Até
à próxima, Balsemão
1982.
Segunda-feira, 20 de dezembro “o primeiro-ministro, Pinto Balsemão, apresenta
esta tarde [17 horas] ao presidente da República o seu pedido de demissão. Cai, assim o
VIII Governo Constitucional e o III da Aliança Democrática. Pinto Balsemão quer
ser só presidente do PSD e, eventualmente, candidato às presidenciais” [1]. Querer, essa expressão da vontade, livre [2] para os escalados na sociedade, liberalizada naqueles
acorrentados às faturas das governações. Volição, balcão do american express ou do livre-arbítrio:
Raquel Pomplun, playmate do ano 2013,
queria um BMW 325i branco [3], o eurodeputado Pedro
Canavarro: “gostava de ver a rainha da Inglaterra a pôr um supositório” (Expresso,
1992) [4].
No
olho de um furacão – o olho seco do FMI em Lisboa já desenhava um empréstimo – a
economia portuguesa esvaecia [5], como
testamento político, obrigatório auto-gabanço, esgravatou por obra-feita Balsemão:
“concluiu-se a revisão da Constituição, a lei de Defesa está em vigor, bem como
a do Tribunal Constitucional e atingiu-se assim, durante este tempo em que
estive no Governo, a plenitude do regime democrático. Realizaram-se também as
eleições autárquicas, as quais - ao contrário do que muitos vaticinavam - a
Aliança Democrática obteve resultados que permitem estarmos certos de que em
eleições legislativas - com os votos dos emigrantes e como é habitual, com uma
menor abstenção -, novamente a AD obteria a maioria absoluta” [6]. Governar nas nuvens esborrachando miséria sobre o
povo desfigura, um corpo inútil, um político incompetente, num princípio e os
princípios também se decapitam, Gaetano Bresci: “não matei Umberto, matei o
rei, matei um princípio!” [7].
Exonerado
Balsemão, Freitas do Amaral, o n.º 2 na coligação governamental, não quis casar
com a carochinha indigitada para primeiro-ministro, Vítor
Crespo, modelo da pintora Maluda,
um ministro da Educação, de profissão: ministro da Educação e Ciência dos VI e
VII Governos Constitucionais, e da Educação e das Universidades no VIII Governo
Constitucional. “Avançou-se para a escolha de pessoas antes de se definirem
princípios, estratégias e critérios (…), não se fez, em minha opinião, uma
escolha susceptível de reacender o entusiasmo e a confiança na opinião pública
e no eleitorado da AD. (…). No fundo, no fundo, tenho de o dizer, esta já não é
a mesma AD. É uma outra versão, também possível, também legítima, mas muito
diferente da que ajudei a criar. Que sentido teria, assim, a minha permanência
na base da divergência, da suspeição e da descrença? Tendo contribuído para a
formação e para os êxitos da AD, não quero sentir-me associado ao que, julgo,
será o seu gradual definhamento”: Freitas do Amaral renunciava a 29 de dezembro
ao dourado bispote da vida política, afasta-se do partido, do Governo, do
Conselho de Estado e do Parlamento. “A decisão de Freitas do Amaral em se
demitir da presidência do CDS não é de agora, ‘mas de há uns quinze dias atrás.
Tudo fizemos, - dizia-nos um dirigente conotado com a linha ‘moderada’ -, para
que desistisse dessa ideia (…), psicologicamente afetado, acabou por ter um
comportamento igual àquele que verberou: o de Balsemão que, perante umas ‘traiçõezinhas’
se demite do seu posto; o de Salgueiro, que, invocando solidariedade com um
Balsemão ‘atraiçoado’, rejeita a eventualidade de lhe suceder; o de uns quantos
oportunistas que, perante o desaire eleitoral da AD, se preparam como ratos
para abandonarem o navio’”. “WTF”
[8].
Neste
render de ratos, rato fora, rato dentro, o superior interesse da nação ressalva-se
com um abalizado ministro das Finanças, e na nação um nome baliza. “Ora, apesar
dos laços que o unem a Vítor Crespo, Cavaco Silva, tal como acontece com João
Salgueiro, tem consciência da gravíssima situação económica em que o país se
encontra e receia naturalmente que, no caso de entrar para o Governo, possa a
breve prazo ficar isolado politicamente no seio do PSD face às medidas
antipopulares que teria que tomar. No entanto, há também quem afirme que Cavaco
Silva estaria interessado em ser nomeado vice-primeiro-ministro para os
assuntos económicos – o que, na prática, significaria que seria ele o
verdadeiro chefe do executivo – conseguindo, desse modo a linha de Eurico de
Melo uma vitória total. A questão da vaidade e prestígio pessoais também não
seria de afastar para uma decisão final de Cavaco Silva, que, diz-se, está por
dentro de toda a ‘jogada’”. “Pavor Nocturnus” [9].
Quinta-feira,
30, o Conselho de Ministros, ainda sob presidência de Pinto Balsemão debateu
medidas “que se inserem nas coordenadas da política económica definidas pelo
Governo e, em particular, na prossecução de uma política de preços e
rendimentos, tendentes à contenção do défice orçamental e do desequilíbrio da
balança de transações”. Estas medidas de austeridade ficarão suspensas para o
novo Governo, “outros projetos aprovados incidem sobre o regulamento do imposto
de Turismo, a nova redação do Estatuto do Instituto António Sérgio, do setor
cooperativo, e o que altera o regime jurídico das máquinas elétricas de tipo flipers”. No ano seguinte, sexta-feira,
4 de fevereiro de 1983, o presidente da República Ramalho Eanes dissolve o
Parlamento, e dia 25 há corrida de patriotas. “Quatro grupos disputam, à
partida, a liderança do PSD no congresso deste partido que, hoje à noite, é
inaugurado em Montechoro, no Algarve: Mota Pinto (vértice cimeiro da troika
apoiado pelos barões do aparelho partidário), Mota Amaral (que envolve Balsemão
e os seus apoiantes na corrida pela liderança), Luís Fontoura (o homem-de-ponta
do grupo dos 44) e Helena Roseta (que surpreendentemente tem encontrado em João Jardim algum
apoio)”. Vencerá a troika Mota Pinto, Eurico de Melo, Henrique Nascimento
Rodrigues e Balsemão despede-se de todos os cargos no partido: “desde já afirmo
que não quero candidatar-me a nada. Passo a militante de base … não votarei na
troika. Eurico de Melo não tem a minha confiança política. Prejudicou muito o
partido nos últimos dois anos”. No dia 26 no discurso de adeus Balsemão ataca Cavaco
e Eurico: “é que não podemos aceitar, senhor presidente, senhores
congressistas, que venham a ser recompensados aqueles que, nos últimos dois
anos, só se distinguiram por se colocarem fora do sistema, por desrespeitarem
as resoluções dos órgãos próprios do partido, por se refugiarem calmamente em
sua casa ou no seu escritório e se limitarem a falar de quando em quando para
os jornais ou a escrever cartas abertas publicadas nas piores ocasiões”. “Samo Shampioni”, Elitsa Todorova
& Stoyan Yankulov, a Bulgária na Eurovisão 2013.
