Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sábado, agosto 11, 2012


Valentes nas histórias da carochinha  

A mouquice está tão bem repartida que as orelhas mais são enfeite que valhacoitos de som. Do lapantana ao sabedor, do ricalhouço ao pobretanas, do pedestre vivente ao desumilde ensolarado petisca-se de opilação timpânica: “não houve senão um diálogo de surdos, e o verdadeiro surdo não era Beethoven”, escreveu Jean Massin, o seu biógrafo, sobre o encontro entre o rei dos gazeteiros [1] e Goethe, na Boémia, na cidade termal de Teplitz a 20 de julho de 1812. De gerações diferentes, entenderem-se era impossível, Ludwig van Beethoven, 41 anos, inspirara-se no drama homónimo de Goethe para o seu “Egmont” e ambicionava conhecer o ídolo: “penso precisamente escrever-lhe a respeito de Egmont, que musiquei e isso apenas por afeição pelos seus poemas, que me fazem feliz. Mas quem pode suficientemente agradecer um grande poeta, jóia a mais preciosa de uma nação?”.
Johann Wolfgang von Goethe, 62 anos, poeta, dramaturgo, romancista, ministro do duque Saxe-Weimar não engolia o barulho heavy metal de Beethoven nem com caldo Maggi; o seu porta-voz, Carl Friedrich Zelter, sobre o cagaçal beethoviano: “espantamo-nos primeiro, depois encolhemos os ombros diante da exibição deste talento que não visa senão dar consistência a estas bagatelas” – “Pop That[2]. Foi outra geração, ainda mais nova, Bettina Bretano, 22 anos, “uma alma que bebe as ondas elétricas das almas carregadas de génio”, ajoelhara-se-lhe Goethe, e a quem Beethoven, “apesar da sua extrema feiura”, via ela, palpitara-lhe o coração – La nena de papi”: “Esa es la neeenaaa de papi le gusta to’o lo nuevo”, Tito El Bambino. Foi Bettina que os reuniu por insistência do sinfonista.
Escreveu ela a Goethe: “e agora, presta atenção, é de Beethoven que te quero falar, de Beethoven junto de quem esqueço o mundo e a ti próprio. É verdade que sou nova, mas no entanto, não me engano dizendo (o que talvez ninguém compreenda e não sabe hoje) que ele caminha muito à frente da civilização inteira. Alcançá-lo-emos alguma vez? Duvido”. Ele respondeu-lhe: “tu mostras muitas vezes uma teimosia, verdadeiramente estreita, e especialmente no que concerne à música: tu fabricas na tua pequena caneca caprichos improváveis – pelos quais não te quero fazer uma palestra nem entristecer”. No dia 14 de julho Goethe apeia-se em Teplitz: “de Teplitz, não há grande coisa a dizer, poucos homens e dentro deste pequeno número nada de extraordinário, assim vivo - só - só! só! só!”. Seis dias mais tarde, passeava de braço dado com Beethoven pela estação termal, quando se cruzam com a família imperial, e Goethe se inclina respeitosamente, Beethoven diz-lhe: “fique apenas no meu braço, eles devem-nos dar passagem, não você” [3].
A vénia entre os povos republiqueiros conquista-se a punho. Não embala do berço. Estes povos só reverenciam os líderes que constroem estradas históricas, Sampaio da Nóvoa, presidente da Comissão das Comemorações do 10 de junho, no próprio dia: “chegou o tempo de dar um rumo novo à nossa História. Portugal tem de se organizar dentro de si, não para se fechar, não para se fechar, mas para se abrir, para alcançar uma presença forte fora de si. Não conseguiremos ser alguém na Europa e no mundo se formos ninguém em nós”. – “Venha pregador, mate-me com a sua flecha envenenada / Mas eu danço sobre vaselina” [4]. A minha querida pátria “vai-se da peida” [5] regoada de chicheiro hegelianismo para superantes acelerações na rota das trocas mercantis. Este estilicídio escorre de uma revisão do “motor da economia”, outrora o patobravismo agora o vendíbil, Carlos Oliveira, secretário de Estado para o Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, na pastelaria Nata Lisboa - the world needs nata: “há uma noção de portugalidade importante neste produto (o pastel de nata), e que naturalmente a sua internacionalização fará também trazer essa mensagem, mas há acima de tudo também uma outra importante, que é, nós quando falamos hoje de produtos portugueses, falamos acima de tudo de produtos que acrescentam valor à economia nacional, que criam emprego, que criam potencial de exportação” [6].
A portugalidade do pastel de nata, nas tratorias, nos snack bars, nas alcoceifas, feirar-se-á com dinheiro à vista, será como fazer doce amor com o seu iPad, financiando “a visão para o Portugal do futuro” [7]. Dobrar o cabo das dificuldades verga-se pela curva do patriotismo, diz Paulo Portas: “nós como sociedade, Portugal, enquanto nação, só pode ultrapassar esta crise com uma atitude, não tenhamos espírito de facção, tenhamos uma atitude nacional, não nos preocupemos nem com cliques nem com grupos nem com partidos. Sejamos cada um de nós portadores de patriotismo todos os dias. Nós vamos sair desta situação juntos, enquanto nação, é isso que a imensa História de Portugal nos pede”. O refrém da História foi vascolejado por outro português, Oliveira Salazar, durante queda de Goa: “é horrível pensar que isso pode significar o sacrifício total, mas recomendo e espero esse sacrifício como a única forma de nos mantermos à altura das nossa tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, e encomendava-se ao Pai: “Deus não há de permitir que este militar (Vassalo e Silva) seja o último governador do Estado da Índia” [8].
