Gallus
gallus domesticus
1983.
“O país é esperto, os portugueses são espertos”. Quem assim elogia? Olha, lá no
céu! É um pássaro! É um avião! Não, é um superhomem! Ângelo Correia, no sábado
15 de janeiro, de os cadeirões do programa “Venha tomar café connosco” [1], além de panegíricos ao povo, atirou também know-how para tempo de crise: “devo a
minha casa de 6 assoalhadas ao gonçalvismo: 1975 era uma esplêndida
oportunidade para negócio, ninguém queria arriscar…”. Ângelo Correia, era o ministro
da Administração Interna do Governo de Pinto Balsemão, e responsável político
por duas mortes e muitos feridos no 1.º de maio de 1982 no Porto, porém, no
gatinhar da democracia portuguesa, os ocupadores de cargos públicos não eram
ainda responsabilizados pelos seus atos ou o descambar da sua tutela. Errou king size,
no seu Canal da crítica de TV, em 17 de janeiro de 1983, Mário Castrim: “agora
o homem que tem as mãos tintas de sangue vai-se embora. Deixa atrás de si um
rasto de vergonha. Será com raiva e nojo que o povo português pronunciará
sempre o seu nome que, mais do que simples nome de pessoa, é símbolo de uma
política de repressão, de ruína, de morte” [2].
Tinha
um amor, Ângelo: “eu quis criar a polícia que deve existir no ano 2000” - anúncio PSP (1983). Por
amor de uma polícia livrou-nos Ângelo da pinky
violence [3].
Quarta-feira, 19 de janeiro, inauguram-se os chacais, epíteto dos GOE entre si por serem bads to
the bone: “o chacal precisa de mais treino”, comentou o major Diogo,
comandante do Grupo de Operações Especiais da PSP, quando um dos seus homens
com espingarda de mira telescópica falhou um alvo a 500 metros [4]. Presentes nesta demonstração, a comunicação social,
vultos nacionais e, confrontados com ele, os chacais eram uns gatinhos, o
verdadeiro “Bad
Motherfucker” (do grupo indie
russo Biting Elbows), o ministro da Administração Interna. Medusa dos terroristas,
Ares dos petrolistas, galo cobridor dos subvertores, Ângelo Correia talha o modernismo
do GOE: “uma resposta às forças que não aceitem a convivência pacífica em
democracia, onde os problemas se resolvem através do debate das ideias”. Ângelo
não é homem de dogmas, picuinhices que não dão hortaliças, versátil, não se
engasga quando o país demanda por bosta, por fertilizantes políticos de
carreira – “pois bosta pode ser usada como fertilizante, enquanto que os dogmas
não”, Mao Tsé-Tung [5]. Na quinta-feira, 24 de
fevereiro anuncia ele que, sem abandonar a sua pasta ministerial, concorre a
deputado pelo distrito de Aveiro: “não há qualquer preceito na lei que mo
impeça”. Que o seu ministério “praticamente nada tem a ver com o processo
eleitoral, que depende fundamentalmente, da Comissão Nacional de Eleições”. “Há
uma certa tradição proveniente das posições de anteriores titulares da pasta
que não quiseram concorrer à Assembleia devido às funções que desempenham”,
esse é um “argumento falacioso que não tem qualquer suporte legal ou político.
Se fossemos por aí o ministro da Administração Interna teria de ser sempre,
forçosamente, um independente e nunca um político de carreira” [6].
Sexta-feira,
21 de janeiro, Bayão Horta, ministro da Indústria, Energia e Exportação, numa
visita ao Terceiro Encontro Nacional para o Desenvolvimento das Indústrias
Elétricas e Eletrónicas, em Lisboa, “durante a sessão presidida pelo presidente
da República, [general Ramalho Eanes], expôs publicamente os objetivos e
princípios da nova campanha ‘comprar português’ que o seu ministério decidiu
lançar em 1983” .
Pelas suas contas “poderá permitir uma diminuição de cerca de 350 milhões de
dólares no défice comercial do país”. A campanha dirige-se “no sentido de uma
redução de 5 a
7 % do volume de aquisições, que em 1982, ascenderam a cerca de 5,5 mil milhões
de dólares (480 milhões de contos)”, e na “promoção e divulgação da qualidade e
capacidade competitiva dos produtos da indústria nacional, a promoção da
inovação tecnológica nacional, assim como todas as ações tendentes a otimizar a
curto e médio prazo o valor acrescentado nacional em todas as operações
industriais”. - Em 1983, Isabelle Adjani lança “Pull Marine”, coescrita
com Serge Gainsbourg, vídeo realizado por Luc Besson: “J'ai touché le fond de
la piscine / Dans le petit pull marine / Tout déchiré aux coudes / Qu'j'ai pas
voulu recoudre – Eu bati no fundo da piscina / Na minha camisola marinha / Toda
rota nos cotovelos / Que eu não quis remendar”.
Quinta-feira,
27 de janeiro é publicado em Viena o relatório anual do Órgão Internacional de
Controlo de Estupefacientes das Nações Unidas. “A produção ilícita aumenta e o
tráfico está florescente”. O consumo de cocaína e heroina aumentou em 1982 no
Ocidente. “A cocaína já não afeta só as camadas abastadas da população. (…).
Este aumento de consumo de cocaína, considera o relatório, é devido
nomeadamente a uma superprodução de folhas de coca. Este excedente não é
utilizado para fins médicos, ou mascado pelas populações locais, nomeadamente
na Bolívia e Peru. (…). O consumo e o tráfico de heroina aumentaram no primeiro
trimestre de 1982 um pouco mais de 65% em relação ao mesmo período de 1981, num
país da Europa ocidental não indicado. Segundo o relatório, a heroina continua
a ser mais fácil de obter, em geral muito pura, e o seu preço baixou devido à
abundância da recolha de papoilas dos dois últimos anos na região do triângulo
de ouro (Birmânia, Tailândia, Laos) e a existência de quantidades crescentes de
heroina produzidas ilicitamente em várias partes do Próximo e Médio Oriente”.
Na década de 80, prosperou em Portugal o Casal Ventoso, o sonho
dos liberais, a prova de como o mercado funciona com prosperidade para o
vendedor e vantagens para o consumidor. Todos dos dias milhares rumavam ao
bairro de Lisboa, para comprarem as suas quartas (teoricamente, um quarto de
grama que, por pressão da livre concorrência, algumas pesavam meio grama, em
preço estável, 2500$00.
