. Em Portugal somos antes pela faca e alguidar. Sérgio sentiu-se injustiçado com o Protocolo de Bolonha e não foi de modas. Pega numa faca de cozinha não amolada e dá uns golpes no docente provocando-lhe uns arranhões. (Por causa da especialização do ensino um aluno de Direito não sabe que uma faca romba não corta). E, como Deus deu mãos aos nossos avós para cavar, deu-nos dedos mas, tal como o projecto artístico berlinense, Chicks on Speed, “We don’t play guitars”, vamos persistir no uso do cérebro para voltar aos majestosos tempos dos Lusíadas (então em livro, agora, talvez, em formato digital).
Depois de concluída a escolaridade obrigatória, (e respectivos updates), ficamos mais aptos para perceber a cosa nostra. Não o ramo americano da máfia siciliana mas as nossas coisinhas. O nosso fado, o nosso futebol, a nossa Fátima e o nosso fumeiro. A troca de piropos futebolísticos é actualmente a lenha da nossa alma. Enquanto Scolarão não regressa entretemo-nos com Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa. Este acusa aquele de pagar uma viagem Lisboa – Luxemburgo – Lisboa, com estadia no Luxemburgo à jornalista Leonor Pinhão. E penitencia-se frente aos dragões de Lisboa: “confio nos tribunais do nosso país e, sobretudo, confio na justiça divina e, por isso, de peito aberto, quero-lhes dizer que estou de consciência tranquila e não tenho nada a recear”. O outro contrapõe que é o “estrebuchar do morto” e nós sentimo-nos vivos num concerto dos Architecture in Helsinki, em… Helsínquia.
Passar de cavalo para burro é mau mas descer abaixo de burro não. Que o diga Plutão! Situado nos confins do sistema solar, a uma distância de seis mil milhões de quilómetros da Terra, fez-se difícil de encontrar, como se fosse a carta “Black Lotus” do jogo “Magic: the Gathering”. Percival Lowell procurou mas morreu de velho e não achou. Foi o jovem Clyde Tombaugh, em 1930, quem localizou o evasivo corpo celeste. Venetia Phair, uma criança inglesa, de 11 anos, propôs-lhe o nome quando os encanecidos sábios não chegavam a acordo. Desenterram-lhe um satélite que, para fazer pandan com o deus dos infernos, foi baptizado de Caronte (o barqueiro do Estige, rio que descreve nove círculos em torno do inferno). E, durante anos, rodou em volta do sol no seu demorado período orbital de 248 anos. No ano de 2005, o telescópio Hubble descobre-lhe mais dois satélites. Os finórios astrónomos, para manterem tudo em família, apelidaram-lhes de Nix, mãe de Caronte e deusa da Morte e da Escuridão, e Hydra, o monstro de cabeça de serpentes e corpo de dragão que guarda o mundo interior de Plutão. Estava composto um belo bouquet para inspirar contos negros como “A dream of wolves in the snow” dos Cradle of Filth.
Mas em 2006, nem de propósito, principia uma verdadeira descida aos infernos para o 9º planeta. Após o achamento doutro objecto sideral, também situado no cinto de Kuiper, a União Astronómica Internacional decide modificar a definição de planeta, e cria a categoria de nano-planeta, para Plutão e o recém-descoberto pedregulho, apelidado de Éris (a deusa da Discórdia). Plutão passou de cavalo para burro por assim dizer. Mas os cientistas não estavam satisfeitos com esta terminologia. Em 2007, o ex-planeta sofre outra despromoção. É incluído na segunda posição desta nova categoria porque Éris é realmente granjola. E o que pinta o nono calhau a contar do sol neste enredo de palavreado científico empapado de mitologia grega? Absolutamente nada. Continua a mover-se como se nada fosse com ele. Porque no céu mandam os que lá estão. Nos assuntos humanos, cá em baixo, só custa passar de cavalo para burro, depois, são palavras que as traz o vento, e não aquecem nem arrefecem – se não pensarmos como Laurie Anderson que verbaliza numa canção “Language is a virus” (uma ideia de William S. Burroughs, segundo a qual a linguagem seria um vírus vindo do espaço, não necessariamente para facilitar a comunicação, mas para se reproduzir usando o homem como hospedeiro).
