Com a vitória dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917, a
Ucrânia acabou sendo integrada à União Soviética (URSS), chefiada pela Rússia.
O líder russo Josef Stalin promoveu a coletivização forçada de terras, o que
matou milhares e milhares de ucranianos de fome na década de 1930, abrindo
feridas históricas. Na II Guerra Mundial, houve ucranianos que apoiaram a
invasão pela Alemanha nazi, porque viam como chance de se livrarem de Stalin,
mas, com o curso do conflito, a situação mudou. Com a dissolução da URSS em
1991, a Ucrânia passou a ser um país independente.
A independência política não significou o fim da dependência
económica: a Ucrânia é um dos maiores importadores do gás natural produzido na
Rússia. Em novembro de 2013, o então presidente Viktor Yanukovich não assinou o
acordo de cooperação conduzido com a União Europeia, levando o país a um pacto
de última hora com a Rússia de Vladimir Putin, que acenava com desconto de 2
mil milhões de dólares anuais na compra do gás. O país entrou em convulsão
social, colocando em trincheiras opostas os defensores da União Europeia e da
Rússia. Milhares de pessoas protestavam diariamente contra Yanukovich na praça
Maidan, na capital Kiev, que, aos poucos, virou um campo de guerra entre
população e forças oficiais do governo. Em 22 de fevereiro de 2014, o
presidente renunciou e fugiu para Moscovo.
Nesse contexto, nasceram a Misanthropic Division e o
Batalhão Azov, nacionalistas e defensores de uma Ucrânia livre da intervenção
russa. Ao mesmo tempo, sobretudo no Leste, cresceram movimentos separatistas,
apoiados veladamente por Putin. A Crimeia, de maioria separatista, foi anexada
à Rússia, que enviou tropas não identificadas à região. Em abril, as cidades de
Donetsk e Lugansk, pró-Rússia, declararam independência. O Protocolo de Minsk,
assinado em setembro de 2014, previa o cessar-fogo e uma série de medidas para
a paz, mas não está sendo respeitado.
Inicialmente, o Azov era um batalhão de voluntários. Entre
2014 e 2015, homens de várias partes do mundo juntaram-se à tropa por acreditar
nos ideais ultranacionalistas e no antissovietismo. Foi o caso do italiano Francesco
Fontana e também de um jovem de Canoas. Em 12 de novembro de 2014, o batalhão
foi incorporado pelo governo que sucedeu Yanukovich. Tornou-se um regimento da
guarda nacional da Ucrânia, vinculado ao Ministério dos Assuntos Interiores, na
batalha contra a “invasão russa”. O seu líder era Andriy Biletski, hoje
deputado pelo partido de extrema-direita Corpo Nacional.
As polémicas do Azov não tardaram: muitos dos seus soldados
não escondiam orientações neonazis. A própria bandeira tem um símbolo que remete
ao nazismo. Biletski chegou a declarar que o batalhão tinha a missão de “liderar
a raça branca do mundo numa cruzada final pela sobrevivência”.
Fontes ucranianas com posições importantes no Brasil,
ouvidas sob anonimato por ZH, negam que o regimento seja nazi. Dizem que um dos
seus mantenedores iniciais era judeu e que o símbolo da bandeira é uma
representação das iniciais I, de ideia, e N, de nação. Também atribuem à
“propaganda russa” as vinculações com o nazismo, para desgastar as forças de
defesa ucranianas junto à comunidade internacional. Argumentam que tropas
pró-russas foram as que mais cooptaram lutadores latinos. Citam como exemplo o
paulista Rafael Lusvarghi, preso recentemente na Ucrânia sob acusação de
terrorismo por ter lutado ao lado dos separatistas.
Em 2015, os estrangeiros passaram a não ser mais aceites no
Azov. Em junho de 2016, o presidente Petro Poroshenko publicou um decreto em
que regulamentou a possibilidade de estrangeiros serem admitidos “no serviço
militar contratual nas Forças Armadas da Ucrânia”. Os guerreiros podem,
inclusive, receber salários. Por isso, alguns dos críticos costumam
classificá-los como “mercenários”.
Na página do Azov na internet, é fácil preencher o
formulário de alistamento, com perguntas sobre vida, ideologia e habilidades
dos interessados. Também são listados os treinos militares necessários. A
reportagem de ZH preencheu o documento, mas, como resposta, recebeu a
informação de que somente ucranianos estão sendo aceites nas fileiras.
O conflito na Ucrânia arrefeceu, mas não completamente. Em
18 de dezembro de 2016, cinco soldados do país morreram em combate com tropas
pró-russas na cidade de Debaltseve. Foram duas horas de ataques com artilharia
pesada.
Fonte: GD!
Etiquetas: batalhão azov