Na
praia económica na unida Europa. “O número de desempregados dentro da CEE
atingiu um novo e inesperado recorde em fins de 1982, com um total de 12
milhões, ou seja, 10,8% da população ativa, indicam as estatísticas publicadas
pela Comissão Europeia em
Bruxelas. A comissão sublinha a gravidade do problema e
indica que o aumento do desemprego no conjunto da CEE foi de 16,7% durante o
ano de 1982. Nas suas previsões de outubro, a Comissão previa que a marca dos
12 milhões de desempregados só seria atingida em fins de 1983. (…). O
agravamento da situação do desemprego atinge especialmente os jovens que representam
40% do total. Finalmente, sublinha-se que com os 12 milhões de desempregados a
CEE atinge o nível dos Estados Unidos, quer em número quer em percentagem da
população ativa” [7]. A aposta europeia no
desemprego libertou o tempo, milhões de europeus sem nada que fazer, com todo o
tempo da Europa. Como passatempo em Portugal leem-se livros, em 1983 foram
publicados: “A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera: “todos nós temos
necessidade de ser olhados. Podíamos ser divididos em quatro categorias
consoante o tipo de olhar sob o qual desejamos viver. A primeira procura o
olhar de um número infinito de olhos anónimos ou, por outras palavras, o olhar
do público. É o caso do cantor alemão e da estrela americana, como é também o
caso do jornalista de queixo de rabeca”; e “As cruzadas vistas pelos árabes”, Amin Maalouf: “quando a matança parou, dois dias depois, não havia um único
muçulmano dentro muros. Alguns aproveitaram a confusão para escapar para o lado
de fora, através das portas que os assaltantes tinham deitado abaixo. Os outros
jaziam aos milhares em poças de sangue nas soleiras das suas casas ou perto das
mesquitas”. Em BD publicaram-se os dois primeiros números da saga de ficção
científica “Incal”, escrita por Alejandro Jodorowsky, ilustrada por Moebius, “O Incal
Negro” e “O
Incal Luz”; e o Tenente
Blueberry, escrita por Jean-Michel Charlier e desenhada por Moebius.
__________________
[1] “Venha tomar café
connosco”, autor e apresentador Jorge Cobanco, estreou no sábado, 6 de novembro
de 1982 na RTP1, depois do Telejornal. O último Café foi transmitido sábado, 19
de fevereiro de 1983. Ângelo nesse programa após o “Dallas” caceteou: “tomismo
e marxismo têm as mesmas géneses”. “O país tem grandes esperanças na sua Guarda
Republicana”. “A única coisa que vale a pena é vivermos. A vida é uma chama que
não pode apagar-se”. “Penso na morte. É estranho, tão novo… mas não quero
morrer com o drama de Jean Barois. Quero preparar-me…”.
[2] O povo sulfatou Ângelo de
quotiliquê, valor, vulto, prestígio, içou-o de gualdrapa e cabrejão escarlate
de borlas, testeira de chapas amarelas, nas veredas mais altas da consideração.
Em 2013, seu nome, ninguém o pronuncia com “raiva e nojo”, requisita-o com
apreço como nora de poço de sabedorias. Aufere Ângelo pensão de 2200 € no
entanto adora fazer-se de parvo: “quando a Judite, ou eu, o Henrique,
descontamos, o dinheiro não fica guardado, por uma razão, porque é p’a pagar,
nós ativos, aqueles que já trabalharam, que agora estão reformados. E a pagar
os jovens que ainda não trabalham. Quando nós passarmos a ser idosos, o meu
caso, já o vosso não é, nessa altura seremos pagos, eu serei pago pelo trabalho
de vocês que cá ficam. É assim um problema de três ge de de um acordo de três
gerações”, no programa da tvi24, Olhos nos olhos a).
–
a) As pensões em Portugal são pagas segundo o sistema
de repartição, ou seja, chapa ganha chapa gasta, os no ativo pagam para os
desativados, ao contrário do outro sistema chamado de capitalização, em que o
dinheiro é aplicado para obter rendimentos, como por exemplo, compra de dívida pública
de povos atrasados. Em 1983, 1,73 trabalhadores descontavam para um reformado, em
2011, essa média desceu para 1,21 trabalhadores para um reformado. Medina
Carreira: “grosso modo há um português a trabalhar para um reformado, quer
dizer, é preciso que o português que trabalha ganhe muito para manter um
reformado, já tem dificuldades em manter a família, quanto mais manter um
reformado”.
[3] “Pinky Violence:
Essential Trailers (1970-1977)”, segundo o Guia
para principiantes, são “filmes de ação com raparigas más”. Um género de cinema japonês do final
dos anos 60 início de 70, que misturava elementos eróticos dos filmes Pink (softcore japonês) com a violência dos
filmes Yakuza.
[4] O GOE, instalado na
Quinta das Águas Livres, em Belas, “está sob o comando do comandante-geral da
PSP, mas só intervirá em ações especiais sob o controlo direto do Governo. (…).
A vocação do GOE é participar em ações de libertação de reféns, neutralizando
os sequestradores, estejam eles em qualquer tipo de instalações ou meios de
transporte”. Na sua apresentação debutante teatralizaram vários quadros do
treino. “Os GOE simularam também um assalto a um quinto andar, onde penetraram
e fizeram explodir três granadas, com os polícias já no exterior da habitação,
neutralizando os ‘sequestradores’. Os convidados puderam ainda observar uma
ação de proteção de uma alta individualidade feita por três elementos, um dos
quais, enquanto os outros dois disparavam, derrubava a alta individualidade,
cobrindo-a com o seu próprio corpo. Ainda outra demonstração do GOE consistiu
no assalto a uma vivenda fazendo rebentar uma parede lateral do edifício e
criando uma abertura por onde entraram, enquanto outros elementos forçavam a
porta numa ação conjugada e fulminante”.
[5] Mao Tsé-Tung: “o
marxismo-leninismo não tem nem bons livros nem magia; é somente muito útil.
Parece existir uma grande quantidade de pessoas que julgam que é uma espécie de
medicina encantada com a qual se pode curar facilmente qualquer doença. Aqueles
que o tomam como dogma são esse tipo de pessoas. Devemos dizer-lhes que os seus
dogmas são menos úteis que a bosta de vaca. Pois bosta pode ser usada como
fertilizante, enquanto que os dogmas não”, em “Remaking of Ideology”.