O primeiro-ministro tem suado o fato Dolce & Gabbana para estacionar o país no parque dos espertos. Ele deseja qualificar a população para que os investidores tenham um rebanho (ou cáfila, depende da margem do Tejo onde apascentam) de trabalhadores capazes de adaptarem os seus gestos aos rompantes da indústria, para produzir objectos importantíssimos, que nos proporcionam uma vida de inspector Gadget (mais fácil que o “abre fácil”). A formação não serve apenas para pagarmos mais desafogadamente as contas no fim do mês e, acima de tudo, criar mais riqueza para os outros, mas também para engatar miúdas. Na Índia ocidental, no estado de Rajasthan, um agricultor chamado Shivcharan Jatav, de 73 anos, chumbou 39 vezes o exame do décimo ano. Em criança não frequentou a escola para contribuir para a marmita da família. Só no ano de 1969 foi arrebatado por esta fúria pelo diploma quando um recrutador lhe disse que uns estudos lhe trariam melhores hipóteses para entrar no Exército (refúgio profissional nos países subdesenvolvidos donde Portugal saiu como podemos confirmar pelas opções dos jovens lusos. Para além da tropa têm a GNR e a PSP). Nestas infrutíferas tentativas Jatav somente obtém aproveitamento no exame de sânscrito mas apesar dos 39 desaires promete não desistir. Sem conhecer José Sócrates de lado algum convenceu-se que a certidão da secretaria melhorará a sua profissão e aumentará as hipóteses de encontrar uma esposa. A instrução tem destas coisas. É capaz de despoletar optimismo aos rodos. E, com 73 anos, ainda sonhar com as garotas da Blitz na praia de “Biquini de bolinha amarelinha tão pequenino”.
Ao lado, na China, a importância da instrução escolar é igualmente sobrevalorizada. É mais importante que a vida. E assim deve ser. Sem ela, adeus fábricas de bricabraque para as sociedades industriais, ou cozinhas de shop-soi de porco e arroz chao-chao nas capitais do mundo. No mês de Janeiro, na província central de Henan, um casal mata a filha, com menos de três anos, ao pontapé e murro por esta não conseguir identificar um ideograma. O pai Zeng e a mãe Zhang não acharam piada quando o rebento não era capaz de reconhecer o caracter “jiao” (que significa “banana”). No início do mesmo mês, outra mãe foi presa por suspeita de matar a filha de quatro anos por uma boa razão. O raio da catraia não sabia contar, e é voz corrente a utilidade da matemática, para os ricos contarem os biliões e os pobres, os trocos. Os pais chineses querem o melhor para os seus filhos. Sem uma educação escolar, ou a aptidão para a adquirir, não valem as células onde estão impressos. Nem para censores de filmes americanos servem pois não têm o cérebro ginasticado para perceber subtilezas culturais. (A Administração Estatal da Rádio, Filme e Televisão reduziu para metade a actuação de Chow Yun-Fat no filme os “Piratas das Caraíbas: nos confins do mundo”. O actor de Hong Kong interpreta o papel do capitão Sao Feng, um pirata chinês, careca, cicatriz profunda na cara e longa barba, considerado um aviltante estereotipo de demonização de Hollywood dos chineses. Na China estão costumados à figura mais simpática do chinoca careca e longa trança como Hop Singh, cozinheiro da família Cartwright, na série de TV “Bonanza”). Esta aparente violência dos papás chineses, não é originária dos filmes de Kung Fu, mas nos ensinamentos do pedagógico “Livro Vermelho” do camarada Mao Zedong. O grande timoneiro do povo definiu com clareza os inimigos. Escreveu ele que o imperialismo e os reaccionários, numa perspectiva estratégica, ou seja, da possibilidade de sua destruição, são “tigres de papel”, mas do ponto de vista táctico, isto é, da sua continuidade para sempre, são “tigre de ferro”. São firmes e hirtos como uma barra de ferro e, a única solução, é juntar-se a eles, e sentar-se no banco da escola à espera de novas oportunidades. E, conforme parece, morrer pela instrução na China é um “Necessary Evil” (cantariam os Napalm Death) para ganhar a corrida de ser o 9º ricaço calhau no G8.
