Salvos pela democracia
Numa bem-aventurada sexta-feira, pelas 00:45 horas, nasceu em Lisboa o Tratado Reformador. Vinte e sete reis magos, montados em camelos de alta cilindrada, orientados por um refulgente GPS no céu, vieram até uma modesta manjedoura no Parque das Nações para adorar o menino. Traziam dependurados nas bossas dos bichos preciosos presentes. A mirra do acordo político. O ouro do acordo político. E o incenso do acordo político. (Naquele tempo não se oferecia nada sem “acordo político”). “Porreiro, pá!” – exclamou, após a paridela, o rapaz das esferográficas para o moço dos cafés europeus e abraçaram-se efusivamente. Fizeram uma pausa para cigarros. Cumprindo as directivas da UE sobre o fumo, “Smokers Outside The Hospital Doors” (dos ingleses Editors) … ou da maternidade da Europa, o Pavilhão Atlântico.
Oi! Supercalifragilisticexpialidocious! Cantavam os pastorinhos que flanavam pelo presépio. Todos intuíram a importância do recém-nado. A boa-nova foi anunciada no Parlamento Europeu pelo eufórico rapaz das canetas: “quero dizer a todos aqueles que têm dúvidas sobre o Tratado e sobre a capacidade da Europa: por favor, acordem para a realidade! O mundo já disse qual foi a sua conclusão sobre o Tratado: a Europa ficou mais forte”. E esse mundo girou feliz como se tivesse visto o “Winona’s Big Brown Beaver” (do grupo de gozões Primus).
Este prodígio aconteceu num país onde não há escutas telefónicas ilegais. Um país de anjinhos. E talvez por isso Deus lhe destine um futuro estupendo como à miss Douglas, Stacy Hedger, na música ou ao sucesso comercial do after-shave Hai Karate (o único com instruções para os utilizadores se defenderem das mulheres enlouquecidas pela sua irresistível fragrância). Alípio Ribeiro, Director Nacional da PJ, garante que as escutas “são judiciais e não administrativas, como acontece noutros países”, logo a tecla da vontade de um juiz tem de ser activada antes delas serem executadas. Como se isso fosse garantia de peixe fresco. Conseguir uma autorização judicial é mais fácil que pedir um Porto Ferreira. Ou perceber a inspiração no filme “The Shining”, de Stanley Kubrick, no vídeo “The Kill” dos 30 Seconds To Mars (grupo formado pelo actor Jared Leto).
Para além disso, o pegueiro dos polícias é um anjinho. Desconhece que há escutas e escutas. Umas fazem-se para recolher informações para orientar as investigações. Outras realizam-se para obtenção de provas a apresentar no tribunal. E, estas sim, necessitam o sinete de um juiz, as outras são aviadas em sistema de bufete, cada um serve-se. Mas este escaldante tema nacional, ou seja, bom para entreter jornalistas, e não porque viola as supostas Liberdades, Direitos e Garantias do cidadão, não produziu só verbos de encher. Aumentou também o anedotário nacional com a maior piada de todos os tempos: “o SIS não faz escutas porque é inconstitucional”. Assaz jocoso! E muito boa para ser contada nos passos perdidos de consultórios de dentistas ou assembleias das repúblicas. No século das comunicações, e dos ouvidos electrónicos indiscretos, somos “Painted by Numbers” (dos suecos The Sounds) … do telefone.
O despertador que acordou Portugal para a realidade foi, obviamente, a língua inglesa. O inglesinho, técnico ou rude, aprendido na escola, impede-nos de sofrer o opróbrio desta simpática família nórdica, que entra no ritmo da canção, alheia aos vitupérios do sacana do cantor. Há dias Cavaco Silva pedia “um novo olhar sobre a escola”. E pelos vistos jungiram-lhe também um novo som. Em Abril de 2003, Conceição Marques, professora do 1º ciclo na Escola Básica da Regedoura, Ovar, por causa de um cancro, amputaram-lhe uma parte da substancial da língua. Motivo suficiente para reforma, pensarão os nabos em Pedagogia. Prrrrr! errado. Por duas razões. Primeiro, este defeito na fala permite ensinar melhor o inglês, pronunciando bem as palavras para que as crianças consigam, inflectir na voz, os múltiplos significados de “Fuck”. E entendam o canadiano de Toronto de Peaches, em “Fuck the Pain Away”, ou o canadiano do Quebeque de Mylène Farmer, em “Fuck Them All”.