A melhor cozinha para esbarbar os “momentos mais difíceis” do país é num tacho na estranja, escrevia Camilo Castelo Branco: “um grande patife, lá fora nunca deixa de ser um grande patriota”, abroquelava Durão Barroso: “penso que devem ser vistas estas reformas como uma grande oportunidade para Portugal. São de uma extrema complexidade. O momento é extremamente exigente, mas, se me permitem agora, falando também como português que sou, não abdico dessa condição, eu sei que Portugal, é nos momentos de grande exigência que Portugal dá o seu melhor. Eu costumo dizer às vezes que Portugal é melhor nos momentos excecionais do que nos momentos normais, se virmos a sua História. É por isso que queria muito sinceramente expressar a minha confiança e o apoio em nome da Comissão para este momento que é um dos momentos mais difíceis da História contemporânea de Portugal” – “This Isn’t Merock inglês, BuryTheLadybird. Bater no passado, é fácil, ele está morto, não pode defender-se, todos lhe pescam uma qualidade para, no presente, presentear o povo com ressonâncias idílicas do paraíso perdido, Cavaco Silva: “já fomos pioneiros da globalização, mas hoje teremos que encontrar, de novo, o nosso lugar no mundo”.
Na sua função de arrumador do povo, avistado o lugar: a chatinagem mundial, vender para o estrangeiro, vender ao estrangeiro, Cavaco Silva, tem a suprema missão de catar vitórias. Na partida da Seleção para a Polónia, para saciar a fome de golos no Euro 2012, espadeirou: “todos sabemos que é nos momentos particularmente difíceis que o povo português se agiganta e o mesmo irá acontecer com a Seleção Nacional de Futebol”. “Quero-vos lembrar que o vosso primeiro jogo é na véspera do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Um bom resultado seria, com certeza, uma alegria acrescida às cerimónias que vão ter lugar no nosso dia 10 de junho”. O primeiro-ministro Passos Coelho também tem história para contar, em Newark, para os luso-imigrantes: “conto muito com todos vós para nos ajudar neste processo. Em particular porque podem-nos ajudar a explicar que Portugal não é um país de se ir abaixo. É um país com uma História muito antiga. Somos dos povos mais antigos da Europa enquanto nação e iremos ser seguramente dos primeiros a vencer esta crise”.
Cavaco Silva é unha com carne com a História. É praticamente um amigo da família. Está todos os dias lá por casa. Ajustava ele contas com o Governo de José Sócrates: “não me congratulo pelo facto de a História me ter dado razão. Lamento, isso sim, que perante uma evidência tão objetiva e tão clara, interesses de ocasião, aliados a uma forma obstinada de ação política, tenham contribuído para que a palavra serena, firme e imparcial do presidente da República haja sido menosprezada” – “Here I Gorock de New Jersey, The New Royalty.
Porque estão aos papéis, os líderes políticos enfiam a cabeça na História. Cantou de galo do poleiro da História José Sócrates quando lhe perguntaram se recadejava para Angela Merkel: “pois tenho de responder desta forma. O meu país tem 8 séculos de História. O meu país não é subserviente com ninguém. O meu país só é subserviente com o seu povo e com aquilo que o povo tem a dizer. O meu país tem um compromisso com a Europa e por isso trabalha com a Alemanha de forma empenhada no projeto europeu. Lamento mas não acompanho o sentimento de alguma imprensa em Portugal. Não tenho um sentimento, nem provinciano, nem de inferioridade, relativamente a nenhum país” – “Last Breath For a Capuletmetalcore de Nice, França, Shoot The Girl First.
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[1] A 23 de maio de 1814, Beethoven estreia a terceira versão de “Fidelio”, Franz Schubert, com 17 anos, vendera os manuais escolares para comprar um bilhete.
[2] French Montana feat. Drake, Lil’ Wayne & Rick Ross: “(Drop that pussy bitch) / What you twerkin’ with? / Work, work, work, work, bounce / What you twerkin’ with”; “twerk” = dança chocalheira da padaria, de padarias fabricantes de muito pão, não de o papo seco de Hillary Clinton.
[3] Concluíram eles sobre o seu inútil encontro. Goethe: “o talento de Beethoven deslumbrou-me, mas é infelizmente uma personalidade bastante selvagem. Ele não está provavelmente errado ao considerar o mundo detestável, mas ainda assim, com os seus modos, não faz nada para o tornar mais agradável para si mesmo ou aqueles que o cercam”. Beethoven: “Goethe aprecia demais o ar da corte. Mais do que é apropriado para um poeta”, na revista Diapason nº 594.