Em
1982, António Variações grava o seu primeiro single “Povo
que lavas no rio / Estou
além”: “Tenho pressa de sair / Quero sentir ao chegar / Vontade de partir /
P’ra outro lugar”. Pinto Balsemão partiu não para muito longe. Em 2013,
convidará para a reunião em Londres do Grupo
Bilderberg, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas e o
secretário-geral do PS, António José Seguro. No Festival da Canção de 1982, numa
composição de Pedro Calvário, cantava Fernanda (Ágata) “Vai mas vem”: “Ah, quem
me dera ter / os meus amigos perto de mim / Ah, quem me dera ser / amiga deles
tempos sem fim … vai e vem a porta fica aberta para ti” [10].
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[1] Nas quedas, os porões dos
Governos alvoroçam-se, ao invés de um navio, nenhum murídeo quer fugir. “Preocupados
estavam os chefes de gabinete dos ministros e dos secretários de Estado.
Afluíram ao hotel onde se realizava o Congresso Nacional, mal tiveram
conhecimento da demissão do primeiro-ministro. Mais precavidos foram alguns
membros do Governo. Discretamente, muito discretamente um ou outro já ofereceu
os seus préstimos a Mota Pinto”.
[2] “Mas porque na
consciência de si, a vontade é conhecida diretamente e em si mesma, nesta
consciência reside também a consciência de liberdade. O facto é, contudo,
esquecido que o indivíduo, a pessoa, não é vontade como um númeno, mas como um fenómeno de vontade (…). Assim, surge o
estranho facto de que toda a gente acredita-se, a priori, ser perfeitamente livre, mesmo nas suas ações individuais,
e pensa que a cada momento pode começar outro modo de vida, o que apenas
significa que pode tornar-se noutra pessoa. Mas, a posteriori, através da experiência, descobre, para sua surpresa,
que não é livre, mas sujeito à necessidade, que, apesar de todas as suas
resoluções e reflexões não muda a sua conduta, e que desde o início da sua vida
até ao fim, deve realizar a própria natureza que em si mesmo condena…”,
em “O mundo como vontade e representação”, Arthur Schopenhauer.
[3] “Na quinta-feira, 9 de maio,
na Mansão Playboy de Los Angeles, o fundador da revista Playboy Hugh Hefner nomeou
Raquel
Pomplun,
de 25 anos, natural de Chula Vista, Califórnia, como Playmate do ano 2013 e
deu-lhe um cheque de 100 000 dólares e o novo Jaguar F-Type de 2014”.
Pomplun
será capa da revista de junho,
numa reportagem de oito páginas, fotografada por Michael Bernard. – Raquel
Pomplun, 1,68 m , 54 kg , 89-61-91, sapato 37 ½,
cabelo castanho, olhos castanhos, pele castanha, bailarina de ballet clássico, modelo em part-time, estudante em
part-time, foi miss
abril 2012. Fotos John Maramba. Fotos
para a revista Venuz, no
Hotel Rosarito, México. Ambições:
“obter a minha licenciatura em bioquímica e viver sempre a vida ao máximo”;
música perfeita para o quarto de dormir: “‘Samba Pa Ti’ do Santana é
uma canção que me excita. É sedutora, relaxante e… sexy!”; A minha paixão: “dança, sou bailarina e uma marada por
ballet clássico. Não posso imaginar a vida sem ele!”; o meu carro de sonho: “um
BMW 325i branco com vidros fumados. Adoro porque é veloz, com classe e elegante
- tal como eu!”.
Os
carros
das playmates do ano: “a tradição
de a Playboy oferecer à sua Playmate do Ano um carro a acompanhar o habitual
prémio monetário de 100 000 dólares começou em 1964, nesse ano Donna Michelle ganhou um Ford
Mustang. Estava pintado num tom conhecido como Playmate Pink”. – Donna Michelle, 1,63 m , 53 kg , 96-55-93, “Playmate do
Ano em 1964, tinha 17 anos quando apareceu nua pela primeira vez na revista.
Donna prosseguiu como atriz e morreu de ataque cardíaco num supermercado em
Ukiah, Califórnia, aos 58 anos, dia 9 de abril de 2004”.
Ela foi Nina no
episódio “The Double Affair” (1964), da série “The Man from U.N.C.L.E.”
(1964-68).
[4] A casa real de Windsor, uma
poderosa indústria inglesa de merchandising, deslumbra com o latão da nobreza o
consumidor para a bugiganga britânica, no trono está um eficaz gabinete de relações
públicas. Em maio de 2013, alunos de 9 anos do 4.º ano da escola primária de
Moutidos em Águas Santas, Maia, desenharam temas da cultura inglesa, e a
professora de inglês: “fui ao correio, meti todos os desenhos num envelope, os
meninos escreveram uma carta”. E quinze 15 dias depois, festa na escola,
obtiveram uma amável public relations reposta. Aluna: “nós éramos
uma turma insignificante dum país pequeno e a rainha nos ter respondido era
quase impossível… quando vi a resposta senti-me fascinada, radiante, porque
nunca achei que os sonhos se podiam tornar realidade, mas, pelos vistos,
enganei-me”. Outra aluna: “senti-me radiante porque vimos que a rainha gostou
muito do nosso trabalho”.
[5] No boletim trimestral do
Banco de Portugal divulgado na sexta-feira 17 de dezembro, sobre a política
económica em 1982: 1) inflação seis pontos mais alta (23 %) que as previsões do
Governo (17 %); 2) estagnação do poder de compra, com os funcionários públicos
extremamente penalizados; 3) recrudesceu a fraude e a evasão fiscal; 4) dívida
externa agravada em 16%.“O Banco de Portugal estima que se tenha verificado um
agravamento de 1600 milhões de dólares no primeiro semestre do ano, atingindo a
dívida total no fim de junho 11 603 milhões de dólares, o que representa um agravamento
de 16% em comparação com o fim do ano passado. (…). Em junho a dívida externa
total excedia as reservas cambiais do país em 57,1 % ou em 26,8 %, consoante se
avalie o ouro ao preço contabilístico do Banco de Portugal, ou ao preço do
mercado de Londres”; 5) défice orçamental muito superior ao previsto, que já
era de 150,7 mil milhões de escudos.
[6] Depois da meia-noite de
sábado 18 de dezembro, Pinto Balsemão divulgava o texto de renúncia: “tudo tem,
no entanto, o seu tempo e, por mim, penso que consegui alcançar aqueles que
eram os nossos grandes objetivos. Consegui-o, apesar de muita oposição, de
muita incompreensão e mesmo de algumas traições. Enfrentei essa oposição da
parte de outros órgãos de soberania, de outros partidos, dentro do meu partido
e da coligação em que ele se insere, enfrentei essa oposição por parte de
setores minoritários. Enfrentei greves gerais cujo saldo foi negativo para os
seus promotores, deparei com ameaças e tentativas repetidas no sentido da minha
demissão, ameaças e tentativas com as mais diversas origens. No entanto, sempre
entendi que em vez de olhar esses fenómenos deveria, isso sim, era trabalhar
com calma e bom senso para alcançar os objetivos a que me tinha proposto. O
Estado deve estar acima da pequena política”.
