Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quarta-feira, dezembro 26, 2012


Mil novecentos e oitenta e dois

Um ano de promissória fortuna arábica. Nesse ano o parapsicólogo Zandinga prevê a descoberta de petróleo em Portugal, ainda não apareceu, mas… o azeite da casa tem carburado e alumiado a contento e primor. Ramalho Eanes, presidente da República, na sua mensagem de ano novo: “nenhuma sociedade democrática se pode manter se tiver como único horizonte a austeridade, o bloqueamento do futuro dos mais novos e o desperdício das capacidades e das experiências dos mais velhos” [1]. Descomprimindo, numas férias em Baqueira Beret, estância de esqui na província de Lérida, Catalunha, o primeiro-ministro Pinto Balsemão, recebe um telegrama do Conselho de Ministros de 31 de dezembro com os sinceros votos de um feliz ano novo “bem como a sua total solidariedade na execução das tarefas que competem ao Governo, tendo como principal objetivo o cumprimento do nosso programa (da AD) para a construção de uma democracia plena e salvaguarda dos princípios fundamentais da justiça social”, assinava, o vice-primeiro-ministro Freitas do Amaral. Justamente, socialmente, dilatam-se os preços: “desde que o dr. Balsemão é chefe do Governo, o arroz e o leite já aumentaram um pouco mais de cinquenta por cento de preço. O mais recente destes aumentos, para vigorar, segundo garante o ministério da Agricultura, Comércio e Pescas, durante todo o ano de 1982, foi ontem fixado passando o arroz carolino a custar 56 escudos (custava 50$00), o arroz gigante de primeira 41$50 (35$00), o leite pasteurizado 17$50 (15$00), o leite especial UHT 26$50 (22$50) e o açúcar 45 escudos (40$00)”, o aumento do preço do pão está ainda no forno, segundo o ministério: “a fim de proceder a um estudo aprofundado de toda a problemática que envolve o fabrico (cereais, farinhas, tipos e pesos)” para rever “o sistema de subsídios, ponderando naturalmente o justo preço a pagar aos agricultores”.
Por outro lado, contrabalançando os aumentos, os portugueses economizavam em cultura com a falência da Seara Nova. No nº 1601, outubro, 1981, os editores comemoravam os sessenta anos num apelo ao coração empedernido da banca: “o 60º aniversário da Seara Nova, que queremos assinalar com este modestíssimo número, reflete as precárias condições de quase total inatividade em que essa editorial se mantém, aguardando que a moratória oportunamente solicitada pela sua administração à banca portuguesa, dita nacionalizada, seja capaz de impressionar e mover a máquina burocrática e de sensibilizar a vontade de quem decide ou o seu sentido de responsabilidade”. No 59º aniversário, a revista, já em palpos de letras, declarara reestruturação: “daqui, no meio da instabilidade económica e da retomada do poder por aquela direita, que nunca, afinal, deixou de controlar os mecanismos económicos do país, resolveu-se utilizar os fortes incentivos do lucro e do poder que levaram pouco a pouco as pequenas e médias empresas à crise, a atividade editorial da Seara Nova à insignificância. Esta, como pequena empresa que é, endividada, profundamente atingida pelo agravamento dos custos, pelas restrições ao crédito, altas taxas de juro e ainda pela contração do mercado livreiro – consequência da diminuição do poder aquisitivo da população em geral e da alienação política que se fomentou –, não teve outra alternativa senão repensar e redimensionar a sua atividade e tomar medidas adequadas que evitassem o pior”, e o pior não evitaram, porque lhes faltava “ciclo virtuoso” que fumar, falindo em janeiro [2].
No ano de 82, a revista americana Time elege como “homem do ano” o personal computer, ombreando com outras máquinas, Hitler em 1938 ou Estaline em 1939. Nesse ano, sombreava Portugal sob a cultura: a 6 de maio, estreia no Cinebloco, na avenida 5 de Outubro, “Silvestre” (1981) de João César Monteiro [3]; e na televisão cultura é mato: a telenovela americana “A balada de Hill Street” pinga às sextas-feiras desde dia 9 de julho na RTP 1. A RTP 1, de segunda-feira 10 de maio a terça-feira 28 de setembro, avia a "Vila Faia", a primeira telenovela portuguesa. A telenovela brasileira “Cabocla” (1979), solta a franga na segunda-feira 18 de outubro na RTP 2 e a telenovela britânica “Reviver o passado em Brideshead” engole perus terça-feira 23 de novembro na RTP 1. Na Rádio Comercial, António Sérgio alista “O som da frente” (1982-1993) muito à frente com a “Lista rebelde”. No ano da música cristalina: dia 1 de outubro é comercializado, 730 dólares, no Japão, o primeiro leitor de CDs, o Sony CDP-101 [4].
Sexta-feira, 8 de janeiro, na cerimónia de cumprimentos pelo 1º aniversário do executivo, Pinto Balsemão, desanuviado, esquiado, nos Pirinéus catalães, patina em Lisboa no ringue do Governo: “uma equipa coesa e não se deixa abalar por aquilo que constantemente vai aparecendo na opinião pública, como seja, por exemplo, a existência constante de remodelações ministeriais” – o ministro dos Negócios Estrangeiros, Gonçalves Pereira, manifestava intenção de zarpar porque só aceitara o cargo para curriculum para a candidatura ao Tribunal Internacional de Justiça e o ministro das Finanças João Salgueiro tachava-se “ministro por meses e não por anos”. Numa entrevista ao Expresso Balsemão auto-retratava-se: “irrita profundamente os que profetizavam que eu não duraria mais de dois ou três meses, os que me desenham sem rosto, os que pedem a minha demissão desde o primeiro dia, e também os que gostariam de estar no meu lugar, mas não tiveram a coragem de se candidatar abertamente”. Supunha-se ele imune a doenças: “os espirros do dr. Álvaro Cunhal, de certos membros do Conselho da Revolução e de mais alguns senhores importantes não constipam o país, não afetam a saúde do Governo” [5]. Quinta-feira, 14, numa conferência de imprensa da Comissão Permanente Política do PS, Mário Soares bacoreja poleiro próximo: “ a continuidade do atual Governo arrastará o país necessariamente para uma situação ainda muito mais crítica e tremendamente perigosa para a estabilidade das instituições democráticas”, e os socialistas fiam-se do seu palrador papagaio propondo-se “desafiar os responsáveis do Governo para debates em direto na TV e na rádio” [6].
