Valentes
nas histórias da carochinha
A
mouquice está tão bem repartida que as orelhas mais são enfeite que valhacoitos
de som. Do lapantana ao sabedor, do ricalhouço ao pobretanas, do pedestre vivente
ao desumilde ensolarado petisca-se de opilação timpânica: “não houve senão um diálogo de surdos, e o verdadeiro surdo
não era Beethoven”, escreveu Jean Massin, o seu biógrafo, sobre o encontro
entre o rei dos gazeteiros [1] e Goethe, na Boémia, na cidade termal de Teplitz a 20 de
julho de 1812. De gerações diferentes, entenderem-se era impossível, Ludwig van
Beethoven, 41 anos, inspirara-se no drama homónimo de Goethe para o seu “Egmont” e ambicionava
conhecer o ídolo: “penso precisamente escrever-lhe a respeito de Egmont, que
musiquei e isso apenas por afeição pelos seus poemas, que me fazem feliz. Mas
quem pode suficientemente agradecer um grande poeta, jóia a mais preciosa de
uma nação?”.
Johann Wolfgang von Goethe, 62 anos, poeta, dramaturgo, romancista,
ministro do duque Saxe-Weimar não engolia o barulho heavy metal de Beethoven nem com caldo Maggi; o seu porta-voz, Carl
Friedrich Zelter, sobre o cagaçal beethoviano: “espantamo-nos primeiro, depois
encolhemos os ombros diante da exibição deste talento que não visa senão dar
consistência a estas bagatelas” – “Pop That” [2]. Foi outra geração, ainda mais nova, Bettina Bretano, 22
anos, “uma alma que bebe as ondas elétricas das almas carregadas de génio”, ajoelhara-se-lhe
Goethe, e a quem Beethoven, “apesar da sua extrema feiura”, via ela, palpitara-lhe
o coração – “La nena de papi”: “Esa es la neeenaaa de
papi le gusta to’o lo nuevo”, Tito El Bambino. Foi Bettina
que os reuniu por insistência do sinfonista.
Escreveu ela a Goethe: “e agora, presta atenção, é de Beethoven
que te quero falar, de Beethoven junto de quem esqueço o mundo e a ti próprio.
É verdade que sou nova, mas no entanto, não me engano dizendo (o que talvez
ninguém compreenda e não sabe hoje) que ele caminha muito à frente da civilização
inteira. Alcançá-lo-emos alguma vez? Duvido”. Ele respondeu-lhe: “tu mostras
muitas vezes uma teimosia, verdadeiramente estreita, e especialmente no que
concerne à música: tu fabricas na tua pequena caneca caprichos improváveis –
pelos quais não te quero fazer uma palestra nem entristecer”. No dia 14 de
julho Goethe apeia-se em Teplitz: “de Teplitz, não há grande coisa a dizer, poucos
homens e dentro deste pequeno número nada de extraordinário, assim vivo
- só - só! só! só!”. Seis dias mais tarde, passeava de braço dado com Beethoven
pela estação termal, quando se cruzam com a família imperial, e Goethe se
inclina respeitosamente, Beethoven diz-lhe: “fique apenas no meu braço, eles
devem-nos dar passagem, não você” [3].
A
vénia entre os povos republiqueiros conquista-se a punho. Não embala do berço. Estes
povos só reverenciam os líderes que constroem estradas históricas, Sampaio da
Nóvoa, presidente da Comissão das Comemorações do 10 de junho, no próprio dia:
“chegou o tempo de dar um rumo novo à nossa História. Portugal tem de se
organizar dentro de si, não para se fechar, não para se fechar, mas para se
abrir, para alcançar uma presença forte fora de si. Não conseguiremos ser
alguém na Europa e no mundo se formos ninguém em nós”. – “Venha pregador,
mate-me com a sua flecha envenenada / Mas eu danço sobre vaselina” [4]. A minha querida pátria “vai-se da peida” [5] regoada de chicheiro hegelianismo para superantes
acelerações na rota das trocas mercantis. Este estilicídio escorre de uma
revisão do “motor da economia”, outrora o patobravismo agora o vendíbil, Carlos
Oliveira, secretário de Estado para o Empreendedorismo, Competitividade e
Inovação, na pastelaria Nata Lisboa - the world needs nata: “há uma noção de
portugalidade importante neste produto (o pastel de nata), e que
naturalmente a sua internacionalização fará também trazer essa mensagem, mas há
acima de tudo também uma outra importante, que é, nós quando falamos hoje de
produtos portugueses, falamos acima de tudo de produtos que acrescentam valor à
economia nacional, que criam emprego, que criam potencial de exportação” [6].
A
portugalidade do pastel de nata, nas tratorias, nos snack bars, nas alcoceifas, feirar-se-á com dinheiro à vista, será como
fazer doce amor com o seu iPad,
financiando “a visão
para o Portugal do futuro” [7]. Dobrar o cabo
das dificuldades verga-se pela curva do patriotismo, diz Paulo Portas: “nós
como sociedade, Portugal, enquanto nação, só pode ultrapassar esta crise com
uma atitude, não tenhamos espírito de facção, tenhamos uma atitude nacional,
não nos preocupemos nem com cliques nem com grupos nem com partidos. Sejamos
cada um de nós portadores de patriotismo todos os dias. Nós vamos sair desta
situação juntos, enquanto nação, é isso que a imensa História de Portugal
nos pede”. O refrém da História foi vascolejado por outro português,
Oliveira Salazar, durante queda de Goa: “é horrível pensar que isso pode
significar o sacrifício total, mas recomendo e espero esse sacrifício como a
única forma de nos mantermos à altura das nossa tradições e prestarmos o maior
serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidade de tréguas nem
prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que
apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, e
encomendava-se ao Pai: “Deus não há de permitir que este militar (Vassalo e
Silva) seja o último governador do Estado da Índia” [8].