A vontade de saber atingiu Portugal como um “Spine Buster” desferido pelo westler Bobby Lashley. A escola aos poucos substitui a igreja e a taberna. Jovens e velhos compreenderam a justeza das pretensões dos empresários para não desperdiçarem partes do cérebro que, desenvolvidas por um professor, darão muito dinheiro para todos. Temos que ser poupadinhos naquilo que de melhor temos – o miolo. Uma pessoa, já com curso tirado, vem dar-nos um cabal exemplo de como a massa cinzenta disciplinada funciona em prol do bem do país. O ministro da Saúde, Correia de Campos, imergido na consecução da sustentabilidade do pelouro que lhe coube na rifa, durante uma conferência na Ordem dos Economistas, avançou uma ideia para controlar o emaranho do erário público nas despesas com a Saúde. Propôs, o ministro, que se desse os medicamentos fora de prazo aos pobres para não haver desperdício. (Percebe-se o raciocínio desta mente treinada. Se eles comem iogurtes e bolachas, com validade caducada, nos caixotes de lixo dos supermercados, umas pastilhas ainda em bom estado não lhes farão mal). Talvez ele encomende um estudo sobre a viabilidade desta ministerial medida para aproveitar a profusão de peritos e especialistas jorrados dos estabelecimentos de ensino. São tantos os estudos, por tudo e por nada e mais alguma coisa, que de certeza também os alunos dos liceus participam na sua execução. (Descarto como absurda a suspeição do Estado estar a engordar sempre os mesmos “especialistas”). Nalguns casos, como o aeroporto de Lisboa, são feitos em catadupa saborosos relatórios, ricos em vitaminas e sais minerais, e também ómega 3. Tão prestigiosos são, que empresários e investidores espremem-se para pagar um, como o voluntarioso Joe Berardo. Finalmente os capitalistas tomam a dianteira da sociedade e vão ouvir “A Internacional” pelos Garotos Podres (banda Punk brasileira pouco garotos e, em vez de podres, estão gordos).
Do lado estudantil a impaciência cresce para receber o diploma. Mas quando se agita muito a cenoura o burro encarniça como sucedeu na Universidade do Minho. José Fernandes, presidente da Escola de Direito, foi esfaqueado por um estudante chamado simplesmente Sérgio. Descrito pelos colegas como uma pessoa muito pacata que anda um bocado sozinha. Na América são estes que pegam na Glock e abreviam licenciatura e vida aos companheiros de carteira. Em Portugal somos antes pela faca e alguidar. Sérgio sentiu-se injustiçado com o Protocolo de Bolonha e não foi de modas. Pega numa faca de cozinha não amolada e dá uns golpes no docente provocando-lhe uns arranhões. (Por causa da especialização do ensino um aluno de Direito não sabe que uma faca romba não corta). E, como Deus deu mãos aos nossos avós para cavar, deu-nos dedos mas, tal como o projecto artístico berlinense, Chicks on Speed, “We don’t play guitars”, vamos persistir no uso do cérebro para voltar aos majestosos tempos dos Lusíadas (então em livro, agora, talvez, em formato digital).
Depois de concluída a escolaridade obrigatória, (e respectivos updates), ficamos mais aptos para perceber a cosa nostra. Não o ramo americano da máfia siciliana mas as nossas coisinhas. O nosso fado, o nosso futebol, a nossa Fátima e o nosso fumeiro. A troca de piropos futebolísticos é actualmente a lenha da nossa alma. Enquanto Scolarão não regressa entretemo-nos com Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa. Este acusa aquele de pagar uma viagem Lisboa – Luxemburgo – Lisboa, com estadia no Luxemburgo à jornalista Leonor Pinhão. E penitencia-se frente aos dragões de Lisboa: “confio nos tribunais do nosso país e, sobretudo, confio na justiça divina e, por isso, de peito aberto, quero-lhes dizer que estou de consciência tranquila e não tenho nada a recear”. O outro contrapõe que é o “estrebuchar do morto” e nós sentimo-nos vivos num concerto dos Architecture in Helsinki, em… Helsínquia.
6 Comments:
At 4:46 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Decidi meter uma canção, e o respectivo link, no fim de cada parágrafo para amenizar o texto e dar-lhe outro colorido. Para mim, que pouco percebo disto, foi uma conquista informática.
Em homenagem ao grande bluesman Mad Dog tentei pôr o “Cruel, cruel esquizofrénico blues” do grupo Blitz, mas as imagens e som YouTube eram muito maus. Fui obrigado a trocar pelo “Biquini de bolinha amarelinha” (troquei uma cor por outra).
At 8:41 da tarde, Armando Rocheteau said…
Sempre na maior e agora com links. Parabéns e abraço.
At 5:09 da tarde, A Chata said…
Decididamente estou a ficar fora de prazo...
Este tipo de música provoca em mim a mesma reação que (agora compreendo) o rock e os Beatles provocavam na minha avó.
Por mais que tente manter uma mente aberta à mudança não consigo apreciar este tipo de música
Acontece-me o mesmo com os jogos de computador, cujo objectivo (à parte uma missão qualquer) é destruir tudo o que apareça à frente.