[4] Verso de David Byrne, guitarrista dos Talking Heads. No dia 13 outubro de 1998, ele atuou no “Sessions at West 54th”, um programa de TV gravado nos Sony Music Studios na West 54th Street em Manhattan. O apresentador era o DJ Chris Douridas: “Fuzzy Freaky” ♪ “Making Flippy Floppy + entrevista 1” ♪ “Take Me to the River” ♪ “Help Me Somebody” ♪ “Dance on Vaseline” ♪ “Back in the Box” ♪ “entrevista 2 + Miss America” ♪ “entrevista 3 + Psycho Killer” ♪ “I Zimbra” ♪ {playlist} ▄ A segunda temporada do programa foi apresentada por ele, e nela, a 6 fevereiro de 1999, escabelou-se Tori Amos: “Precious Things” ♪ “iieee” ♪ “Past the Mission” ♪ “Caught a Lite Sneeze ♪ “Take To The Sky” ♪ “Cooling ♪ “The Waitress”.
[5] A MINHA QUERIDA PÁTRIA: “os camões / os aviões / e os gagos-coutinhos / coitadinhos // a pátria / e os mesmos / aldrabões / recém-chegados / à democracia social / era fatal // a pátria / novos camões / na governança / liderando / as mesmas / confusões / continuando / mesmo assim / as velhas tradições / de mau latim / da Eneida // enfim / sabem que mais? / pois / vou da peida”, Mário-Henrique Leiria.
[6] Cavaco Silva portugaliza outro pitéu em Mirandela: “da diferença nos produtos, da diferença nos sabores tradicionais, das diferenças da riqueza do património histórico e cultural. É o caso da alheira. Este é um saber que foi apurado ao longo de muitos séculos, que hoje está certificado, e os produtos são levados por esse estrangeiro fora, são exportados, estabelecem, como eu já disse, um elo de ligação com os portugueses da diáspora. No mundo da globalização, de forte concorrência, são elementos fundamentais da competitividade, a diferença, a criatividade e a inovação”. Aos jornalistas: “E todos nós sabemos que em Trás-os-Montes existem produtos de grande qualidade que podem de facto ser exportados. Quando nós olhamos a um concelho em particular, é obvio que o contributo para o crescimento económico pode ser pequeno. Mas quando consideramos os concelhos na sua globalidade, quando somamos todas as energias que podem vir de todas as partes do país, o efeito é muito substancial em relação ao país como um todo. E por isso eu acredito que mobilizando as energias de todas a parte do nosso país, nós havemos de conseguir ultrapassar as nossas dificuldades, prestando atenção àquilo que é muito particular de cada um dos concelhos, considerando também os aspetos de justiça e de solidariedade que são tão específicos daqui desta região de Trás-os-Montes. E por isso, a minha palavra aqui em Mirandela só pode ser uma palavra de esperança”.
[7] Vítor Gaspar, ministro das Finanças, na 4ª avaliação da troika: “precisamos de continuar a nossa agenda de transformação estrutural e mudar as estruturas no mercado do trabalho e as estruturas no mercado do produto, para conseguirmos chegar a um novo patamar de prosperidade que permita, em Portugal, a existência de bons empregos, com salários altos, só essa pode ser a visão para o Portugal do futuro”.
[8] Salazar acreditava nas histórias da carochinha que se contavam sobre os egrégios avós e o nobre povo valente que em Aljubarrota combatera cinco contra um os invasores espanhóis. Uma vitória só explicada por guerra de guerrilha e truques sujos, que desgastou as tropas de D. João I de Castela, engenhados por um descendente de uma família de frenopatas, D. Nuno Álvares Pereira. O primeiro da família, Gonçalo Rodrigues, era um guerreiro, combatia, violava, matava, pilhava. Certa vez, na divisão do saque desaveio-se com o fidalgo das partilhas e chamou-o fantasma. Que ele nos combates desaparecia, quando havia riqueza para dividir aparecia, como os fantasmas. O fidalgo lançou a mão à espada e D. Gonçalo escachou-o em dois. Fugiu para o reino de Leão. O filho dele, Rodrigo Gonçalves, tetravô de D. Nuno, foi alcaide do castelo de Póvoa do Lanhoso. Ausente na guerra, sopraram-lhe que a mulher, Inês Sanches, esfaqueava o matrimónio, ele acorre ao castelo e encontra-a na cama com um frade do mosteiro do Bouro. Ela recebia a confissão. Há 17 dias que o fradinho a confessava. D. Rodrigo ordena o fecho das portas e janelas do castelo e incendiou-o, matando os amantes, os parentes e a criadagem, que acusou de cumplicidade por não lhe avisarem de sua testa florir, e os animais domésticos. Salazar acreditava na valentia dos avoengos e Vassalo e Silva lixou-se em Goa, sem meios militares de defesa, e apenas discursos de Salazar: “e se, apesar de tudo, a União Indiana levar a guerra ao pequeno território, o que podem fazer as forças que ali se encontram ou vierem a