A
melhor cozinha para esbarbar os “momentos mais difíceis” do país é num tacho na
estranja, escrevia Camilo Castelo Branco: “um grande patife, lá fora nunca
deixa de ser um grande patriota”, abroquelava Durão Barroso: “penso que devem
ser vistas estas reformas como uma grande oportunidade para Portugal. São de
uma extrema complexidade. O momento é extremamente exigente, mas, se me
permitem agora, falando também como português que sou, não abdico dessa
condição, eu sei que Portugal, é nos momentos de grande exigência que
Portugal dá o seu melhor. Eu costumo dizer às vezes que Portugal é melhor nos
momentos excecionais do que nos momentos normais, se virmos a sua História. É
por isso que queria muito sinceramente expressar a minha confiança e o apoio em
nome da Comissão para este momento que é um dos momentos mais difíceis da História
contemporânea de Portugal” – “This Isn’t Me” rock inglês, BuryTheLadybird. Bater
no passado, é fácil, ele está morto, não pode defender-se, todos lhe pescam uma
qualidade para, no presente, presentear o povo com ressonâncias idílicas do paraíso
perdido, Cavaco Silva: “já fomos pioneiros da globalização, mas hoje teremos
que encontrar, de novo, o nosso lugar no mundo”.
Na
sua função de arrumador do povo, avistado o lugar: a chatinagem mundial, vender
para o estrangeiro, vender ao estrangeiro, Cavaco Silva, tem a suprema missão de
catar vitórias. Na partida da Seleção para a Polónia, para saciar a fome de
golos no Euro 2012, espadeirou: “todos sabemos que é nos momentos
particularmente difíceis que o povo português se agiganta e o mesmo irá
acontecer com a Seleção Nacional de Futebol”. “Quero-vos lembrar que o
vosso primeiro jogo é na véspera do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Um bom resultado seria, com certeza, uma alegria acrescida às cerimónias que
vão ter lugar no nosso dia 10 de junho”. O primeiro-ministro Passos Coelho também
tem história para contar, em Newark, para os luso-imigrantes: “conto muito com
todos vós para nos ajudar neste processo. Em particular porque podem-nos
ajudar a explicar que Portugal não é um país de se ir abaixo. É um país com uma
História muito antiga. Somos dos povos mais antigos da Europa enquanto nação e
iremos ser seguramente dos primeiros a vencer esta crise”.
Cavaco
Silva é unha com carne com a História. É praticamente um amigo da família. Está
todos os dias lá por casa. Ajustava ele contas com o Governo de José Sócrates:
“não me congratulo pelo facto de a História me ter dado razão. Lamento, isso
sim, que perante uma evidência tão objetiva e tão clara, interesses de ocasião,
aliados a uma forma obstinada de ação política, tenham contribuído para que a
palavra serena, firme e imparcial do presidente da República haja sido
menosprezada” – “Here
I Go” rock de New Jersey, The New Royalty.
Porque estão aos papéis, os líderes políticos enfiam a cabeça na História. Cantou de
galo do poleiro da História José Sócrates quando lhe perguntaram se recadejava para
Angela Merkel: “pois tenho de responder desta forma. O meu país tem 8
séculos de História. O meu país não é subserviente com ninguém. O meu país só é
subserviente com o seu povo e com aquilo que o povo tem a dizer. O meu país
tem um compromisso com a Europa e por isso trabalha com a Alemanha de forma
empenhada no projeto europeu. Lamento mas não acompanho o sentimento de alguma
imprensa em Portugal.
Não tenho um sentimento, nem provinciano, nem de
inferioridade, relativamente a nenhum país” – “Last Breath For a Capulet”
metalcore de Nice, França, Shoot The Girl First.
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[1] A 23 de maio de 1814,
Beethoven estreia a terceira versão de “Fidelio”, Franz Schubert, com 17 anos, vendera
os manuais escolares para comprar um bilhete.
[2] French Montana
feat. Drake, Lil’ Wayne & Rick Ross: “(Drop that pussy bitch) / What you
twerkin’ with? / Work, work, work, work, bounce / What you twerkin’ with”; “twerk” = dança
chocalheira da padaria, de padarias fabricantes de muito pão, não de o papo
seco de Hillary Clinton.
[3] Concluíram eles sobre o
seu inútil encontro. Goethe: “o talento de Beethoven deslumbrou-me, mas é
infelizmente uma personalidade bastante selvagem. Ele não está provavelmente
errado ao considerar o mundo detestável, mas ainda assim, com os seus modos,
não faz nada para o tornar mais agradável para si mesmo ou aqueles que o
cercam”. Beethoven: “Goethe aprecia demais o ar da corte. Mais do que é
apropriado para um poeta”, na revista Diapason nº 594.
