Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sexta-feira, novembro 23, 2007

Os quase vestidos e os quase vivos

Einstein é sinónimo de génio. Todas as mães querem ter um na família. Qualquer aspirante a inteligente tem um poster dele na parede do quarto. Os Estados atropelam-se para contar um entre os rebanhos que pastejam. As oficinas de automóveis contratam-nos na hora. Mas, bem vistas as coisas, é muito cagaçal para nada, porque, ao contrário do que se pensa, a essencial fórmula do físico alemão não teve impacto algum nos assuntos humanos. Não lhe vemos rasto nas Ciências. A Filosofia passou-lhe ao lado. Então no quotidiano prático, nicles, nada, népia. Não, não é a fórmula da equivalência entre massa e energia, a célebre E = mc2, que até os Big Audio Dynamite cantaram. Mas de uma outra muito mais vital: “se A é igual a um sucesso na vida, então A é igual a X, mais Y, mais Z; sendo X o trabalho, Y o divertimento e Z manter a boca fechada”. (Na era dos cabarets e das Big Bands, a bomba loira, Ina Ray Hutton, sabia divertir-se “Doin’ The Suzy Q”. Entre 1934-39 ela foi chefe de orquestra das Melodears).

A fórmula A = X+Y+Z é tão vista como o canal Parlamento. Trabalhar, ao mesmo tempo ter prazer nessa actividade, e sobretudo não dizer disparates, para alcançar sucesso na vida, não faz parte dos planos do país da Marguerite Yourcenar de jeans e bota cano alto – a Carolina Salgado, a escritora das “Mémoires d’Hadrien” do norte. (Uma desopilada reflexão sobre triunfos na bola, poesia faducha e paixão no actual império português). Desde o leme da nação, ao rapaz que fecha as portas, atropelar a fórmula de Einstein, é palavra nossa de cada dia. Cavaco Silva vocifera conterrâneos, portugueses, emprestem-me os vossos ouvidos: “ainda há muito a fazer para o aproveitamento das riquezas do mar”. Vamos ao carapau e à amêijoa minha gente, que nas lotas privadas, até os cestos se vendem. (Tcharan! As minas de salmão dão à costa!). No outro extremo da escala social, Silva Pereira, ministro da Presidência do Conselho de Ministros, explicava que o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades foi uma “intensa sementeira” de comportamentos e valores que permitirá colher – no futuro – o “fruto saboroso de uma Europa mais justa”. Mnham, mnham… e a água cresceu nas bocas europeias desiguais. (The Nicholas Brothers trabalharam que se fartaram mas nunca atingiram o sucesso dos whities que também dançavam nos filmes de Hollywood. Na infância. Mais crescidos em “Lucky Number”. Adultos em “I've Got a Gal in Kalamazoo”. Com a orquestra de Glenn Miller, em “Chattanooga Choo Choo”, e com a de Cab Calloway em “Jumpin’ Jive”).

O director nacional da PJ, Alípio Ribeiro, tem desconto, porque não fala pela sua boca, traduz literalmente de Wbush. Avisou o alto funcionário lusitano: “somos uma boa retaguarda para todas essas pessoas. Somos um sítio de fuga, de esconderijo. Essas pessoas precisam de descansar, arranjar dinheiro e documentos. E nesse aspecto somos retaguarda. Recolhemos informações nessas áreas todos os dias”. As “these people”, abominadas pela administração americana, como se fossem as bruxas de Salém, vêem-nos como uma boa retaguarda. Unngh! Que dor, quando somos apreciados pelo nosso europeu traseiro, depois de gastar balúrdios em publicidade amigável para promover o país. Folhetos desdobráveis do Portugal turístico circulam pelas zonas tribais do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão, e inundam o Iraque. Hipnotizados pelas belezas naturais e hotéis baratos, os chefes da al Qaeda mandam os operacionais para o repouso do guerreiro nos nossos SPAs ou pensões com águas correntes quentes ou frias. Porém, Alípio Ribeiro tem razões para exultar e até disparatar. A sua PJ refulgiu caçando um “these people”. Mandados pelos serviços secretos italianos – os mesmos que descobriram ilusórias vendas de urânio no Níger em 2002 – apanharam um barbeiro argelino bem camuflado no Porto. Os “these people” têm pérfidas técnicas de integração nas inocentes comunidades. Ele parecia português. Diz o povo da Invicta que Samir Boussa trabalhava devagar e passava mais tempo no café do que a cortar gadelhas. Sob a protectora metralhadora Uzi de Alípio e os seus boys, fartos das superproduções La Féria, vamos ao teatro Apollo, no Harlem, para uma parada de estrelas.