[6] Os portugueses, como
girassóis, viram-se para Ângelo Correia, o sol, viripotente analisador e
solucionista: “nós não temos de pensar um IRC p’a Portugal. Temos de pensar em
IRC que tenha uma competitividade relativa com os outros países, onde os
investidores podem investir, ou seja, com a Irlanda, com a Espanha, com os
países bálticos” (2013). “Não, isto não acaba, o país continua e a luta também
continua, portanto, quer dizer, não estamos a falar de acabar” (2013). “Eu falo
do PS, por exemplo o dr. Seguro, o grande dr. Seguro, eu vi-o ao outro dia com
os braços no ar, encalorado, a dizer estamos preparados p’a governar. Eu ri-me
eu ri-me, porque é que de repente o dr. José António José Seguro acorda de
manhã e diz ‘tá preparado? Porque tem um papel com 10 medidas. Isso não é
programa de Governo”.
[7] A Europa melhorou,
segundo dados do Eurostat, em maio de 2013 o número de desempregados era de 26
522 milhões. Os líderes europeus andam na corrida global, o mesmo modelo da
corrida de ratos, só com os ratos correndo desnorteados. David
Cameron, atrelado de 30 líderes empresariais ingleses, visitou o
Kazaquistão para fechar negócios no valor de 700 milhões de libras e criar novos
jobs no UK. O dinheiro é mais denso
que os direitos humanos. Disse Cameron: “vamos ser claros, porque estou no
Kazaquistão num domingo? Estamos numa corrida global. Este é um dos próximos
países emergentes do mundo. Na questão dos direitos humanos, em todas as
relações que temos, não há nunca nada fora da mesa, levantamos e discutimos
todas estas questões e esse será o caso no Kazaquistão também. Penso que é
importante fazer esta visita e é algo que eu escolho e queria fazer”. Portugal
tem um teórico de gabarito, um bloguista sucedido, o ex-ministro da Economia
Álvaro Santos Pereira, que não entendeu a globalização nem a tosquia da Europa.
Em Angola dizia a 16 de julho de 2013 coisas de maravilhar: “portanto, muitas
vezes, as pessoas e as empresas começam a exportar para o mercado angolano e
depois apercebem-se que precisam de ter unidades fabris cá, e é assim que se
faz um processo de internacionalização, e nós temos todo o interesse de apoiar
esse processo de internacionalização”. “Claro que sim, e obviamente a reforma
do IRC, que irá ser anunciado também em breve, visa exatamente atrair mais
investimento estrangeiro e obviamente para nós o investimento angolano é
prioritário, estamos a falar em economias irmãs, estamos a falar em países
irmãos, e aumentar não só as parcerias mistas, mas também a reforçar a presença angolana em
Portugal”.
na sala de cinema
“Repo Man” (1984), estreia sexta-feira, 2 de
outubro de 1987 no Quarteto sala 1. “Otto Maddox (Emilio Estevez), um jovem punk que vive em Los Angeles , é
despedido do seu chato emprego de repositor de supermercado. Descobre que os
seus pais, flipados, fumadores de boi, ex-hippies,
doaram a um televangelista, o dinheiro que lhe prometeram para terminar a
escola. Deprimido e teso, Otto vagueia pelas ruas, até que encontra Bud (Harry
Dean Stanton), um calejado agente de recuperação de bens, ou repo man,
[repossession agent], que trabalha para a Helping Hand Acceptance Corporation
(uma pequena empresa de recuperação de automóveis). Embora, inicialmente, o
conceito de recuperação de carros repugne Otto, a sua opinião muda rapidamente
quando é pago, instantaneamente, em dinheiro, pelo primeiro trabalho. Otto
junta-se à empresa como repo man ele próprio”. – Curiosidades:
“todos os repo men (exceto Otto) têm nome de cervejas. Todos os carros (mais a
mota da polícia) têm pendurados pinheiros ambientadores de ar. O código do repo man
é baseado numa amálgama de ratice dada ao realizador Alex Cox quando ele
trabalhava na vida real como repo man. Alusões ao livro ‘Naked Lunch’ de
William S. Burroughs: ‘paging dr. Benway’, no sistema de som do hospital, e a
referência a Bill Lee. Lite (Sy Richardson) dá a Otto um livro chamado
‘Dioretix’ para ‘ajudar a mudar a vida’. Esta é uma referência à ‘Dianética’ de
L. Ron Hubbard. O filme foi feito pelas ‘edge city productions’, edge city é um
tema recorrente no livro ‘Electric Kool-Aid Acid Test’ de Tom Wolfe. O letreiro
do destino no autocarro que leva Otto de volta a casa dos pais diz ‘Edge City’.
A foto de extraterrestres que Leila (Olivia Barash) mostra a Otto, que é
considerado por alguns como sendo um prato de camarão é, na verdade,
preservativos cheios de água vestidos de camisas de relva. No meio da confusão
em torno do Chevy brilhante, ouve-se Bud dizer: ‘prefiro morrer de pé do que
viver de joelhos’. Esta é uma citação atribuída ao revolucionário mexicano
Emiliano Zapata. A matrícula do Chevy Malibu é ‘127 GBH’, G.B.H. é o nome de
uma banda punk”. –
Banda sonora: 1. “Repo Man
Theme Song”, Iggy Pop; 2. “TV Party”, Black Flag; 3. “Institutionalized”, Suicidal
Tendencies; 4. “Coup D’ État”, Circle Jerks; 5. “El Clavo Y La Cruz”, The Plugz; 6. “Pablo Picasso”, Burning
Sensations; 7. “Let’s Have
a War”, Fear; 8. “When the Shit Hits the Fan”, Circle Jerks; 9. “Hombre Secreto (Secret Agent Man) ”, The
Plugz; 10. “Bad Man”,
Juicy Bananas; 11. “Reel Ten”, The Plugz; e mais “See See Rider”, Louis Armstrong;
e “Rhumboogie”, Andrews Sisters.
Entrevista
com o realizador Alex Cox:
“quando saí da UCLA fui contratado pela United Artists para escrever um
argumento sobre o desertor e agitador da Primeira Guerra Mundial, Percy
Topliss. Quando entreguei o argumento, foi rejeitado como ‘muito inglês,
muito caro e muito antiguerra’. Pouco tempo depois, conheci o realizador
britânico Adrian Lyne. Ele dirigira uma película, Foxes (1980), e queria
que a próxima fosse sobre o que ele sentia ser a questão mais importante do
dia: a iminente possibilidade de uma guerra nuclear. Explorei Seattle e
Vancouver como locais da ação e escrevi-lhe The Happy Hour. Adrian leu-o e
partiu para realizar Flashdance”. Cox escreveu outro argumento para dois
colegas de faculdade também muito caro para produção. “Então, saí e escrevi
outro guião: Repo Man.