Sexta-feira, 15, duas bombas explodem entre as 03:00-03:30 horas, uma em frente ao posto da GNR do Cacém e outra junto à casa de Armindo José Cambournac em Cascais, provocando ferimentos em dois militares e no taxista Fernando Lopes Gonçalves que estacionara o carro junto do posto transportando um cliente que se recusava a pagar a conta. “Verificaram-se estragos no veículo de aluguer e na fachada do edifício. (…). Os estragos na casa do administrador limitaram-se a vidros partidos. O portão e a residência dos caseiros ficaram bastante danificados. (…). A relação entre a explosão das duas bombas pode ser estabelecida a partir do facto de os trabalhadores da Cambournac se encontrarem em greve desde 6 de novembro, com adesões que rondam os 95%. Por outro lado, durante este processo já se registaram duas intervenções a cargo da GNR do Cacém”. Terça-feira, 19, morria em São Paulo Elis Regina, na Europa, os futuros PIGS nem grunhem: “a participação de Portugal e da Espanha nas reuniões de cooperação política no quadro da CEE poderá limitar-se a um ou dois almoços ou jantares por ano que nem sequer ‘serão necessariamente efetuados à margem de uma reunião especificamente destinada à cooperação política’. Este esclarecimento foi prestado em Bruxelas pelo porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Bélgica”. Balsemão viajou pelas capitais europeias para acelerar a entrada de Portugal na CEE. Ignoraram-no. Segunda-feira, 25, “não pôde tomar, em Bona, o pequeno-almoço com o ministro alemão federal dos Negócios Estrangeiros, Hans Dietrich Gensher. Este preferiu estar presente numa reunião da CEE, em Bruxelas”.
Terça-feira, 26 de janeiro, “Portugal menos violento mas mais burlão”. No relatório da Polícia Judiciária sobre a criminalidade “os assaltos à mão armada, os homicídios e os chamados atos de terrorismo contra a segurança do Estado, apresentaram um decréscimo significativo. (…). Em contrapartida, registou-se um aumento sensível dos casos de incêndio de origem eventualmente criminosa, injúrias, resistência e desobediência às autoridades e falsificações, com destaque para a emissão de cheques sem cobertura, modalidade que ocupou o primeiro lugar na lista de infrações assinaladas por aquela corporação”. Sexta-feira, 29, “na melhor das hipóteses o tabaco nacional regressa no final de fevereiro”. “O tabaco importado que temos consumido nos últimos dias continuará, assim, durante um considerável período, a massacrar a bolsa dos viciados”. Nas tabernas “os Fortuna (72$50) têm alguma saída, nomeadamente na província, já que o fumador das grandes cidades parece não se ter preocupado com a importação de cigarros espanhóis. Esses, ou recorrem ao tabaco para cachimbo e esgotaram as mortalhas que já tinham desaparecido das tabacarias mais modernas”. Quarta-feira, 3 de fevereiro, “a greve dos trabalhadores da Tabaqueira foi suspensa a partir das 14 horas de hoje. A decisão foi tomada em plenário efetuado ao fim da manhã de hoje e resultou de uma proposta da Comissão Negociadora Sindical após um acordo de princípio ontem estabelecido com o conselho de gerência da empresa”.
________________________________
[1] Ramalho Eanes dava para os dois lados, como presidente da República e como Comandante Supremo das Forças Armadas; como aquele, “bacalhoou” com operários e como este gratificava magalas. “O presidente da República passou a noite de fim de ano com operários que trabalham em laboração contínua, como vem sendo habitual desde que exerce aquelas funções. Ramalho Eanes jantou na Metalurgia Duarte Ferreira com os trabalhadores e com a administração daquela empresa privada e depois deslocou-se a uma empresa pública a Portucel, em Vila Velha de Ródão. Depois de visitar as instalações da fábrica, Eanes reuniu-se com os operários e com eles passou de 1981 para 1982”. Em 1980, discursava Ramalho Eanes numa visita ao campo militar de Santa Margarida: “estou em Santa Margarida na qualidade de Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e Comandante Supremo. Como Chefe de Estado de Estado do Maior General das Forças Armadas pretendi com a minha presença gratificar aquilo que tem sido o trabalho importante, profissionalmente digno e competente, de todos os militares que aqui trabalham e ainda de todos os comandos, quem com estes militares diretamente se relacionam, concretamente, os do Estado-Maior do Exército e muito em especial o Chefe do Estado-Maior da Marinha. Como Comandante Supremo entendi que devia também estar presente, porque desde 76 que dissemos que Portugal pertencia à NATO e pretende nela assumir todos os seus direitos e cumprir todos os seus deveres, e a participação da Brigada, da 1ª Brigada Independente em exercícios na Itália, demonstra precisamente a concretização desse propósito. A Força Aérea e a Armada, como sabem, tem participado sistematicamente em exercícios náuticos, mas isso não acontecia com o Exército. O Exército participa pela primeira vez, essa participação significa que não falamos a nível militar, ou não falamos só, falamos e cumprimos. E significa também que a partir desta data a nossa participação na NATO, a nível do Exército, será uma realidade. Diria portanto nesta altura as Forças Armadas portuguesas cumpriram integralmente os seus compromissos em relação à NATO”.
[2] No futuro (2012) Portugal não irá à falência. Vítor Gaspar, ministro das Finanças, na introdução da apresentação do Orçamento do Estado para 2013: “importa recordar mais uma vez que já alcançámos progressos significativos. Para 2013 prevemos um excedente da balança corrente, o que não acontecia há 20 anos. Este excedente deve-se sobretudo ao comportamento das nossas exportações. Isto mostra que estamos a fazer uma transição de um modelo de crescimento, baseado na procura interna, para um modelo mais assente nas exportações. Fizemos também progressos notáveis na redução do endividamento das famílias e das empresas, e os nossos bancos estão numa situação financeira mais forte. Ao nível das contas públicas o ajustamento foi também muito significativo, concretizamos uma correção significativa dos desequilíbrios que se verificavam no início do Programa. Nos últimos meses Portugal tem vindo a acomodar, a acumular credibilidade e confiança dos mercados internacionais permitindo perspetivar um regresso ao financiamento de mercado. (…). Temos que continuar a executar o Programa de Ajustamento de forma coesa e consistente, esta é a alternativa que nos conduzirá ao ciclo virtuoso de credibilidade acrescida, acesso ao financiamento e recuperação da atividade económica e do emprego”.
