Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quinta-feira, junho 28, 2007

Abaixo de burro

Passar de cavalo para burro é mau mas descer abaixo de burro não. Que o diga Plutão! Situado nos confins do sistema solar, a uma distância de seis mil milhões de quilómetros da Terra, fez-se difícil de encontrar, como se fosse a carta “Black Lotus” do jogo “Magic: the Gathering”. Percival Lowell procurou mas morreu de velho e não achou. Foi o jovem Clyde Tombaugh, em 1930, quem localizou o evasivo corpo celeste. Venetia Phair, uma criança inglesa, de 11 anos, propôs-lhe o nome quando os encanecidos sábios não chegavam a acordo. Desenterram-lhe um satélite que, para fazer pandan com o deus dos infernos, foi baptizado de Caronte (o barqueiro do Estige, rio que descreve nove círculos em torno do inferno). E, durante anos, rodou em volta do sol no seu demorado período orbital de 248 anos. No ano de 2005, o telescópio Hubble descobre-lhe mais dois satélites. Os finórios astrónomos, para manterem tudo em família, apelidaram-lhes de Nix, mãe de Caronte e deusa da Morte e da Escuridão, e Hydra, o monstro de cabeça de serpentes e corpo de dragão que guarda o mundo interior de Plutão. Estava composto um belo bouquet para inspirar contos negros como “A dream of wolves in the snow” dos Cradle of Filth.

Mas em 2006, nem de propósito, principia uma verdadeira descida aos infernos para o 9º planeta. Após o achamento doutro objecto sideral, também situado no cinto de Kuiper, a União Astronómica Internacional decide modificar a definição de planeta, e cria a categoria de nano-planeta, para Plutão e o recém-descoberto pedregulho, apelidado de Éris (a deusa da Discórdia). Plutão passou de cavalo para burro por assim dizer. Mas os cientistas não estavam satisfeitos com esta terminologia. Em 2007, o ex-planeta sofre outra despromoção. É incluído na segunda posição desta nova categoria porque Éris é realmente granjola. E o que pinta o nono calhau a contar do sol neste enredo de palavreado científico empapado de mitologia grega? Absolutamente nada. Continua a mover-se como se nada fosse com ele. Porque no céu mandam os que lá estão. Nos assuntos humanos, cá em baixo, só custa passar de cavalo para burro, depois, são palavras que as traz o vento, e não aquecem nem arrefecem – se não pensarmos como Laurie Anderson que verbaliza numa canção “Language is a virus” (uma ideia de William S. Burroughs, segundo a qual a linguagem seria um vírus vindo do espaço, não necessariamente para facilitar a comunicação, mas para se reproduzir usando o homem como hospedeiro).

O primeiro-ministro tem suado o fato Dolce & Gabbana para estacionar o país no parque dos espertos. Ele deseja qualificar a população para que os investidores tenham um rebanho (ou cáfila, depende da margem do Tejo onde apascentam) de trabalhadores capazes de adaptarem os seus gestos aos rompantes da indústria, para produzir objectos importantíssimos, que nos proporcionam uma vida de inspector Gadget (mais fácil que o “abre fácil”). A formação não serve apenas para pagarmos mais desafogadamente as contas no fim do mês e, acima de tudo, criar mais riqueza para os outros, mas também para engatar miúdas. Na Índia ocidental, no estado de Rajasthan, um agricultor chamado Shivcharan Jatav, de 73 anos, chumbou 39 vezes o exame do décimo ano. Em criança não frequentou a escola para contribuir para a marmita da família. Só no ano de 1969 foi arrebatado por esta fúria pelo diploma quando um recrutador lhe disse que uns estudos lhe trariam melhores hipóteses para entrar no Exército (refúgio profissional nos países subdesenvolvidos donde Portugal saiu como podemos confirmar pelas opções dos jovens lusos. Para além da tropa têm a GNR e a PSP). Nestas infrutíferas tentativas Jatav somente obtém aproveitamento no exame de sânscrito mas apesar dos 39 desaires promete não desistir. Sem conhecer José Sócrates de lado algum convenceu-se que a certidão da secretaria melhorará a sua profissão e aumentará as hipóteses de encontrar uma esposa. A instrução tem destas coisas. É capaz de despoletar optimismo aos rodos. E, com 73 anos, ainda sonhar com as garotas da Blitz na praia de “Biquini de bolinha amarelinha tão pequenino”.