ser concentradas? Bater-se, lutar, não no limite das possibilidades, mas para além do impossível. (…). Devemos isso a nós próprios, a Goa, à civilização do Ocidente, ao mundo, ainda que este se sorria compadecidamente de nós. Depois de afagar as pedras das fortalezas de Diu ou de Damão, orar na igreja do Bom Jesus, abraçar os pés do apóstolo das Índias, todo o português pode combater até ao último extremo, contra dez ou contra mil, com a consciência de cumprir apenas um dever. Nem o caso seria novo nos anais da Índia”. “Apesar da influência que os fatores geográficos exercem na História da humanidade, através de dois elementos fundamentais – as possibilidades de vida e as facilidades de defesa do agregado social –, são sempre os factos históricos, e não a configuração geográfica, que definem fronteiras, estabelecem direitos, impõem soberanias. E este é o caso português da Índia. Pretender a União Indiana que retroceda a História ao século de 500, apresentar-se hoje como existente potencialmente nessa data, ou arvorar-se em legítima herdeira dos dominadores que ali encontrámos, é uma construção de sonhadores estáticos, não de dinâmicos construtores de História, como pretendem ser os que do Reino Unido receberam um império. Se houvéssemos de aferir a legitimidade das soberanias pelas situações existentes cinco séculos atrás, que Estado, que nação, que soberania, que fronteiras, na Europa, na América, na Ásia ou na Oceânia, se poderiam manter ou ter direito a existir?”. Salazar vivia no mundo da fantasia histórica que confundia “Os Lusíadas” com a realidade. Para além da desproporcionalidade dos efetivos, português e indiano, Vassalo e Silva estava quase desarmado. As munições das armas ligeiras eram velhas e falhavam o alvo. A maioria dos postos de rádio estava inoperacional por falta de pilhas. Ninguém sabia manobrar a artilharia antiaérea, a Força Aérea transportou pessoal especializado através do Paquistão, chegado a Goa, nenhum deles sabia manejar aquele tipo de artilharia antiaérea. Não havia munições para as bazucas, na véspera da invasão, quando aterrou um avião com o respetivo reabastecimento, os soldados, em vez de projéteis, depararam-se com… chouriços.

cinema:

C’était un Rendez-vous” (1976), realizado por Claude Lelouch: uma corrida de carro através de 10,42 km, entre a saída do túnel do Boulevard Périphérique na Porta Dauphine em Paris até à praça do adro do Sacré-Coeur, para um encontro com uma mulher (Gunilla Friden, modelo sueca, mãe de Sarah Lelouch), ignorando limite de velocidade, semáforos, sentidos únicos, traços contínuos e passeios, “o princípio do filme era não parar”, a uma velocidade média de 77 km / hora. Lelouch gaba-se de ter atingido uma velocidade máxima de 160 km. Como não obteve a licença de filmagem, as ruas não foram fechadas ao trânsito por questões de segurança, então ele reduziu os riscos filmando pelas 5:30 do mês de agosto, quando a cidade estava menos movimentada. O carro é um Mercedes Benz 450 SEL 6.9 propriedade de Lelouch. Ele próprio está ao volante e junto vão o diretor de fotografia Jacques Lefrançois e o chefe maquinista Henri Quérol: “como éramos três dentro do carro amarrámo-nos como doentes”, diz Lelouch. A câmara, uma Eclair cam-flex 35mm, foi fixada no para-choques, no interior, tinham um telecomando que permitia controlar a abertura. O único ponto cego, sem visibilidade, eram as arcadas do Louvre, onde estava o assistente Elie Chouraqui com um walkie talkie, para avisar de algum obstáculo à passagem, mas que não funcionou: “tive uma sensação de angústia retrospetiva”, estremeceu Lelouch, quando Chouraqui lhe contou o percalço. “Estava pronto, evidentemente. Em caso de perigo extremo, não teria hesitado entre a vida e um filme. Portanto, um filme não é senão um filme”. Exemplo do cinéma-vérité, filmado num único take, sem montagem, na pós-produção foi inserido o som de um motor de um Ferrari 275 GTB para um maior efeito de velocidade. Para isso, a viagem foi repetida uma semana depois no Ferrari, o Mercedes fora escolhido porque a sua suspensão suave permitia uma imagem mais estável. O tempo, é a única condicionante do filme, dura 9 min 30 s, porque a bobine só tinha 10 min, e sobrara da rodagem de “Si c'était à refaire”, com Catherine Deneuve e Amouk Aimée. Quando lhe perguntaram se teve medo, Lelouch respondeu: “sim, estava com medo. Estava com medo de que se me acabasse a película”. Em 2006, Thierry Soave, dono da revista Auto Plus, desafiou Lelouch para uma repetição explicativa da proeza. Para o lançamento do Nissan 350Z, John