[3] Do mesmo autor “Conserva acabada”, “produzida em 1990 pela secretaria de Estado da Cultura e a RTP no contexto de uma série intitulada Clips sobre Fernando Pessoa”.
[4]O primeiro CD experimental foi prensado em Langenhagen, perto de Hanover, Alemanha, pela fábrica Polydor Pressing Operations. O disco continha uma gravação de ‘Eine Alpensinfonie’ de Richard Strauss, tocada pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Herbert von Karajan. A primeira demonstração pública foi no programa da BBC ‘Tomorrow’s World’, quando o álbum ‘Living Eyes’ dos Bee Gees (1981) foi tocado. Em agosto de 1982, a prensagem industrial estava pronta para começar numa fábrica nova, não muito longe do local onde Emile Berliner tinha produzido o seu primeiro disco para o gramofone 93 anos antes. Agora, a Deutsche Grammophon, empresa de Berliner e editora da gravação de Strauss, tornara-se uma parte da Polygram. O primeiro CD a ser manufacturado na nova fábrica foi ‘The Visitors’ (1981) dos ABBA. O primeiro álbum a ser relançado em CD foi ‘52nd Street’ (1978) de Billy Joel, que chegou ao mercado em simultâneo com o leitor CDP-101 da Sony”.  
[5] Pinto Balsemão numa jornada pela Alemanha roda a imortal roda do hamster português: “estou convencido que sim. O investimento alemão em Portugal decresceu um pouco até 1980, julgo que, porque não havia sido ainda assinado ou ratificado o acordo de proteção aos investimentos. Além disso, criou-se algum mau ambiente na Alemanha, todo o problema das indemnizações. (…). O problema das indemnizações foi resolvido agora. O acordo de proteção aos investimentos vai ser ratificado, quer na Alemanha, quer em Portugal, a partir daí estou convencido de que será possível o aumento substancial do investimento alemão em Portugal e esta visita à Siemens, que tem já uma larga contribuição no desenvolvimento industrial português, animou-me também pelas conversas que aqui tive, a acreditar que não apenas a Siemens, mas muitas outras empresas alemães estão interessadas em investir em Portugal e que vão fazê-lo”; o jornalista pergunta-lhe: “pode citar alguns desses casos?”; Balsemão: “eu preferia que fosse as próprias a anunciá-lo, na medida em que, nós apenas podemos estimular e desejar o envolvimento do estrangeiro mas depende, como é evidente, da economia privada”.
[6] Silva Pais, último diretor da PIDE/DGS, topou as capacidades psitácidas de Mário Soares, numa carta de 25 de março de 1968, ao inspetor Nogueira Branco, descreve-as: “indivíduo com especial habilidade para enganar incautos”. Mário Soares, membro do PCP em 1943, é expulso em 1950, por caguinhas e medricas da repressão subsequente à candidatura presidencial de Norton de Matos, farejando tacho, fundou uma agremiação com mais possibilidade de poleiro, a Ação Socialista Portuguesa. No futuro (2011) ainda transmitirá psitacose: “os mercados mandam nos Estados e já não há quase Estados, e realmente todas as decisões que se tomam, são tomadas pelos mercados e os e os Estados funcionam em relação às às posições que tomam os mercados. Por exemplo, uma empresa de de rating começa a dizer que Portugal era um lixo. Foi uma desgraça. Porque uns imbecis disseram que Portugal era um lixo e isso passa a ser uma verdade absoluta e toda a gente começa a funcionar em meio daquilo”.

na sala de cinema

Valérie Kaprisky: 1,68 m, 86-55-86, é a atriz da década de 80, da piscina genética, da mãe, polaca, do pai, turco e argentino, nenhum realizador, nem Deus a criou, foi um pecado que morou ao lado da indústria. “Depois de escoar a infância no subúrbio de Paris, Neuilly-sur-Seine, Valérie Kaprisky, nascida Valérie Chérès, transitou aos 8 anos para Cannes, onde os amigos e família a aquentam na descoberta da 7ª arte através do Festival. Em 1975, a passagem da Romy Schneider na Croisette convence-a a fazer também carreira no cinema. Retorna sozinha a Paris pelos seus 17 anos e inscreve-se nos cursos de Florent. Depois de rodar alguns anúncios, ela foi fisgada por Jean-Marie Poiré que lhe ofereceu o seu primeiro grande papel em ‘Les hommes préfèrent les grosses’ (1981). Em 1982, acede a um papel de primeira importância em ‘Aphrodite’”: “Harry é um jovem milionário de férias, navega no seu iate até uma ilha grega, e permanece na mansão do seu amigo, o conde Orloff. O conde organiza uma festa, por três dias e três noites, que é a encenação do culto do amor da deusa Afrodite. Harry encontrará nela Pauline, uma jovem que se converte na sua deusa”; adaptação livre da novela homónima de Pierre Louÿs: “‘ataraxia’, pensava ele, ‘indiferença, quietude, ó serenidade voluptuosa! Quais os homens que vos apreciarão? Agitamo-nos, lutamos, ansiamos, quando só uma coisa é preciosa: saber fruir no instante que passa todas as alegrias que nos possa dar, e abandonar o leito tão pouco quanto possível’”. Outros filmes de Valérie: “Breathless” (1983), – (remake do godardiano “À bout de souffle”: “a rapariga bonita. O rufia. O revólver. O homem gentil. A mulher cruel. A morte. A pequena americana. O ladrão de carros. O concerto para clarinete. A polícia. A pin-up. O romancista. A empregada. Humphrey Bogart. Marselha. O meu amigo Gaby. Picasso. O fotógrafo italiano. Os anarquistas. O magnetofone. A ternura. A aventura. As mentiras. O amor. Os Campos Elísios. O medo. O diabo no corpo. Rififi chez les hommes. E Deus criou a mulher. Scarface. À bout de souffle”) – com Richard Gere: “foi maravilhoso trabalhar com Richard Gere. Ele dá-nos tudo para reagir. Não estávamos a representar as cenas de amor. Elas eram meio reais. Não se pode dizer: você representa apenas quando dizem ‘ação!’… Penso que o filme mostra. Se você não tem realmente vontade de fazê-lo, ele mostra”. Banda sonora com fôlego, de Philip Glass “Opening” a Joe “King” Carrasco “Caca de Vaca”. “La femme publique” (1984): “uma jovem atriz inexperiente é convidada para desempenhar um papel num filme baseado em ‘Os demónios’ de Dostoievski. O realizador, um emigrante checo em Paris, assume o controle da sua vida, e em pouco tempo ela é incapaz de desenhar a linha entre teatro e realidade. Ela acaba desempenhando um papel na vida real como a esposa falecida de outro emigrante checo, que é manipulado pelo cineasta para cometer um assassinato político”. “L’année des méduses” (1984), canções da Nina Hagen: “como todos os verões, Chris passa as suas férias em St. Tropez com a mãe. Aos 16 anos, ela não é mais uma adolescente. Agressiva e sensual, manipula habilmente com o seu corpo. Todavia, ela sai ferida de uma ligação com Vic, um amigo dos seus pais, ainda apaixonado por ela. Ela reprova-lhe a sua cobardia e a sua irresponsabilidade quando, grávida dele, teve de fazer um aborto”.