[7] “Gaetano Bresci
(1869-1901) foi um anarquista italiano condenado à morte (depois a pena foi
comutada para trabalhos forçados) por ter executado uma ação direta (que o
próprio Bresci chama ‘um facto’): matou o rei Umberto I a tiro”. No
interrogatório do juiz responde sereno: “o facto realizei-o por mim, sem
cúmplices. Tive a ideia vendo tanta miséria e tantos perseguidos. É preciso ir
ao estrangeiro para ver como são considerados os italianos! Somos apelidados de
porcos. (…). Não matei Umberto, matei o rei, matei um princípio! E não o tal
delito mas o facto!”; juiz: “porque o fez?”; Bresci: “após o estado de sítio na
Sicília e Milão ilegalmente estabelecidos por decreto real, decidi matar o rei para
vingar as vítimas”. Bresci emigrara para a América. A 29 de janeiro de 1898
desembarcava em Nova
Iorque , e foi para Paterson em Nova Jérsia para
trabalhar na indústria têxtil e frequenta a comunidade de anarquistas italianos
emigrados.
“Durante
a sua estadia na América, Bresci tomou conhecimento da feroz repressão em 1894
das Ligas Sicilianas dos Trabalhadores e da revolta popular de 1898. Em
particular, em Milão, na sequência do aumento do preço da farinha e do pão,
cujo custo crescia nos últimos anos, e o povo amotinou-se e assaltou os fornos
do pão. Naquele ano, cerca de 40 anos da anexação da Lombardia no reino da
Itália, após a segunda guerra da independência, a situação económica era grave,
tanto que nesses 40 anos emigraram cerca de 519 000 lombardos. A insurreição de
Milão, conhecida na História como ‘o protesto do estômago’, durou vários dias e
foi sanguinariamente reprimida pelo exército comandado pelo general Fiorenzo
Bava-Beccaris que, por esta ação de ordem pública, foi condecorado com a Cruz
de Grande Oficial da Ordem Militar de Savóia, ‘para agraciar o serviço prestado
às instituições e à civilização’, de Umberto I, rei de Itália. Na repressão
militar estima-se que foram mortas mais de cem pessoas e centenas de feridos.
Entre as vítimas, os miseráveis que estavam na fila para receber a sopa dos
frades, sobre quem se disparou a metralhadora. Gaetano Bresci pretendia vingar
o massacre e fazer justiça, por isso decidiu regressar a Itália com o objetivo
de matar o rei Umberto, considerando-o o responsável máximo daqueles trágicos
eventos. Após o regresso a Itália, alugou um quarto em Milão na via San Piero
all’Orto n.4 e foi capaz de espiar durante dias os movimentos e hábitos do
soberano, que se encontrava no 21 de julho de veraneio na vizinha Villa Reale em Monza. Na noite de
domingo, 29 de julho 1900, em Monza, Bresci mata o rei Umberto I de Savóia disparando-lhe
três ou quatro tiros de revólver”. Morreu um ano
depois na prisão de Santo Stefano, não é claro se foi suicídio ou se foi
suicidado pelos guardas.
Ascanio Celestini, ator, realizador,
(“La pecora nera” 2010),
dramaturgo, escritor, cantou-o, “La casa del ladro (a Gaetano
Bresci)”: “Emanuele Filiberto de Savóia afirmou recentemente que ‘a Itália
é um país pronto para uma monarquia constitucional’. Em consideração a esta
declaração do príncipe, queremos dedicar esta canção a Gaetano Bresci, tecelão,
anarquista e assassino do rei”. “Então, entro secretamente como um ladrão na
casa do ladrão / Olho em redor na casa do ladrão: é tudo roubado / Até mesmo o
ar que agora respiro com a falta de fôlego / é fruto de um roubo. // Quando um
ladrão encontra um ladrão dentro de casa não fica feliz / E, de facto, aquele
ladrão vê-me e diz: ‘tem cuidado’ / Ele diz-me: ‘olha bem para mim, eu não sou
ladrão somente. / Eu sou o patrão’”.
[8] O duo canadiano Keith
Robertson e David “Dave” Henderson são os Autoerotique:
“havia um programa de TV chamado ‘Kung Fu: Legends Continues’ e o gajo
principal desse programa foi encontrado morto em Highland a fazer asfixias autoeróticas
nele mesmo. Ele estava morto, mas quando abriram a porta estavam tipo sessenta
e cinco putas lá. Basicamente, o que significa é, fazer qualquer coisa até ao
ponto da morte por prazer”
[9] “Igorrr, cujo nome verdadeiro é
Gautier Serre é um compositor multi-instrumentista francês nascido em 1984. Ele
é conhecido por misturar muitos estilos de música nos seus álbuns, como música
eletrónica, breakcore, música
barroca, death metal, trip hop, etc.”. Discografia: álbum “Poisson
Soluble” (2008): “Petit
Prélude Périmé”; álbum “Moisissure” (2008): “Valse En Décomposition”;
álbum “Nostril” (2010): “Double
Monk” ♫ “Tendon”,
ao vivo no Líbano; álbum “Hallelujah” (2012): “Tout Petit Moineau” ♫ “Damaged Wig” ♫ “Corpus Tristis”. – Igorrr
é o fundador dos Whourkr,
um grupo de death metal, grindcore, com influência eletrónica. Começaram
em 2005, com Igorrr e Öxxö Xööx, o primeiro álbum “Naät”, gravado no seu
estúdio caseiro é editado como auto-produção em 2007, “apesar das queixas dos
vizinhos e a visita da polícia devido ao barulho”: “Kommiu”. Em 2008 sai Öxxö
Xööx e Yann Coppier, ou -i snor, é o novo cantor da banda, “depois de dois anos
de árduo trabalho, o álbum ‘Concrete’ ocorre como a perfeita mistura entre metal / noise / breakcore”: “Mindgerb” ♫ “Slaagt”. Em 2011, depois
da saída de Yann, o “amigo da banda há muitos anos, Mulk torna-se a segunda
parte do duo”, editam em 2012 o terceiro álbum “4247 Snare Drums”: “Gastro-equestre” ♫ “Arithmetic Punishment”.
[10] No ano de 82, no
Teatro Maria Matos vence o Festival da Canção “Bem bom”, letra e música António
Pinho, Tozé Brito e Pedro Brito, cantada pelas mosqueteiras Doce c/ roupas de
José Carlos. Classificaram-se em 13.º lugar na Eurovisão com 32 pontos e nuestros hermanos espanhóis no 10.º com os 52 pontos da Lucía em “ÉL”. Lena Coelho dirá
mais tarde: “e convém dizer que nesse Festival, a vencedora [a alemã Nicole “Ein Bißchen Frieden”],
antes de vencer, já tinha um disco a dizer ‘a vencedora da Eurovisão’. (…). Toda
a gente tem a mania de dizer, os portugueses isto, os portugueses aquilo, e há
realmente jogos pelo meio, dos quais não temos conhecimento, mas dessa vez
tivemos”.