O futebol é o único meio onde a fórmula de Einstein é respeitada. Após derrotarem a poderosa selecção da Arménia, os jogadores foram apupados pelos espectadores que viram um mau jogo. O pensador do grupo, Cristiano Ronaldo, perspectivou: “estamos em Portugal. Já sabemos que os portugueses são assim. Já jogo na Inglaterra há cinco anos e nunca fui assobiado por jogar mal”. “Woo Hoo” (dos The 5 6 7 8’s), educação não é apenas segurar o hambúrguer com o guardanapo, lembrou o crack. É também pagar o ingresso no estádio e sair ordeiramente. E pelo meio berrar por uns pobretanas sem dinheiro para apoio psicológico. Mais tarde, depois do empate sobre a poderosa selecção da Finlândia, Scolarão exasperou: “Portugal consegue a qualificação e o burro sou eu? O ruim sou eu? E Portugal qualificou onde? Na baía das almas? Ou vocês estão mal acostumados ou então não sei”. O mister elucida os jornalistas sobre a importância do “se”. (Se tivessem visto a Danica Patrick o Estádio do Dragão era um circuito automóvel). O treinador de Portugal explica: “porque não fizemos nenhum golo? Se não estivesse lá o guarda-redes, se calhar teríamos feito. Não percebo como vocês dizem que a Finlândia é ruim, a Sérvia é ruim, a Polónia é ruim ou a Bélgica é ruim. Mas pronto, acho que fomos maus. Se querem, fomos maus. Peço desculpa, mas não preciso de estar aqui". E navegou para fora da sala de imprensa. (Quando falta o amor de Scolarão é o momento ideal para o bolero “Anoche Me Quisiste” pela cantora, nascida em Nova Iorque mas naturalizada cubana, Rosita Fornés, no filme de 1954, “Hotel Tropical”).

Vestidos pelo futebol, os homens portugueses não ficaram mais fortes, antes pelo contrário. A paixão pela beleza estonteante do Cristiano Ronaldo amaricou-os no bom sentido. Isto é, integrou-os no mundo moderno. Numa entrevista, Doris Lessing anunciava o novo sexo fraco. Dizia ela que a cultura feminista actual estava “continuamente a rebaixar e a insultar os homens”. Exemplificava desta forma: “estava numa sala de aula, com crianças de 9-10 anos, e uma mulher jovem explicava que a razão das guerras era a violência congénita dos homens”. Como consequência deste arrazoado, as raparigas sentavam-se “inchadas de complacência”, enquanto que “os rapazes encolhiam-se nas cadeiras, pedindo desculpa pela sua existência, pensando que esse seria o padrão das suas vidas”. (“Ain’t Going Down”, cantava erradamente a vedeta do country americano, Garth Brooks).

Sai o macho de cena mas entra a Ciência. Vivemos numa época bafejada pelo conhecimento científico que substitui os velhos métodos. Por exemplo, no caso do detector de infidelidade, que torna obsoleto o método artesanal da avózinha, preconizado pela rapper Riskay. Mesmo os homens de membros avantajados, (antigamente, Milton Merle ou agora, Colin Farrell), estão ameaçados pela tecnologia de ponta. A aliança entre Ciência e indústria produzem objectos contra os quais o homem não pode competir – os vibradores. Um objecto que já faz parte da tralha das carteiras das mulheres modernas junto do bâton, rímel, memory pen e telemóvel. A Jimmyjane apresenta modelos de metal à prova de água, silenciosos, discretos, que podem ser usados nos lugares públicos. Kate Moss comprou-lhes um modelo Little Something Gold. A Booty Parlor tem um leque variadíssimo que satisfaz as mais exigentes. Angelina Jolie prefere o modelo Classic Rabbit. Paris Hilton possui o modelo Minx com brilhantes Swarovski incrustados no cabo. Nesta economia de mercado a concorrência ao macho é feroz. E todos sabem como estas leis são cruéis extinguindo os inaptos para competir. Assim, como precaução, para continuar vivinhos da silva, é melhor seguir a velha sabedoria de Mao Zedong e juntar-se a eles. Os modelos para homem são bastante apelativos no electrodoméstico unissexo por excelência. Para o resto é “Pump It Up” como trovava Elvis Costello, na sua melhor época, em 1978.

9 Comments:

  • At 7:00 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Há quem diga que esta é uma letra sobre a masturbação:

    Pump It Up
    Elvis Costello

    I've been on tenterhooks
    Ending in dirty looks,
    List'ning to the muzak,
    Thinking 'bout this 'n' that.
    She said that's that.
    I don't wanna chitter-chat.
    Turn it down a little bit
    Or turn it down flat.

    Pump it up when you don't really need it.
    Pump it up until you can feel it.

    Down in the pleasure centre,
    Hell bent or heaven sent,
    Listen to the propaganda,
    Listen to the latest slander.
    There's nothing underhand
    That she wouldn't understand.

    Pump it up until you can feel it.
    Pump it up when you don't really need it.

    She's been a bad girl.
    She's like a chemical.
    Though you try to stop it,
    She's like a narcotic.
    You wanna torture her.
    You wanna talk to her.
    All the things you bought for her,
    Putting up your temperature.

    Pump it up until you can feel it.
    Pump it up when you don't really need it.

    Out in the fashion show,
    Down in the bargain bin,
    You put your passion out
    Under the pressure pin.
    Fall into submission,
    Hit-and-run transmission.
    No use wishing now for any other sin.