Isto foi baseado nos meus próprios horrores pessoais de Los Angeles e a tutela
de Mark Lewis, um recuperador de carros de Los Angeles e meu vizinho em Venice,
CA. (…). Para tornar o pacote mais interessante aos investidores, desenhei
quatro páginas de uma banda desenhada baseada no argumento e inclui-as com o
guião. Tinha planeado num dado momento fazer um livro de banda desenhada, mas
era demasiado trabalho, uma página por dia no máximo, e esforço para os olhos.
Michael Nesmith, o ex-Monkee,
viu o pacote argumento / BD, interessou-se e levou-o a Bob Rehme na Universal”.
Cox escreveu uma sequela de Repo Man. “Michael Nesmith e os produtores de Repo
Man propuseram esta sequela à Universal há cerca de 12 ou 13 anos. A coisa mais
estranha é que a Universal nunca nos respondeu, por isso angariamos o dinheiro
independentemente. Foi um bocado difícil angariar dinheiro para um filme com
Emilio Estevez, porque a sua carreira de ator não tinha sido muito ilustre.
Peter McCarthy, um dos produtores de Repo Man, buliu e buliu e finalmente foi
capaz de montar o negócio. Então, de repente, Emilio Estevez desistiu, e desde
então toda a energia simplesmente esmoreceu”.
Chris Bones viu o guião no site de
Cox e adaptou-o para banda desenhada, Waldo's Hawaiian Holiday:
“Otto, agora usando o nome de Waldo, regressou à Terra vindo de Marte dez anos
depois. Agora, quase nos 30 anos, ele adapta-se à vida em meados dos anos 90, e
consegue um trabalho chato como operador de telemarketing.
Quando Waldo recebe uma chamada oferecendo umas férias havaianas grátis, ele
faz da viagem o seu objetivo, mas os seus esforços são repetidamente frustrados
pela burocracia. É eventualmente revelado que essas dificuldades são
intencionais, e que Los Angeles é realmente uma prisão experimental
auto-sustentável construída por marcianos para conter humanos. Waldo regressa
ao seu trabalho e nunca vai de férias”. Cox, realizador
de “Sid & Nancy”
(1986), “Searchers 2.0”
(2007), “Straight to Hell”
(2007) ou “Bill,
the Galactic Hero”, em 2009 rodou um quase seguimento de Repo Man. Filmado
em dez dias em frente de um green screen com miniaturas, “não uma
sequela, mas situa-se no mesmo ambiente, na mesma crise económica, só que pior”:
“Repo Chick”: “Pixxi De La Chasse (Jaclyn Jonet), mimada, egocêntrica,
celebridade, é herdeira de uma família rica de Los Angeles. Depois de
inumeráveis escândalos nos tablóides, os pais deserdam-na, e dizem-lhe que ela
deve encontrar um emprego a sério a fim de recuperar a sua parte da fortuna. Quando
o seu carro é arrestado, um membro do seu séquito sugere que ela arranje
emprego como recuperadora, uma indústria florescente no colapso geral do crédito”. “Quadrophenia” (1979), estreia terça-feira
25 de março de 1980 no Nimas. “Como pano de fundo, o cenário dos motins
de Brigthon nos anos 60, Quadrophenia
capta perfeitamente a necessidade adolescente de pertença e identidade com os
seus pares. Em 1964, Londres, Jimmy Cooper (Phil Daniels [1]) divide o seu tempo entre acompanhar os seus
amigos Mod [2] e escravidão numa empresa de publicidade. Ele não trabalha
por querer ou por desejo de prosseguir uma carreira. Não, tudo o que o Jimmy
quer é ter dinheiro suficiente no bolso para manter a sua Lambretta [3] a funcionar e elegantes fatos sob medida, deixando
um pouco para anfetaminas” [4].
___________________
[1] Um dos candidatos ao
papel foi Johnny Rotten. Diz Toyah
Wilcox: “bem, digo isto com todo o respeito por Phil, que é o único homem
no mundo que podia representar o papel… mas John Lydon foi espantoso. E o que
me… absolutamente partiu toda foi que eu apareci no seu apartamento em Kings Road e estava
aterrorizada. O diretor Franc Roddam disse-me Ouve, quero que me faças um
favor, ajuda o John Lydon na audição, dá-lhe aulas de representação e eu poderia
dar-lhe o papel. Então, fui ao seu apartamento em Kings Road , havia
pessoas inconscientes em cada pedaço de chão que a vista alcançasse. Acho que
estava lá a banda chamada The Slits, havia alguns outros membros de bandas
muito famosos lá, completamente inconscientes. Pensei Eu não vou ser capaz de
lidar com isto. Sou uma moça de meio copo de Birmingham e isto é demasiado
boémio para mim. Johnny finalmente veio cá em baixo e foi o ser humano mais educadamente
articulado que eu conheci em muito tempo, e ensaiamos as cenas uma vez e outra
e outra, ele estava completamente focado e então despedimo-nos, encontrámo-nos
outra vez em Shepperton e tivemos que fazer a cena na qual eu estava a fazer o
teste para o papel de Leslie Ash, para a protagonista, e ele fazia o teste para
o papel de Phil. E estávamos ambos apavorados. Naquele tempo, éramos filmados
em película de 35 mm ,
câmaras enormes e elas definiam o
caminho , e havia esta câmara monstruosa à nossa frente e eu
pensava Estou tão assustada, estou tão assustada e tenho de ajudar o John a
passar isto! Mas fizemo-lo e achei que ele foi magnífico. E, então, a resposta
veio três semanas depois, que as companhias de seguros não tocariam no filme se
o John entrasse”.
[2] Os modernistas,
específicos do final dos anos 50 meados de 60. “Mods e Rockers eram duas
subculturas jovens em conflito
no início / meados de 60. Gangs de mods
e rockers combatendo em 1964,
despoletou um pânico moral sobre os jovens britânicos, e os dois grupos eram
vistos como tribos de diabos. Os rockers adotaram a
imagem de motard macho, vestindo
roupas tais como blusões de cabedal. Os mods adotaram uma
pose de sofisticados condutores de Vespas, vestindo fatos e outras roupas de
bom corte”. Os mods serão requentados em
datas posteriores pelos Strypes, “You Can’t Judge a Book by
the Cover” (2012), Janice Graham Band, “Murder” (2011), The Jam, “Start!” (1980), Nine Below Zero, “Homework” (1980) ou pelas
Mo-Dettes, “White Mice”
(1979).
[3] Vendida num leilão
por 36 000 libras
em 2009.