Ao lado, na China, a importância da instrução escolar é igualmente sobrevalorizada. É mais importante que a vida. E assim deve ser. Sem ela, adeus fábricas de bricabraque para as sociedades industriais, ou cozinhas de shop-soi de porco e arroz chao-chao nas capitais do mundo. No mês de Janeiro, na província central de Henan, um casal mata a filha, com menos de três anos, ao pontapé e murro por esta não conseguir identificar um ideograma. O pai Zeng e a mãe Zhang não acharam piada quando o rebento não era capaz de reconhecer o caracter “jiao” (que significa “banana”). No início do mesmo mês, outra mãe foi presa por suspeita de matar a filha de quatro anos por uma boa razão. O raio da catraia não sabia contar, e é voz corrente a utilidade da matemática, para os ricos contarem os biliões e os pobres, os trocos. Os pais chineses querem o melhor para os seus filhos. Sem uma educação escolar, ou a aptidão para a adquirir, não valem as células onde estão impressos. Nem para censores de filmes americanos servem pois não têm o cérebro ginasticado para perceber subtilezas culturais. (A Administração Estatal da Rádio, Filme e Televisão reduziu para metade a actuação de Chow Yun-Fat no filme os “Piratas das Caraíbas: nos confins do mundo”. O actor de Hong Kong interpreta o papel do capitão Sao Feng, um pirata chinês, careca, cicatriz profunda na cara e longa barba, considerado um aviltante estereotipo de demonização de Hollywood dos chineses. Na China estão costumados à figura mais simpática do chinoca careca e longa trança como Hop Singh, cozinheiro da família Cartwright, na série de TV “Bonanza”). Esta aparente violência dos papás chineses, não é originária dos filmes de Kung Fu, mas nos ensinamentos do pedagógico “Livro Vermelho” do camarada Mao Zedong. O grande timoneiro do povo definiu com clareza os inimigos. Escreveu ele que o imperialismo e os reaccionários, numa perspectiva estratégica, ou seja, da possibilidade de sua destruição, são “tigres de papel”, mas do ponto de vista táctico, isto é, da sua continuidade para sempre, são “tigre de ferro”. São firmes e hirtos como uma barra de ferro e, a única solução, é juntar-se a eles, e sentar-se no banco da escola à espera de novas oportunidades. E, conforme parece, morrer pela instrução na China é um “Necessary Evil” (cantariam os Napalm Death) para ganhar a corrida de ser o 9º ricaço calhau no G8.

A vontade de saber atingiu Portugal como um “Spine Buster” desferido pelo westler Bobby Lashley. A escola aos poucos substitui a igreja e a taberna. Jovens e velhos compreenderam a justeza das pretensões dos empresários para não desperdiçarem partes do cérebro que, desenvolvidas por um professor, darão muito dinheiro para todos. Temos que ser poupadinhos naquilo que de melhor temos – o miolo. Uma pessoa, já com curso tirado, vem dar-nos um cabal exemplo de como a massa cinzenta disciplinada funciona em prol do bem do país. O ministro da Saúde, Correia de Campos, imergido na consecução da sustentabilidade do pelouro que lhe coube na rifa, durante uma conferência na Ordem dos Economistas, avançou uma ideia para controlar o emaranho do erário público nas despesas com a Saúde. Propôs, o ministro, que se desse os medicamentos fora de prazo aos pobres para não haver desperdício. (Percebe-se o raciocínio desta mente treinada. Se eles comem iogurtes e bolachas, com validade caducada, nos caixotes de lixo dos supermercados, umas pastilhas ainda em bom estado não lhes farão mal). Talvez ele encomende um estudo sobre a viabilidade desta ministerial medida para aproveitar a profusão de peritos e especialistas jorrados dos estabelecimentos de ensino. São tantos os estudos, por tudo e por nada e mais alguma coisa, que de certeza também os alunos dos liceus participam na sua execução. (Descarto como absurda a suspeição do Estado estar a engordar sempre os mesmos “especialistas”). Nalguns casos, como o aeroporto de Lisboa, são feitos em catadupa saborosos relatórios, ricos em vitaminas e sais minerais, e também ómega 3. Tão prestigiosos são, que empresários e investidores espremem-se para pagar um, como o voluntarioso Joe Berardo. Finalmente os capitalistas tomam a dianteira da sociedade e vão ouvir “A Internacional” pelos Garotos Podres (banda Punk brasileira pouco garotos e, em vez de podres, estão gordos).

Do lado estudantil a impaciência cresce para receber o diploma. Mas quando se agita muito a cenoura o burro encarniça como sucedeu na Universidade do Minho. José Fernandes, presidente da Escola de Direito, foi esfaqueado por um estudante chamado simplesmente Sérgio. Descrito pelos colegas como uma pessoa muito pacata que anda um bocado sozinha. Na América são estes que pegam na Glock e abreviam licenciatura e vida aos companheiros de carteira. Em Portugal somos antes pela faca e alguidar. Sérgio sentiu-se injustiçado com o Protocolo de Bolonha e não foi de modas. Pega numa faca de cozinha não amolada e dá uns golpes no docente provocando-lhe uns arranhões. (Por causa da especialização do ensino um aluno de Direito não sabe que uma faca romba não corta). E, como Deus deu mãos aos nossos avós para cavar, deu-nos dedos mas, tal como o projecto artístico berlinense, Chicks on Speed, “We don’t play guitars”, vamos persistir no uso do cérebro para voltar aos majestosos tempos dos Lusíadas (então em livro, agora, talvez, em formato digital).