no aparelho de televisão

Canções-tema de desenhos animados dos anos 80. “Dempsey and Makepeace” (1985-86), série inglesa. O tenente James “Jim” Dempsey, um polícia de Nova Iorque, com a vida em risco no departamento, apeçonhentado pela corrupção, é despachado, para sua proteção, para a Inglaterra, onde alcança um verdadeiro um prodígio – desencantou uma inglesa bonita. A atriz Glynis Barber, sul-africana, 1,65 m, 81-60-88, incorpora Lady Harriet Alexandra Charlotte Makepeace. A sargento “Harry” Makepeace, a nova parceira de Dempsey na SI-10, uma brigada especial da bófia londrina, é filha de lorde Winfield, dono de uma casa senhorial na Grã-Bretanha e neta de um excêntrico vitoriano colecionador de antiguidades. A tensão de luta de classes entre eles, a aristocrata inglesa suportada por séculos de linhagem e o plebeu da classe operária americana de pestana aberta na esperteza das ruas, aniquila qualquer hipótese de impunidade aos meliantes. Makepeace conduz um Mercedes SL de 84, branco, na 1ª e 2ª temporadas e prateado na 3ª. Dempsey conduz um Ford Escort 1.6i Cabriolet, prateado, na 1ª e 2ª temporadas e branco diamante na 3ª. No episódio piloto: “Armed and Extremely Dangerous”: Dempsey: “sou um polícia, é a única coisa que sei fazer, é tudo o que posso fazer”. Quem está armada é Makepeace, a arma de serviço, é uma cortesia de Sua Majestade, e extremamente perigosa, as suas curvas, são infinita bondade de Deus. The Dukes of Hazzard” (1979-1985), bons rapazes que a lei nunca botará as patas em cima, no genérico, canta Waylon Jennings: “Just’a good ol’ boys, / Never meanin’ no harm. / Beats all you've ever saw / Been in trouble with the law / Since the day they was born. // Straightnin’ the curve, / Flatnin’ the hills. / Someday the mountain might get ‘em, but the law never will”. Os primos Bo e Luke Duke, prego a fundo, no General Lee (um Dodge Charger de 1969), iludem as perseguições do xerife Roscoe P. Coltrane, lacaio do comissário Boss Hogg. A prima Daisy, “as melhores pernas de toda a Georgia”, segundo Boss Hogg, conduz como meio de transporte “Dixie” (um Jeep CJ-7 branco de 1980). O tio Jesse desloca-se num camião Ford branco. Por eles, a bófia espatifa o seu parque automóvel, faz figuras tristes e chucha no dedo, não os prende. Factos sobre os Dukes: “o esboço da história pode ser recuado até Jerry Elias Rushing, um distribuidor de álcool ilegal na Carolina do Norte. Aos 12 anos, ele começou a fazer entregas, eventualmente, usando um Chrysler 300D de 1958 artilhado para a tarefa. O carro, chamado ‘Traveller’, como o cavalo do general [Robert E.] Lee, estava modificado para despejar óleo na estrada para danificar os veículos das forças da lei em perseguição. Rushing era muitas vezes acompanhado pelo seu irmão Johnny, e algumas vezes, pela sua prima Delane. Mas eles apenas entregavam o álcool, que era fabricado efetivamente pelo tio Worley. Rushing eventualmente deixou o negócio e tornou-se num caçador consumado, especialmente com um arco. As histórias sobre as suas aventuras inspiraram o filme de 1975, ‘Moonrunners’, que por sua vez desembocou nos Dukes of Hazzard”. “James Best cresceu na pobreza e numa família desfeita para se converter num fenomenal ator de sucesso no momento em que foi contratado como o xerife Roscoe Pervis Coltrane. Trabalhou durante décadas como professor de representação e proveu instrução a, entre outros atores, Burt Reynolds, Clint Eastwood, Farrah Fawcett e Quentin Tarantino, assim como a alunos menos famosos, enquanto professor da Mississippi State University. No tempo livre, obteve um cinturão negro e agora pinta”. “A série utilizou cerca de 150 Generais Lees, porque normalmente um era destruído em cada episódio como consequência das cenas de ação. Isso são muitos Dodge Chargers, e durante um período de exibição da série a Warner Bros. teve escassez. Então, os seus funcionários deixavam notas nos pára-brisas de Chargers nos estacionamentos das mercearias oferecendo-se para comprar os carros”. “Para que os saltos funcionassem, os Generais Lees tinham que ser carregados na traseira para compensar o peso do motor na frente. Os duplos soldavam caixas de aço nas bagageiras dos carros e adicionavam peso consoante o necessário, geralmente 140-180 kg. Quanto mais elevado o salto fosse, mais peso era necessário para equilibrar o carro”. “Catherine Bach (Daisy Duke) engendrou os calções curtos de jeans, levando a que a peça fosse apelidada ‘Daisy Dukes’. O plano original era Daisy vestir uma minissaia”. “As suas pernas já foram seguradas por um milhão de dólares, mas Catherine Bach agora vive um estilo de vida mais modesto”, o corpo chocou contra o tempo.  