[4] Bruce Worden e Clare
Cross desenharam “Goodnight
Keith Moon”, uma paródia do
conto infantil “Goodnight Moon” (1947), uma história para dormir com o
baterista dos Who morto. Enquanto vivo em “Won’t Get Fooled Again”. Na
promoção do álbum “Quadrophenia”, em 20 de novembro de 1973, os Who tocavam no
Cow Palace, em Daly City ,
um subúrbio de São Francisco. Keith Moon, indisposto, vomitou antes do
concerto, e tomou uns drunfos para acalmar, que afinal eram fenilciclidina ou
pó de anjo. Keith
apagou-se quando tocavam “Won’t Get Fooled Again”. Retiram-no do palco, deram-lhe
um banho de água fria e uma injeção de cortisona e Keith regressa com a pica
toda para tocar, até que se apagou de vez durante “Magic Bus” e transportaram-no
para o hospital para uma lavagem ao estômago. Os Who tocam ainda “See Me, Feel
Me” sem bateria. E Pete Townsend pergunta à audiência se alguém sabe tocar
bateria. Scot
Halpin, de 19 anos, assistia ao concerto e substituiu Keith Moon: “cheguei
lá cerca de 13 horas antes do concerto e esperei na fila, arranjei um bilhete
na candonga, e queria ficar bem na frente. E estive na frente nas três
primeiras canções, e então ficou muito assustador, muito apertado. Então fui
para o lado do palco para ver o resto do concerto. E ele desmaiara uma vez
antes. O que aconteceu é que o meu amigo ficou muito entusiasmado quando viu
que ia acontecer outra vez. E começou a dizer ao gajo da segurança, Sabe, este
tipo pode ajudar. E, de repente, do nada, surgiu Bill Graham. (…). E assim, ele
olhou-me diretamente nos olhos e disse Consegues fazê-lo? E eu disse Sim, sem
pestanejar”. Scot sentou-se para tocar “Smokestack Lightning”,
“Spoonful” e os nove minutes de “Naked Eye”. Os Who
ofereceram-lhe um blusão do concerto. Scot morreu em 2008.
no aparelho de televisão
“Captain Power and the Soldiers of the
Future” (1987 / 88), sábados
à tarde na RTP1, 26 de março / 9 de julho de 1988. “Power on!”. “Terra, 2147. O
legado das Guerras do Metal, onde o homem combateu as máquinas, e as máquinas
venceram. Bio-Dreads, monstruosas criações que caçam os humanos sobreviventes…
e digitalizam-nos [armazenando-os no supercomputador inteligente Overmind].
Volcania, centro do Império Bio-Dread, reduto e fortaleza de Lord Dread (David
Hemblen), temido governante desta nova ordem. Mas do fogo das Guerras do Metal ergue-se
uma nova raça de guerreiro, nascido e treinado para derrubar Lord Dread e o seu
Império Bio-Dread. Eles eram Soldados do Futuro, a última esperança da
humanidade. O seu líder, capitão Jonathan Power (Tim Dunigan), mestre do
incrível Fato Power, que transforma cada soldado numa força de ataque de um
homem só. Major Matthew ‘Hawk’ Masterson (Peter MacNeill), lutador dos céus.
Tenente Michael ‘Tank’ Ellis (Sven-Ole Thorsen), unidade de assalto terrestre.
Sargento Robert ‘Scout’ Baker (Maurice Dean Wint), espionagem e comunicações. E
o cabo Jennifer ‘Pilot’ Chase (Jessica Steen), especialista em sistemas
táticos. Juntos, formam a força de combate mais poderosa da História da Terra.
O seu credo: proteger toda a vida. A sua promessa: acabar com o Governo de Lord
Dread. O seu nome: Capitão Power e os soldados do futuro”. “Capitão Power tentou apelar, tanto ao público infantil como ao adulto, com
o seu enredo tenebroso e pós-apocalíptico, mostrando o rescaldo da guerra
nuclear e continha alegorias sobre tópicos como o nazismo. Em última análise,
contudo, isto tornou-se a ruína da série, era vista como muito violenta para as
crianças (por exemplo, brinquedos para disparar contra a televisão, violência
de ação ao vivo gerada por computador), e os seus aspetos menos maduros, como o
título, afastaram o público adulto. Outros fatores que contribuíram para o
fracasso da série, incluíram o alto custo da ação ao vivo (a produção de cada
episódio custava cerca de um milhão de dólares), em comparação com os custos de
produção mais baratos de um desenho animado, assim como o facto de a
jogabilidade entre o programa e os brinquedos ser extremamente pobre”. A Mattel
comercializara uma linha de brinquedos
interativos. “Capitão Power foi também uma tentativa de lucrar
com o mercado dos jogos interativos televisivos pela Mattel. Algumas naves e colecionáveis,
quando disparavam sobre o ecrã interagiam durante vários segmentos do programa”.
1.º episódio. “The Black Forest Clinic / Die Schwarzwaldklinik” (1985 / 89), estreia
na segunda-feira 19 de outubro de 1987, à noite, na RTP1. Na segunda-feira 11
de janeiro de 1988, estreia “Com pés e cabeça”: “novo concurso com autoria e
apresentação de Fialho Gouveia. Trata-se de ‘Com Pés e Cabeça’ e tem como
símbolo um simpático boneco: o sabichão. Jogos de movimento, provas de
criatividade e jogos de conhecimento e memória são a base deste concurso que
terá 28 sessões”, – e a “Clínica da Floresta Negra” é remarcada para as
quintas-feiras. O último episódio foi transmitido dia 31 de março de 1988. “A produção
de a Clínica da Floresta Negra foi influenciada pela popularidade da série
médica checoslovaca ‘Nemocnice
na kraji města’ (Hospital no fim da cidade), que foi para o ar entre 1977 e
1981, e foi transmitida tanto na Alemanha Oriental como na Alemanha Ocidental.
(...). O cenário
para o hospital fictício era a verdadeira Glotterbad Clinic na cidade de
Glottertal, localizada na Floresta Negra de Baden-Württemberg”; c/ Klausjügen
Wussow (prof. Klaus Brinkmann), Gaby Dohm (dra. Christa Brinkmann), Sasha Hehn
(dr. Udo Brinkmann), Olivia Pascal (Carola)… [1].
“Guilherme Tell / Crossbow” (1987 / 90), os 24 episódios da
1.ª temporada serão transmitidos todos os dias úteis pelas 19:00 horas na RTP1,
desde segunda-feira 7 março até sexta-feira 8 de abril de 1988; c/ Will Lyman
(William Tell), Anne Lönnberg (Katrina Tell) [2],
David Barry Gray (Matthew Tell), Jeremy Clyde (governador Hermann Gessler), Roger Daltrey (François
Arconciel)... no episódio
13, da 2.ª temporada, Sarah
Michelle Gellar aos 11 anos era Sara Guidotti, filha de atores itinerantes. 1.º episódio.
