O Estado monárquico
O mundo tornou-se uma grande brequefesta para pessoas de conta bancária obscena e que a querem obscenizar ainda mais. A época da exploração sem limites está aberta. A caça ao trabalhador com o salário mais baixo é o motor que dá vitalidade à vida económica do início de século. E, faz o Capital circular pelo mundo na demanda do novo Santo Graal, isto é, do trabalhador ideal, aquele que trabalha de borla. Aquele que renderá o maior lucro, dinamizando as economias locais, através de providenciais deslocalizações, com pratos de arroz para os proletários e caviar para os capitalistas. A máxima do artista pop americano Andy Warhol – “making money is art” – finalmente se realiza. Os verdadeiros artistas surgem como personagens de uma ópera bufa de Gioacchino Rossini distribuindo soluções para os problemas dos outros e felicidade para todos no novel Shangri-La. Claro que “todos” é apenas uma maneira de falar na generalizadora linguagem democrática. A maior parte não tem acesso a esta papança para barracudas de dente mais afiado e hodiernos produtos financeiros em carteira. Uma verdadeira fauna do outro mundo. Por exemplo, o presidente do conselho de administração de uma empresa, pública ou privada, em vencimento, regalias, e pensões, é um alienígena, comparado com o porteiro que todos os dias lhe abre a porta.
Em tempos idos o liberalismo económico funcionou para os ingleses porque eles tinham os canhões. A supremacia militar para abrir mercados e impor as condições das transacções é fundamental numa economia de mercado livre. (Não pode haver Liberdade política, económica, religiosa etc. sem uma arma que a sustente). O melhor exemplo deste liberalismo foi a Guerra do Ópio (1840-1842), em que a Inglaterra vergou o imperador chinês às suas condições com umas canhonadas certeiras no palácio. O pobre homem derrotado assinou o tratado de Nanquim onde cedeu aos ingleses Hong-Kong, e a abertura ao comércio britânico dos portos de Cantão, Xiamen, Yangtsé, Fuchu e Xangai. E para o seu povo conseguiu o vício do ópio que durante décadas destruirá a China. No entanto, as trocas comerciais, a circulação de mercadorias e a acumulação de Capital seguiram de vento em popa.
Querer liberalismo sem armas é algo tão estranho como fazer omoletas sem ovos, comer batatas fritas sem ketchup ou esperar D. Sebastião em pé. Por isso, os Estados democráticos, que trocaram a escopeta pelo diálogo, perderam o seu poder, ficando nas mãos dos capitalistas (dos países que investiram no aperfeiçoamento do seu armamento) e fazendo dos seus políticos meros moços de recados. (O ponto alto dos portugueses situa-se no catering oferecido por Durão Barroso na cimeira das Lajes quando americanos, espanhóis e ingleses decidiam a invasão do Iraque). Estes políticos menores servem para vender património e privatizar tudo o que antes era considerado bem-comum. Neste novo conceito de Estado, sem bens que permitam o auto-financiamento, lança-se mão ao último expediente que resta, ou seja, derramar taxas e impostos sobre o povo. Tal como uma velha família real que vive abastadamente à custa dos impostos, o Estado transmuta-se no monarca dos novos tempos, que exige dos seus súbditos cada vez mais tributos para fazer face ao seu caderno de encargos, exponencialmente aumentados todos os anos com o fausto espectacular da sua manutenção. O rei exigia dinheiro para jóias, roupas e banquetes. O Estado exige-o para alimentar o novo pechisbeque: a Saúde, a Educação e a Segurança (e umas auto-estradas que não levam a lugar algum mas destroem o ambiente e dividem as aldeias ao meio). Só nos resta esperar que no futuro o Estado, tal como a família real inglesa, se torne numa curiosidade para atrair turistas, e vender revistas cor-de-rosa a empregadas de limpeza interessadas na vida dos ricos e glamourosos. Ultimamente no Japão e na Inglaterra assistimos à assimilação dos ritos sucessórios da realeza pelo Estado democrático. O cargo de Primeiro-ministro foi transmitido ao sucessor, por nomeação do cessante, em vez das louvadas eleições. É verdade que o lugar foi passado ao delfim mais querido mas, com o progresso, a consanguinidade voltará a ser o critério de herança do poder.
