Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sábado, novembro 03, 2007

Polícias meiguinhos
O polícia revelou-se mais importante que os brócolos para um crescimento saudável da nossa sociedade. Quem não se lembra da insegurança nas ruas? Aonde nada era sagrado. Nem o chapéu do gentil-homem, nem a honra da donzela, nem a bolsa da velhinha, e tão-pouco a verticalidade do polícia. Ouvia-se, horrorizados, frases destas: “quando um polícia se torna assassino você tem o direito de permanecer calado… para sempre”. (A série Maniac Cop produziu três magníficos filmes sobre polícias. Curiosamente não se degradou nas sequelas. Maniac Cop 3 tem as melhores cenas do cinema de good versus bad). Estes acagaçados tempos são águas (recicladas) passadas. Hoje respiramos segurança. Até o omnisciente mercado envia essa mensagem. Os mais assustadiços têm solução, nas televendas, comprando engenhoso suporte, para levar a arma para a cama. Mas de uma maneira geral o polícia vela, como uma cândida pomba, os nossos passos, suscitando um “Hot Kiss” (Juliette Lewis and the Licks) da segura sociedade.

Formosos e seguros vamos à fonte e… aos outros lados também. No Portugal da geração, que trocou os universais lençóis Teletubies, pelos patrióticos da bandeira nacional, as nuvens escuras têm de ser enxotadas do céu. Se… por improvável hipótese, houvesse uma má notícia relativa ao nosso país, ela será transmitida, gentilmente, pelo jornal satírico The Onion, com o mesmo tacto que tiveram para com o uso do trabalho infantil pela GAP. Quem vive numa súbita riqueza, produto das nossas boas ideias executadas na prática (não andamos a pescar lagosta branca na Costa do Mosquito, na Nicarágua), merece uma atmosfera favorável. Nada deve conspurcar este opiáceo momento. Quando o primeiro-ministro viaja, a polícia tem a obrigação de atapetar o caminho com pétalas de rosa, como fez a GNR de Montemor-o-Velho. O diligente comandante do posto ordenou o afastamento dos manifestantes de Sócrates, para que palavras ofensivas, não fossem levadas pelo vento esgarrão, até ao dignitário. Co’a breca! Um primeiro-ministro não é mulher séria (da qual se dizia não ter ouvidos). Um primeiro-ministro tem a audição apurada de um tísico para auscultar as aflições do povo. E o doesto fere o “resgatável corpo num mundo em dissolução”. (Ah pois é! ver FAR in “O Mundo de Houellebecq” no 2+2=5 e na Pastelaria de Ana Cristina Leonardo). No iPod de um primeiro-ministro não encontramos “Amamdame côa paxaxa pus demtes” dos abrasivos portugueses Comme Restus.

Uns sindicalistas rabugentos da Federação Nacional de Professores, enfermeiros e da União de Sindicatos de Coimbra foram encanastrados por uma linda faixa “Restricted Area”, identificaram-nos e retiraram-lhes injuriosas faixas. Sócrates fora in loco descerrar uma placa comemorativa do lançamento de uma plataforma tecnológica de hidrogénio para a produção de energia. Uau! Impressiona. Sobretudo no país que tem a ventura de empilhar nas suas fileiras o maior corta-fitas do mundo (o histórico profissional Américo Thomaz). Um comandante de posto da GNR já não é um burgesso ou um animal azamboado pelas alterações climáticas. É um polícia que discutiria no bistro com Bernard-Henri Lévy, as vantagens do champô Garnier Ultra Suave, com óleo de abacate e manteiga de karité, na obtenção do penteado perfeito após a morte de Deus. Ou entenderia as mãos grandes de Rachmaninoff (tocado por Igudesman e Joo, alunos de Yehudi Menuhin). E cabriolaria com uma perna às costas todos ritmos do mundo: Afrobeat, Rumba congolesa, Kompa haitiana, Salsa, Afrijazz, Jazz Roots americano etc. Um GNR é tão intelectual que leu uns livros. Mas é tão intelectual, tão intelectual que reconhece a experiência zen do «4’ 33’’» de John Cage. Sentado na cadeira, ouve o arranhar do rato sob o soalho, o cricri do grilo na racha da parede, o barulho das luzes indirectas, o roncar do estômago da esposa ao lado sentada, o gargarejar do fantasma da ópera nas catacumbas etc. Quisesse Nossa Senhora do Carmo, que todos os GNRs se chamassem Dário, para podermos ugar em uníssono “My Friend Dario” (de Vitalic).

“A arte nunca está acabada, apenas abandonada”, dizia Leonardo da Vinci, da arte que lhe saía do atelier. José Sócrates explicou a sua: “o Partido Comunista confunde o direito de se manifestar com o direito de insultar. Não são a mesma coisa. O Partido Comunista não aprendeu nada, não evoluiu nada. Onde quer que eu vá fazem manifestações, utilizando os seus dirigentes sindicais”. E o caso fica arrumado, porque não se pode chamar “mentiroso” ao primeiro-ministro da nação positiva. De facto, o positivismo saiu da bandeira nacional brasileira para as praias lusas, castigando-nos com a maré do progresso. Os nossos “pulos” evolutivos não comportam mutações retrógradas. Depois de morder a vitória, cuspimos nas derrotas. (A Selecção Nacional de Rugby participou no Mundial de França. Alcunhada “Os Lobos”, não ganhou um único jogo. Para ser recebida no aeroporto de Lisboa em apoteose foram contratados jovens numa empresa de casting e a febre de Portugal à noite e dia sobe para Fahrenheit 451). De país derrabado, alimentado a mendrugo, entramos na via do sempre em frente. Qualquer desfasamento entre o discurso e a realidade não é uma “mentira”, nem uma fantasia por comer sopas de Amanita Muscaria com vinho. É uma construção do mundo como vontade e representação schopenhaueriana, mas segundo o modelo dos seus poodles, Atma e Butz. Os que têm arte de boa vista vêem alguns dos 150 000 empregos prometidos no vídeo “22 Grand Job”, dos The Rakes.