[4] Verso de David Byrne,
guitarrista dos Talking
Heads. No dia 13 outubro de 1998, ele atuou no “Sessions at West 54th”, um programa
de TV gravado nos Sony Music Studios na West 54th Street em Manhattan. O
apresentador era o DJ Chris Douridas: “Fuzzy Freaky” ♪ “Making Flippy Floppy + entrevista 1” ♪ “Take Me to the River” ♪ “Help Me Somebody” ♪ “Dance on Vaseline” ♪ “Back in the Box” ♪ “entrevista 2 + Miss America” ♪ “entrevista 3 + Psycho Killer” ♪ “I Zimbra” ♪ {playlist} ▄ A segunda temporada do programa foi apresentada
por ele, e nela, a 6 fevereiro de 1999, escabelou-se Tori Amos: “Precious Things” ♪ “iieee” ♪ “Past the Mission” ♪ “Caught a Lite Sneeze” ♪ “Take To The Sky” ♪ “Cooling” ♪ “The Waitress”.
[5] A MINHA QUERIDA PÁTRIA: “os
camões / os aviões / e os gagos-coutinhos / coitadinhos // a pátria / e os
mesmos / aldrabões / recém-chegados / à democracia social / era fatal // a
pátria / novos camões / na governança / liderando / as mesmas / confusões / continuando
/ mesmo assim / as velhas tradições / de mau latim / da Eneida // enfim / sabem
que mais? / pois / vou da peida”, Mário-Henrique Leiria.
[6] Cavaco Silva portugaliza
outro pitéu em Mirandela: “da diferença nos produtos, da diferença nos sabores
tradicionais, das diferenças da riqueza do património histórico e cultural. É
o caso da alheira. Este é um saber que foi apurado ao longo de muitos
séculos, que hoje está certificado, e os produtos são levados por esse
estrangeiro fora, são exportados, estabelecem, como eu já disse, um elo de
ligação com os portugueses da diáspora. No mundo da globalização, de forte
concorrência, são elementos fundamentais da competitividade, a diferença, a
criatividade e a inovação”. Aos jornalistas: “E todos nós sabemos que em
Trás-os-Montes existem produtos de grande qualidade que podem de facto ser
exportados. Quando nós olhamos a um concelho em particular, é obvio que o
contributo para o crescimento económico pode ser pequeno. Mas quando
consideramos os concelhos na sua globalidade, quando somamos todas as energias
que podem vir de todas as partes do país, o efeito é muito substancial em relação
ao país como um todo. E por isso eu acredito que mobilizando as energias de
todas a parte do nosso país, nós havemos de conseguir ultrapassar as nossas
dificuldades, prestando atenção àquilo que é muito particular de cada um dos
concelhos, considerando também os aspetos de justiça e de solidariedade que são
tão específicos daqui desta região de Trás-os-Montes. E por isso, a minha
palavra aqui em Mirandela só pode ser uma palavra de esperança”.
[7] Vítor Gaspar, ministro
das Finanças, na 4ª avaliação da troika: “precisamos de continuar a nossa
agenda de transformação estrutural e mudar as estruturas no mercado do trabalho
e as estruturas no mercado do produto, para conseguirmos chegar a um novo
patamar de prosperidade que permita, em Portugal, a existência de bons empregos,
com salários altos, só essa pode ser a
visão para o Portugal do futuro”.
[8] Salazar acreditava nas
histórias da carochinha que se contavam sobre os egrégios avós e o nobre povo
valente que em Aljubarrota combatera cinco contra um os invasores espanhóis.
Uma vitória só explicada por guerra de guerrilha e truques sujos, que desgastou
as tropas de D. João I de Castela, engenhados por um descendente de uma família
de frenopatas, D. Nuno Álvares Pereira. O primeiro da família, Gonçalo Rodrigues,
era um guerreiro, combatia, violava, matava, pilhava. Certa vez, na divisão do
saque desaveio-se com o fidalgo das partilhas e chamou-o fantasma. Que ele nos
combates desaparecia, quando havia riqueza para dividir aparecia, como os
fantasmas. O fidalgo lançou a mão à espada e D. Gonçalo escachou-o em dois. Fugiu para o
reino de Leão. O filho dele, Rodrigo Gonçalves, tetravô de D. Nuno, foi alcaide do castelo de Póvoa
do Lanhoso. Ausente na guerra, sopraram-lhe que a mulher, Inês Sanches, esfaqueava
o matrimónio, ele acorre ao castelo e encontra-a na cama com um frade do
mosteiro do Bouro. Ela recebia a confissão. Há 17 dias que o fradinho a
confessava. D. Rodrigo ordena o fecho das portas e janelas do castelo e
incendiou-o, matando os amantes, os parentes e a criadagem, que acusou de cumplicidade por
não lhe avisarem de sua testa florir, e os animais domésticos. Salazar
acreditava na valentia dos avoengos e Vassalo e Silva lixou-se em Goa, sem
meios militares de defesa, e apenas discursos de Salazar: “e se, apesar de
tudo, a União Indiana levar a guerra ao pequeno território, o que podem fazer
as forças que ali se encontram ou vierem a ser concentradas? Bater-se, lutar,
não no limite das possibilidades, mas para além do impossível. (…). Devemos
isso a nós próprios, a Goa, à civilização do Ocidente, ao mundo, ainda que este
se sorria compadecidamente de nós. Depois de afagar as pedras das
fortalezas de Diu ou de Damão, orar na igreja do Bom Jesus, abraçar os pés do
apóstolo das Índias, todo o português pode combater até ao último extremo, contra
dez ou contra mil, com a consciência de cumprir apenas um dever. Nem o caso