na aparelhagem stereo

Era uma vez… num país muito próximo havia um dragão que devorava caixas de música estrangeira. Os príncipes locais armaram-se de paus e forquilhas para esfolar o cuspidor de fogo dessa estrangeirada; Natália Correia, “a mais linda mulher de Lisboa”, (José-Augusto França), “era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel Ângelo”, (Mário Cesariny), “beleza sem costura”, (Ary dos Santos), “esta hierofântide do século XX”, (Luiz Pacheco), deputada, em 1981, pregoa sobre a lei de proteção à música portuguesa: “o princípio está assente, não há discussão sobre ele. Pois haverá, talvez cof que, burilar um pouco a proposta das percentagens no sen no sentido de não criarmos doses excessivas, mas sim ir conquistando gradualmente o povo português, não é? para uma habituação à sua musa… à música dos seus autores”. O radiofónico Jaime Fernandes ruge em nome do dragão: “é simples fazer um decreto-lei em que se estipula que a rádio tem que passar necessariamente 60% de música portuguesa. É muito simples fazer isso. E agora nós dizemos: e a produção irá acompanhar as necessidades que esse decreto-lei estipula? Eu ‘tou-me a lembrar, por exemplo, os instrumentos para fazer música são extremamente caros, por exemplo. Depois há a própria capacidade dos músicos em produzirem material original que alimente, neste caso, em Portugal, há quatro estações de rádio, quatro canais de radiodifusão. Existe uma emissora privada, que é a Rádio Renascença. Haverá material suficiente para preencher esses 60% em cinco canais de de rádio?”.
O povo na praça musicava:
Antologia do Pop Rock PortuguêsTNT: Francisco Landum (guitarra e voz), C. Frederico (guitarra), C. Casimiro (baixo) V. Cruz (bateria) É o nosso rock” (1981); Landum troca Francisco por simplesmente Ricardo numa carreira a solo com dois singles, “Vontade Louca” e “Eu Gosto de Você” (tema da D. Xepa), da CBS, com produção de Manuel Cardoso (dos Tantra) e Pedro Luís (dos Da Vinci). Fez parte dos Samurai, Ibéria, Da Vinci e Os Helena, antes do sucesso global na produção da excelente música ligeira portuguesa: “Na minha cama com ela”, “Mãe querida”, “Perfume de mulher”… ♫ CTT: Luís Plácido (voz), Augusto Alves (teclas), Tozé Monteiro (guitarra), Hernâni “Nani” Teixeira (baixo) e Gabriel Matos (bateria) Destruição” (1981) Hora de ponta” (1981); originais do grupo de baile, Conjunto Típico Torriense, de Torres Vedras, como acrónimo, arriscaram fortuna no Rock Português dos anos 80. Na primeira parte das Girlschool, a 11 de dezembro de 1981, no pavilhão dos Olivais, Coimbra, os técnicos ingleses desligaram-lhes o som. Segundo dados de 1999 cartaram-se: Luís Plácido, 40 anos, vocalista, e que tocava guitarra com os dentes, como o Jimmy Hendrix, é técnico de electrodomésticos e refrigeração e responsável da programação cultural da colectividade da Caixaria, Torres Vedras. Augusto Alves é dono de uma empresa de produção e promoção de bandas. Tozé Monteiro, 44 anos, desistiu em meados da década de 80 da banda, por incompatibilização com o trabalho que exerce ainda nas Finanças de Torres Vedras. Nani Teixeira, 40 anos, é o único que permanece como músico profissional. Emigrou para o Luxemburgo, regressou a Portugal, e tem tocado com Luís Represas ou Mafalda Veiga. Gabriel Matos, 49 anos, desenhador, funcionário público, agora é decorador de interiores, toca na Banda Sonora, uma banda de bar ♫ Roquivários: Midus (voz e baixo), Mário Gramaço, (saxofone e voz), Luís Jorge Loução (guitarra), Paulo Corval (baixo) e Rabanal (bateria: ex-Aranha, de Luís Firmino)Ela controla” (1981) Totobola” (1981) Cristina (beleza é fundamental)” (1981); Midus em 1985 edita o singleLá Longe”. Radicou-se em Londres onde tinha ido gravar um disco com Luís Jardim. Midus e a Banda Amazónia participaram no Prémio Nacional da Música de 1988 com o tema “Amazónia”, escrito por Luís Jardim. Gravou um álbum em 1990 com os Coming Up Roses, na Utility Records, editora de Billy Bragg. Tocou seis anos com Anne Clark. E também com Tanita Tikaram, Kym Marsh e Melanie C. No Correio da Manhã em 2001 dizia: “tenho muita coisa escrita e gostava de gravar para uma editora portuguesa”. Mário Gramaço, desde 1988 professor de saxofone, na Escola Profissional de Música de Almada, tocou no disco “Timidez” (1998) de Miguel Ângelo [1] e nos concertos de apresentação do álbum “Babilónia” (2002) dos Delfins. Luís Loução, professor de Educação Musical, foi vocalista dos Graffiti, que editaram um álbum em 1988, tocou em bares até se fixar no bar Woodstock, em Almada ♫ Ferro & Fogo: João Carlos (voz, ex-Hosanna) e os ex-Plutónicos, grupo dos anos 60 da Pontinha, Necas (guitarra), Alfredo Azinheira (baixo) e Mário Rui (bateria) Super Homem” (1981) Vai de roda, vem de rock” (1981) Santa Apolónia” (1982) Oxalá” (1984) ainda estão ativos como banda de covers. Tocaram pela primeira vez a sério, com os Tantra, em janeiro de 1978, no pavilhão do Beira Mar, Aveiro. Foram primeira parte em 1982 dos concertos dos Classix Nouveaux no Porto (Pavilhão Infante Sagres) e em Lisboa (Pavilhão do Restelo). João Carlos é participante de programas de TV, “Chuva de Estrelas”, “Casa de Artistas”, “Cantigas da Rua”. Alfredo Azinheira foi metade do duo Nevada vencedor do Festival da Canção de 1987 ♫ Xeque Mate: da cidade do Porto, 1979, Francisco Soares (voz), António Soares (guitarra), Aurélio Santos (baixo) e Joaquim Fernandes (bateria) Vampiro da uva” (1981) Entornei o molho” (1981) Filhos do metal” (1984) Ás do volante” (1984). Em 1985 editam o seu álbum único “Em Nome do Pai, do Filho… e do Rock ‘n’ Roll”, censurado na emissora católica Rádio Renascença por causa da prostituição de “Escrava da noite”, o satanismo de “Ritual” e as detenções de “A prisão”. Dia 15 de dezembro de 1984 participam