É aflitivo o espectáculo proporcionado pelos economistas portugueses aconselhadores de políticos, e alguns deles até pontificaram como ministros em Governos caídos no olvido, mas que banhados no Ganges, limpos de pecados e asnices passadas, aparecem a debitar teorias sobre reduções de défices. A mais conhecida é a do “arrastão para reduzir o défice”, ou seja, cortar a eito nas despesas e aumentar à parva os impostos (ou chamemos-lhes “taxas” para manter a promessa de não aumentar os “impostos”). Especialistas de alto gabarito da tralhoada vida académica portuguesa fazem jus aos seus antepassados. É apenas uma questão de lógica. Um povo que em oitocentos anos nada fez de importante, não pode de um momento para o outro, por artes mágicas, começar a dar cartas no mundo, numa matéria que ainda por cima envolve a matemática. Do meio académico não poderemos esperar soluções algumas para crises ou achaques da economia, porque os doutos espertalhões também perseguem aquela reforma dourada no fim do arco-íris após poucos anos de trabalho.
E para o Zé-povinho não vai nada, nada, nada? Excepto, mais uma canga no cachaço? Na impossibilidade de esperar protecção numa época em que só os que têm dinheiro se sentam à mesa da opípara festança da exploração global, resta-lhe reconhecer a vitória do Capital sobre o Trabalho. E, neste caso, a melhor forma de defesa é comprar uma boa arma. Agora, não há Robins dos Bosques enfiados nas florestas de Sherwood a roubar aos ricos para dar os pobres, (nem se pode esperar que o piedoso anelo do teórico do liberalismo, David Ricardo, se realize, e os ricos distribuam a riqueza livremente), todos terão de lutar pelo pão-nosso de cada dia.
O mundo tornou-se uma grande brequefesta para pessoas de conta bancária obscena e que a querem obscenizar ainda mais. A época da exploração sem limites está aberta. A caça ao trabalhador com o salário mais baixo é o motor que dá vitalidade à vida económica do início de século. E, faz o Capital circular pelo mundo na demanda do novo Santo Graal, isto é, do trabalhador ideal, aquele que trabalha de borla. Aquele que renderá o maior lucro, dinamizando as economias locais, através de providenciais deslocalizações, com pratos de arroz para os proletários e caviar para os capitalistas. A máxima do artista pop americano Andy Warhol – “making money is art” – finalmente se realiza. Os verdadeiros artistas surgem como personagens de uma ópera bufa de Gioacchino Rossini distribuindo soluções para os problemas dos outros e felicidade para todos no novel Shangri-La. Claro que “todos” é apenas uma maneira de falar na generalizadora linguagem democrática. A maior parte não tem acesso a esta papança para barracudas de dente mais afiado e hodiernos produtos financeiros em carteira. Uma verdadeira fauna do outro mundo. Por exemplo, o presidente do conselho de administração de uma empresa, pública ou privada, em vencimento, regalias, e pensões, é um alienígena, comparado com o porteiro que todos os dias lhe abre a porta.
Em tempos idos o liberalismo económico funcionou para os ingleses porque eles tinham os canhões. A supremacia militar para abrir mercados e impor as condições das transacções é fundamental numa economia de mercado livre. (Não pode haver Liberdade política, económica, religiosa etc. sem uma arma que a sustente). O melhor exemplo deste liberalismo foi a Guerra do Ópio (1840-1842), em que a Inglaterra vergou o imperador chinês às suas condições com umas canhonadas certeiras no palácio. O pobre homem derrotado assinou o tratado de Nanquim onde cedeu aos ingleses Hong-Kong, e a abertura ao comércio britânico dos portos de Cantão, Xiamen, Yangtsé, Fuchu e Xangai. E para o seu povo conseguiu o vício do ópio que durante décadas destruirá a China. No entanto, as trocas comerciais, a circulação de mercadorias e a acumulação de Capital seguiram de vento em popa.