Bruno, protegido de James Cameron, filmou, com seis câmaras, nas ruas de Praga, “The Run”, que também termina num encontro com uma mulher (Barbora Austová). – “Paris n’existe pas” (1969), com Serge Gainsbourg, Richard Leduc, Danièle Gaubert… estreia na realização de Robert Benayoun: parte do grupo dos surrealistas de André Breton desde 1949, funda a revista L’Age du cinéma em 1950 com Ado Kyrou, crítico de cinema na revista Positif na década de 60, colaborador dos Cahiers du Cinéma, onde publicou a sua lista dos melhores filmes, era anti-Godard e outros pesos da cultura, e entusiasta de Jerry Lewis. – Rita Alexander, a Champagne Girl de Bourbon Street em Nova Orleães nos anos 60, agora uma sexagenária: “eu era adolescente. Comecei aos 18 anos no Silver Frolics, depois fui para o Sho-Bar. Na verdade, comecei como número de intervalo no Sho-Bar, Tee Tee Red ensinou-me um pequeno número. Mas isso só durou duas semanas. (…) … para as strippers nunca havia qualquer concorrência. Nós desejávamos sempre o melhor umas às outras. Qualquer coisa que pudéssemos fazer por cada uma ao longo dos anos, fazíamos. (…). Lilly Christine influenciou-me muito. Ela foi a primeira stripper que vi quando eu tinha 16 anos”; no filme “Hot Thrills and Warm Chills” (1967), “filmado na cidade do pecado do hemisfério ocidental onde gajas e álcool podem ser obtidos com um piscar de olho”, (Nova Orleães, com uma aparição da banda dos anos 60 The Glory Rhodes), realizado por Dale Berry: “este génio louco produziu lixo épico, um após outro, começando em 1965 com ‘The Hot Bed’ e continuando até 1968, produzindo cerca de dois por ano, cada um deles flagrantemente lixo e brilhante”. – “The Filth and the Fury” (2000), “no dia 1 de dezembro de 1976, os membros da banda punk Sex Pistols foram entrevistados no programa Today da televisão britânica. Insultaram o apresentador, Bill Grundy, e usaram linguagem grosseira, levando os espetadores ofendidos a se queixarem”. Os Queen tinham cancelado a sua aparição no programa e Grundy, o primeiro tipo a entrevistar os Beatles na televisão, (na ITV Granada), foi testemunha acidental de uma das grandes entrevistas do século XX, com os quatro pistols sentados: Johnny Rotten, Steve Jones, Glen Matlock e Paul Cook; em pé, atrás, estão Siouxsie Sioux, Steve Severin, Simon Barker e Simone. Grundy ouviu das boas: “merda”, “velhote”, “bastardo imundo”, porco fodilhão”, e no dia seguinte parangonava o Daily Mirror: “The Filth and the Fury!” [1]. O título, alfinetou-o Julien Temple no seu filme, e estabeleceu o nome Sex Pistols. Rotten contextualizou a década: “no início dos anos 70, a Grã-Bretanha era um lugar muito deprimente. Estava completamente degradada, havia lixo nas ruas, desemprego total, quase todo o mundo estava em greve. Toda a gente fora criada com um sistema de educação que lhe dizia sem rodeios que, se você veio do lado errado do trilho… então você não tinha nenhuma esperança e nenhuma perspetiva de carreira”, e, no final da década, não importa os tomates eis as pistolas do sexo. O álbum dos Sex Pistols é editado em 1977, desde esse ano o punk não está morto (The Exploited), nem o estaleiro das obras do capitalismo: “há uma quantidade cada vez maior de pessoas que já não ‘servem’, nem mesmo para ser exploradas, ao mesmo tempo que lhes foram retirados todos os recursos para viver”, em “Sobre a balsa de Medusa”, Anselm Jappe. Em 1977, a rainha comemorava o jubileu de prata; em 2012, a rainha comemora o jubileu de diamante; 1977, o desemprego rondava os 5,7%, os jovens eram os mais atingidos; 2012, o desemprego ronda os 8,3 %, a juventude é a mais atingida; 1977, o rendimento das famílias registaram uma queda de 2,7%; 2012, o rendimento das famílias caiu 2,7%. Em 2012 “o estilo que começou como uma afirmação anti-moda está de volta na passerelle em força, e ele virou chique. (…). As casas de moda de Jean-Paul Gaultier, Balmain, Burberry e Balenciaga têm trabalhado bastantes espigões haute couture, pregos e couro preto na mostra de outono.” Theodor Adorno escrevia em 1944: “a indústria da cultura torna tudo igual”, em 1983, o corpo de Sid Vicious já se decompusera na tumba, e nas ruas de Londres o punk florescia como negócio: os okupas de Islington, business punks, cobravam duas libras a foto, Cyril snifa cola “para tornar o trabalho mais tolerável”, em 2012, os desvios espectacularizaram-se e comercializaram-se, o punk é um look: Rihanna, num McQ, outono 2011, um vestido de xadrez vermelho tartan com uma volumosa saia de pregas, com um punk touch, as meias pretas rotas, da