seria novo nos anais da Índia”. “Apesar
da influência que os fatores geográficos exercem na História da humanidade,
através de dois elementos fundamentais – as possibilidades de vida e as
facilidades de defesa do agregado social –, são sempre os factos históricos, e
não a configuração geográfica, que definem fronteiras, estabelecem direitos,
impõem soberanias. E este é o caso português da Índia. Pretender a União
Indiana que retroceda a História ao século de 500, apresentar-se hoje como
existente potencialmente nessa data, ou arvorar-se em legítima herdeira dos
dominadores que ali encontrámos, é uma construção de sonhadores estáticos, não
de dinâmicos construtores de História, como pretendem ser os que do Reino Unido
receberam um império. Se houvéssemos de aferir a legitimidade das soberanias
pelas situações existentes cinco séculos atrás, que Estado, que nação, que
soberania, que fronteiras, na Europa, na América, na Ásia ou na Oceânia, se
poderiam manter ou ter direito a existir?”. Salazar vivia no mundo da fantasia
histórica que confundia “Os Lusíadas” com a realidade. Para além da
desproporcionalidade dos efetivos, português e indiano, Vassalo e Silva estava
quase desarmado. As munições das armas ligeiras eram velhas e falhavam o alvo. A
maioria dos postos de rádio estava inoperacional por falta de pilhas. Ninguém
sabia manobrar a artilharia antiaérea, a Força Aérea transportou pessoal
especializado através do Paquistão, chegado a Goa, nenhum deles sabia manejar
aquele tipo de artilharia antiaérea. Não havia munições para as bazucas, na
véspera da invasão, quando aterrou um avião com o respetivo reabastecimento, os
soldados, em vez de projéteis, depararam-se com… chouriços.
cinema:
“C’était un Rendez-vous” (1976), realizado
por Claude Lelouch: uma corrida de carro através de 10,42 km,
entre a saída do túnel do Boulevard Périphérique na Porta Dauphine em Paris até
à praça do adro do Sacré-Coeur, para um encontro com uma mulher (Gunilla
Friden, modelo sueca, mãe de Sarah Lelouch), ignorando limite de velocidade, semáforos,
sentidos únicos, traços contínuos e passeios, “o princípio do filme era não
parar”, a uma velocidade média de 77
km / hora. Lelouch gaba-se de ter atingido uma
velocidade máxima de 160 km .
Como não obteve a licença de filmagem, as ruas não foram fechadas ao trânsito
por questões de segurança, então ele reduziu os riscos filmando pelas 5:30 do
mês de agosto, quando a cidade estava menos movimentada. O carro é um Mercedes
Benz 450 SEL 6.9 propriedade de Lelouch. Ele próprio está ao volante e junto
vão o diretor de fotografia Jacques Lefrançois e o chefe maquinista Henri
Quérol: “como éramos três dentro do carro amarrámo-nos como doentes”, diz
Lelouch. A câmara, uma Eclair cam-flex 35mm, foi fixada no para-choques, no
interior, tinham um telecomando que permitia controlar a abertura. O único
ponto cego, sem visibilidade, eram as arcadas do Louvre, onde estava o
assistente Elie Chouraqui com um walkie
talkie, para avisar de algum obstáculo à passagem, mas que não funcionou:
“tive uma sensação de angústia retrospetiva”, estremeceu Lelouch, quando Chouraqui
lhe contou o percalço. “Estava pronto, evidentemente. Em caso de perigo
extremo, não teria hesitado entre a vida e um filme. Portanto, um filme não é
senão um filme”. Exemplo do cinéma-vérité,
filmado num único take, sem montagem,
na pós-produção foi inserido o som de um motor de um Ferrari 275 GTB para um
maior efeito de velocidade. Para isso, a viagem foi repetida uma semana depois no
Ferrari, o Mercedes fora escolhido porque a sua suspensão suave permitia uma
imagem mais estável. O tempo, é a única condicionante do filme, dura 9 min 30 s,
porque a bobine só tinha 10 min, e sobrara da rodagem de “Si c'était à
refaire”, com Catherine Deneuve e Amouk Aimée. Quando lhe perguntaram se teve
medo, Lelouch respondeu: “sim, estava com medo. Estava com medo de que se me
acabasse a película”. Em 2006, Thierry Soave, dono da revista Auto Plus,
desafiou Lelouch para uma repetição
explicativa da proeza. Para o lançamento do Nissan 350Z, John Bruno, protegido
de James Cameron, filmou, com seis câmaras, nas ruas de Praga, “The Run”, que também termina
num encontro com uma mulher
(Barbora Austová). – “Paris
n’existe pas” (1969), com Serge Gainsbourg, Richard Leduc, Danièle
Gaubert… estreia na realização de Robert Benayoun: parte do grupo dos surrealistas
de André Breton desde 1949, funda a revista L’Age du cinéma em 1950 com Ado
Kyrou, crítico de cinema na revista Positif na década de 60, colaborador dos
Cahiers du Cinéma, onde publicou a sua lista
dos melhores filmes, era anti-Godard e outros pesos da cultura, e entusiasta de
Jerry Lewis. – Rita
Alexander, a Champagne Girl de Bourbon Street em Nova Orleães nos anos
60, agora uma sexagenária: “eu era adolescente. Comecei aos 18 anos no Silver
Frolics, depois fui para o Sho-Bar. Na verdade, comecei como número de
intervalo no Sho-Bar, Tee Tee Red
ensinou-me um pequeno número. Mas isso só durou duas semanas. (…) … para as strippers nunca havia qualquer concorrência.