A segunda razão prende-se com o âmago da escola primária. Uma professora, nesses verdes anos, com um defeito físico, é uma bênção pedagógica. É meio caminho andado para o sucesso escolar 100% porque promove a empatia instantânea professor-aluno. Uma professora primária (conhecida pelo título de dona seguido pelo nome) vesga, gaga, manca, corcunda ou sem os dedos médio e anelar da mão direita cativa a atenção das crianças logo na primeira aula. O defeito será de imediato simulado no recreio. Qualquer Ministério da Educação sabe que a macaquice espevita a imaginação nos primatas superiores. E qualquer badameco em Psicologia Educacional defenderá que a imitação é a base do processo de socialização, e a imaginação, o atiçador da inteligência. Gozar com a professora primária é o ponto de partida para desenvolver aptidões que permitirão mais tarde trepar num partido político e alcançar cargos de orgulhar o pai. É “When We Were Young” (The Killers) que se torce o pepino para chegar à Presidência da República.
Uma sorte do caraças quis que os nossos políticos topo de gama (e os seus satélites que constituem o sopé da sociedade) fossem ensinados por professores da Tendência Liberal Renovadora Progressiva (o professor é o auxiliador do desenvolvimento livre da criança) d’ “Os 3 Estarolas”. Bons meninos replicam-lhes os trejeitos e o estado de espírito na sua actividade profissional. No país do recorde de euromilionários não faltam estarolas aptos para resolver qualquer enrascada. Depois de embrulhado e enlaçado o Tratado Reformador resta a Cimeira UE – África. Podia-se pensar como o rapper belga, James Deano, que “Les Blancs Savent Pas Danser” mas c’est faux. Por cá abana-se a cadeira e com ritmo. Portugal tem uma solução imaginativa para realizar a Cimeira vinda da "sempre pronta a ajudar” iniciativa privada. Fado deste só por cá. “Must Be The Moon” (do grupo !!!) … ou outra coisa qualquer, que nos faz tão sortudos. (A designação !!!, que se lê Chk Chk Chk, vem dos estalidos emitidos pelos bosquímanos do deserto do Kalahari ao falarem e que são representados nas línguas ocidentais pelo ponto de exclamação antes das palavras).
O porta-voz dos fazendeiros brancos da Rodésia amua se Robert Mugabe vier assistir à Cimeira em Lisboa. Gordon Brown ameaça: “se Mugabe for, eu de certeza que não vou estar presente e nenhum ministro do Governo estará presente”. No problemo! Agora existem empresas que resolvem estes embaraços. A Erento recruta desempregados, estudantes e reformados para trabalharem como figurantes nas várias exigências da vida democrática. No final do ano passado, a Associação dos Médicos Alemães organizou uma manifestação, em frente do Parlamento, contra a nova Lei de Saúde de Angela Merkel, que reuniu cerca de 200 participantes. Cento e cinquenta deles foram “manifestantes profissionais”, contratados na Erento, com bata branca e estetoscópio. As vantagens deste sistema são enormes. Liberta quem protesta para uma ida às compras ou um dia de lazeira em casa, e permite ao cliente escolher as características físicas dos manifestantes. Mais bonitos ou mais feios, mais homens ou mais mulheres, mais novos ou mais velhos etc. Desta forma a democracia aprimora-se. Para atingir o pleno, para ser perfeita, perfeita falta apenas abolir o voto. Aí seria “Ice Ice Baby” (do Vanilla Ice).
Numa bem-aventurada sexta-feira, pelas 00:45 horas, nasceu em Lisboa o Tratado Reformador. Vinte e sete reis magos, montados em camelos de alta cilindrada, orientados por um refulgente GPS no céu, vieram até uma modesta manjedoura no Parque das Nações para adorar o menino. Traziam dependurados nas bossas dos bichos preciosos presentes. A mirra do acordo político. O ouro do acordo político. E o incenso do acordo político. (Naquele tempo não se oferecia nada sem “acordo político”). “Porreiro, pá!” – exclamou, após a paridela, o rapaz das esferográficas para o moço dos cafés europeus e abraçaram-se efusivamente. Fizeram uma pausa para cigarros. Cumprindo as directivas da UE sobre o fumo, “Smokers Outside The Hospital Doors” (dos ingleses Editors) … ou da maternidade da Europa, o Pavilhão Atlântico.