___________________
[1] Olivia Pascal, nascida em
Munique a 26 de maio de 1957, era enfermeira formada quando em 1976 o
realizador Hubert Frank descobriu debaixo da bata uma atriz para o filme emmanuellesco “Vanessa” (1977), estreou sexta-feira 13 de maio de 1977 no cinema
Éden; Olivia prosseguiu noutros filmes eróticos: “Griechische Feigen” c/ Betty Vergès (moçoila da Penthouse 1978), em Portugal, chamou-se “Fruta madura”, estreou
sexta-feira 23 de novembro de 1979 no Cinebolso; “Casanova & Co.” (1977), “As 13 mulheres de Casanova” estreou
quinta-feira 21 de agosto de 1980 no Politeama. Olivia foi ídolo na revista Bravo,
com poster
publicado em 16 partes, e também cantava, editou o single “I’m
a Tiger / Glad All Over (1980)”.
[2] Anne Lönnberg, nascida em
Berkeley, Califórnia, em 17 de fevereiro de 1948, de pai sueco, atriz, escritora, compositora
e cantora: “Mister Me Too” (2008) ♪ “Is There Life on the Earth”,
da banda sonora de “Sweet Movie” (1974). Estreou-se como atriz no cinema grego:
“Το νησί της Αφροδίτης
/ A ilha de Afrodite” (1965); “Κορίτσια στον ήλιο / Cachopas ao sol” (1968), e foi guia
turística no museu Venini em “Moonraker” (1979), filme
estreado quinta-feira 6 de setembro de 1979 no cinema São Jorge. O seu último
trabalho foi de fotógrafa suíça no filme “A insustentável leveza do ser”
(1988), estreia quinta-feira, 5 de maio de 1988 nos cinemas Londres e Las Vegas
sala1.
na aparelhagem stereo
Andrew W. K. “Party Hard” (2001). “O Departamento de Estado, em parceria com a embaixada
dos EUA em Manama, Bahrein, convidou Andrew a visitar o Médio Oriente para
promover o partying e a energia
positiva. Na tradição dos embaixadores do jazz
americano, que viajavam pelo mundo em meados do século XX, como exemplos da
cultura e espírito americanos [1], Andrew foi
convidado pelo Departamento de Estado para viajar ao Bahrein e partilhar a sua
música e fazer festas com as pessoas de lá. (…). Vai visitar escolas primárias,
a universidade do Bahrein, salas de música, etc. enquanto promove o partying e a paz no mundo”.
Andrew festejava rijo: “sinto-me muito privilegiado e humilde pela oportunidade
de representar os Estados Unidos da América e mostrar ao bom povo do Bahrein o
poder do partying positivo”.
O
direito to party: “It’s Time to Party” (2012) ♪ “Long Live the Party” (2003) ♪ “Party till You Puke” (2000). Depois, o banho de água fria. Noel
Clay, porta-voz do Departamento de Estado, declarava partying no Bahrein com Andrew “um erro e não apropriado” e que o
convite fora revogado. Andrew amochou a seco: “estou muito desapontado e
intrigado pela mudança de atitude e decisão de última hora. Fui pessoalmente
convidado para fazer esta viagem pelo Departamento de Estado e a embaixada no
Bahrein há mais de um ano”.
– A sua palestra “The
Paradox of Partying”.
Bahrein,
lar doce lar da 5.º esquadra da
Marinha americana, é uma ilha soberana no golfo pérsico, terras de Mafoma,
filão de terroristas para os americanos. “Cheguei a Guantánamo em janeiro de
2002, depois de os militares paquistaneses me entregarem aos Estados Unidos,
provavelmente, suponho, por uma recompensa. Estava no Afeganistão para avaliar
o progresso de um projeto de construção de uma mesquita, financiada por pessoas
da minha nativa Arábia Saudita. Sabia que o Afeganistão era um local perigoso,
mas eu era pago pela viagem e precisava do dinheiro, então fui. É uma decisão
que sempre lamentarei. Quando os EUA começaram a bombardear o Afeganistão em
novembro de 2001, fugi para o Paquistão. Num posto da fronteira, pedi ajuda aos
guardas paquistaneses para chegar à embaixada saudita. Em vez disso,
colocaram-me numa prisão, onde fui mantido vários dias com grilhões nas pernas.
Após várias semanas, fui vendado e levado de avião com outros detidos para a
base militar dos Estados Unidos em Kandahar, Afeganistão. Na chegada, fomos
atirados ao chão. Alguém bateu-me na cabeça e enfiou-me a bota na boca. Apesar do
gélido inverno afegão, passei várias semanas numa tenda aberta rodeada de arame
farpado. Ainda tenho cicatrizes da minha estadia em Kandahar. Uma delas
é de cigarro, que foi apagado no meu pulso, e a outra de quando fui atirado ao
chão e coberto de cacos de vidro. Uma noite, cerca de duas semanas depois da
nossa chegada, alguns soldados vieram e arrancaram as minhas roupas e
vestiram-me um fato cor de laranja. Ajustaram-me uns óculos muito apertados
para que não pudesse ver e colocaram algo sobre os meus ouvidos para que não
pudesse ouvir. Fui acorrentado ao chão de um avião por várias horas, depois novamente
ao chão de outro durante o que pareceu uma eternidade. Quando me tiraram do
segundo avião não fazia ideia de onde estávamos. Era Guantánamo. Fomos levados para o Camp X-Ray, que consiste em
gaiolas do tipo que normalmente prende animais [2].
Aprisionados nestas gaiolas, fomos proibidos de nos movermos e, algumas vezes,
proibidos de rezar. Mais tarde, os guardas permitiram-nos rezar e até mesmo
virar-nos, mas sempre que novos detidos chegavam, éramos outra vez proibidos de
fazer qualquer coisa, exceto ficar sentados estáticos. (…). Nos anos posteriores, tais agressões físicas
diminuíram, mas foram substituídas por algo mais doloroso: fui privado de
contacto humano. Durante vários meses, os militares prenderam-me na solitária
depois de uma tentativa de suicídio. Não tinha roupas além de uns calções nem
cama exceto um tapete de plástico sujo. O ar condicionado foi ligado 24 horas por dia, as paredes
frias de metal da cela fizeram-me sentir como se estivesse a viver dentro de um
congelador. Não havia nenhuma torneira, assim tive que usar a água na sanita
para beber e lavar-me”, carta do detido n.º 261 de Guantánamo, Jumah Al Dossari,
cidadão do Bahrein, segundo o Los
Angeles Times, natural da Arábia Saudita, segundo o Washington
Post. Doze das trinta e nove tentativas de suicídio no campo
do nascer de novo, construído pelos americanos noutra ilha soberana, Cuba, são
de Al Dossari. Sem culpa formada ou julgamento, libertaram-no na Arábia Saudita
a julho de 2007, cinco anos e meio depois. Os direitos humanos e dos humanos em
Guantánamo, endireitaram Al Dossari para a poesia: “Death
Poem”, “Take my blood, / Take my death shroud and / The remnants of my
body. / Take photographs of my corpse at the grave, lonely”.