Nós desejávamos sempre o melhor umas às outras. Qualquer coisa que pudéssemos
fazer por cada uma ao longo dos anos, fazíamos. (…). Lilly Christine
influenciou-me muito. Ela foi a primeira stripper
que vi quando eu tinha 16 anos”;
no filme “Hot Thrills and Warm Chills” (1967), “filmado na cidade do pecado do
hemisfério ocidental onde gajas e álcool podem ser obtidos com um piscar de
olho”, (Nova Orleães, com uma aparição da banda dos anos 60 The Glory Rhodes),
realizado por Dale
Berry: “este génio louco produziu lixo épico, um após outro, começando em
1965 com ‘The
Hot Bed’ e continuando até 1968, produzindo cerca de dois por ano, cada um
deles flagrantemente lixo e brilhante”. – “The
Filth and the Fury” (2000), “no dia 1 de dezembro de 1976, os
membros da banda punk Sex Pistols
foram entrevistados no programa Today da televisão britânica. Insultaram o
apresentador, Bill Grundy, e usaram linguagem grosseira, levando os espetadores
ofendidos a se queixarem”. Os Queen tinham cancelado a sua aparição no programa
e Grundy, o primeiro tipo a entrevistar os Beatles na televisão, (na ITV
Granada), foi testemunha acidental de uma das grandes entrevistas do
século XX, com os quatro pistols sentados: Johnny Rotten, Steve Jones, Glen
Matlock e Paul Cook; em pé, atrás, estão Siouxsie Sioux, Steve
Severin, Simon Barker e Simone. Grundy ouviu das boas: “merda”, “velhote”,
“bastardo imundo”, porco fodilhão”, e no dia seguinte parangonava o Daily
Mirror: “The Filth and the Fury!” [1]. O
título, alfinetou-o Julien Temple no seu filme, e estabeleceu o nome Sex
Pistols. Rotten contextualizou a década: “no início dos anos 70, a Grã-Bretanha era um
lugar muito deprimente. Estava completamente degradada, havia lixo nas ruas,
desemprego total, quase todo o mundo estava em greve. Toda a gente
fora criada com um sistema de educação que lhe dizia sem rodeios que, se você
veio do lado errado do trilho… então você não tinha nenhuma esperança e nenhuma
perspetiva de carreira”, e, no final da década, não importa os tomates eis as
pistolas do sexo. O álbum dos Sex Pistols é editado em 1977, desde esse ano o punk não está morto (The Exploited), nem o estaleiro das obras
do capitalismo: “há uma quantidade cada vez maior de pessoas que já não
‘servem’, nem mesmo para ser exploradas, ao mesmo tempo que lhes foram
retirados todos os recursos para viver”, em “Sobre a balsa de Medusa”, Anselm Jappe.
Em 1977, a
rainha comemorava o jubileu de prata; em 2012, a rainha comemora o
jubileu de diamante; 1977, o desemprego rondava os 5,7%, os jovens eram os mais
atingidos; 2012, o desemprego ronda os 8,3 %, a juventude é a mais atingida;
1977, o rendimento das famílias registaram uma queda de 2,7%; 2012, o
rendimento das famílias caiu 2,7%. Em 2012 “o estilo que começou como uma
afirmação anti-moda está de volta na passerelle em força, e ele virou chique.
(…). As casas de moda de Jean-Paul Gaultier, Balmain, Burberry e Balenciaga têm
trabalhado bastantes espigões haute couture, pregos e couro preto na mostra
de outono.”
Theodor Adorno escrevia em 1944: “a indústria da cultura torna tudo igual”, em
1983, o corpo de Sid Vicious já se decompusera na tumba, e nas ruas de Londres
o punk florescia como negócio: os okupas de Islington, business punks, cobravam duas libras a foto, Cyril snifa cola “para tornar o
trabalho mais tolerável”, em 2012, os desvios espectacularizaram-se e
comercializaram-se, o punk é um look: Rihanna,
num McQ,
outono 2011, um vestido de xadrez vermelho tartan com uma volumosa saia de
pregas, com um punk touch, as meias pretas rotas, da casa Alexander
McQueen, que modelizou a tendência para este ano. No entanto, alguns grupos
(panfletos) insistem na
estética: Tragedy, de
Memphis, Tennessee ▄ Mindless,
de Austin, Texas; Faiza Kracheni: “hoje você pode perseguir uma banda com a
Internet, mas, ao mesmo tempo como que tira a excitação de ‘ei pá, ouve esta
nova banda’, porque toda a gente ouve tudo e toda a gente é um crítico”
▄ Iron
Lung, duo powerviolence de
Seattle, Washington ▄ Fucked
Up, de Toronto, Canadá
▄ Tyrades, de Buffalo,
Nova Iorque ▄ RVIVR,
de Olympia, Washington; Erica Freas: “nós fazemos um monte de outras coisas,
trabalhamos em trabalhos de merda, tocamos em bandas e temos projetos a solo,
cozinhamos boa comida, fazemos arte visual, andamos de bicicleta, somos
voluntários nalgumas atividades que esperamos que modifiquem as nossas
comunidades locais, dançamos, rimos muito, deprimimo-nos às vezes, dizemos um
monte de merdas, algumas más outras boas e outras que são só merda mesmo”.