na sala de cinema
“Django 2 - Il grande ritorno” (1987),
estreia sexta-feira 31 de março 1989 no Politeama. “Uma mulher chega a um mosteiro
e diz a Django, há muitos anos o irmão Inácio, que ele tem uma filha em San Vicente , Marisol
(Consuelo Reina), que foi raptada pelo malvado e cruel ‘El Diablo’ Orlowsky, um
ex-soldado húngaro, que usa o seu navio de guerra para raptar homens e rapazes
para trabalharem como escravos nas suas minas de prata e raparigas para serem
vendidas a bordéis”. C/
Franco Nero, Christopher Connelly, que morre de cancro no ano seguinte, Licinia
Lentini (na Playboy
fevereiro 82), Donald Pleasence… Esta é a primeira sequela oficial do filme de Sergio
Corbucci sobre o pistoleiro Django, 20 anos mais velho, desenterra a sua punidora
metralhadora de uma campa sob a lapide Django. “O projeto nasce em paralelo com
‘Tex e il signore degli
abissi’ de Duccio Tessari, [estreia sexta-feira 14 de outubro 1988, no Éden
e Fonte Nova sala 3], tendo em vista o relançamento comercial do western spaghetti. Após o fracasso comercial e de crítica, Sergio Corbucci,
que tinha inicialmente aceitado a realização da sequela e que acabara de
escrever a história do filme, recusa-se a dirigi-lo. Também ‘Django 2’ foi um fracasso da crítica e
do público e o projeto do renascimento esfumou-se. O filme foi rodado na Colômbia”. Havia
dois Sergios. Sergio Leone, filho de pioneiros do cinema italiano, o pai o cineasta
Vincenzo Leone,
a mãe Edvige Valcarenghi
i.e. Bice Waleran, atriz do cinema mudo. Com 19 anos era ator e assistente de
realização no filme “Ladrões
de bicicletas” de Vittorio de Sica [estreia segunda-feira 20 de novembro
1950, no Tivoli]. O outro, Sergio Corbucci, faz um raccord de crítico de cinema para assistente de realização, entre
outros, de Roberto Rossellini. Cruzam-se em 1959. O realizador Mario Bonnard
sofre uma crise de fígado no primeiro dia de rodagem e Leone termina o filme “Os últimos dias de Pompeia”,
Corbucci era argumentista e realizador da segunda equipa. No início de 60, o peplum deslumbrava audiências, e os dois
Sergios moviam cartão, Corbucci no argumento de “Maciste contro il vampiro”
(1961) [estreia sexta-feira 3 de maio 1963 no Capitólio] e na realização de “Romolo e Remo” (1961),
com história de Leone. Segundo a lenda, em 1963, os dois Sergios, na mesma
semana, em dias diferentes, vão ao cinema ver “Yojimbo” (1961), de Akira
Kurosawa: “conta a história de um ronin
(um samurai sem senhor ou mestre), interpretado por Toshiro Mifune, que chega a
uma aldeia onde senhores do crime competem pela supremacia. Os dois chefes
tentam contratar o mortífero recém-chegado como guarda-costas (yojimbo em japonês)”. Os dois Sergios impressionam-se
com a película oriental e resolvem transpô-la para o faroeste. Leone no “Por
um punhado de dólares” (1964), estreia sexta-feira 21 de outubro 1966 no
Éden, tão fiel a Kurosawa que amargou uma batalha legal de três anos nos EUA
por não possuir os direitos de autor para o remake,
“o outro Sergio”, alcunha de Corbucci, conservou apenas as duas fações rivais
em luta e um homem no meio, um herói duro, frio, libertado do escolho de
defender os fracos, “Django”, e a morte redentora na bala quente de
metralhadora. “Django”
(1966) estreia segunda-feira 5 de agosto 1968 no Condes. “Desde a primeira
cena, Django já demonstra ser algo original, diferente de quase tudo feito até
então: o personagem-título (Franco Nero), um veterano da Guerra Civil, entra na
cidade com a sela sobre os ombros, e arrastando um velho caixão de madeira pela
estrada enlameada, enquanto desenrolam-se os créditos iniciais ao som da
belíssima música-tema composta por Luis Bacalov (e cantada por Roberto Fia em
italiano e Rocky Roberts em inglês)”.
C/ Loredana Nusciak, atriz de fotonovelas;
no filme morrem 138 pessoas entre facínoras e inocentes. – “Django spara per primo”
(1966) “faz parte desta primeira leva de sotto-Djangos (como eram chamados os sub-Djangos
pela crítica de cinema da Itália), e percebe-se claramente que trama e
personagem principal não têm nada a ver com o original. O filme chegou aos
cinemas apenas seis meses depois do Django de Sergio Corbucci, evidenciando que
já estava sendo filmado quando o outro foi lançado e foi transformado numa
aventura não-oficial do personagem na pós-produção”.
– “W Django!” (1971)
c/ os atores brasileiros Anthony Stephen e Esmeralda Santos (na Playboy
julho 1976). “Django está na pista de alguns bandidos renegados que mataram a
sua mulher. No caminho, resgata um ladrão de cavalos de um enforcamento
improvisado. Descobre que o homem sabe quem cometeu o assassinato. Os dois
associam-se e dirigem-se para oeste para vingança”. – Django nas histórias
aos quadradinhos.
no aparelho de televisão
“O romance da raposa”, sábados, de 22 de
outubro 1988 / 14 de janeiro 1989, na abertura da RTP1, cerca das 17:30 horas. Série
de animação baseada no livro
homónimo (1924) [1] de Aquilino Ribeiro [2], adaptação de Marcelo de Moraes: “o ‘Romance da
raposa’ conta a história da Salta-Pocinhas uma raposa, raposeta, matreira,
fagueira, lambisqueira! A raposinha Salta-Pocinhas é mandriona e faz tudo para
ter a barriga cheia, desde enganar o Rei Lobo até roubar galinhas aos aldeões.
Mesmo quando fica velha consegue enganar os outros animais e não só”. Diálogos e letra
das canções Maria Alberta Meneres: “Mil famosas aventuras / aqui se vão
relatar, / de certa Salta-Pocinhas / que tem muito que contar. // É matreira e
embusteira / e um pouco pintalegreta. / Quando calha, ratoeira; / senhora de
muita treta. // ‘Mestra de ladinas artes, / sou fagueira / e lambisqueira; / em
cata de algum biscato / vou passando a vida inteira. // Cá vou eu, /
póis-catrapós, / raposinha duma figa! / Corro os bosques, bato o mato, / só
para encher a barriga!’ // ‘Sentada num penedinho / vou deitar contas à vida: /
aventureira e farsante / só foi na justa medida. // Neste mundo tão vilão, / talvez
um dia descanse, / eu, escalfada em roda-viva, / autora do meu romance!’”,
cantada por Fernanda Figueiredo e coro. Animação de Artur Correia e Ricardo Neto. 1º
episódio: “Saída à
aventura”. “Sebastião
come tudo” (1986), programa infantil de culinária, autoria e
apresentação, Manuel Luís Goucha, voz e manipulação do Sebastião, Pedro Wilson,
texto de José Jorge Letria, canção de Tó Sequeira: “Sebastião come tudo tudo
tudo tudo. / Sebastião come e sabe o que quer. / Sebastião não quer ser um
barrigudo, / lava as mãos e come sempre com talher. / Sebastião come tudo tudo
tudo tudo. / Sebastião come e sabe o que quer. / Sebastião não quer ser um
barrigudo, / lava as mãos e come sempre com talher”. É uma corruptela acriançada
de uma canção com letra de J. Oliveira Santos e música de Alexandre S. Moreira
publicada em 1943 pela Sassetti: “Sebastião come tudo, / Sebastião come tudo, /
Sebastião tudo come sem colher; Sebastião fica todo barrigudo / e depois dá
pancada na mulher…”, uma música de dança da Orquestra Melo Júnior, “que atuava
no piso superior do Café Chave d’Ouro, no salão de chá”.