O polícia está para o cidadão, assim como o cão está para o homem… é o melhor amigo. Eles prendem criminosos com se fossem preservativos. Com as novas pistolas Glock serão mais valentes que as mulheres do Curdistão (como abriu a época de caça ao curdo, a maior parte destas já devem estar mortas, por obra da mãozinha amiga dos EUA aos turcos. Geoff Morrell, porta-voz do Pentágono, dizia do apoio à Turquia: “demos-lhes mais e mais informações devido às suas preocupações recentes”). Um polícia admira, como todos os portugueses, Cristiano Ronaldo, depilado e oleado, no colchão deitado, justificando-se: “se eu não corresse. Se eu não treinasse. Se eu não me mexer. Se eu não me aplicar a fundo. Se eu não saísse do colchão. Eu não rendia”. Um polícia é como o Cristiano Ronaldo, na esquadra deitado, não rende. Tem que se mexer como uma laboriosa abelhinha. Nas terras pequenas, por exemplo, passa pelos sindicatos antes das manifestações para desejar boa sorte. O próprio ministro da tutela explicou a ida à sede do Sindicato dos Professores da Região Centro, na Covilhã, com este bzzzzzz da polícia. Numa terra pequena, onde todos se conhecem, o polícia é um compadre, não faz cerimónia. A ronda é feita em meio familiar: vai um copito, Sr. guarda? E umas lascas de presunto? A Covilhã é minúscula. Então à noite não é maior que um hotel em Benidorm, invadido por alunos do secundário com as hormonas destrambelhadas, numa roda-viva de troca de quartos e bêbedos vomitando nos corredores. O senhor ministro garante que os polícias são meiguinhos, acostumados ao contacto muito informal, mas promete institucionalizar as relações para que a repressão não seja arbitrária, mas abençoada pela mão do Estado de Direito. Os ministros e os polícias de hoje não são os javardos de outrora. Entre caracóis e canecas de cerveja são capazes de ouvir “Poème Électronique” do “colosso estratosférico do som”, como lhe chamava Henry Miller, Edgar Varèse.

Num mundo louco, que proporciona violentas cenas de sexo entre robots, como no vídeo “The Sex Has Made Me Stupid”, (do duo electro punk feminino inglês Robots in Disguise), mas também bonitas imagens neo-bucólicas ao som dos Dead Can Dance, um polícia é um porto de sanidade, por ser um simples homem. Enquadra-se nesta definição de Daniel Boone: “todo o que precisas para ser feliz é uma boa arma, um bom cavalo e uma boa mulher”. E os nossos são uma embaixada no estrangeiro como o vinho do Porto ou o trolha. Em Timor brilham como se viessem da “Land Down Under” (dos australianos Men at Work). No dia 27 de Outubro, uma multidão reuniu-se em Dilí para receber Vicente Reis. Herói da resistência foi fundador da Associação Social Democrata Timorense (ASDT) e, depois, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (FRETILIN). Vicente Reis morreu em 1979, pormenor que não demoveu a população, afinal foram cristianizados pelos portugueses e a ressurreição veio incluída juntamente com a posição do missionário. A GNR e Timor são duas jóias da coroa portuguesa. “It’s Not Over Yet” (dos Klaxons) as felicidades que nos darão.

7 Comments:

  • At 9:05 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    As cenas do filme Maniac Cop têm algo raro no cinema – imaginação. No final, depois de explodir com o bad guy, acender um cigarro com o seu braço é de morte.

    Meti o link para uma página com variados estilos de música do mundo. Tem jazz e muito mais para quem não está viciado na indústria americana. É simplesmente extraordinário e pode-se fazer download de borla.

     
  • At 3:37 da tarde, Blogger Ana Cristina Leonardo said…

    Resta-nos a resposta de Johnny Rotten: You can't arrest me, I'm a rockstar

     
  • At 8:05 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Não dá. A nossa maior pedrastar, José Castelo Branco, também é levada para as masmorras.

    E o amigo democrata dos americanos? Sempre apostei no Musharraf e nos outros promovidos a democratas com a queda dos prédios em Nova Iorque.

     
  • At 8:57 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Afinal os Estados Unidos, em vez do Iraque, deveriam ter invadido o Paquistão.

    Em relação a Musharraf, um bom militar é um militar morto.
    Estão sempre no cerne do conflito, que é a razão da sua existência.

     
  • At 4:35 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    O Musharraf é outro que tem os americanos presos pelas bolas.

    Dizem para as câmaras de TV, que por causa deste sobressalto democrático, vão rever o programa de ajuda económica ao Paquistão. E aparece a Condoleezza a explicar que na verba para apoiar a luta contra o terrorismo não se mexe. Ora, como todo o dólar USA vai para esse desígnio superior, os trocos do Musharraf não se alterarão.

    Também é verdade que ele não é um ditador, é um ditador (é preciso ser americano para perceber a diferença entre estas duas palavras).

     
  • At 1:50 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Repara nisto táxi.

    (sou o do arco da velha)

     
  • At 10:01 da manhã, Blogger Jasin Bibber said…

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