Depois de concluída a escolaridade obrigatória, (e respectivos updates), ficamos mais aptos para perceber a cosa nostra. Não o ramo americano da máfia siciliana mas as nossas coisinhas. O nosso fado, o nosso futebol, a nossa Fátima e o nosso fumeiro. A troca de piropos futebolísticos é actualmente a lenha da nossa alma. Enquanto Scolarão não regressa entretemo-nos com Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa. Este acusa aquele de pagar uma viagem Lisboa – Luxemburgo – Lisboa, com estadia no Luxemburgo à jornalista Leonor Pinhão. E penitencia-se frente aos dragões de Lisboa: “confio nos tribunais do nosso país e, sobretudo, confio na justiça divina e, por isso, de peito aberto, quero-lhes dizer que estou de consciência tranquila e não tenho nada a recear”. O outro contrapõe que é o “estrebuchar do morto” e nós sentimo-nos vivos num concerto dos Architecture in Helsinki, em… Helsínquia.

quinta-feira, junho 21, 2007

Caliente

No acolhedor pub da Myfanwy, Daffyd Thomas, envergando um conjunto corpete e calção e boné à bellboy de cabedal azul lustroso, lamenta-se sobre a sua triste sina de ser o único gay na aldeia de Landewi Brefi. (Personagens e lugares da série de humor britânica “Little Britain”). Fecha os olhos à evidência de que, na pitoresca village da Pequena-Bretanha, todos os homens abafam a palhinha e as mulheres gostam de grelos aos molhos. Daffyd pressente através da sua acurada percepção gay que, se houvesse muitos, seria a depravação moral, num estilo cloaca comportamental, como cantavam os Mamonas Assassinas noutro contexto.
(“No mundo animal
Existe muita putaria
Por exemplo, os cachorros
Que comem a própria mãe
Sua irmã e suas tias,
Eles ficam grudados,
De quatro se amando
Em plena luz do dia”).
Um seria o número ideal de gays para Landewi Brefi segundo o simpático larilas. A medida certa, em tempos, era ensinada nas famílias estruturadas. As nossas atiladas avózinhas avisavam que tudo o que é de mais enjoa. Comer muito bolo de chocolate ou compota de morango faz dói-dói na barriga, diziam, por cima dos óculos, ponteando as peúgas do marido.

Empanturrar muito de outra coisa qualquer faz mal noutro órgão algures. Temos o caso de Britney Spears. Durante anos alardeou virgindade. Que se conservava intacta para o momento e homem certos. Mas muita virgindade deu-lhe cabo do juízo. Quando finalmente o motor engatou Britney arranca em alta velocidade. Casou-se. Pariu dois filhos de uma enfiada. Divorciou-se. Associou-se às party girls Paris Hilton e Lindsay Lohan para pintarem a manta na noite americana. Mostrou-se sem cuecas a sair de carros e o mundo ficou a saber que au naturel é melhor que a lingerie Victoria’s Secret. Rapou o cabelo e entrou numa clínica de reabilitação. Mais perto de nós, na Albânia, esse farol do maoísmo na Europa, muita aliança proletariado-campesinato, deu-lhes para outra maluqueira. Para receberem Wbush como um herói. Vivendo agora na abençoada liberdade democrática protagonizaram uma cena inaudita em Fushe Kruje, 25 km a norte de Tirana. Proporcionaram a Wbush o seu banho de multidão (como merece um natural born leader). Abraços, apertos de mão, beijinhos choviam. Parecia o regresso do camarada Enver Hoxha (mas em bom). O contacto físico era tão próximo, que lhe iam palmando o relógio, não fosse o arguto presidente pensar em antecipação, e meter a cebola de luxo no bolso. Duro golpe para aqueles que criticam Wbush por não conseguir prever a sequência de cores num semáforo quanto mais o desfecho de uma guerra.

Em abono da verdade, não está provado pela fast science (a ciência actual, parente pobre da fast food) o cariz prejudicial do excesso, como se pode confirmar empiricamente pelo comportamento português. Muito imposto, muita multa, muita taxa, muita coima, seria de esperar uma reacção violenta. No entanto, com as Finanças a sitiar o cidadão não se ouve um grito às armas contra os canhões marchar. É verdade que está na índole do português escabujar um pouco. Que diabo é dinheiro! Mas tudo acaba em bem. Enquanto o país aguarda pelo seu iceberg para ir ao fundo de vez, não veremos episódios de violência fofinha, como nos cartoons Happy Tree Friends.