Querer liberalismo sem armas é algo tão estranho como fazer omoletas sem ovos, comer batatas fritas sem ketchup ou esperar D. Sebastião em pé. Por isso, os Estados democráticos, que trocaram a escopeta pelo diálogo, perderam o seu poder, ficando nas mãos dos capitalistas (dos países que investiram no aperfeiçoamento do seu armamento) e fazendo dos seus políticos meros moços de recados. (O ponto alto dos portugueses situa-se no catering oferecido por Durão Barroso na cimeira das Lajes quando americanos, espanhóis e ingleses decidiam a invasão do Iraque). Estes políticos menores servem para vender património e privatizar tudo o que antes era considerado bem-comum. Neste novo conceito de Estado, sem bens que permitam o auto-financiamento, lança-se mão ao último expediente que resta, ou seja, derramar taxas e impostos sobre o povo. Tal como uma velha família real que vive abastadamente à custa dos impostos, o Estado transmuta-se no monarca dos novos tempos, que exige dos seus súbditos cada vez mais tributos para fazer face ao seu caderno de encargos, exponencialmente aumentados todos os anos com o fausto espectacular da sua manutenção. O rei exigia dinheiro para jóias, roupas e banquetes. O Estado exige-o para alimentar o novo pechisbeque: a Saúde, a Educação e a Segurança (e umas auto-estradas que não levam a lugar algum mas destroem o ambiente e dividem as aldeias ao meio). Só nos resta esperar que no futuro o Estado, tal como a família real inglesa, se torne numa curiosidade para atrair turistas, e vender revistas cor-de-rosa a empregadas de limpeza interessadas na vida dos ricos e glamourosos. Ultimamente no Japão e na Inglaterra assistimos à assimilação dos ritos sucessórios da realeza pelo Estado democrático. O cargo de Primeiro-ministro foi transmitido ao sucessor, por nomeação do cessante, em vez das louvadas eleições. É verdade que o lugar foi passado ao delfim mais querido mas, com o progresso, a consanguinidade voltará a ser o critério de herança do poder.
É aflitivo o espectáculo proporcionado pelos economistas portugueses aconselhadores de políticos, e alguns deles até pontificaram como ministros em Governos caídos no olvido, mas que banhados no Ganges, limpos de pecados e asnices passadas, aparecem a debitar teorias sobre reduções de défices. A mais conhecida é a do “arrastão para reduzir o défice”, ou seja, cortar a eito nas despesas e aumentar à parva os impostos (ou chamemos-lhes “taxas” para manter a promessa de não aumentar os “impostos”). Especialistas de alto gabarito da tralhoada vida académica portuguesa fazem jus aos seus antepassados. É apenas uma questão de lógica. Um povo que em oitocentos anos nada fez de importante, não pode de um momento para o outro, por artes mágicas, começar a dar cartas no mundo, numa matéria que ainda por cima envolve a matemática. Do meio académico não poderemos esperar soluções algumas para crises ou achaques da economia, porque os doutos espertalhões também perseguem aquela reforma dourada no fim do arco-íris após poucos anos de trabalho.
E para o Zé-povinho não vai nada, nada, nada? Excepto, mais uma canga no cachaço? Na impossibilidade de esperar protecção numa época em que só os que têm dinheiro se sentam à mesa da opípara festança da exploração global, resta-lhe reconhecer a vitória do Capital sobre o Trabalho. E, neste caso, a melhor forma de defesa é comprar uma boa arma. Agora, não há Robins dos Bosques enfiados nas florestas de Sherwood a roubar aos ricos para dar os pobres, (nem se pode esperar que o piedoso anelo do teórico do liberalismo, David Ricardo, se realize, e os ricos distribuam a riqueza livremente), todos terão de lutar pelo pão-nosso de cada dia.
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