Death
metal no Bahrein. Género musical semi-clandestino. “Um grande número de
estudiosos islâmicos têm uma perceção que o rock
e o heavy metal estão relacionados com o satanismo e o diabo ”, Ammar Alaradi,
fundador do Bahrain Talent, um site
que promove músicos independentes [3]. Esra'a Al
Shafei, fundadora do fórum online
Mideast Youth; “muitas vezes, encontra-se pessoas arranjando-se secretamente para
ver esses grupos”. Por isso, Omar “Voidhanger” Zainal, guitarrista dos
Smouldering in Forgotten, tem uma vida dupla, trabalha numa companhia aérea de
dia, e de noite é músico de heavy metal: “tento não mencioná-lo. Há
algumas pessoas que simplesmente não compreenderiam o que eu faço. As pessoas
não aceitam o facto de o metal ser
música e nos divertirmos. Está sempre em conflito com a religião”. Algumas
bandas: Smouldering in Forgotten, chamaram-se Bleached Bones que trocaram por “Smouldering
in Forgotten”, um verso de “Upon
This Deathbed of Cold Fire” (2000) dos Goatwhore →
“Dread Messiah” (2010) ♫ Thee Project
“é o trabalho da colaboração de Necrohead e Ano666, dois malucos que um dia
decidiram yabeela band, e assim descolou. A banda
recentemente cresceu em tamanho com a adição de mais dois membros, Buslooh e
Haji, trazendo mais caos para uma situação já doida” → EP “Terrorizer”.
♫ Bloodiction, projeto de black metal de um homem, Nelsefog → demo “Lordica ov Whore”
(2009) ♫ Dhul-Qarnayn, literalmente “o possuidor de
dois chifres”, “é uma figura mencionada no Corão, a sagrada escritura do Islão,
onde ele é descrito como um grande e justo governante, que construiu uma longa
muralha, que impede Gog e Magog de atacar os povos do Ocidente. Ele é
considerado por alguns muçulmanos um profeta” → “Over Old Hills” ♫ Gravedom → demo “Necropolis” (2005) ♫ Kusoof → “Al Thaw' Al Salbi” (2009)
♫ Lunacyst → “Animalistic Orbous Ahlia”
(2012) ♫ Motör Militia, “têm a reputação de serem a
primeira banda de trash metal do golfo pérsico. (…). Eles também
são referidos como sendo a segunda banda local de metal no Bahrein, nos últimos 20 anos ou mais, a gravar e lançar um
LP de material original numa etiqueta independente” [4]
→ “March of the Saracens”
(2012) ♫ Through Sunken Eyes → “You Left
Your Wife for a Thai Whore” (2006) ♫ نار جهنم, Narjahanam é o termo árabe de “O
fogo do Inferno”. “Narjahanam foi fundada por Mardus em meados de 2004, como um
projeto paralelo de Gravedom, e mais tarde foi acompanhado por Busac dos
Smouldering in Forgotten, no início de 2005. Inspirados pela mitologia e
cultura do Médio Oriente, Narjahanam infundiu metal extremo com música folk
árabe e foram confluência de bandas como Orphaned Land e Nile” → “عندما تظهر الشمس من الغرب”
(“Quando o sol aparece do oeste”) (2007).
Black Metal português nos anos 80:
Black Cross, do Barreiro,
Setúbal, “formada em 1985 pelo baixista João ‘Francês’ Ramos (ex-Air Force),
que contactou o guitarrista Paulo Henrique para formarem uma banda de heavy metal, os Black Cross. João contactou outro amigo, Filipe ‘Bombas’
que assumiu a bateria. Depois de um período de vários meses com ensaios e à
procura de um vocalista, Paulo Henrique abandona a banda por razões pessoais.
Reduzido a um duo o grupo continua os ensaios e por essa altura segue-se a
aquisição de um vocalista, Quim. As guitarras são garantidas através da ajuda
de Toninho (Asgarth / Ibéria). Em 20 de dezembro de 1986, os Black Cross tocam
o seu primeiro concerto no Rock Rendez Vous” → “Sexta-feira 13” (1986) ♪
ao vivo no Rock Rendez Vous
(1987) ♪ os Black Cross numa bela Campanha anti-droga. Procyon, “eram de Almada. Formada em 1982 por João
Vasco Marcos, guitarra, e Paulo McVitor, baixo. Em dezembro de 1984, Mané
Ribeiro, bateria, e Tozé, voz, completam a primeira formação dos Procyon.
Ainda, em dezembro tocam ao vivo pela primeira vez na Escola Secundária do
Pragal, Almada”
→ “Psycho Pain” (1988) ♪ “Asking More” (1990) ♪ “All the Same” (1991). Sepulcro, dos Olivais, Lisboa. “Fundado em 1982, a formação consistia
de Miguel Pinto, voz, Jorge Marmitas, guitarra, Beto, guitarra (Alkateya),
Manuel Animal, bateria e Isidro Chibo, baixo. Em 15 de dezembro de 1984, os
Sepulcro tocaram no primeiríssimo Festival de Heavy Metal Português, organizado
pelo Purgatório do Heavy Metal Fan-Club” → “Venon and Treason”
(1984) ♪ “Flesh Meets
Steel” (1985) ♪ “I
Wanna See Girls” (1986). Satan’s Saints, “eram
da Amadora. Inicialmente, formados em outubro de 1985 por Samuel Lopes, baixo,
Zé Allen, guitarra ritmo e Carlos Coelho, bateria. Depois de alguma procura por
um vocalista capaz de preencher o lugar, eles acabaram escolhendo Paulo Lemos.