Quando falamos da administração americana a música é outra. Mais ao jeito de “The boys are back in town” de Phil Lynott e os Thin Lizzy. Os ventos de Washington são uma suave brisa, soprada por Éolo, para esgraminhar o universo das ervas daninhas. Por vezes para cumprir tão árdua missão é preciso esticar a corda. Encolher o pé para caber no sapato. Cortar no vestido para entrar na limusine. Uma personagem importante para que os Estados Unidos mantenham uma boa forma física é o Procurador-geral (U. S Attorney General). Ele é responsável por eliminar o mau colesterol daquele corpo Lone Ranger (o Zorro que acompanhava com o Tonto) incumbido de policiar o mundo e, ainda, de dar o seu melhor para que o presidente não seja apanhado em ceroulas. O actual U. S. Attorney General, Alberto Gonzales, por ter entrado nos EUA antes da construção da Grande Muralha do México, tem de mostrar serviço a dobrar. Foi entalado pelo despedimento de vários procuradores por não serem o suficientemente bushies, mas safou-se muito bem perante as comissões de inquérito repetindo a convincente frase “não recordo”. E a coisa resolveu-se com demissões em cadeia (menos a dele). Do seu chefe de gabinete, Kyle Sampson e da assessora que fazia a ligação com a Casa Branca Monica Goodling. Do seu vice, Paul McNulty, e do chefe de gabinete deste, Mike Elston. Mas outra nuvem se acercava no horizonte. Previa-se que o relatório do FBI sobre o crime traria números embaraçosos para o seu departamento e o patrão Wbush. (Houve um aumento de 1,3 % no crime violento). O desespero é o pai do engenho. E como consegue um ilusionista bons espectáculos? Faz desviar a atenção da assistência do sítio onde executa o truque.

A manobra de diversão mais caliente nos EUA nos dias de hoje é o atentado terrorista frustrado. Agentes do FBI e procuradores do Departamento de Justiça vestiram fatos de gala para apresentar o atentado que veio das Caraíbas. Objectivo: explodir os tanques e condutas de combustível no aeroporto internacional John F. Kennedy em Nova Iorque. Um ex-bagageiro teve esta ideia amalucada quando, na execução das suas funções, viu material bélico sendo embarcado para Israel. Deduziu que os mísseis seriam destinados para matar muçulmanos e decidiu “fazer algo para apanhar esses bastardos”. O cérebro desta ignóbil tramóia contra o império da liberdade chama-se Russell DeFreitas, 63 anos, nascido na Guiana e naturalizado americano. (Presumo que os anti-americanos torcem o nariz. Russell DeFreitas? Mas que diabo de nome para um terrorista. Calma, o homem também é conhecido por Mohammed. O FBI e Gonzales não são tolos). DeFreitas recrutou uma tropa de choque. Adbul Kadir, 55 anos, pai de nove filhos e com 18 netos, também da Guiana, ex-membro do Parlamento local e ex-presidente da Câmara de Linden, Kareem Ibrahim, 56 anos, da Trinidad e Tobago e Abdel Nur, 57 anos, da Guiana igualmente. Como é óbvio o agente infiltrado – um traficante de droga alistado no FBI – teve um papel crucial para deslindar este diabólico plano. Tanto, que DeFreitas considerava-o um enviado de Alá para cumprir, em seu nome, este anelo de matar mais uns americanos.

Concordo que é um atentado atípico. Mais parece um ataque da brigada do reumático. Mas nunca devemos subestimar os velhos. Bicos de papagaio, cataratas e reumatismo não são impedimento para praticar a maldade. E os factos comprovam-no. O ponto alto da debelação desta célula terrorista foi a prisão da filha de Adbul Kadir. Os agentes toparam umas fotografias de Sauda Kadir, juntamente com o pai e os irmãos, empunhando armas que pareciam de grande potência, como os blasters usados por Luke Skywalker e Han Solo contra o Império Galáctico ou os phasers do capitão Jean-Luc Picard no “Caminho das Estrelas”. Salim, um dos irmãos, veio garantir que as armas são de brinquedo, e, inadvertidamente, confirma que o grupo estava em fase de treino (quando são usadas espingardas de pau ou cabos de vassoura). E, até o motorista de Gonzales sabe que uma banal pistola de água Splash, nas mãos erradas, pode causar prejuízos incalculáveis.

Para dissipar dúvidas sobre uma inconcebível suspeita de que o FBI anda a estoirar a massa dos contribuintes, temos o trajecto do mastermind, feito à sorrelfa como mandam os “Estudos Militares para a Jihad contra os Tiranos” (afamado manual da al Qaeda). DeFreitas deu-se mal nos Estados Unidos e radicou-se por uns tempos no North Conduit Boulevard na Jamaica e, para não dar nas vistas, vivia como indigente, sem-abrigo, vendendo livros, incenso e outros artigos da mala do terrorista em low profile. O seu disfarce, pensado ao pormenor, era perfeito. Ainda morando no Brooklyn, certa manhã, o seu carro não pegava e ele, em vez de levantar a capota, e mostrar destreza mecânica, pediu ajuda a um vizinho. Este ficou convencido que DeFreitas era um nabo. Nunca lhe passou pela cabeça que estava em presença de um tipo, com conhecimentos técnicos suficientes, para estoirar uns tanques, que não explodem com fósforos e lixa. E, por isso, não o denunciou ao FBI.