Enquanto Johnny Rotten pouco prejudicava em Bruxelas em junho de 2011,
na Indonésia, em Bandah
Aceh, em dezembro “59 rapazes e 5 raparigas, fãs de punk rock, foram forçados
a cortar o cabelo, tomar banho num lago, mudar de roupas e rezar”, estavam a
ser “moralmente reabilitados” pela Sharia (lei islâmica). M. Fauzie, instrutor
no campo policial de Lembah Seulawah: “vamos ensiná-los a acordar cedo, como
comer corretamente e como comportar-se educadamente”. Arismunadar, 15 anos, perguntado
se 10 dias de detenção lhe arrefecerão o ânimo: “ainda serei punk porque gosto”
[2]. – Shridevi,
em “Chandni” (1989). “Nascida Shree Amma Iyenger a 13 de agosto de 1963, é uma
atriz indiana que já trabalhou em tamil, télugo, hindi, malaiálim e alguns
filmes em canarês.
Começando a representar aos quatro anos, [no filme tamil “Kandan Karunai” (1967)], fez
a sua estreia como adulta no final dos anos 70 [ainda com treze anos em “Moondru Mudichu” (1976)].
Depois afirmando-se como uma das principais atrizes da década de 80 e começos
de 90. Abandonou a indústria em 1997 para criar os filhos”. Alguma filmografia:
“Padaharella Vayasu”
(1978), “Malli, que acaba de finalizar o 10º ano, tinha apenas um sonho
alimentado desde a infância: ser professora. Quando adolescente, ela
apaixona-se pelo médico que vem à sua vila. No entanto, os seus sonhos são
desfeitos quando descobre o seu verdadeiro carácter”. “Mosagadu”
(1980). “Sadma”
(1983), “Nehalata é uma jovem moderna que num acidente perde a memória e fica
com a inteligência de uma criança de sete anos. Circunstâncias levam-na à
prostituição e no bordel encontra Somu. Ele percebe que ela foi trapaceada para
a profissão. Resgata-a e leva-a para a sua casa em Ooty e começa a tomar conta dela”. “Sree
Ranga Neethulu” (1983). “Karma”
(1986), “quando o carcereiro Vishwa Pratap Singh esbofeteia o terrorista aprisionado,
Dr. Michael Dang, ele não percebe que modificou o seu próprio futuro, logo
depois os seus filhos e nora são impiedosamente mortos pelo exército de Dang
que o liberta da cadeia”.
“Mr. India” (1987), “o
filme abre com a revelação de que a violência tem aumentado na Índia, em que o
vilão principal é Mogambo. Mogambo é um general brilhante, contudo insano, cujo
objetivo é conquistar a Índia”.
“Nigahen: Nagina Part II”
(1989). “Gair Kanooni”
(1989), “o comandante Kapil Khanna era um rígido executor da lei. A fim de
obter provas contra o mafioso local, Don D’Costa, ele procura um favor do seu
amigo do submundo Aazam Khan, um homem com um ouvido de ouro”. “Chaalbaaz”
(1989), no duplo papel de Anju e Manju, “são gémeas separadas quando bebés por
culpa da sua ama mentalmente retardada. Um tio malvado Tribhuvan mata os seus
pais num acidente de carro. Ele educa Anju como uma rapariga tímida e
facilmente assustadiça. Manju é criada num distrito como uma despreocupada
dançarina de palco”. Dança
na Filmfare.
E o seu regresso em “English
Vinglish” (2012).
___________________________________
[1] A troca de última hora
dos Queen pelos Pistols azedou Grundy. Glen Matlock escreve no seu livro “I Was
a Teenage Sex Pistol”: “Grundy não queria entrevistar-nos. Não foi porque ele
pensasse que o programa não devia transmitir nada sobre punk, mas que ele próprio não sabia o suficiente sobre isso e
sentia que outra pessoa deveria fazer a entrevista”. Uma discussão com o
produtor e Grundy perdeu. “Na altura em que ele foi para o ar já estava farto.
Então desabafou a sua frustração em nós. Francamente , naquele ponto, ele estava-se
nas tintas para tudo. Mais, ele obviamente tinha tomado uns copitos”.