    Pump it up until you can feel it.
    Pump it up when you don't really need it.

     
  • At 3:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    http://doarcodavelha.blogspot.com/2007/08/agora-mesmo-15-dias-de-frias-down-in.html

     
  • At 3:40 da tarde, Anonymous Anónimo said…

  • At 5:41 da tarde, Blogger Ana Cristina Leonardo said…

    sem me querer meter numa conversa de homens, pois, grande post! (e este nem estava grande demais),
    mas tenho dúvidas sobre o einstein continuar a ser um paradigma das mães de família. acho que é mais o Gates ou assim hoje em dia

     
  • At 4:49 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    O homem acabou. Não é possível competir com um vibrador de 500 dólares. É mais do que o nosso querido ordenado mínimo.

    Na década de 60 pensava-se que a liberdade da mulher chegou finalmente via pílula contraceptiva, porque permitia uma vida sexual (como os homens) sem fazer babies. E cantou-se a revolução sexual e o free love. Mas, afinal, é o vibrador que vai libertar a mulher realmente, porque já não está dependente do humor do macho (se tem enxaqueca, se não lhe apetece, se que ver a novela, etc.).

    É verdade. As mães modernas gostariam um Bill Gates se o pimpolho tivesse cabeça para a matemática. Ou, se tais dotes não lhes conseguissem transmitir por via genética, um Cristiano Ronaldo ou um actor nos Morangos Com Açúcar. Sinal dos tempos.

     
  • At 11:15 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Se já não era fácil "lidar" com as mulheres, só faltava mais esta:

    A disfunção sexual afecta pelo menos duas vezes mais mulheres do que homens, mas no caso delas não há uma solução terapêutica eficaz, salvo em casos muito pontuais, disse à Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia.

    A disfunção sexual nas mulheres inclui problemas como a falta de desejo, dificuldade em atingir o orgasmo e dor ou desconforto durante as relações e estima-se que, no Sul da Europa, 30 por cento das mulheres tenham algum tipo de problema sexual.

    Nos Estados Unidos, os números chegam a atingir os 50 ou 60 por cento da população feminina.

    O especialista coordenou há cerca de dois anos um estudo da Sociedade Portuguesa de Andrologia que indicava que mais de um terço das portuguesas afirmavam ter falta de desejo, 32 por cento tinham dificuldade em atingir o orgasmo, outras tantas referiam uma diminuição da excitação ou da lubrificação e 34 por cento sentiam dor ou desconforto durante as relações.

    As mulheres habitualmente realizam exames médicos de rotina, mas quando se trata de problemas relacionados com a sua sexualidade o silêncio é frequente, observou o especialista, apontando a timidez, temor ou desconhecimento de possíveis soluções.

    O facto de as mulheres poderem ter relações sexuais mesmo quando têm disfunção, ao contrário dos homens, também evita a pressão do parceiro para uma ida ao médico.

    Os laboratórios tentaram imitar as soluções para as disfunções masculinas, ao desenvolver um comprimido cor-de-rosa, semelhante ao azul que combate a impotência masculina, mas o resultado foi um «insucesso».

    Havia respostas físicas, mas não se cumpriam os objectivos clínicos, já que «se regista mais lubrificação vaginal, devido à vascularização, mas o desejo da mulher tem outros factores complexos», explicou à Lusa.

    «Todo o mecanismo funcional e cerebral não é tão óbvio na mulher. Não funciona como às vezes se diz em relação ao homem - é só ligar o botão em 'on' e 'off'. A sexualidade feminina é muito contextualizada e pode, num determinado ambiente, funcionar de uma forma e num outro de maneira completamente oposta», sublinhou.


    Sugiro que as mulheres tragam um distintivo parecido com a solução que está/esteve pensada por os condutores consoante os acidentes que provocam.
    Ou então do género nazi: como as estrelas amarelas para judeus, vermelhas para comunistas e rosas para homossexuais.

    Senão ninguém se entende.
    Quem tiver ouvido de ferreiro nunca saberá se os gemidos de prazer são de dor ou se os de dor são de prazer.

     
  • At 1:42 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Isto está negro. Mas a tecnologia dá uma ajuda. Com vibradores ou dildos da Mi-Su entre 1 000 a 5 000 dólares é OBRIGATÓRIO ter prazer. Foi um truque muito usado pelos psicólogos lacanianos. O preço das suas consultas era tão elevado que os pacientes tinham de se curar em poucas sessões ou enfrentar a bancarrota.

     
  • At 5:30 da tarde, Blogger Armando Rocheteau said…

    Depois de um período sem net em casa, voltei a tempo de de ler este grande texto. Em crise de inspiração talvez te roube um naco para um post no 2+2=5.

     
  • At 3:22 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Ficar sem Internet equivale a faltar a salsa para temperar o grão. Dá direito a ir bater na porta da vizinha e pedir: “tem um raminho de megas que me dispense?”.

    Constatei com agrado que o pessoal do 2+2=5 não percebeu o texto. E ainda não mergulhei na alma profunda portuguesa.

     

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