Por Nicolas Sarkozy ter aparecido numa conferência de imprensa, durante a cimeira do G8, com aspecto caliente, um jornalista belga afirmou que ele estava bêbedo. Como Sarkozy saíra directamente de uma reunião com Vladimir Putin compreende-se a confusão do periodista. É proverbial a tendência russa para a piela de caixão à cova. Esta propensão alcoólica está contemplada na própria língua russa. É a única língua no mundo com uma palavra específica para “bebedeira contínua” (durando mais de dois dias no mínimo). Chamam-lhe “zapoi”. O gabinete de Sarkozy apressou-se a desmentir. O presidente francês só bebe água Evian e não entra em coboiadas. Então devemos procurar outra explicação para aquele ar alegre meio descoordenado. O olhar apurado de um português constata que o riso de Nicolas é escarninho. Ele mofava interiormente. Sinais evidentes de que Putin lhe terá contado, segundos antes, a anedota sobre a licenciatura de Sócrates.

sexta-feira, junho 15, 2007

Bom-bomboca

Disparamos mais rápido que um bólide da Fórmula Um, rumo ao prometido per capita de nababo, que o amanhã é hoje. Já não faz sentido, em Portugal, dividir o tempo em passado, presente e futuro. Ele é um eterno agora. Vivemos o perene presente. Dirão as más-línguas que cingimos a noção de tempo das crianças, mas os mais filosóficos notarão que cumprimos um cânone civilizacional – “não adiar para amanhã o que pode ser vivido hoje” (um clone aperfeiçoado do velho adágio “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”). Portugal tem um passado refulgente de peripécias essenciais para a Humanidade e um presente promissor. Porventura chegou a luz que o melhor grupo português, Blasted Mechanism, canta. (Arautos do Prof. Agostinho da Silva no planeta Terra louvam o reino da espiritualidade numa união dos povos materializada na liberdade). Talvez a uberdade intelectual seja discutível mas ninguém pode negar que temos a liberdade de adquirir electrodomésticos catitas. E tudo graças à riqueza “simplex” deste ufano presente.

A antiga terra dos robustos madonaros e misseiros fervorosos, de beatas a perder de vista e da persignação por dá cá aquela palha, com o Domingo como dia nacional metamorfoseia-se, por obra de uma mais que iluminada (incandescente) elite, numa aformoseada nação de laicos operários fanáticos pelos dias úteis. Se houvesse Censura (grrrrrr!), e não Lei de Mercado (aaaaah!), seria proibida a derrotista melodia dos Boomtown Rats “Tell me why I don’t like Mondays”. Porque, a frase mais ouvida nos lares e bares, durante o fim-de-semana, é “nunca mais chega segunda-feira para eu ir trabalhar”. (Até o caçador Miguel Sousa Tavares reconhece que, ao contrário dos calinas passados, os seus contemporâneos gostam de trabalhar). E, com o trabalho honesto, vem a riqueza e o progresso, dizem… os livros infantis como, por exemplo, o da formiguinha e da cigarra. Mercê da abundância o país evoluiu tanto nestes últimos quatro anos que se faz notar no estrangeiro. Há dias a folha de couve londrina The Times noticiava que os inspectores encarregados da investigação do desaparecimento de Madeleine McCann na Praia da Luz, Algarve, faziam almoços de duas horas onde ingeriam bebidas alcoólicas. Longe vão os tempos da “sardinha para quatro”, onde o bocado que nos calhava no prato se engolia num santiámen, acompanhado de água (quando havia). Empachar o bacalhau com grão ou o cozido à portuguesa requer uma disponibilidade dos banquetes romanos ou do filme “A última farra” de Marco Ferreri. E não regá-los com tintol seria o mesmo que ir à missa sem comungar ou… para os mais ateus, ir à casa de alterne sem molhar o bico.

A perspicácia inglesa topou que comemos melhor, e quiçá, dentro em breve estaremos ao seu nível para sermos um franchising americano. A velha Albion teve sorte nos presidentes ianques que engraçaram com aquela espécie de dirigentes no 10 Downing Street e no palácio de Buckingham. Deram-lhe a mão para que progredisse numa nação realmente importante no panorama mundial debelando a imagem do snobe de chapéu colonial e calção de caqui derrotado por Mahatma Gandhi. Antes da ablução americana para a Inglaterra iniciar uma segunda vida, os indígenas engolfados no chauvinismo very british, consideravam os Beatles um marco na História da Música, e não um grupelho de segunda categoria, quando comparados com verdadeiros pilares da música popular como George Gershwin ou B. B. King. E desprezavam os bloody foreigners como se tivessem micose. Nem lhe reconheciam valor económico para trabalhar em explorações contaminadas com o vírus H5N1. Foi pondo os olhos no arcaboiço latino para empurrar a economia do tio Sam no trilho do progresso que perceberam a potencialidade dos forasteiros (isso, ou vendo hollywoodianos filmes com Paz Vega ou Penélope Cruz). Desde que se uniram aos americanos aprenderam a distinguir o bom-bomboca (bom mesmo bom) do mau-lacrau (mau mesmo mau). E até a sua Polícia esmerou a pontaria, como provam os onze tiros disparados sobre o electricista brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um terrorista, no rescaldo das explosões no Metro de Londres, em 2005. Sete balas acertaram-lhe na cabeça num ensinamento que retiraram dos filmes americanos para certificar um óbito. Como sabem para os ingleses, os portugueses não são nem pretos, nem brancos, mas também não são grande coisa, logicamente, como diria o nosso Luís Figo, só podem ter aprendido com os relatórios do Departamento de Estado americano a condescendência pelas susceptibilidades culturais dos subdesenvolvidos da península ibérica.