Oi! Supercalifragilisticexpialidocious! Cantavam os pastorinhos que flanavam pelo presépio. Todos intuíram a importância do recém-nado. A boa-nova foi anunciada no Parlamento Europeu pelo eufórico rapaz das canetas: “quero dizer a todos aqueles que têm dúvidas sobre o Tratado e sobre a capacidade da Europa: por favor, acordem para a realidade! O mundo já disse qual foi a sua conclusão sobre o Tratado: a Europa ficou mais forte”. E esse mundo girou feliz como se tivesse visto o “Winona’s Big Brown Beaver” (do grupo de gozões Primus).
Este prodígio aconteceu num país onde não há escutas telefónicas ilegais. Um país de anjinhos. E talvez por isso Deus lhe destine um futuro estupendo como à miss Douglas, Stacy Hedger, na música ou ao sucesso comercial do after-shave Hai Karate (o único com instruções para os utilizadores se defenderem das mulheres enlouquecidas pela sua irresistível fragrância). Alípio Ribeiro, Director Nacional da PJ, garante que as escutas “são judiciais e não administrativas, como acontece noutros países”, logo a tecla da vontade de um juiz tem de ser activada antes delas serem executadas. Como se isso fosse garantia de peixe fresco. Conseguir uma autorização judicial é mais fácil que pedir um Porto Ferreira. Ou perceber a inspiração no filme “The Shining”, de Stanley Kubrick, no vídeo “The Kill” dos 30 Seconds To Mars (grupo formado pelo actor Jared Leto).
Para além disso, o pegueiro dos polícias é um anjinho. Desconhece que há escutas e escutas. Umas fazem-se para recolher informações para orientar as investigações. Outras realizam-se para obtenção de provas a apresentar no tribunal. E, estas sim, necessitam o sinete de um juiz, as outras são aviadas em sistema de bufete, cada um serve-se. Mas este escaldante tema nacional, ou seja, bom para entreter jornalistas, e não porque viola as supostas Liberdades, Direitos e Garantias do cidadão, não produziu só verbos de encher. Aumentou também o anedotário nacional com a maior piada de todos os tempos: “o SIS não faz escutas porque é inconstitucional”. Assaz jocoso! E muito boa para ser contada nos passos perdidos de consultórios de dentistas ou assembleias das repúblicas. No século das comunicações, e dos ouvidos electrónicos indiscretos, somos “Painted by Numbers” (dos suecos The Sounds) … do telefone.
O despertador que acordou Portugal para a realidade foi, obviamente, a língua inglesa. O inglesinho, técnico ou rude, aprendido na escola, impede-nos de sofrer o opróbrio desta simpática família nórdica, que entra no ritmo da canção, alheia aos vitupérios do sacana do cantor. Há dias Cavaco Silva pedia “um novo olhar sobre a escola”. E pelos vistos jungiram-lhe também um novo som. Em Abril de 2003, Conceição Marques, professora do 1º ciclo na Escola Básica da Regedoura, Ovar, por causa de um cancro, amputaram-lhe uma parte da substancial da língua. Motivo suficiente para reforma, pensarão os nabos em Pedagogia. Prrrrr! errado. Por duas razões. Primeiro, este defeito na fala permite ensinar melhor o inglês, pronunciando bem as palavras para que as crianças consigam, inflectir na voz, os múltiplos significados de “Fuck”. E entendam o canadiano de Toronto de Peaches, em “Fuck the Pain Away”, ou o canadiano do Quebeque de Mylène Farmer, em “Fuck Them All”.
A segunda razão prende-se com o âmago da escola primária. Uma professora, nesses verdes anos, com um defeito físico, é uma bênção pedagógica. É meio caminho andado para o sucesso escolar 100% porque promove a empatia instantânea professor-aluno. Uma professora primária (conhecida pelo título de dona seguido pelo nome) vesga, gaga, manca, corcunda ou sem os dedos médio e anelar da mão direita cativa a atenção das crianças logo na primeira aula. O defeito será de imediato simulado no recreio. Qualquer Ministério da Educação sabe que a macaquice espevita a imaginação nos primatas superiores. E qualquer badameco em Psicologia Educacional defenderá que a imitação é a base do processo de socialização, e a imaginação, o atiçador da inteligência. Gozar com a professora primária é o ponto de partida para desenvolver aptidões que permitirão mais tarde trepar num partido político e alcançar cargos de orgulhar o pai. É “When We Were Young” (The Killers) que se torce o pepino para chegar à Presidência da República.