Tentei que o meu filho me explicasse qual o prazer das longas horas a matar e destruir virtualmente mas, não consegui entender.
Um dia destes dou comigo a fazer coisas do tipo: "guardar religiosamente os sacos plasticos, inovação preciosa" como a minha avó fazia...
At 7:45 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Sempre tive grande dificuldade com a palavra “gosto”, porque antes deve estar uma outra: “compreensão. Dito de outra forma, só depois de compreender é que posso gostar, e neste processo até posso mudar a minha opinião. Ou seja, algo que não gostava, porque não compreendia, passo a gostar. Sei que este é um processo mental difícil de manter durante toda a vida, pois implica uma aprendizagem constante, até morrer, e chegamos a certa idade e dizemos “que se lixe quero é sopas e descanso”. Este esquema aplica-se a tudo. Às pessoas que não gostamos porque não conhecemos, às ideias políticas, à moda, à literatura, à pintura, aos estilos de música etc.
Com isto não quero dizer que, por “compreender”, torno-me maricas e não participo nos linchamentos públicos. Sou pela ignorância da Humanidade. Para dar alguns exemplos da música. Se partiram os discos do Cat Stevens, no final da década de 70, quando ele se converteu ao islamismo, sou o primeiro a apoiar. Se os pais americanos acham que os discos de Heavy Metal contêm mensagens satânicas subliminares – audíveis se passados ao contrário – sou o primeiro a apontá-las. Se há dias um grupo cristão americano queimou discos de Paris Hilton, sou a favor. A incompreensão leva a divertidos episódios. Mediáticos, como se diz agora.
Oiço todo o tipo de música, nunca gostei de palas que nos orientam num sentido. Quem me dera! Hoje estaria num partido político, instalado no aparelho, e rico. Umas palavras sobre os grupos que meti no post. Podiam ser outros. A escolha dependeu apenas daquilo que encontrei em condições mais ou menos audíveis. Os Cradle of Filth misturam influências de música clássica com Rock (da linha Black Sabbath do início dos anos 70) com letras inspiradas nos autores do fantástico como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraf etc. ou mesmo Sade e Nietzsche.
Laurie Anderson é um caso à parte que ultrapassa o âmbito estrito da música, para entrar na manipulação de instrumentos, da tecnologia e das palavras. Ela é sobretudo uma contadora de histórias do quotidiano. Histórias aporéticas, sem um final moral (como os diálogos de Platão, que mostram o caminho para a definição de conceitos, mas não a definição em si). As pessoas encontram-se e trocam palavras entre si. Os discos “United States” (gravados ao vivo do espectáculo homónimo) são um manual sobre a cultura americana. Como comunicam as pessoas. Se estas forem de culturas diferentes as palavras podem levar a mal-entendidos, ou até não existirem, porque aquilo a que se referem não existe também. O disco “The ugly one with jewels” conta a história de uma americana entre os índios Tsutsil, tribo Maya, no México, e as diferenças culturais com os U.S.A. (ou cultura ocidental).
A banda Blitz foi uma lufada de ar fresco na música brasileira pelo humor que punham nas letras, num ritmo Rock, muito distante dessas nódoas que os lusos sempre gostaram e consumiram: Caetano Veloso, Chico Buarque, Maria Betânia etc. Napalm Death estão na sequência dos Venon, a puxar o Rock para extremos sonoros, mantendo viva a Generation Gap, que havia antigamente, e que desapareceu quando os pais quiseram ser modernos e compreender os filhos. (Os pais viviam num mundo, os filhos noutro. Lembro-me de ter ficado muito espantado, no início da década de 80, quando ouvi Laguna Sunrise – Black Sabbath Vol. 4 – na banda sonora de uma telenovela brasileira. A Generation Gap terminara. Os filhos tornaram-se pais e como não queriam incorrer no mesmo erro dos seu progenitores tornaram-se “tolerantes”. E além disso trouxeram os seus gostos musicais para o mainstream. No meu tempo Led Zeppelin era barulho, hoje é agradável melodia clássica).
Garotos Podres são uma banda Punk brasuca. O Punk surge no fim da década de 70 como reacção dos putos (agora carecas e gordos) contra a música imposta pelas editoras – Pink Floyd, Genesis, Yes etc. com canções que nunca mais acabavam – num regresso ao Rock ‘n’ Roll primitivo, tocado em canções de três minutos apenas, com violas e bateria. Chicks on Speed são um projecto de Berlim, um package como elas lhe chamam, que implica moda e arte. Em Berlim têm a mania que são artistas. Os Architecture in Helsinki são australianos que misturam vários estilos Funk, Rock psicadélico etc. usando samplers e sintetizadores e violas. E podem ser incluídos neste movimento de bandas independentes, ou alternativas, que está a surgir agora com o sucesso dos Artic Monkeys ou My Chemical Romance.