Segundo a cartilha transmitida de Washington a Londres é simples distinguir um bom-bomboca de um mau-lacrau. Como é fácil de adivinhar o primeiro critério é a Bíblia que anuncia “a candeia dos ímpios será apagada”. Quem não respeita a Cruz está… crucificado. O outro vem das tripas (“guts”, algo que os americanos têm muito). São maus-lacraus todos aqueles que o canastrão de serviço, sentado na Sala Oval, odeia visceralmente. Hugo Chávez é um epítome do mau-lacrau, que deu mais um testemunho da sua intrínseca maldade, quando não renovou a licença à estação de televisão privada Rádio Caracas TV, coarctando a liberdade de expressão e, em última instância, a Democracia (como eloquentemente expôs Durão Barroso que, tal como o metro-padrão está no museu Internacional de Pesos e Medidas, em Paris, o nosso compatriota encontra-se na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, como a medida-padrão da liberdade). Por outro lado, no Paquistão, Pervez Musharraf é um ratificado bom-bomboca responsável por haver menos terroristas respirando o nosso ar. Mandou bloquear o sinal do canal privado por cabo Geo News porque o apresentador do programa “Neary Mutabik”, Shahid Massood, não parava de criticar o Governo, e avisou todos outros operadores nacionais ou internacionais para baterem a bola baixa ou os seus canais irão pregar aos peixinhos noutro lado, que não o Paquistão. (Este é um exemplo de boa e má censura. E quem não consegue distinguir o bom do mau anda com o sinal bloqueado).

Uns maus-lacraus que ninguém contesta foram os nazis. Maus como as cobras matavam judeus com Zyklon B, endrominando-os com um banho de chuveiro, para entrarem num exíguo cubículo, onde pastilhas colocadas nos ralos, por acção da água, libertavam o mortal gás. Entretanto, veio a vitória dos aliados, que nos proporcionou milhões de pedagógicos filmes de guerra com os bons a vencerem sempre e a paz democrática. E não há Democracia sem abusadores. Os Estados Unidos que organizam a sua vida social segundo os preceitos bíblicos (“dente por dente, olho por olho”) têm a necessidade de os despachar para o outro mundo. Um bom método é câmara de gás, que faz o facínora meditar, espumando pela boca, sobre os seus ruins actos, antes de entregar a alma para julgamento divino. Mas como os americanos são indesmentíveis bons-bombocas não iriam usar Zyklon B, coisa de vil ditador e não de democrata respeitador dos direitos dos homens. Optaram pelo ácido cianídrico. (Zyklon B é o nome comercial de um pesticida feito à base de ácido cianídrico). Sei que parece mal. Afinal são ambos a mesma coisa. Mas há uma diferença fundamental. Usando o nome científico os americanos mantêm o estatuto de bom-bomboca. A Ciência dá uma credibilidade que a ideologia nacional-socialista não tem nem em mil anos. (O último condenado gaseado foi Walter LeGrand, em 4 de Março de 1999, no Arizona).

Londres é o satélite Telstar que faz bip! bip! para Portugal. Todos dançamos o baile de “A whiter shade of pale”, dos Procol Harum, quando a Grã-Bretanha pia. Durante muitos anos os ingleses vestiram-nos com os seus têxteis e beberam o nosso Oporto. Nós achegamo-nos a eles para defesa contra Napoleão e orientação na vida. Provavelmente de lá veio o hodierno conceito de bom e mau irradiado pela “sociedade civil” (e militar, também). Um acontecimento sucedido há quatro anos pôs o motor vruuuuum! vruuuuum! no presente. O Processo Casa Pia separou o trigo do joio na eira da Justiça. Epinício sobre o fadado destino de andar à nora nos tribunais. Agora, sem ser licenciado em Direito, o povo sabe que lado da barreira ocupar. Quando o Supremo Tribunal de Justiça reduz a pena de sete para cinco anos do condenado, por pedofilia, de Celorico de Basto, está a perdoar um mau-lacrau. Pouco interessa que a violação sobre um rapazola de 13 anos fosse continuada no tempo (como na saudosa China de Mao Tze-Tung onde os criminosos eram condenados – e bem – por praticaram violações na mesma pessoa anos a fio). Nesta mesma ordem de ideias, o tribunal de S. João Novo, no Porto, absolve Maria Clementina Pires que matou o marido à machadada e é aplaudido pela assistência. É um caso indubitável de bom-bomboca. A senhora foi abusada durante 40 anos e a violência da morte do cônjuge atesta essa raiva em espinhos contida na alma.