Uma sorte do caraças quis que os nossos políticos topo de gama (e os seus satélites que constituem o sopé da sociedade) fossem ensinados por professores da Tendência Liberal Renovadora Progressiva (o professor é o auxiliador do desenvolvimento livre da criança) d’ “Os 3 Estarolas”. Bons meninos replicam-lhes os trejeitos e o estado de espírito na sua actividade profissional. No país do recorde de euromilionários não faltam estarolas aptos para resolver qualquer enrascada. Depois de embrulhado e enlaçado o Tratado Reformador resta a Cimeira UE – África. Podia-se pensar como o rapper belga, James Deano, que “Les Blancs Savent Pas Danser” mas c’est faux. Por cá abana-se a cadeira e com ritmo. Portugal tem uma solução imaginativa para realizar a Cimeira vinda da "sempre pronta a ajudar” iniciativa privada. Fado deste só por cá. “Must Be The Moon” (do grupo !!!) … ou outra coisa qualquer, que nos faz tão sortudos. (A designação !!!, que se lê Chk Chk Chk, vem dos estalidos emitidos pelos bosquímanos do deserto do Kalahari ao falarem e que são representados nas línguas ocidentais pelo ponto de exclamação antes das palavras).
O porta-voz dos fazendeiros brancos da Rodésia amua se Robert Mugabe vier assistir à Cimeira em Lisboa. Gordon Brown ameaça: “se Mugabe for, eu de certeza que não vou estar presente e nenhum ministro do Governo estará presente”. No problemo! Agora existem empresas que resolvem estes embaraços. A Erento recruta desempregados, estudantes e reformados para trabalharem como figurantes nas várias exigências da vida democrática. No final do ano passado, a Associação dos Médicos Alemães organizou uma manifestação, em frente do Parlamento, contra a nova Lei de Saúde de Angela Merkel, que reuniu cerca de 200 participantes. Cento e cinquenta deles foram “manifestantes profissionais”, contratados na Erento, com bata branca e estetoscópio. As vantagens deste sistema são enormes. Liberta quem protesta para uma ida às compras ou um dia de lazeira em casa, e permite ao cliente escolher as características físicas dos manifestantes. Mais bonitos ou mais feios, mais homens ou mais mulheres, mais novos ou mais velhos etc. Desta forma a democracia aprimora-se. Para atingir o pleno, para ser perfeita, perfeita falta apenas abolir o voto. Aí seria “Ice Ice Baby” (do Vanilla Ice).
Uns são salvos pelo sino. Outros são salvos pela democracia. Os ingleses de tudo fazem para entenebrecer os nossos adimplementos mas desta vez lixaram-se. Primeiro, mofaram da nossa Polícia, e agora querem sabotar a nossa Cimeira. São uns criançolas que se recusam crescer. Acreditam viver nos tempos do Império e do Mapa Cor-de-rosa. Mas um povo instruído na localização do esternocleidomastoideu (e de outras maravilhas de espantar as tias de Trás-os-Montes) vai trocar-lhes as voltas. Se Gordon Brown e a sua banda embezerrarem e não aparecerem é fácil substituiu uns políticos ingleses por figurantes. Afinal tem sido esse o seu papel na cena mundial – figurantes nas guerras dos Estados Unidos. Fomos safos pela evolução da democracia e somaremos mais um êxito na liderança da Europa. Entretanto, com cimeira ou sem cimeira, o cabo-verdiano Ferro Gaita continua a ser o melhor grupo africano.
9 Comments:
At 2:14 da tarde, Táxi Pluvioso said…
O Ministério da Educação retirou a professora Conceição Marques do serviço, acho uma medida precipitada, e lesiva dos interesses do contribuinte. Cientistas provaram que o corpo humano até aos dez cancros está apto para trabalhar. Ao décimo primeiro, as opiniões divergem em salutar dialéctica e torna-se uma questão futebolista, como tudo na vida e na ciência. Cada um escolhe o seu campo.
Fui a várias juntas médicas sem lhes ligar importância alguma. Se eu soubesse que não eram compostas por médicos, mas poderiam albergar pedreiros e carpinteiros, teria levado umas minis e torresmos para a patuscada.
Armando o post com Blues ainda está em stand-by. Creio que não será o próximo. Queria escrever sobre a nossa polícia. E para esses, que já não têm apenas a 4ª classe, tem que levar de Stockhausen para cima, no mínimo.
Vê-los no festival Putin, a fechar ruas e a guardar o dignitário cossaco, faz-me ficar tão orgulhoso, sobretudo dos “géninhos”. No tempo do Salazar a GNR era tão gozada. É vê-los hoje, bem escanhoados, sem pança, a falar em termos técnico-policiais ou em estrangeiro. Uma maravilha.