Em cada programa Manuel Luís ensinava uma receita e um ator ou atriz
representava essa paparoca: Luzia Paramés, a filhó, Miguel Guilherme,
o papo d’anjo.
___________________
[1] Dedicado ao seu filho
Aníbal: “as aventuras maravilhosas da Salta-Pocinhas raposeta pintalegreta,
senhora de muita treta - contei-tas eu, sentado tu nos meus joelhos.
Contando-tas, veio-me ideia de as escrever. Além de inspirador, colaboraste com
os teus silêncios, perguntas e interrupções na frágil meada. Que mais não
fosse, só por este título o livrinho teria de levar o teu nome...”. E termina a
introdução: “aí fica, meu homem, no teu sapatinho de Natal esta pequena prenda.
Aceita-a com os meus beijos de pai, que ao Menino Jesus vou pedir perdão do
pecado, pois que a raposa é matreira, embusteira, ratoneira, e Ele apenas
costumava brincar com pombas brancas e um branco e inocente cordeirinho. Santo Amaro
de Oeiras. Natal de 1924” .
Abria o livro com: “havia três dias e três noites que a Salta-Pocinhas -
raposeta matreira, fagueira, lambisqueira - corria os bosques, farejando,
batendo mato, sem conseguir deitar a unha a outra caça além duns míseros
gafanhotos, nem atinar com abrigo em que pudesse dormir um soninho descansado”.
[2] Oliveira Salazar: “é um
inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa é um grande escritor”.
Aquilino
fora também inimigo da monarquia. Datado de 14 de janeiro de 1908, um ofício
dos Caminhos de Ferro do Estado, Serviço de Movimento, avisava da evasão dos “calabouços
da Polícia Cívil de Lisboa o preso Aquilino Gomes Ribeiro, escriptor, natural
do Carregal, concelho de Sernancelhe e com os signaes seguintes: alto, magro,
22 anos, barba e cabelos crescidos de dois mezes, cor pálida”. Nesse ofício, o
juiz de Instrução Criminal requeria sua captura: “o preso é da máxima
responsabilidade, por ser accusado de um crime muito grave e por esse motivo se
lhe recomenda a maior vigilancia possivel nos passageiros do seu comboio e se
for reconhecido, deverá empregar todos os meios ao seu alcance para o deter
tendo o maximo cuidado em o não deixar de novo evadir-se”. Evadira-se da
esquadra do Caminho Novo enquanto jovem bombista e carbonário. A Carbonária foi
fundada pelo bibliotecário, Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida, morador na
rua de Santo António da Glória, em Lisboa, descreve-o Rocha Martins: “o
ajudante [de Feio Terenas na Biblioteca Municipal da Rua do Saco], era um rapaz
magro, baixo, pálido, de poucas falas, sem gestos, sem vivacidade, sempre
vestido de negro e com uma grande gravata Lavallière pendente sobre o colete. A
casa era um rectângulo vasto de prateleiras enfileiradas, atulhadas de grandes
livros que se iam buscar para os domicílios; ao lado ficava a sala de leitura
e, no canto da janela que deitava para o largo, tristonho, por detrás dum
estore corrido, o ajudante passava os dias lendo, muito compenetrado, com o seu
ar sereno, os olhos tão negros como o fato ao erguerem-se, com um ar resignado,
quando o vinham interromper. Chamava-se Luz de Almeida. Ao lado havia uma
escola e, de quando em quando, ouvia-se a gralhada do rapazito no grande pátio
vizinho, perturbando o silêncio grave da biblioteca. Todas as manhãs o homem
chegava no seu passo moderado e lento, sentava-se na carteira, começava o seu
serviço e depois mergulhava na leitura; às quatro da tarde saía para voltar à
noite e de novo, à luz do gás sibilante, continuava a sua tarefa. (…). Nós não
podíamos imaginar que em
plena Lisboa , ali, no fundo daquela biblioteca, na pessoa
tristonha daquele rapaz melancólico, estava um organizador como o ativo Basard
das casas de Belford e da Rochela”.
Luz
de Almeida é iniciado na Maçonaria em Lisboa,
no ano de 1897, na Respeitável Loja Luís de Camões, n.º 226, do Grande Oriente
de Portugal, uma breve dissidência do Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome
simbólico de “Desmoulins”. Em 1908,
a Carbonária tinha 20 mil Bons Primos infiltrados nas
estruturas do Grande Oriente Lusitano Unido, através da Respeitável Loja Montanha,
de que Luz Almeida fora fundador e Venerável em 1900. “Luz d’Almeida foi
fundador da Jov Port (Joven Portugal), a carbonaria que incitou o povo, e foi
da sua organisação que sahiram todos os grupos, que em 28 de janeiro haviam de
operar. O Veneravel da Loja Montanha
e os seus irmãos fazendo irradiar os
seus ideaes pela população de Lisboa, e depois pela do paiz, conseguem em
muito, auxiliar o acto revolucionario. Parallelamente ao trabalho no quartel
dos marinheiros, organisou dois grupos civis que com elles haviam de operar, um
em Alfama, e outro na Madragoa. Quando rebentaram as bombas de dynanite na rua
do Carrião a policia redobrou a vigilancia e Luz d’Almeida foi preso”.
– (Um dos chefes da Carbonária será Manuel Alegre, em novembro de 2006, o seu
neto homónimo frequentava a sessão de lançamento do livro de Mendo Castro
Henriques “D. Duarte e a Democracia - Uma Biografia Portuguesa”: “Manuel
Alegre, republicano assumido, destoava da pequena multidão de monárquicos que
bebericava espumante Luís Pato e provava canapés enquanto apostava nos méritos
do livro, ali à venda por 29,95 euros”).
Findava
o ano de 1907, o carbonário e médico Gonçalves Lopes era vigiado pela polícia
política da monarquia, escreve Aquilino: “um belo dia o dr. Gonçalves Lopes
pediu-me para levar ao meu quarto dois caixotes com bombas. Hesitei, observando-lhe
que a dona da casa podia atentar no facto, mas ele desvaneceu-me todos os
receios, explicando-me que necessitava absolutamente transformar o meu aposento
num depósito eventual de explosivos. Combinou-se o transporte dos caixotes do
consultório do dr. Gonçalves Lopes, na rua do Ouro, para ali, mas, ou porque
ele não me pormenorizasse bem como a coisa devia ser feita, ou por outro motivo
de que me não recordo, o moço incumbido de os levar à rua do Carrião [nº 3,
junto à rua de S. José e a avenida da Liberdade] teve de arrepiar caminho e
voltou com os caixotes para o consultório. Grande pasmo do dr. Gonçalves Lopes
e, no dia seguinte, após uma breve explicação que eu e ele tivemos no Suíço, os
caixotes (cada um pesando aproximadamente sessenta quilos) tornaram a
empreender a viagem para o meu quarto. Desde então, passei também a colaborar
regularmente no fabrico de explosivos”. “Utilizavam pinhas de ferro, como as
que eram usadas para enfeitar as sacadas das casas, pólvora negra e carda miúda
de sapateiro”.