Conta-se que uma das frases do filósofo Tales de Mileto terá sido “tudo está cheio de deuses”. Supõe-se que fez tão peculiar afirmação ao notar as propriedades da pedra imã. Pinto Monteiro, Procurador-geral da República, declarou num jornal, “o país está cheio de arguidos inocentes”. Calcula-se que chegou a esta sui generis conclusão reparando nos calhaus que trabalham no Ministério Público e na judicatura em geral.

quarta-feira, junho 06, 2007

Liberalizar por aí

Não há nada mais reconfortante que uma camisolinha de lã tricotada com certezas para nos aquecer a existência. Acordar pela manhã, submerso nas verdades do dia anterior (e todo o sempre), dá uma sensação de absorção Clerasil nas borbulhas das dúvidas. Antigamente, ter uma opinião formada levava o seu tempo. Como uma maçã na árvore, amadurecia, antes de cair na cabeça de Newton. (Ninguém dava cavaco a um catraio por mais espertalhaço que fosse). Hoje, Newton treparia pela macieira com pressa de chegar. Cedo o jovem tem a sua epifania, ainda de cueiros, entra em casa de rompante e exclama: “mamã já sei quem sou!”. A mãe, acabrunhada pelo mar de sexo na publicidade – para lhe vender desde telemóveis a laxantes – e a sexualização do quotidiano em geral, convenceu-se que o mundo se tornou numa gigantesca sex-shop. Ouve falar em identidade e pensa no pior. Deita as mãos à cabeça e lamenta: “oh meu Deus! botei mais um rabeta no mundo”. O rebento, adivinhando as maternais preocupações, sossega-a, que não é nada disso, ainda não escolheu a sua orientação sexual. Tem tempo para tal quando lhe crescer a barba. Antes achou a “verdade verdadinha” (expressão para designar o pilar das nossas convicções num mundo onde há mais verdades que seres humanos). Após ter descoberto o clube de futebol do coração, no campo de batalha do complexo de Édipo, encontrou a escola económica e consequente cor política, que guiarão os seus neurónios nas escolhas, quando for chamado a votar, e nas conversas de café. E, aqui está o busílis da questão, se não quiser ser gozado no infantário por usar trajes modelo família Van Trapp, confeccionados com velhos cortinados, ele tem duas modas para optar – uma liberal outra conservadora, atrelando-lhe o prefixo neo, como nos cremes para as rugas.

A Verdade é o oposto da galinha da vizinha. A nossa é sempre melhor que a dos outros. Dela escrevia Nietzsche: “o que é a Verdade, portanto? As verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas”. Considerava o filósofo alemão que na nomeação das coisas esquecemos o devir. Que os conceitos são uma forma de aprisionar uma realidade em transformação. Mas aqueles não acompanham esta. São petrificações linguísticas que constituem o léxico. E, grave, é que servirão de instrumento para explicar uma realidade sempre em evolução. Arrimar-se numas “verdades” é mais económico para o cérebro, pois não precisa de trabalhar muito. Para pensar a realidade basta aplicar uma grelha pré-formada e temos douta opinião. Dançar apenas uma música é menos estafante que dançar todas aprendia-se, nos anos 80, com o grupo alemão DAF na canção “Der Mussolini”. “Tanz den Mussolini”, “tanz den Adolf Hitler”, “tanz den Jesus Christus”, associavam eles numa música misturada de sintetizador, viola e bateria e que, adaptando ao nacional pinderiquismo, ficaria algo como dança o Portas, dança o Sócrates, dança o Mendes, dança o Jerónimo, dança o Louçã… (Se partirmos do princípio que todos têm posições ideológicas diferentes seria impossível dançar a sua “música” ao mesmo tempo). Quem atinge a verdade defende-a como Sir Lancelot defendia Guinevere, pelo singular prazer que, uma e outra, dá. Para um mendista a sua verdade é mais bonita que a de um socratista e vice-versa e por aí fora…