casa Alexander McQueen, que modelizou a tendência para este ano. No entanto, alguns grupos (panfletos) insistem na estética: Tragedy, de Memphis, Tennessee ▄ Mindless, de Austin, Texas; Faiza Kracheni: “hoje você pode perseguir uma banda com a Internet, mas, ao mesmo tempo como que tira a excitação de ‘ei pá, ouve esta nova banda’, porque toda a gente ouve tudo e toda a gente é um crítico” ▄ Iron Lung, duo powerviolence de Seattle, Washington ▄ Fucked Up, de Toronto, Canadá ▄ Tyrades, de Buffalo, Nova Iorque ▄ RVIVR, de Olympia, Washington; Erica Freas: “nós fazemos um monte de outras coisas, trabalhamos em trabalhos de merda, tocamos em bandas e temos projetos a solo, cozinhamos boa comida, fazemos arte visual, andamos de bicicleta, somos voluntários nalgumas atividades que esperamos que modifiquem as nossas comunidades locais, dançamos, rimos muito, deprimimo-nos às vezes, dizemos um monte de merdas, algumas más outras boas e outras que são só merda mesmo”. Enquanto Johnny Rotten pouco prejudicava em Bruxelas em junho de 2011, na Indonésia, em Bandah Aceh, em dezembro “59 rapazes e 5 raparigas, fãs de punk rock, foram forçados a cortar o cabelo, tomar banho num lago, mudar de roupas e rezar”, estavam a ser “moralmente reabilitados” pela Sharia (lei islâmica). M. Fauzie, instrutor no campo policial de Lembah Seulawah: “vamos ensiná-los a acordar cedo, como comer corretamente e como comportar-se educadamente”. Arismunadar, 15 anos, perguntado se 10 dias de detenção lhe arrefecerão o ânimo: “ainda serei punk porque gosto” [2]. – Shridevi, em “Chandni” (1989). “Nascida Shree Amma Iyenger a 13 de agosto de 1963, é uma atriz indiana que já trabalhou em tamil, télugo, hindi, malaiálim e alguns filmes em canarês. Começando a representar aos quatro anos, [no filme tamil “Kandan Karunai” (1967)], fez a sua estreia como adulta no final dos anos 70 [ainda com treze anos em “Moondru Mudichu” (1976)]. Depois afirmando-se como uma das principais atrizes da década de 80 e começos de 90. Abandonou a indústria em 1997 para criar os filhos”. Alguma filmografia: “Padaharella Vayasu” (1978), “Malli, que acaba de finalizar o 10º ano, tinha apenas um sonho alimentado desde a infância: ser professora. Quando adolescente, ela apaixona-se pelo médico que vem à sua vila. No entanto, os seus sonhos são desfeitos quando descobre o seu verdadeiro carácter”. “Mosagadu” (1980). “Sadma” (1983), “Nehalata é uma jovem moderna que num acidente perde a memória e fica com a inteligência de uma criança de sete anos. Circunstâncias levam-na à prostituição e no bordel encontra Somu. Ele percebe que ela foi trapaceada para a profissão. Resgata-a e leva-a para a sua casa em Ooty e começa a tomar conta dela”. “Sree Ranga Neethulu” (1983). “Karma” (1986), “quando o carcereiro Vishwa Pratap Singh esbofeteia o terrorista aprisionado, Dr. Michael Dang, ele não percebe que modificou o seu próprio futuro, logo depois os seus filhos e nora são impiedosamente mortos pelo exército de Dang que o liberta da cadeia”. “Mr. India” (1987), “o filme abre com a revelação de que a violência tem aumentado na Índia, em que o vilão principal é Mogambo. Mogambo é um general brilhante, contudo insano, cujo objetivo é conquistar a Índia”. “Nigahen: Nagina Part II” (1989). “Gair Kanooni” (1989), “o comandante Kapil Khanna era um rígido executor da lei. A fim de obter provas contra o mafioso local, Don D’Costa, ele procura um favor do seu amigo do submundo Aazam Khan, um homem com um ouvido de ouro”. “Chaalbaaz” (1989), no duplo papel de Anju e Manju, “são gémeas separadas quando bebés por culpa da sua ama mentalmente retardada. Um tio malvado Tribhuvan mata os seus pais num acidente de carro. Ele educa Anju como uma rapariga tímida e facilmente assustadiça. Manju é criada num distrito como uma despreocupada dançarina de palco”. Dança na Filmfare. E o seu regresso em “English Vinglish” (2012).
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[1] A troca de última hora dos Queen pelos Pistols azedou Grundy. Glen Matlock escreve no seu livro “I Was a Teenage Sex Pistol”: “Grundy não queria entrevistar-nos. Não foi porque ele pensasse que o programa não devia transmitir nada sobre punk, mas que ele próprio não sabia o suficiente sobre isso e sentia que outra pessoa deveria fazer a entrevista”. Uma discussão com o produtor e Grundy perdeu. “Na altura em que ele foi para o ar já estava farto. Então desabafou a sua frustração em nós. Francamente, naquele ponto, ele estava-se nas tintas para tudo. Mais, ele obviamente tinha tomado uns copitos”.