Um sinal indesmentível de progresso. O puto no filme O Sexto Sentido dizia: “I see dead people”. Nós podemos dizer: só vejo progresso.
At 10:26 da tarde, Anónimo said…
Só para reafirmar, mas de fato e gravata:
The Economist:
Surrealista pretender Tratado não é Constituição
Pretender que o tratado reformador da União Europeia (UE) não é a velha Constituição modificada num ou noutro ponto e com novo nome, só para não ter que submeter o texto a referendo é «surrealista», escreve hoje o semánario The Economist em editorial.
O semanário compara o ocorrido com o famoso quadro surrealista do belga René Magritte que representa a um cachimbo e em que aparece por baixo uma legenda a dizer «Ceci n´ est pas une pipe» (Isto não é um cachimbo).
Mais «surrealista» que a atitude dos políticos que negam que o novo texto seja uma constituição é a reacção dos votantes da Europa continental, que antes protestavam contra o anterior esboço de constituição e «agora encolhem os ombros».
«Menos de uma semana depois, comenta a revista, muitos dos conjurados de Bruxelas renunciaram já ao subterfúgio, assegurando que, no fim de contas, se trata de uma constituição».
Para o semanário britânico, independentemente do que cada um possa pensar sobre o texto, «trata-se de uma farsa, que tem para além disso consequências que rebaixam a Europa».
«No fim de contas trata-se da maior economia do mundo, e dentro de 10 anos, o «arranjo» acordado em Lisboa poderá ter um forte impacto no modo de actuar da UE», adverte o The Economist.
A revista sublinha que «em vez de simplificar a arquitectura legal da UE, devolver alguns poderes aos Estados membros e fazer a política mais inteligível para os votantes, fez-se exactamente o contrário».
«A opacidade do novo tratado não é um mero acidente, mas a sua razão de ser. Depois de não ter conseguido persuadir os votantes com frases ribombantes e pouco habitual sinceridade (..), os líderes europeus regressaram à sua anterior estratégia, consistente embutindo uma vasta quantidade de inovações e emendas num texto legal ilegível.»
O semanário recorda que quase uma dezena de governos europeus prometeram submeter a constituição a referendo e acusa-os de falta de honestidade quando dizem que o novo texto é tão diferente que não há razão para manter aqueles promessas.
«A única razão pela qual não haverá referendos, com excepção da Irlanda, é que com toda a probabilidade seriam perdidos, na Holanda, Reino Unido e tal vez outros lugares».
«Para uma instituição em que a legitimidade e a responsabilidade são bens escassos, trata-se da pior desculpa possível», acrescenta o «The Economist».
O semanário comenta que «ironicamente, o país que o tratado menos vai afectar é o Reino Unido», graças às chamadas «auto-exclusões» (opting-outs) que conseguiu negociar, ainda que esteja por comprovar, que o texto será menos intrusivo» no seu caso.
«Se for ratificado, o tratado permitiria à UE dedicar-se a assuntos importantes como a ampliação, a reforma económica o que fazer com a Rússia, causas também defendidas pela Grã-Bretanha», acrescenta.
«E contudo, trata-se basicamente da mesma constituição, e o governo britânico prometeu fazer um referendo, apesar dos desmentidos do Primeiro-Ministro Gordon Brown», conclui a revista, que advoga uma consulta popular «agora».
At 3:42 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Sempre disse que a democracia é um regime político quase perfeito, mas tem um pequeno senão – o voto. Se abolissem o voto seria o regime perfeito. (A coisa onde não caberia mais perfeições como o Deus de Descartes ou Espinosa).
Na faixa de Gaza (que desapareceu do mapa porque desapareceu das nossas televisões) tiveram um exemplo disto. Mas seguir-se-á Cuba e todos os sítios onde não vençam os certos.
Em vez das patacoadas do Winston Churchill sobre a democracia prefiro o cínico Alan Corenk: “democracy consists of choosing your dictators, after they’ve told you what you think it is you want to hear”.
Não há democracia sem primeiro nos ensinarem o que devemos pensar para que a escolha seja correcta, ou após as eleições chegam as sanções económicas e, se forem mesmo chatos, uns bombardeamentos.
O quadro de Magritte exemplifica muito bem a forma dos políticos lidarem com o povinho.