no primeiro festival do heavy metal português em Santo António dos Cavaleiros, Loures, no Pavilhão da Associação de Moradores, 200$00 o bilhete, organizado pelo primeiro clube de fãs do metal Purgatório do Heavy Metal / fanzine Folha Metálica, c/ os S.T.S. Paranoid: os ex-Atomic Mushrooms, formados na Falagueira, Amadora, em setembro de 1982, Tózé Alho (voz), Orlando Matias (guitarra), Nuno Almeida (guitarra), João Carlos Lopes (baixo) e Joaquim Andrade (bateria), estreiam-se na primeira parte dos Arte & Manhas, a 16 de julho de 1983, na Sociedade Filarmónica da Amadora, em 84 trocam de nome Lady of the NightThe Sign” ♫ Sepulcro: dos Olivais, Lisboa, Miguel Pinto (voz), Jorge Marmitas (guitarra), Beto (guitarra), Isidro Chibo (baixo) e Manuel Animal (bateria), em 85 editam a primeira demo, em 86 a segunda, em 88 separam-se, entrementes, tocaram em 85 com os Tarântula, no Rock Rendez Vous dia 10 de outubro e dia 30 de novembro no Teatro Amador de Sandim, Vila Nova de Gaia Venom and Treason” ♫ Mac Zac: de Valadares, Vila Nova de Gaia, João Campos (voz), Paulo Barros (guitarra solo), Fernando Pereira (guitarra rítmica), Toni Ezequiel (baixo) e Luís Barros (bateria) Metal Demons”. Estreiam-se na Grande Maratona do Rock Português, organizada pelo jornal Musicalíssimo no Pavilhão do Cevadeiro, Vila Franca de Xira, no mês de dezembro de 1981; em 85, os irmãos Barros, mais o Carlos Meinedo (voz), João Wolf (guitarra), José Baltazar (baixo) e Paiva (teclados) serão os Tarântula (no vídeo, já com Jorge Marques na voz, presentemente um artista plástico) ♫ Valium: da Amadora, Paulo Silva (voz), Jorge Figueira (guitarra solo), João Figueira (guitarra rítmica), José Figueira (baixo) e Rui Pereira (bateria), em 88 trocam o nome para Casablanca AnjosReligião” ♫ Jarojupe: acrónimo dos irmãos Parente de Santa Maria de Portuzelo, Viana do Castelo, Jaime (voz, bateria), Rosa (baixo), Juca (guitarra) e Pedro (guitarra), em 82 vencem a Grande Noite do Rock no Pavilhão de Alvalade, no dia 5 de dezembro de 1986, no concerto da Somewhere On Tour dos Iron Maiden c/ os Wasp, no Dramático de Cascais, c/ os Jarojupe no bilhete, nem puseram os butes no palco. Constou que por excesso de tempo de sound check das outras bandas, a sua atuação fora cancelada Garotas excitadasNo dia em que a terra abortou” ♫ Low Valley: projeto do vocalista João Henriques, ex-STS Paranoid e ex-Wild Shadow, incluídos no cartaz, não apareceram Flames of Eternity”.
__________________________________
[1] Miguel Ângelo, no programa “Inferno” c/ Pedro Vieira, canal Q: “olha, os Delfins não estão a fazer nada, vou gravar um disco a solo. Na realidade esta é a explicação oficial, mas a verdadeira razão é que eu e o Fernando Cunha [“é também sósia de Steven Seagal, herói de acção que partilha com ele o facto de ser guitarrista e, tal como Samuel L. Jackson, adepto de boinas da Kangol”], dos Delfins, estávamos a construir um estúdio profissional de gravação e precisávamos de dinheiro, e o facto de eu fazer um disco a solo, e ele também ter feito um disco a solo, enquanto os Delfins estavam parados, fez com que recebêssemos da editora um budget p’á gravação desse disco, e com os dois budgets juntos, conseguimos pagar as dívidas durante dois ou três anos”.

quinta-feira, dezembro 06, 2012


Para trás é que se faz o caminho

Desbocados anos os anos 70. Em 1975, um pacato professor de Finanças Públicas ouvia na TV os despautérios dos setentistas líderes, de partidos políticos, Governo, Conselho da Revolução, e cingia as mãos na sua cabeça, atinado: “esta gente não está boa da cabeça, parece um país de loucos” [1]. E ponderava emigrar: “analisámos friamente a situação e acabámos por concluir que a loucura política era demasiada para que pudesse aguentar-se por muito tempo. O caminho do coletivismo para onde o PCP queria levar o país era tão contrário à cultura e maneira de ser da maioria dos portugueses que o povo acabaria por reagir”. Não emigrou, em 1981, numa entrevista a um jovem repórter de 19 anos, um Nancy Drew do semanário Tempo, militante do PSD, chamado Paulo Portas, estacionava Cavaco Silva no partido: “como lhe disse, sinto-me bem dando a minha colaboração junto das bases. É provável que seja o melhor lugar para mim”. Não será [2]. No ar, o rock português cavaleava, ainda o pó de 1980 dos “Cavalos de corrida”: “Agora é que eles passam ao assalto e fazem-no por qualquer preço”.
Não será a qualquer preço. Será a um preço bastante modesto: a falência do Estado português em 2011. Em 1980, o povo já sonhava com férias no Algarve [3], e no campo de batalha política – esquerda contra direita –, a esquerda esbatia diferenças ideológicas vivendo na high life, modus vivendi privilegiado de Mário Soares [4], e a direita recuperava o poder económico, modus operandi de Artur Santos Silva [5]. No dia 1 de janeiro de 1981, a Grécia é oficialmente o 10º membro da Comunidade Económica Europeia (CEE), um acontecimento histórico, estrondeiam ambos os contratantes, Constantino Karamanlis, presidente grego: “marcava o regresso da Grécia à família dos povos europeus”, e Roy Jenkins, presidente da Comissão Europeia: “aderindo à nossa comunidade, a Grécia vem enriquecer este somatório de civilização que a ideia europeia simboliza”. (O preço imediato que a Grécia pagou pela entrada na CEE foi a reintegração na NATO e a reconstrução das bases em Creta e no continente). Os líderes assinantes pronunciaram também as palavras de circunstância de tara perdida, Jenkins: “a participação da Grécia na comunidade não será fácil e haverá inevitavelmente problemas de adaptação”, e Karamanlis: “esforço intenso seria necessário em certos setores da economia helénica para que estes possam afrontar as condições de forte concorrência do Mercado Comum”.