Prossegue Aquilino: “Cada um de nós pegou numa bomba vasilha. Na minha frente
estava o dr. Gonçalves Lopes e mais adiante o seu companheiro [Belmonte de
Lemos, comerciante na rua dos Fanqueiros]. O dr. Gonçalves Lopes,
descuidando-se um pouco nas precauções que era de uso tomar em tais circunstâncias,
principiou a martelar com força no engenho que tinha na mão. Ainda lhe
recomendei prudência; mas ele sorriu-se, incrédulo, do meu receio, e continuou
o trabalho. De repente, um grande estrondo atordoou-me sensivelmente. A bomba
do dr. Gonçalves Lopes explodira. Vi-o cair esfacelado, salpicando-me de sangue
e vi o comerciante Belmonte avançar para mim, soltando um grito como o dum
animal ferido de morte. Acolhi-o nos braços, mas tive que o largar logo a
seguir porque já agonizava. Foi um instante de dolorosíssima atrapalhação.
Dirigi-me a outro quarto a lavar-me, porque estava negro como um carvoeiro e
quando voltei ao meu aposento pensei em fugir. Mas , como? O meu chapéu parecia um crivo,
o vestuário não inspirava confiança, as mãos e a cara denunciavam-me,
traiam-me… Passeei uns segundos pelo quarto sem saber o que fazer e quando
percebi que gente estranha subia a escada, a inquirir do estrondo, fui
estupidamente esconder-me debaixo da cama. Os primeiros minutos passei-os
quieto e calado nesse refugio d’ocasião. Mas, logo que ouvi a curta distância
os comentários da polícia e as interrogações dos repórter, longe de procurar
misturar-me com o meu amigo e os nossos colegas [colaborava no jornal republicano
A Vanguarda] comecei a agitar-me e despertei a atenção do chefe Ferreira.
Estava apanhado”
É
preso, “manso como um cordeiro”, relata na sua autobiografia, “Um escritor confessa-se”,
entre “iscarióticos esbirros que vinham, como no Jardim Zoológico, contemplar o
gerifalte que caíra no laço”. É presente ao juiz nas Amoreiras “ao juiz Veiga,
o célebre juiz Veiga, o grande papão dos republicanos, o terror dos
anarquistas, o alcoviteiro do rei, a divindade colérica e tutelar que pairava
sobre a Monarquia e as instituições, armada de tridente e coriscos”. Na
inquirição responde-lhe Aquilino: “já confessei tudo a V. Ex.ª. Eu sou um serrano
em Lisboa… Mal assentei o pé, pus-me a ler Kropoktine e, por desgraça, a minha
condição, pobre, desamparado, sem futuro, deixei-me contaminar pelas ideias
extremistas. Logo aqueles amigos aproveitaram a minha inexperiência e
meteram-me nesta camisa-de-onze-varas”. Investiga o caso “um chefe de polícia
néscio e um juiz reles e troca-tintas”, o dr. Alves Ferreira, “com a pelagem
totalmente branca de cobaia e pele lisa dum poupon, tinha andado pelas ilhas,
pela província, sempre em comarcas de rebotalho, até que João Franco o caçou
ali em Sintra, pau para toda a colher”, descreveu-o em “Quando os lobos uivam”
(1958). Encerrado dia 28 de novembro na esquadra do Caminho Novo, Aquilino
evade-se na madrugada chuvosa de 12 de janeiro de 1908. Esconde-se na trapeira
da casa de Joaquim Meira e Sousa, do jornal O País, na rua Nova do Almada, “pelas
escadinhas de S. Francisco, e a menos de 200 metros do Ministério
do Reino, podendo ouvir, se não houvesse a interferência acústica, os espirros
do sr. João Franco”. No dia 3 de junho de 1908 está em Paris “uma cidade feita
para dar a quota razoável de felicidade aos homens, e todos os seus costumes”. Jorge
Reis nas “Páginas do exílio”: “turista sem cheta nem bagagem, transportava,
porém, um alforge de promessas de ‘irmãos’ e ‘primos’, que lhe haviam jurado
com os pés em esquadria – a ele raposo, beirão, que jamais se iludiu com
empana-parvos”. Na Sorbonne bebe “sem chegar às fezes a taça de amor que ali se
oferece a quem é voluptuoso” e França será sempre o seu “amado leite”. Aquilino
era amigo dos regicidas também carbonários:
“Foi
no corrente de 1906 que Raul Pires apresentou no Gelo um rapaz de 28 anos,
alto, desengonçado de corpo, duma fisionomia séria, quase triste, a que ninguém
deu importância. Grandes olhos castanhos, lentos a mover-se, com uma fixidez
que parecia de sonâmbulo e era de atenção, um nada de barba loira no queixo, o
nariz levemente amolgado sobre a esquerda. É provável que uma tuberculose
descurada, traiçoeiramente seguindo caminho, lhe achatasse o tórax, aguçasse os
ombros e lhe imprimisse às costas uma quebratura já perceptível. (…). Alfredo
Costa foi o homem, atirado para a cidade da aldeia alentejana, e que,
dobrando-se sobre si, batido dos baldões, ‘se encontrou a marchar’. Atrás, todo
o atavismo da alma popular, opressões, tristeza, fatalismo, mansuetude de
cordeiro. Pela frente, o torvelinho do século, luz e sombras, ideias confusas,
ideias desordenadas, ideias; a vida com as facetas todas; o homem em todos os
planos”,
em “Um escritor confessa-se”.
“Era
Manuel Buiça dos mais assíduos frequentadores do Gelo, esse café todo
arrumado a meio do Rocio tumultuário, que, não obstante o berrante das fardas,
conserva um ar todo plácido de botequim provincial. As suas horas, nas meias
manhãs preguiçosas de Lisboa, quando, tão lentas e doces, os senhores
burocratas vão por aí abaixo mais brandos que liteira, ou à noite, depois do
jantar, Buiça era certo à mesa branca do Gelo, na parte que olha a R. do
Príncipe, um cálice de cognac à frente, escrevendo cartas ou cavaqueando alto
com amigos ou próximos. (…). Mais que a identidade de ideias haviam-no imposto
ao grupo revolucionário do Gelo, que paradoxalmente via o mundo através de
Nietzsche e dos pensadores russos, haviam-no imposto aquelas virtudes do homem
instintivo, generosidade, espontaneidade, poder de estimar e admirar, ao
contacto dos quais o homem de pensamento se desvanece. (...). A sua cultura
literária não era também comum. Professor do Colégio Moderno, dava-me a
impressão de ter uma inteligência lesta, assimilando sem esforço, mas também
sem perdurabilidade. Tinha, no entanto um sentimento bastante largo da vida que
nas horas de excitação costumava traduzir pelos baixos epifonemas dum
pessimismo exagerado”, no artigo “O regicídio e os regicidas”, revista Seara
Nova, 5 de dezembro de 1921.
na aparelhagem
stereo
Sepultura – “Beneath the Remains”
(1989): “Cities in ruins / Bodies packed on minefields / Neurotic game of life
and death / Now I can feel the end” – “Arise” (1991): “Obscured
by the Sun / Apocalyptic clash / Cities fall in ruin / Why must we die? //
Obliteration of mankind / Under a pale grey sky / We shall arise”.