Lembro-me dos americanos a justificar que os seus interrogatórios não são tortura. A asfixia, choque eléctricos, privação de sono etc. não é tortura, se for feito, com jeitinho, por agente da CIA, mas se for por um Guarda da Revolução, o conceito readquire o sentido original.
At 12:37 da tarde, Ana Cristina Leonardo said…
entretanto, parece que os turcos acordaram para a realidade e andam à pancada com os curdos.
At 3:30 da tarde, Táxi Pluvioso said…
Mas os americanos estão em cima do assunto para controlar o número de mortos. Não vá acontecer outro "genocídio" e os lawmakers made in USA fiquem indecisos na votação, como lhes sucedeu com os arménios (também foi uma insurreição, na História turca, not genocide) do início do século XX.
Aproveito para explicar que o defeito, de não ter os dedos médio e anelar da mão direita, na descrição da professora primária ideal é, claro, uma referência ao filme Amarcord de Fellini. Onde um tipo não tinha esses dois dedos e fazia uma curiosa saudação fascista. (Se é que essa cena ainda consta do filme. A última vez que o vi faltavam algumas partes, daquelas que me lembro ter visto, no tempo em que os cinemas tinham filmes).
At 2:38 da tarde, Armando Rocheteau said…
Continuo então à espera do post com blues. No entretanto delicio-me com o teu, sempre acutilante, humor.
At 10:30 da tarde, Anónimo said…
De certa forma, a Turquia é o que sobrou do Império Otomano como o Reino Unido é o que restou do Império Britânico.
Paralelamente, acho que vale a pena seguir o que se vai passando com o Partiya Jiyana Azad a Kurdistanê (Party of Free Life of Kurdistan) que os States financiam e armam para melhor roerem os calcanhares do Irão. Em 2006 mataram 120 soldados de Teerão.
É que este PJAK é membro da Confederação Democrática do Curdistão(Koma Civakên Kurdistan/KCK) liderada pelo PKK.
At 10:47 da tarde, Anónimo said…
(cont.)
Ver PJAK na Wikipedia e complementar com PJAK no You Tube.
A procissão do Senhor dos Passos no Iraque ainda nem saíu da mesquita quanto mais do adro.
Só mais 2 achegas: o Curdistão abrange uma área 3 a 6 vezes maior que a de Portugal e tem o triplo da população.
At 6:43 da manhã, Táxi Pluvioso said…
Wbush e orquestra já devem ter lamentado a precipitação de enforcar Saddam. Realmente esse acto só pode ser explicado em termos psicológicos, e não como estratégia política para redesenhar um mapa favorável para Israel, e muito menos uma estratégia militar contra a al Qaeda. Aliás, a invasão criou a al Qaeda in Iraq, que era coisa que não existia e não foi produto da concretização da teoria do papel mata-moscas (os terroristas de todo o mundo precipitar-se-iam para o Iraque e seriam combatidos pelos valorosos Marines num único sítio). Era um grupo novo feito com a prata da casa. E a afluência de militantes da al Qaeda para o Iraque não foi significativa.
Saddam dava muito jeito agora para iniciar uma guerra amiga do ambiente. A hipótese de bombardear o Irão será custosa e demorada. Terão de destruir todos os sistemas de defesa que possam lançar objectos não kosher para Israel. Não chega bombardear os locais das centrais nucleares, os iranianos não ficariam de braços cruzados com armas que pudessem usar, e tem que ficar tudo arrasado do ar, porque os americanos não têm capacidade para mais uma invasão terrestre (nem o Pentágono nem a Blackwater).
A central nuclear tem a sua piada. Parece ser um edifício em voga na zona. Um verdadeiro maná para os empreiteiros familiarizados com o modelo de construção norte-coreano (começa a ser construída pelo telhado, diz a inteligência dos serviços secretos). Até na Síria elas nascem.
Os curdos são outros que bem podem esperar sentados por um Estado independente. Entretanto inserem-se na filosofia da Casa Branca, quem não está por mim, está contra mim. Se atacarem no Irão são freedom fighters. Na Turquia, são terroristas e não tenho dúvidas que o seu será substancialmente reduzido nos próximos dias.
Gostei da forma como os turcos agarraram os americanos, by the balls, como mandam os livros. Até Condoleezza Rice, que, em princípio, nada tem pendurado nessa zona, sentiu dor. Ou paravam com as questões semânticas no Congresso sobre o genocídio de arménios, ou as rotas de abastecimento dos soldados no Iraque e no Afeganistão fechavam, foi de mestre e calou-os.
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