[2] “Porque as crianças indonésias
são loucas por punk”: “enquanto
as bandas punk no resto do mundo têm
interesses comerciais, que muitas vezes parecem em contradição com a mensagem
da música, na Indonésia, o verdadeiro espírito do punk, de que todos são donos da música e que todos podem tocar,
vive”, a banda Marjinal
(ao vivo)
espicaça esse espírito, os seus CDs são distribuídos grátis nos concertos e
ensinam as crianças:
“por cinco dólares qualquer puto da rua na Indonésia pode ter um ukelele e
cantar”. Punk indonésio: Keparat ▄ Superman Is Dead → “Punk Hari Ini” ♪ “Kuta Rock City” ▄ Endank Soekamti ▄ Disconnected → “Ego” ♪ “Glory” ▄ Vegan ▄ heavy metal Burgerkill
▄ Pee Wee Gaskins (nome
do serial killer americano Donald Henry “Pee Wee” Gaskins, Jr. executado na
cadeira elétrica em 1991, confessou entre 100 a 110 crimes, na sua autobiografia escreveu
que tinha “uma mente especial” que lhe dera “autorização para matar”) ▄ Tcukimay ▄ C.I.L.O.T. ▄ Gilang Sadewa.
música:
Uigures – alarados
pelo Turquistão oriental “são um grupo étnico turcomano que vive na Europa
oriental e Ásia central. Hoje, os uigures vivem principalmente na Região
Autónoma Uigure de Xinjiang na República Popular da China [1]. Cerca de 80% dos uigures de Xinjiang vivem na
parte sudoeste da região, na bacia de Tarim. A maior parte da comunidade uigure
fora de Xinjiang, na China, está na comarca de Taoyuan, no centro sul da
província de Hunan. Fora da China, existem importantes comunidades da diáspora
uigure nos países centro asiáticos, Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão.
Comunidades menores encontram-se no Afeganistão, Paquistão e Turquia”. “O erudito russo
Nikolai Nikolaevich Pantusov escreve que os uigures fabricaram os seus próprios
instrumentos musicais,
eles tinham 62 tipos diferentes de instrumentos musicais e em cada lar uigure
costumava haver um instrumento chamado dutar”: do persa دو تار / dotār (
دو / do = dois, تار / tār = corda) é um alaúde de braço longo e duas cordas
“nas origens do instrumento, no século XV, nas mãos dos pastores, as cordas
eram feitas de tripas [2]. Com a vinda da Rota
da Seda, as cordas eram feitas de seda torcida. Os instrumentos modernos têm
cordas de seda ou nylon” [3].
Tocadores
de dutar: Sanubar Tursun ▄ Abdurehim Heyit → “Ketmaydu” ♪ “Weten” ♪ numa loja de instrumentos musicais em Kashgar: cidade no
lado ocidental de Xinjiang, onde a esperança de vida do polícia era curta, “a
polícia chinesa disse que o ataque à bomba que matou 16 polícias na região de
Xinjiang … foi um ataque ‘suspeito de terrorismo’, quatro dias antes dos Jogos
Olímpicos de Beijing”
(2008): Abdurahman Azat, 34 anos e Kurbanjan Hemit, 29, foram executados pelo ataque
▄ ruas de Kashgar
▄ música
de rua ▄ “Spring In
Kashgar” [4]. “A China usou os ataques de 11
de setembro para justificar o endurecimento,
com o que dizia serem extremistas, apoiados pela al Qaeda, que queriam trazer
semelhante carnificina para Xinjiang, uma região fortemente muçulmana, com
estreitos laços culturais com a Ásia central” [5].
Nicholas Bequelin, investigador da Human Rights Watch para a China: “o Governo
chinês sempre aplicou rótulos aos uigures que se irritam com o seu domínio em Xinjiang. Primeiro ,
eram senhores feudais, depois eram fantoches dos soviéticos, depois eram
contra-revolucionários, depois eram separatistas e depois do 11/9 tornaram-se
terroristas”. Yan Haisen, nascido em Ürümqi, capital da província, um chinês descendente
de uma família de Henan, resume o sentimento popular: “eles são um povo muito
atrasado. Olhe para quantas crianças eles têm. Nós somos multados quando temos
mais que uma, mas eles podem ter quantas quiserem. Nós temos que estar aqui
para ajudá-los a desenvolver e trazer-lhes alguma cultura”
[6].
“O
etnomusicólogo Peter Manuel caraterizava as novas formas de tecnologia baratas
e facilmente reproduzíveis, como as cassetes áudio, que se espalharam pelo
globo na década de 70, como ‘micro-média’. Os micro-média, argumentava ele,
representam a ‘descentralização, democratização e dispersão’, proporcionando
potenciais canais para a expressão e mediação de identidades locais, e são teórica
e politicamente opostos aos velhos mass-média. (…). Juntamente com a produção
local, à venda nos bazares uigures, estão numerosas importações. Filmes em
hindi foram as primeiras modas estrangeiras a penetrar em Xinjiang depois da
Revolução Cultural, após a abertura da fronteira paquistanesa, e durante a década
de 80 grandes multidões podiam ser vistas assistindo-os na televisão em
barracas de gelados no mercado de Kashgar, ou em restaurantes para viajantes de
longo curso que ladeiam as estradas do deserto. A variedade de sons disponíveis
aumentou constantemente durante os anos 90 com a abertura das fronteiras com os
Estados da Ásia central, e maior acesso aos sons ocidentais. Em 2001, uma caçada
ao longo das prateleiras de uma loja de música no mercado de Döng Kövrük podia
revelar o ‘Never Mind the Bollocks’ dos Sex Pistols ao lado dos Gipsy Kings, country e western americano, canções folk
uzbeques e pop turco”.
O
musicómano Isaltino Morais no programa “5 para a meia-noite” c/ Nílton, durante
o Optimus Alive Oeiras ’12, preleciona o alcance da multi-opção: “o que ouço?