Ainda sobre Orwell. Lembro-me de ter lido algo do Jean Genet defendendo que tudo é violento. A violência está em toda a parte. Quando uma flor abre rasga a corola. Quando um pintainho nasce quebra a casca do ovo etc. não podemos fugir à violência. A não ser que sejamos como aqueles budistas portugas que, quando as finanças o permitiam, compravam caracóis no supermercado para os libertar. Sempre achei uma imagem curiosa esta dos caracóis a correm para a liberdade.
At 3:02 da tarde, A Chata said…
Ao contrário de si, nestas coisas da música, da pintura ou até das pessoas, não preciso compreender para gostar.
É um mecanismo muito mais instintivo em mim.
É claro que na música, como noutras coisas, a compreensão e a "habituação" também podem ajudar.
Acho que esta música espelha o mundo actual e, talvez seja por isso, não consigo apreciar.
A leitura do que se passa já chega para me "deprimir".
A música, para mim, tem se ser um prazer, seja ela classica, jazz, pop, pimba ou de serrote.
É como a pintura, escultura ou arquitectura.
Olho e gosto ou não gosto.
Não tiro ilações. Não digo é boa ou má.
Digo gosto ou não gosto na medida em que me dá prazer olhar para o objecto.
Gosto de olhar para uma obra de Gaudi e não gosto de olhar para um quadro da Paula Rego, por exemplo.
Não considero que a Paula Rego seja má pintora, eu é que não tenho a capacidade ou gosto estético para apreciar as obras dela.
"...a certa idade e dizemos “que se lixe quero é sopas e descanso”.
Também pensava assim. Lembro-me de uma vez comentar a respeito da minha avó: "Podia levar uma cadeirinha e sentar-se à porta do cemitério à espera.Já era meio caminho andado".
Hoje acho que o comentário foi uma idiotice como aquelas que dizemos sobre situações e experiências que só imaginamos e analisamos pela lógica mas não vivemos.
Hoje, que me começo a aproximar dessa fase da vida, percebo que talvez não fosse só, como pensava, uma escolha consciente e comodista.
Nunca digas nunca...
"A violência está em toda a parte. Quando uma flor abre rasga a corola. "
Sem dúvida.
Como diz Woody Allen: "O Mundo não é mais que um grande restaurante"
Alimentamo-nos de outros, para dar origem a outros que se irão alimentar de nós.
Não é esse tipo de violência que me incomoda.
É a violência que não tem como fim a sobrevivência mas apenas, a satisfação de desejos de poder sobre o outro ou algo por motivos
egoistas que me incomoda.
Não li o livro até ao fim não por deficiência do livro mas minha.
(A mesma que me fez perder grande parte das cenas do filme Salo)
Acho que o autor tinha um conhecimento profundo do ser humano.
At 7:49 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Bem vistas as coisas todas as actividades superiores do Homem têm origem nos gestos dos macacos batendo com ossos no chão, no início de "2001 – odisseia no espaço".
Eu só entendo arte como uma forma de tirar o dinheiro aos que estão dispostos a pagar por ela. Também não gosto de Paula Rego, mas considerei um talento especial, ela ter vendido aquela Maria Madalena – com aspecto de prostituta em cabedal – para a colecção do palácio de Belém. E o Gaudi por ter idealizado aquele desperdício de cimento em Barcelona e ter contribuído para o desenvolvimento da indústria cimenteira. Não compreendo desejos de imortalidade. Se um artista não consegue vender a sua obra deve destruí-la antes de morrer, por isso Van Gogh é medíocre, que serve apenas para ficar pendurado nos escritórios dos empresários japoneses.
Que maior satisfação pode haver do que tirar a massa aos comendadores Berardos? A função primária da arte deve ser fazer dinheiro. Depois se o artista não quer ser materialista pode queimá-lo ou atirá-lo pela janela fora. Andy Warhol, que gostava tanto do dólar como dos enlatados Campbell, resumiu na única coisa que disse de jeito: “making money is art”. E o Salvador Dalí, que também gostava tanto de dinheiro como da mulher que roubou a Paul Éluard, e assinava folhas e telas em branco para ter mais massa, é o exemplo do artista excelente.
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