No
Rock in Rio Lisboa 2010 José Luís Peixoto expetava: “sim bastante. Tudo aquilo
que me influencia, a minha vida, acaba por influenciar o meu trabalho e os Soulfly [1] em particular, mas principalmente os Sepultura,
donde nasceram os Soulfly, são uma inspiração já há bastantes anos. (…). Acho
que a força desse movimento está bem visível, esse dia, o dia do metal, aqui no Rock in Rio e noutros
festivais, acaba sempre por ser um dia de festa garantida em que, na verdade,
como conversava há pouco com o Vasco [Duarte, dos Homens da Luta] é um dia
também muito cordial ao contrário do que às vezes as pessoas imaginam, é um dia
de boa educação. (…). Na verdade, um dos concertos que mais me atraiu para vir
cá hoje foi justamente Motörhead,
que é uma banda que eu ainda nunca vi ao vivo, mítica, quase com a minha idade
de existência e que também faz parte do meu imaginário de uma forma fortíssima
e ‘tou cheio de vontade de pôr esse carimbo no meu passaporte” [2]. Fixava-se o escritor em transata testosterona [3]. Concertos de heavy
metal em Portugal esgotavam lotação e
cerveja, pela tribo vestida de ganga e desordeira, no século XXI, esses maus
rapazes aprumaram-se. Embarrigam, descapotam da careca, num clube recreativo de
bairro, neste século, os verdadeiros duros nascem antes. O dia do metal no Rock in Rio Lisboa 2010 teve 36
mil espectadores, no dia da Miley
Cyrus foram 83 mil dos mais ferinos consumidores, as miúdas com menos de 10
anos. Elas já distinguiam Miley de Hannah Montana, os pais não, atarantados no
choque de gerações, fingiam-se fixes, jovens.
Aos
17 anos da atriz, a personagem Hannah Montana desvanecia-se, no Rock in Rio Lisboa
2010, na primeira parte do concerto, ela coloca no mercado o seu produto para
adultos, e as câmaras focaram a unha
de camelo
de Miley Cyrus: “é maravilhoso encontrar novos fãs e encontrar pessoas novas.
Eu penso que é bom também ver o que acontece nas novas canções num novo disco,
estar com novos fãs, estar num lugar novo. Eu penso que tudo o que acontece é
novo, é muito entusiasmante” (os fãs fizeram uma bandeira de Portugal com 15 m ) “obrigada! Eu penso que
é muito bom ver a forma como toda a gente é orgulhosa aqui, andei por aí, a dar
um passeio e foi maravilhoso ver tantos fãs que estavam felizes por me ver,
pois estavam orgulhosos pela minha vinda, por estar aqui, portanto… obrigada!” [4].
Metalurgia portuguesa nos
aos 80:
Ibéria, em 2011 “quase 20
anos depois do fim, os Ibéria estão de volta. O grupo, hoje formado por um
maquinista da CP (João Sérgio), um administrativo (Miguel Freitas) e um
produtor de renome (Ricardo Landum), entre outros, acaba de reeditar os seus
discos e prepara já os primeiros espetáculos”. João Sérgio: “a sensação que
tenho é a de um coito interrompido (risos). Os Ibéria formaram-se com a ideia
de romper fronteiras. Chegámos a ter alguma aceitação internacional, fomos a
primeira banda portuguesa a passar na BBC, [em janeiro de 1989, no Friday Rock Show, da
BBC-Radio One, Tommy Vance rodou ‘No Pride’], e até andámos
nos meios mais underground no Japão e
nos EUA. Podíamos ter ido mais longe. (…). Landum: uma vez decidi saltar para o
meio do público. Só que a malta desviou-se, eu bati com a cabeça no chão,
desmaiei – e a banda continuou a tocar”.
“A história
dos Ibéria começa na Baixa da Banheira em 1978, quando 3 miúdos de 10/11 anos
começaram a tocar guitarra. João Alexandre Marques, João Sérgio Reis e Toninho,
tinham como ambição formar uma banda. (…). A paixão pelo heavy metal levou-os a
arranjarem um baterista, Tony Duarte e um vocalista, Luís Filipe, formando
dessa forma a sua primeira banda no início de 1984, os Asgarth. Em
1986, a
banda sofre alterações de fundo. Francisco Landum, ex-TNT junta-se à banda e o
nome é alterado para Ibéria, Tony Duarte sai para os Samurai
entrando Tony Cê para o seu lugar. A 31 de janeiro de 1987 gravam a primeira demo com 3 temas: ‘Hollywood’, ‘Lady in Black’ e ‘Warriors’” ▬ discografia:
LP “Ibéria” (1988) 1. “Warriors” 2. “She’s So Lovely” 3. “Sex Gun” 4. “Lady in
Black” 5. “Fuck the Teacher” 6. “No Pride” 7. “Some Girls” 8. “Unfaithful Guitars” 9. Children of the World 10.
“The Sailing Way to India”
♫ LP “Heroes of the Wasteland” (1990) A1. “Deep Cuts the Knife” A2. “Heroes of the Wasteland” A3. “México” A4. “I'm Not a Fool” A5. “Rock 'n' Roll Star” B1. “Got To Run” B2. “Please, Please” B3.
“Stripteaser” B4. “Do You Wanna Die?” B5. “China Girl” ♫ CD “Angel” (2011) 1. “Code Red / Revolution” 3. “All Night Flying” 4. “Angel” 5. “Stooge” 6. “She
Devil” 7. “Turning
Back” 8. “Dizzy”
9. “Hot in Love” 10. “Ride” 11. “Tired (Leave Me Alone)”
12. “N.I.T.R.O.” 13. “Tommy’s Frequency / Hollywood”.
___________________
[1] António Freitas no Rock
in Rio Lisboa 2010: “sendo que os Soulfly já têm assim uma grande e longa
história com o nosso Portugal. O backdrop,
portanto a fotografia, a imagem que estava atrás, no palco, foi precisamente
tirada na Boca do Inferno, em Cascais, e é a capa do primeiro álbum dos
Soulfly. Já há aquela relação de há muito tempo”.
[2] José Luís Peixoto, em “Uma
casa na escuridão”: “Era uma manhã que carregava um crepúsculo terrível. Assim
que entrámos na cidade, assim que cruzámos as primeiras casas que eram o início
da cidade, ouvimos o céu rasgar um trovão de ferro. O céu era todo feito de
ferro negro e o trovão foi aquele céu de ferro a rasgar-se. E entrávamos na
cidade. E entrávamos na cidade abandonada. Nas ruas, havia soldados que tinham
pressa. Havia mulheres e homens que choravam convulsivamente porque tinham
perdido tudo. Havia mulheres e homens mutilados, com a pele a apodrecer, que
tinham pressa. Debaixo da sombra daquele céu, a cidade era o lugar do medo”.