Não ouço música desta. Sei que agora estão a atuar os Stone Roses, ou acabaram
de atuar… eu gosto de música mais calma. Eu gosto de tudo o que é música.
Vamos lá ver, música que me agrade, que seja agradável ao meu ouvido, não é?
que não me fira muito, porque eu já ‘tou um bocadinho surdo e portanto se ela
é muito intensa, com os decibéis muito elevados, não aprecio particularmente”. Música
pop uigure ▄ as Shahrizoda, transliteração de Sherazade, a narradora
dos contos de “Mil e uma noites”, são três moças uzbeques, Muborak Ashurboeva,
Shakhnoza Yuldosheva e Kamola Arslanova, vivendo em Ürümqi → “My
Sorrow” ♪ “Voy
Tosh” ♪ “Qalbim” ▄
Aytulan
→ “Guli” ♪ “Let me have a look” ▄ “Fora de seu hijab” ▄ rap: “Dutarim”, ART RAP feat. Zulpikar Zaitov ▄ “Uyghurum”, NUR feat. Jaffa (ART RAP) ▄ rock: QETIQ
▄ Askar Grey Wolf, Askar Mamat
vive em Beijing: “eu amo o meu povo, mas como músico, não quero limitar a minha
música a um determinado grupo étnico. A minha música é rock que funde elementos culturais uigure e han”; sobre os motins
na sua terra natal: “alguns amotinados até espancaram raparigas uigures de
saias curtas, eles estão a tentar fazer de Xinjiang um Afeganistão controlado
pelos taliban?” ▄ a dançarina Dilnar Abdullah ▄ meninas
uzbeques “Yari gulla” ▄
Yulduz Usmonova, uzbeque, famosa na Ásia Central e
Turquia, cantou em uzbeque, uigure, turco, russo, tajique, árabe, cazaque e
tártaro, a filha, Nilufar
Usmonova, também é
cantora.
___________________________________
[1] Em 2009, zona
de motins étnicos:
“o Congresso Mundial Uigure, um grupo dissidente uigure
com sede em Munique, Alemanha, condenou a repressão sobre o que é descrito,
numa declaração escrita, como ‘protesto pacífico’ de domingo por uigures. ‘As
autoridades chinesas devem reconhecer que o protesto pacífico foi provocado
pelo espancamento e morte de trabalhadores uigures por uma turba numa fábrica
de brinquedos de Guangdong mais de uma semana atrás’, disse o Congresso.
‘As autoridades também devem reconhecer que a sua incapacidade para tomar
qualquer ação significativa para punir a turba chinesa pelo brutal assassinato
de uigures é a verdadeira causa deste protesto”.
[2] Outro alaúde é o tämbür,
de cinco cordas: Nur Muhämmät
Tursun, irmão de Sunabar Tursun.
[3] O dutar é da mesma
família que o cavaquinho, os instrumentos de cordas dedilhadas, outro é o
alaúde turco bağlama,
também transnacional, “é geralmente tocado com um tezene (semelhante a uma palheta) feito de casca de cerejeira ou
plástico. Nalgumas regiões é tocado com os dedos num estilo chamado şelpe”: Adem Tosunoğlu
▄ Erol Parlak.
[4] “Ao longo dos próximos
anos, dizem as autoridades locais, vão demolir pelo menos 85% deste labirinto
pitoresco, se forem casas e lojas degradadas. Muitas das suas 13 000 famílias,
muçulmanas de um grupo étnico turcomano chamado os uigures, serão deslocadas.
No seu lugar erguer-se-á uma nova Cidade Velha, uma mistura de apartamentos de altura
média, praças, becos alargados em avenidas e reproduções da antiga arquitetura
islâmica ‘para preservar a cultura uigure’, disse o vice-presidente de Kashgar,
Xu Jianrong”.
[5] Dezassete uigures foram
hospedados pelos Estados Unidos em Guantánamo, e por uma questão de copyright, “os Estados Unidos não
enviarão os detidos uigures inocentados para libertação para a China, com a
preocupação de que eles seriam torturados pelas autoridades chinesas. A China
diz que nenhum uigure retornado será torturado”.
Enviaram-nos para as Caraíbas, para Guantánamo.
[6] Também habita em Xinjiang
uma comunidade tuva, grupo étnico turcomano do sul da Sibéria, executantes de
uma variante particular de canto harmónico, o canto gutural tuvano. “Houve poucas mulheres no canto gutural na história
de Tuva, pois acreditava-se que uma mulher executando o canto gutural podia
ferir os seus parentes do sexo masculino e causar-lhe dificuldades durante o
parto”: Tyva
Kyzy (“as filhas de Tuva”), grupo folk
feminino fundado em 1998. Já entre os inuit, das regiões árticas do Canadá,
Alasca e Gronelândia,
são as mulheres as executantes do canto gutural: Tanya Tagaq, que vozeou com a Björk:
“ela não sabe cantar, conheço a mãe dela desde criança e são ambas
tresloucadas. O facto de ela ser tão conhecida fora da Islândia diz-me mais
sobre o mundo do que sobre a própria Björk”, um professor de Finanças da
Universidade da Islândia, citado por Michael Lewis em “Boomerang – uma viajem
pelos países do Novo Terceiro Mundo: a Europa”. Artistas a solo são uma exceção,
por regra, é duelos entre mulheres, o canto gutural inuit.