O escaparate actual é pobre. Com dois manequins somente. Um vestido de liberalismo outro de conservadorismo. As roupas do primeiro vêm de Adam Smith que, por sua vez, as recebeu de François Quesnay (médico na corte de Luís V, por interferência de madame Pompadour, e, depois dos 60 anos de idade, economista da escola fisiocrata, que fizera uma descoberta extraordinária na sua propriedade no Nivernais. Que as terras seriam muito mais lucrativas se pusesse um rendeiro a trabalhar para ele). Adam Smith cerca dos quatro anos foi raptado pelos ciganos quando visitava o avô em Glenrothes, nas margens do rio Leven, na Escócia. Foi encontrado vários dias mais tarde. Perdeu-se um cigano mas a Inglaterra ganhou o homem que lhe ensinou que a riqueza das nações é um processo e não consiste na simples acumulação de ouro e prata, como então se pensava. Em 1740, entra na universidade de Oxford “impregnada de Porto e preconceitos”, escreveu ele, mas onde aprenderá uma lição importante – que o destino das instituições não depende da boa vontade dos seus constituintes. O bem-estar social não provém de sentimentos altruístas mas de interesses egoístas. O padeiro trazia o pão à sua mesa, não por ter um bom coração, mas porque lhe convinha vender a sua mercadoria. Por estar em concorrência com outros padeiros era obrigado a baixar o preço e a servir bem o cliente. Deduziu que há uma “mão invisível” que move os afazeres humanos e produziu a sua mais célebre conclusão – será o comerciante impelido por interesses egoístas, orientado pela mão invisível (o mercado), que promoverá o bem-estar social. E lança as bases teóricas para a Commonwealth e a venda a retalho universal.

O desafogo económico para escrever o famigerado livro “Wealth of Nations” veio do improvável Charles Townshend (cuja lei sobre os impostos levou os colonos americanos à independência). Townshend casa com a viúva do filho primogénito do duque de Buccleuch e procura um preceptor para levar o enteado pela viagem da praxe através do continente. Na altura, Adam Smith era professor de Lógica (e depois Ética) na universidade de Glasgow e escrevera a sua “Theory of Moral Sentiments” que impressionou David Hume e o próprio Townshend. Este decidiu que o professor escocês era ideal companhia e influência para o jovem duque. Smith não hesitou em trocar um magro salário por uma renda vitalícia de 300 libras. No ano de 1764 partem para o tour europeu. Viagem proveitosa do ponto de vista intelectual pois, em Genebra, conhece Voltaire e em Paris, François Quesnay. No início do século XX esta teoria, saída de uma pensão de 300 libras, será adaptada ao papel do Estado como protector social, chamando-lhe neoliberalismo. Mas a partir da década de 70, perde-se toda a vergonha e passa a significar liberdade absoluta do mercado e redução das funções do Estado.

O outro fato disponível, não é uma teoria económica no sentido estrito, é uma doutrina político-filosófica. Nasce na década de 60 da cachimónia do casal americano, Irving Kristol e Gertrude Himmelfarb (ex-trotskistas), fartos pelo comunismo ter tomado conta dos intelectuais locais. De facto vivia-se uma autêntica pandemia na terra da cabana do pai Tomás. Freud, Marx e Buda contagiavam portentos da Cultura (na época chamada Contracultura) como Herbert Marcuse, Norman O. Brown ou Alan Watts. Que desviavam a juventude do escritório de recrutamento de U.S. Marines para S. Francisco, flores no cabelo, música Rock e filosofia Hippie, tornando-os permeáveis a uma invasão russa. Se o temível submarino soviético aportasse em Manhattan seria recebido com propostas de viagens “kerouaquianas” até ao México, ou com poemas de Gregory Corso, ou Lawrence Ferlinghetti, em vez da habitual correria às armas para salvar a pátria. Uma sociedade livre não se coadunava com o esmorecimento diante do perigo vermelho e a teoria neoconservadora surge para salvaguardar as sagradas instituições americanas desta doença. Tem uma diferença fundamental em relação ao conservadorismo. Este ainda admite uma evolução natural das instituições. Ideal, ideal para os neoconservadores é que nada mude.

Um jovem seguro de si por ter escolhido um destes vestidos, ainda recebe um conselho da mãe: “não te esqueças de ser ecológico”. Porque a ecologia é uma jóia que fica bem em qualquer roupa. Um nobre sentimento que pode ser sintetizado numa das famosas frases do cinema, encontrada no filme “Marnie”, de Alfred Hitchcock, com Sean Connery e Tippi Hedren. Marnie é uma moça que devido a trauma na infância é ladra compulsiva e não suporta ser tocada por um homem. Casa-se com Mark Rutland, (personagem de Connery), e partem num cruzeiro de núpcias. Quando ela não é capaz de ultrapassar a repulsa pelo género masculino e consumir o casamento passam a viver em quartos separados. Mas numa noite de maior fragilidade Mark tem o seu momento de tálamo forçando a entrada na veludínea gretadura. Pela manhã procura a esposa. Vai encontrá-la de bruços na piscina do navio. Retira-a da água ainda viva e pergunta-lhe: “porque não saltastes pela borda?”. Ela responde: “a ideia era mata-me. Não alimentar os malditos peixes”. Ora, os “damn fishes”, pescados por quotas para não se extinguirem, e as calotas polares, a floresta tropical, a atmosfera, estarão sempre tramados, por mais consciência ecológica exista distribuída no mundo, porque o lucro tem primazia sobre tudo o resto.