[2]Porque as crianças indonésias são loucas por punk”: “enquanto as bandas punk no resto do mundo têm interesses comerciais, que muitas vezes parecem em contradição com a mensagem da música, na Indonésia, o verdadeiro espírito do punk, de que todos são donos da música e que todos podem tocar, vive”, a banda Marjinal (ao vivo) espicaça esse espírito, os seus CDs são distribuídos grátis nos concertos e ensinam as crianças: “por cinco dólares qualquer puto da rua na Indonésia pode ter um ukelele e cantar”. Punk indonésio: KeparatSuperman Is Dead → “Punk Hari Ini” ♪ “Kuta Rock City” ▄ Endank SoekamtiDisconnected → “Ego” ♪ “Glory” ▄ Veganheavy metal BurgerkillPee Wee Gaskins (nome do serial killer americano Donald Henry “Pee Wee” Gaskins, Jr. executado na cadeira elétrica em 1991, confessou entre 100 a 110 crimes, na sua autobiografia escreveu que tinha “uma mente especial” que lhe dera “autorização para matar”) ▄ TcukimayC.I.L.O.T.Gilang Sadewa.

música:

Uigures – alarados pelo Turquistão oriental “são um grupo étnico turcomano que vive na Europa oriental e Ásia central. Hoje, os uigures vivem principalmente na Região Autónoma Uigure de Xinjiang na República Popular da China [1]. Cerca de 80% dos uigures de Xinjiang vivem na parte sudoeste da região, na bacia de Tarim. A maior parte da comunidade uigure fora de Xinjiang, na China, está na comarca de Taoyuan, no centro sul da província de Hunan. Fora da China, existem importantes comunidades da diáspora uigure nos países centro asiáticos, Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. Comunidades menores encontram-se no Afeganistão, Paquistão e Turquia”. “O erudito russo Nikolai Nikolaevich Pantusov escreve que os uigures fabricaram os seus próprios instrumentos musicais, eles tinham 62 tipos diferentes de instrumentos musicais e em cada lar uigure costumava haver um instrumento chamado dutar”: do persa دو تار / dotār ( دو / do = dois, تار / tār = corda) é um alaúde de braço longo e duas cordas “nas origens do instrumento, no século XV, nas mãos dos pastores, as cordas eram feitas de tripas [2]. Com a vinda da Rota da Seda, as cordas eram feitas de seda torcida. Os instrumentos modernos têm cordas de seda ou nylon” [3].
Tocadores de dutar: Sanubar TursunAbdurehim Heyit → “Ketmaydu” ♪ “Weten” ♪ numa loja de instrumentos musicais em Kashgar: cidade no lado ocidental de Xinjiang, onde a esperança de vida do polícia era curta, “a polícia chinesa disse que o ataque à bomba que matou 16 polícias na região de Xinjiang … foi um ataque ‘suspeito de terrorismo’, quatro dias antes dos Jogos Olímpicos de Beijing” (2008): Abdurahman Azat, 34 anos e Kurbanjan Hemit, 29, foram executados pelo ataqueruas de Kashgarmúsica de rua ▄ “Spring In Kashgar[4]. “A China usou os ataques de 11 de setembro para justificar o endurecimento, com o que dizia serem extremistas, apoiados pela al Qaeda, que queriam trazer semelhante carnificina para Xinjiang, uma região fortemente muçulmana, com estreitos laços culturais com a Ásia central” [5]. Nicholas Bequelin, investigador da Human Rights Watch para a China: “o Governo chinês sempre aplicou rótulos aos uigures que se irritam com o seu domínio em Xinjiang. Primeiro, eram senhores feudais, depois eram fantoches dos soviéticos, depois eram contra-revolucionários, depois eram separatistas e depois do 11/9 tornaram-se terroristas”. Yan Haisen, nascido em Ürümqi, capital da província, um chinês descendente de uma família de Henan, resume o sentimento popular: “eles são um povo muito atrasado. Olhe para quantas crianças eles têm. Nós somos multados quando temos mais que uma, mas eles podem ter quantas quiserem. Nós temos que estar aqui para ajudá-los a desenvolver e trazer-lhes alguma cultura[6].
“O etnomusicólogo Peter Manuel caraterizava as novas formas de tecnologia baratas e facilmente reproduzíveis, como as cassetes áudio, que se espalharam pelo globo na década de 70, como ‘micro-média’. Os micro-média, argumentava ele, representam a ‘descentralização, democratização e dispersão’, proporcionando potenciais canais para a expressão e mediação de identidades locais, e são teórica e politicamente opostos aos velhos mass-média. (…). Juntamente com a produção local, à venda nos bazares uigures, estão numerosas importações. Filmes em hindi foram as primeiras modas estrangeiras a penetrar em Xinjiang depois da Revolução Cultural, após a abertura da fronteira paquistanesa, e durante a década de 80 grandes multidões podiam ser vistas assistindo-os na televisão em barracas de gelados no mercado de Kashgar, ou em restaurantes para viajantes de longo curso que ladeiam as estradas do deserto. A variedade de sons disponíveis aumentou constantemente durante os anos 90 com a abertura das fronteiras com os Estados da Ásia central, e maior acesso aos sons ocidentais. Em 2001, uma caçada ao longo das prateleiras de uma loja de música no mercado de Döng Kövrük podia revelar o ‘Never Mind the Bollocks’ dos Sex Pistols ao lado dos Gipsy Kings, country e western americano, canções folk uzbeques e pop turco”.