Em meados de fevereiro de 1986, João Carvalho entra para a segunda guitarra. O
primeiro espetáculo do grupo teve lugar no Ateneu Madre de Deus, Lisboa, a 26
de junho de 1986, com os STS Paranoid. Após um breve período de quarto meses,
eles têm a oportunidade de tocar no Metal Stage, o primeiro Festival Heavy
Metal da cidade da Amadora, um evento que ocorreu no Cine Plaza no 4 de outubro” → “Full Speed” (1986) ♪ “Power of the Night”
(1986) ♪ “No Mercy”
(1986). Thormenthor, de Almada, “foi fundada em
outubro de 1987 pelo baterista Rui Amaral e Miguel Fonseca guitarrista /
vocalista. Pouco depois Hélder Gonçalves junta-se à banda como baixista. Foi
com essa formação que eles gravaram em 1988 a sua primeira demo intitulada ‘Corpus Dissectus’, com três faixas: ‘Necroterium’,
‘Cynical Hypocrisy’ e ‘Sacrifice’, gravada exclusivamente para ser transmitida
num programa de uma rádio local. Em outubro desse ano, apresentaram-se pela
primeira vez ao vivo com os Braindead, The Coven e Procyon no Fogueteiro, Seixal,
dia 15 de outubro de 1988” → “Self Immolation” (1989) ♪
“Dissolved in Absurd”
(1991) ♪ “The
Proportional Dream” (1994).
___________________
[1] “Em 1956, sob
orientação do secretário de Estado, John Foster Dulles, o Departamento de
Estado enviou os melhores músicos de jazz
da nação ao exterior, como representantes da boa vontade, num esforço
consciente para simbolizar o compromisso da América com o liberdade. O programa
Jazz
Ambassadors foi lançado no momento mais amargo da Guerra-fria
a) para levar o melhor da cultura americana ao
resto do mundo. O programa não focava apenas as nações da Cortina de Ferro mas
também o Terceiro Mundo, onde muitos países em vias de desenvolvimento exploravam
o marxismo como uma possível identidade política. O primeiro embaixador do jazz foi o trompetista Dizzy Gillespie, e dois
anos depois Brubeck
juntou-se às fileiras que eventualmente incluem Louis Armstrong, Duke
Ellington, Thelonious Monk, Benny Goodman e Miles
Davis”. “Como primeiro tiro num programa que se prolongará por mais de duas
décadas, o congressista Adam Clayton Powell Jr. propôs que Dizzy Gillespie formasse
uma grande banda para representar os Estados Unidos como embaixadores musicais.
O Departamento de Estado e a administração Eisenhower concordaram e o grupo
embarcou para o sul da Europa e Médio Oriente em 1956. (…). A diplomacia do jazz começara e o Governo dos Estados
Unidos estava encantado. Mais tarde, no mesmo ano, Benny Goodman e a sua
banda viajaram para a Ásia oriental; em 1958, o Dave Brubeck Quartet visitou a
Europa de leste, Médio Oriente e o sul da Ásia; Louis Armstrong and the All
Stars fez uma tournée por Africa em 1960-61; e Benny Goodman fez as malas outra
vez, de saída para a União Soviética em 1962. No ano seguinte, a Duke Ellington
Orchestra e o seu carismático líder cruzaram o Médio Oriente e o sul da Ásia,
iniciando uma década de viagens. Estas dinâmicas iniciativas culturais
continuaram sob a direção do Departamento de Estado até 1978, e inúmeros
músicos de jazz, incluindo Benny
Carter, Miles Davis, Woody Herman, Earl Hines, Oscar Peterson, Clark Terry e
Sarah Vaughan, circum-navegaram o mundo em nome da América”. Entre os músicos de jazz eram plantados agentes da CIA para
prepararem golpes de Estado nas partes hostis do mundo b).
–
a) Dois factos aqueciam a Guerra-fria em
1956. A
revolta húngara, eram apenas pessoas a morrer, algo irrelevante, Eisenhower
disse: “padeço com o povo húngaro”, o secretário de Estado John Foster Dulles
disse: “a todos aqueles a sofrer sob a escravidão comunista, deixem-nos dizer-vos
podem contar connosco”. Ditas as palavras fecharam a boca. A crise do
Suez “que aconteceu ao mesmo tempo, foi considerada muito mais importante e
de maior relevância para o Ocidente que o sofrimento dos húngaros.
Consequentemente, Grã-bretanha, França e América concentraram os seus recursos
nessa crise”.
–
b) No século XXI, os patos são outros, as armas
para caçá-los são também outras. “O Departamento de Estado gastou mais de 630
mil dólares em campanhas publicitárias para aumentar o número de likes do Facebook nas páginas no site da agência, de acordo com um relatório
do inspetor-geral da agência. Entre 2011 e março de 2013, o Bureau of
International Information Programs da agência utilizou os fundos em publicidade
para aumentar o número de amigos para cada uma das suas quatro páginas do
Facebook, de 100 mil para mais de 2 milhões, de acordo com o relatório de maio
2013”.
[2] Será redimido pelo cinema,
a arma ideológica americana que integra na cultura popular momentos menos
dignos praticados pelos homens. John Rambo harmonizou a opinião negativa da
guerra no Vietname, o rapto de muçulmanos sê-lo-á noutros filmes como “Camp
X-Ray” c/ Kristen Stewart. – Camp X-Ray com capacidade para 2000 evil ones,
cercado de arame farpado, com celas individuais de 1,80 m por 2,4 ao ar livre,
cobertas de telhados de chapa metálica, colchões no chão sob luzes de
halogéneo.
[3] Black metal no Ocidente livre, os mestres em filme, Watain “Opus Diaboli” (2012) ♫ Deathspell Omega → “Sola Fide I” (latim: “por
fé somente”, 2004): “O Satan, I acknowledge you as the Great Destroyer of the
Universe. / All that has been created you will corrupt and destroy. / Exercise
upon me all your rights. / I spit on Christ's redemption and to it I shall
renounce. / My life is yours Lord, let me be your herald and executioner” ♫ The Devil’s Blood → “Christ or Cocaine”
(2009) “Do you think you're a sinner or a saint? / Do you even think you could
see? / Or would you rather step into my church / And go to hell with me” ♫ Negative Plane → “Lamentations & Ashes”
(2011): “All join hands at the mass of the open sores / A congregation of the
unclean spirit calling on the lord / Water into wine and children into swine / Welcome
fallen angels with open arms” ♫ Sonne Adam
(hebreu: “o que odeia o Homem”) → “We Who Worship the Black”
(2011): “We who worship the black / The emperor's throne will fall into our
grasp” ♫ Saturnalia Temple → “Fall”
(2011): “Fall / Burn / Dream / Fly...”.
[4] Os primeiros foram os
Pink Floyd do Bahrein nos anos 70/80, os Osiris
→ “Myths & Legends” (1984) ♪ “Wasted” (1984) ♪ “Homeward
Bound Once Again” (2010).