Quarta-feira, 5 de agosto, meio ano de balanço, o saldo da adesão é negativo, “desapontamento na Grécia depois de 6 meses de CEE”, previa-se nesse ano de 81 uma medíocre taxa de crescimento industrial de 2 ou 3%, uma taxa anual de inflação de 18,6 %, os bens essenciais aumentaram acima desse valor. Nenhuma das esperanças se cumpriu: “a Grécia esperava que, uma vez na CEE, conseguiria penetrar com os seus produtos agrícolas nos mercados dos restantes países da Comunidade”, e “as esperanças gregas de melhorar a sua economia à custa dos fundos do Mercado Comum também se revelou ilusória”. Em Portugal, como São Tomé, queria-se ver [6]: “Na rádio, na TV / nos jornais, quem não lê / Portugal e a CEE / Quanto mais se fala menos se vê / eu já estou farto e quero ver // Quero ver Portugal na CEE”, – em março de 1981 é editado o primeiro single dos GNR, no lado A “Portugal na CEE”, no lado B “Espelho Meu” ainda nesse ano o Grupo Novo Rock publica um anúncio classificado: “Sê um GNR”: “Tens 18 anos e a 4ª classe / És um jovem ambicioso / vem ser um GNR // Procuras aventura e emoção / Uma farda e um boné / vem ser um GNR”. Emprego nas forças de segurança, o futuro dos jovens, desmandos na insegurança, não-futuro.
As Brigadas Revolucionárias foram fundadas em 1970, Isabel do Carmo: “formam-se as Brigadas justamente para corresponder a esta necessidade da via armada. Tínhamos a noção, o Carlos Antunes e eu, que em Portugal se falava muito e se fazia pouco, distribuíam-se muitos papéis entre os amigos, textos muito ideológicos, palavrosos, mas... fazia-se pouco”. E em 1973 nasce o Partido Revolucionário do Proletariado, que brandia o slogan “A arma é o voto do povo” para a consecução dos seus objetivos programáticos; Carlos Antunes: “a Revolução só será possível quando cada braço válido empunhar a arma que apeará para todo o sempre a burguesia do poder”. Entre 1975-79, explodiram umas bombas e embrulharam-se em ações de “recuperação de fundos”, assaltando bancos e repartições de Finanças. São presos os dirigentes, torturados pela PJ do Porto e condenados, no nomeado “caso PRP” (site com “textos verídicos” intercalados de “falsidades”, segundo queixa na Procuradoria-Geral da República). Na cadeia de Custóias, sexta-feira, 19 de junho de 1981, pelas zero horas, encetam uma luta, uma greve de fome, primeiro Carlos Antunes, dez dias depois Rodarte de Almeida, pela aplicação da Lei da Amnistia. Explica o primeiro: “queremos que a Lei da Amnistia nos seja aplicada. Vera Lagoa beneficiou dela. Os separatistas – os quais mesmo em termos burgueses não são patriotas… – também beneficiaram. Nós, que o somos, porque é que não havemos de beneficiar?”. “Carlos Antunes alimentado há treze dias por 3,5 litros de água diários e por não sabe quantos maços de SG Gigante, com duas úlceras, uma no estômago, outra no duodeno, de pijama e roupão, ar exausto, mas olhos e espírito sempre alerta” é entrevistado no hospital-prisão de Caxias: “nunca pensei que a morte fosse o fim do combate”. “Se cair em coma, não quero assistência”, o ministro da Justiça, que tinha dificuldade em pronunciar-lhe o nome, arrematava-lhe com “deontologia médica e da filosofia em geral do Direito” [7]. “O ministro quer-me alimentar à força. Não tem mentalidade cristã, já que não deixa as pessoas viver em paz, nem as deixa, pelo menos, morrer em paz e de acordo com os seus desejos”. Quinta-feira, 2 de julho, o presidente da República, general Ramalho Eanes, recebe os filhos de Carlos Antunes, Cristina, 22 anos, Paulo, 21, vindos de Paris para “ajudar a salvar a vida do pai”. Segunda-feira, 6 de julho, Augusto Abelaira escreve no Diário de Lisboa: “se reconhecidamente aqueles que têm por função vigiar pelo cumprimento das leis verificarem que elas, numa dada situação, conduzem ao absurdo, e à morte, o dever deles é infringir a lei. Infringi-la em nome da humanidade, em nome duma lei mais alta”. Sexta-feira dia 10, Carlos Antunes, internado no hospital Santa Maria, interrompe a greve de fome “na sequência do compromisso formal de trinta e um deputados da AD (Aliança Democrática) e da FRS (Frente Republicana e Socialista) em apresentarem em outubro na Assembleia da República um projeto de Lei da Amnistia, anunciava Francisco Sousa Tavares, que ‘punha definitivamente uma pedra sobre os crimes com o fim exclusivamente político’”. Terça-feira, 14, “a eventual libertação dos principais detidos do PRP – Isabel do Carmo, Carlos Antunes e Fernanda Fráguas – deverá ser decidida pelo 3º Juízo Criminal de Lisboa e não poderá ocorrer num prazo inferior a oito dias – prazo mínimo para que o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que anulou o julgamento, transite em julgado”.
Terça-feira, 4 de agosto, Régis Debray, conselheiro para os assuntos de política externa do presidente François Mitterrand, numa missão oficial a África, faz escala em Lisboa [8]. Quarta-feira, 12, o consumidor português deliciava a boca, “o arroz não vai faltar mas é mais caro”, o Governo autoriza a compra de 25 mil toneladas à firma COTRA, SA (empresa europeia): 12 500 toneladas de arroz carolino de origem brasileira, da colheita de 1981, mais 5 500 toneladas de origem uruguaia e 7 000 toneladas argentinas. “A opção pelo arroz carolino de melhor qualidade, mas também mais caro, insere-se na percentagem de importação anual. (…). As necessidades ao nível do mercado, revelaram fontes da EPAC (Empresa Pública de Abastecimento e Cereais), fazem-se sentir na intensa procura deste tipo de arroz, dada a baixa qualidade da variedade gigante que no entanto é mais acessível à já depauperada bolsa do consumidor português”. Quarta-feira, 19, Freitas do Amaral, metaforiza gastronomicamente. Ele prometera, antes da morte de Sá Carneiro, não participar em nenhum Governo, enquanto Ramalho Eanes fosse presidente da República. Como Eanes foi reeleito, a promessa cozeu à pressão, com a proposta do PSD para vice-primeiro-ministro do VIII Governo Constitucional. Apruma ele a gravata azul-escuro, aperta o casaco cinzento para marinar, se sim ou sopas, se não estão os dois convivas, CDS e PSD, a olhar para o prato um do outro: “tudo tem o seu tempo próprio. Permito-me até lembrar uma velha frase do chanceler Bismarck que dizia que ‘a alcachofra deve ser comida folha a folha’”. Nas férias estivais de “O passeio dos alegres” (15 fevereiro, 1981 – 26 junho, 1982) na TV, os políticos, as suas tricas e papagueados, revezavam o “Baixinho” (Jacob, o famoso papagaio, popular figura no programa). Quarta-feira, 26, o país arde, “cinquenta mil hectares e um prejuízo estimado em 600 milhões de escudos parecem não impressionar sobremaneira o poder político, profundamente empenhado na resolução de uma ‘crise’ política que a opinião pública já praticamente desistiu de compreender”, e o bombeiro de serviço corta-fogo: “o Banco Mundial tem preparado um plano de reflorestação de 150 mil hectares no nosso país, realizável em cinco anos".