O musicómano Isaltino Morais no programa “5 para a meia-noite” c/ Nílton, durante o Optimus Alive Oeiras ’12, preleciona o alcance da multi-opção: “o que ouço? Não ouço música desta. Sei que agora estão a atuar os Stone Roses, ou acabaram de atuar… eu gosto de música mais calma. Eu gosto de tudo o que é música. Vamos lá ver, música que me agrade, que seja agradável ao meu ouvido, não é? que não me fira muito, porque eu já ‘tou um bocadinho surdo e portanto se ela é muito intensa, com os decibéis muito elevados, não aprecio particularmente”. Música pop uigure ▄ as Shahrizoda, transliteração de Sherazade, a narradora dos contos de “Mil e uma noites”, são três moças uzbeques, Muborak Ashurboeva, Shakhnoza Yuldosheva e Kamola Arslanova, vivendo em Ürümqi → “My Sorrow” ♪ “Voy Tosh” ♪ “Qalbim” ▄ Aytulan → “Guli” ♪ “Let me have a look” ▄ “Fora de seu hijab” ▄ rap: “Dutarim”, ART RAP feat. Zulpikar Zaitov ▄ “Uyghurum”, NUR feat. Jaffa (ART RAP)rock: QETIQAskar Grey Wolf, Askar Mamat vive em Beijing: “eu amo o meu povo, mas como músico, não quero limitar a minha música a um determinado grupo étnico. A minha música é rock que funde elementos culturais uigure e han”; sobre os motins na sua terra natal: “alguns amotinados até espancaram raparigas uigures de saias curtas, eles estão a tentar fazer de Xinjiang um Afeganistão controlado pelos taliban?” ▄ a dançarina Dilnar Abdullah ▄ meninas uzbeques “Yari gulla” ▄ Yulduz Usmonova, uzbeque, famosa na Ásia Central e Turquia, cantou em uzbeque, uigure, turco, russo, tajique, árabe, cazaque e tártaro, a filha, Nilufar Usmonova, também é cantora. 
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[1] Em 2009, zona de motins étnicos: “o Congresso Mundial Uigure, um grupo dissidente uigure com sede em Munique, Alemanha, condenou a repressão sobre o que é descrito, numa declaração escrita, como ‘protesto pacífico’ de domingo por uigures. ‘As autoridades chinesas devem reconhecer que o protesto pacífico foi provocado pelo espancamento e morte de trabalhadores uigures por uma turba numa fábrica de brinquedos de Guangdong mais de uma semana atrás’, disse o Congresso. ‘As autoridades também devem reconhecer que a sua incapacidade para tomar qualquer ação significativa para punir a turba chinesa pelo brutal assassinato de uigures é a verdadeira causa deste protesto”.  
[2] Outro alaúde é o tämbür, de cinco cordas: Nur Muhämmät Tursun, irmão de Sunabar Tursun.
[3] O dutar é da mesma família que o cavaquinho, os instrumentos de cordas dedilhadas, outro é o alaúde turco bağlama, também transnacional, “é geralmente tocado com um tezene (semelhante a uma palheta) feito de casca de cerejeira ou plástico. Nalgumas regiões é tocado com os dedos num estilo chamado şelpe”: Adem TosunoğluErol Parlak.
[4] “Ao longo dos próximos anos, dizem as autoridades locais, vão demolir pelo menos 85% deste labirinto pitoresco, se forem casas e lojas degradadas. Muitas das suas 13 000 famílias, muçulmanas de um grupo étnico turcomano chamado os uigures, serão deslocadas. No seu lugar erguer-se-á uma nova Cidade Velha, uma mistura de apartamentos de altura média, praças, becos alargados em avenidas e reproduções da antiga arquitetura islâmica ‘para preservar a cultura uigure’, disse o vice-presidente de Kashgar, Xu Jianrong”.
[5] Dezassete uigures foram hospedados pelos Estados Unidos em Guantánamo, e por uma questão de copyright, “os Estados Unidos não enviarão os detidos uigures inocentados para libertação para a China, com a preocupação de que eles seriam torturados pelas autoridades chinesas. A China diz que nenhum uigure retornado será torturado”. Enviaram-nos para as Caraíbas, para Guantánamo.
[6] Também habita em Xinjiang uma comunidade tuva, grupo étnico turcomano do sul da Sibéria, executantes de uma variante particular de canto harmónico, o canto gutural tuvano. “Houve poucas mulheres no canto gutural na história de Tuva, pois acreditava-se que uma mulher executando o canto gutural podia ferir os seus parentes do sexo masculino e causar-lhe dificuldades durante o parto”: Tyva Kyzy (“as filhas de Tuva”), grupo folk feminino fundado em 1998. Já entre os inuit, das regiões árticas do Canadá, Alasca e Gronelândia, são as mulheres as executantes do canto gutural: Tanya Tagaq, que vozeou com a Björk: “ela não sabe cantar, conheço a mãe dela desde criança e são ambas tresloucadas. O facto de ela ser tão conhecida fora da Islândia diz-me mais sobre o mundo do que sobre a própria Björk”, um professor de Finanças da Universidade da Islândia, citado por Michael Lewis em “Boomerang – uma viajem pelos países do Novo Terceiro Mundo: a Europa”. Artistas a solo são uma exceção, por regra, é duelos entre mulheres, o canto gutural inuit.