[3] A atracagem de popa de Rob
Halford, vocalista dos Judas
Priest, chocalhou este género musical. Afinal, entre os deuses do metal gingam também catamitos de
plástico. “Sans rustiques ennuis, guêpes, rosée ou givre / Je voudrais à jamais
coucher, aimer ou vivre / Avec un tiède enfant, Jacques, Pierre ou Firmin. / Arrière
le mépris timide des Prud’hommes!” (Sem rústicos aborrecimentos, vespas,
orvalho ou geada / Queria para sempre me deitar, amar ou viver / Com um tépido amor,
Jacques, Pierre e Firmin. / Adeusinho desprezo tímido dos julgadores”, em “Pédérastie”,
primeiro poema de Marcel
Proust. (Um fanzine sobre Proust: “Proust Said That”. Monty Python: The All England Summarize
Proust Competition).
[4] Destiny Hope
Cyrus, afilhada de Dolly Parton, filha de Billy Ray Cyrus, troca o nome a 1 de maio de 2008 para Miley Ray Cyrus, – 1,66 m , 50 kg , 86-60-81, sapato 36,
olhos azuis, cabelo loiro pintado, diminutivos “Smiley Miley”, “Miley Ray” –,
nasceu a 23 de novembro de 1992, em Nashville, Tennessee. Comprometida com o
ator australiano, Liam Hemsworth, desde 6 de junho de 2012, o anel de noivado,
desenhado por Neil Lane, tem 3,5 quilates e custa cerca de 250 000 dólares. Em
2012, pelo 22.º aniversário de Liam, Miley ofereceu-lhe um bolo-pénis.
Quando namorava o modelo Justin Gaston jurava: “quero manter a minha virgindade
até me casar. Fui criada numa família cristã”.
Séries favoritas: “Sex and
the City” (1998-2004), “Bad
Sex” (2011); versículos favoritos: Efésios 6:10-11: “finalmente,
fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para poderdes permanecer firmes contra os esquemas do Diabo”;
perfume favorito: Juicy
Couture Eau de Parfum. Estreou-se no ano de 2003, como “Kylie”, em três
episódios da série de ideologia cristã, “Doc”
(2001-04), protagonizada pelo pai, e no cinema como “Young Ruthie” no filme de
Tim Burton “Big
Fish” (2003). Aos 12 anos, dólares e fama como ídolo da pequenada feminina na
série da Disney “Hannah
Montana” (2006-09); em 2008, “a atriz de 15 anos interpreta uma aluna de
liceu com uma vida secreta como estrela pop,
numa série com um público-alvo composto por raparigas entre os 6 e 14. Mas,
Cyrus está obcecada pelo mais adulto ‘Sex and the City’, que muitas vezes
contém picantes cenas de sexo, e espera trazer algumas qualidades desta série
para o seu próprio trabalho. Diz ela: ‘obviamente, não os cenários. Mas se você
ver o ‘Sex and the City’, como a forma como as amigas são, a forma que é direta
e elas todas têm personagens distintas, é uma coisa que tentamos fazer na nossa
série. É a minha série favorita. Adoro-a!’”.
Aos 15 anos escreve as memórias:
“estou tão entusiasmada de mostrar aos fãs quão importante a minha relação com
a minha família é para mim. Espero motivar mães e filhas para construírem memórias
para toda a vida e inspirar as crianças de todo o mundo a viverem os seus
sonhos”. Aos 16 anos, estava escalada para o filme “Wings”,
da Disney, baseado no best-seller
homónimo de Aprilynne Pikes. Tiquetaqueava o contador da idade legal para
enfiar-se nas camas: ela a 353 dias
dos 18 anos. – Doce (de hermesetas) pássaro da juventude: {em biquíni
nas Bahamas, sabedoria da Miley: “sacudi as coxas e elas balançaram por vontade
própria por três mississipis acabaram-se os lucky charms à noite”}. {saindo do Millions of Milkshakes /2009}.
{saindo do Starbucks
em Los Angeles
/2009}. {tatuagem
no tórax “just
breathe” /2009}. {Teen Choice Awards /2009}. {Wonder World Tour /2009}. {bravia em 2010}.
{hot pants e bindi
e botas de cowboy /2010}. {foto
/2010}. {dourado
sem alças nos Óscares 2010}. {videoblog:
paparazzi /2010}. {mamilo
duro /2011}. {fumadora s/ soutien}.
{fumadora
c/ cão /2011}. {Prestige
Magazine /2011}. {sem
soutien no ultramar /2011}. {biquíni
/2012}. {flanco
da teta /2012}. {incomodada com um paparazzo
postou a foto do carro dele no Twitter:
“se virem este idiota choquem com ele” /2013}. {apanhada tirando autofotos
sexy /2013}. {fetiche da língua}.
{celebridade}.
{fotos
sexy}. {momentos
inapropriados}. {espetáculo
de pernas}. {irmãs
elegantes}. – Noah Cyrus, a irmã, aos 9 anos, emparceirava com a melhor
amiga, Emily Grace,
para lançarem uma coleção de lingerie
para crianças para a Ohh! La, La! Couture;
“o site da empresa descreve a Emily
Grace Collection como tendo um ‘toque última moda, adorável, todavia arrojado,
reminiscência da verdadeira personalidade de Emily. Ela está a colaborar com os
estilistas da Ohh! La, La! Couture para criar estilos versáteis que podem ser
usados com amorosas sapatilhas de bailarina, ténis catitas ou combinados com
meias de renda e botas para um ar mais rock and roll. A coleção de Emily não
apelará apenas a miúdas pequenas, a linha tem também uma Teen Collection
disponível até ao tamanho 46”.
Noah dobrou a voz da personagem principal e cantou o tema do filme de anime “Ponyo” (2009). – Visual &
áudio de Miley Cyrus: Miley
visitou os “Marretas”
num Disney Channel Special (2008). No cinema: aparição especial em “Sex and the City 2”
(2010): “na cena, Mario Cantone, que interpreta Anthony, ironiza: ‘Nossa
Senhora! Ela está a usar o mesmo vestido de Hannah Montana’, para Samantha,
quando ela sai com a mesma roupa de Miley’”;
primeira cena de sexo no ecrã em “LOL” (2012): preparação
para o filme: “rebuçados de menta, abdominais, spray bronzeador. Mais,
exercícios para fazer as minhas mamas parecerem maiores, arrebitá-las”;
“So Undercover” (2012).
O novo single
“We Can’t Stop”
(2013). Sabedoria da Miley: “as raparigas que realmente baseiam quanto valem
nos favores sexuais que podem fazer por alguém, isso deixa-me realmente triste.
Porque o sexo é realmente muito bonito. É a única maneira de nós geramos e é a
única maneira de o mundo continuar”.
Miley,
cidadã de uma sociedade que não manipula o sexo para recolta de proveitos, refreia-se
da personagem infanto-juvenil: “eu não posso ser Hannah até aos 30, mas quero
continuar a fazê-lo o mais tempo possível”,
esvaziada a clepsidra, nenhuma intenção sexual, desembaraça-se da roupa para Fabio
Testino em 2013. “Smells Like Teen Spirit” (2011): “A mulatto
/ An albino / A mosquito / My libido / Yeah”.