Terça-feira, 15 de setembro, “Programa? Governo põe FMI dispõe”, na apresentação do programa do VIII Governo no Parlamento “o primeiro-ministro, em compasso de espera do FMI, falaria, sobre o ‘consenso’ possível em cinco grandes áreas, na revisão constitucional com o PS. Falou muito, demasiado em ‘parasitas’, trabalhadores que não trabalham, numa linguagem habitualmente pouco ‘expressa’ em Pinto Balsemão. E tudo para justificar a próxima revisão da Lei Laboral, com a liberalização dos despedimentos”. E quando os políticos mal navegam, antes como agora, desfraldam o glorioso livro de História, Balsemão finaliza o discurso: “temos uma identidade nacional feita de muitos séculos de História, caldeada no sangue anónimo de todo o povo e nas gestas heróicas de chefes militares e religiosos, de pioneiros de descobertas, de desbravadores de novas latitudes e longitudes, de criadores de novas pátrias. As pátrias são como os rijos troncos de árvore, cujas raízes mergulham na imensidade de um passado coletivo de vitórias e de revezes, e que emprestam vinco renovado às gerações que se sucedem no tempo, confrontadas com novos desafios, com diferentes sagas, com inesperadas odisseias”. Nos anos 80, as gerações fornejavam-se na Brandoa, solo de úbere mulher, sobretudo as frequentadoras da catequese, pelos 16 anos, emprenhavam. Terça-feira, 29, “como vai o Ensino Primário em Portugal. Na Brandoa há 600 alunos para cinco salas de aula. Segundo o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa faltam 15 mil salas em todo o país”. A orientação desenrascanço do ministério da Educação e Universidades “é a de se encaminhar os alunos que não tenham lugar na escola que lhes coube para outros estabelecimentos da mesma área que tenham salas devolutas”, e de dispor 1,1 metros quadrados a cada aluno. “Outra solução do ministério de Vítor Crespo é, nas escolas com carência de instalações, aumentar o número de alunos por turma em salas de aula de dimensão superior a 35 metros quadrados até ao máximo de 36 alunos da segunda fase e de 32 da primeira, ou de ambas as fases, sempre que as condições da sala o permitam”.
Terça-feira, 13 de outubro, “Jorge Jardim refaz fortuna no Gabão. Ator de primeiro plano na agonia do mundo branco em África, pelo qual combateu, Jorge Pereira Jardim, que foi homem forte em Moçambique, refaz fortuna no Gabão. Agora, na casa dos 60 anos, leva uma pacata vida burguesa em Libreville onde dirige uma empresa de grandes negócios, o Interbanque. (…). De camisa de seda e caqui com as suas iniciais bordadas, anel e pulseira de oiro, discretos, rugas aristocráticas, magro, uns sessenta anos jovens, tem gestos largos mas requintados. (…). Com os seus cabelos castanhos, ondulados, brilhantinados, cuidadosamente penteados para trás” foi entrevistado pelo Le Monde, esfumaçando Benson and Benson, bebendo whisky e café forte: “se um dia Moçambique se tornar democrático, regresso imediatamente”. “Depois de ter deixado Moçambique com os seus doze filhos, todos os seus bens lhe foram confiscados, e, tendo de refazer a vida, reduziu algumas das suas atividades financeiras: ‘vendi o meu avião e parti do zero porque todos os meus bens, até os cães, tinham sido postos sob sequestro’”. Jardim “incarnava, sozinho, a alta sociedade da Beira, de que era a locomotiva. Banqueiro, homem de negócios, ocupava-se então muito ativamente de tudo o que dizia respeito ao petróleo. Ligado ao grupo financeiro português Champalimaud, tinha interesses ou participações nos seguros, na corretagem marítima, nas farinhas, nas indústrias agro-alimentares, nos adubos, nas obras públicas, nos transportes aéreos, na importação e exportação… Indiretamente associado ao banco Pinto e Sotto Mayor, controlava praticamente toda a imprensa local quotidiana, semanal e periódica: ‘isso e a minha herdade do norte eram os hobbies que tinha para gastar dinheiro’”. Sexta-feira, 30, “degradação crescente na situação económica”. O Banco de Portugal “fala abertamente de degradação – designadamente na balança de pagamentos, refere-se à ‘recessão’ por parte de países com os quais Lisboa habitualmente contava, e aponta para ‘a perda de dinamismo do afluxo das remessas de emigrantes, ao que haverá de ajuntar a aceleração do processo inflacionista e o abrandamento do ritmo de crescimento do investimento’. (…). E, falando de perspetivas, o estudo diz claramente que se ‘desenhou um contexto adverso à contenção do desequilíbrio externo da economia portuguesa, não havendo sinais de que aquele se esbata rapidamente’”. Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP: “no setor económico, caminha-se para o desastre completo, e a situação social agrava-se de dia para dia”. Mário Soares, para quem a economia é uma batata, apenas fuça brechas para poleiro: “há um certo nervosismo na sociedade portuguesa”.
Quarta-feira, 4 de novembro, “anunciado por João Salgueiro, dívida pública atingiu 600 milhões de contos, só de juros vão ser pagos 95 milhões num ano”. O ministro das Finanças e do Plano “esteve reunido com os deputados da Aliança Democrática, preparando-os para o choque que o Orçamento Geral do Estado vai constituir e numa tentativa de evitar dissidências no seio do Governo com os cortes orçamentais que vão ser impostos a vários ministérios. (…). João Salgueiro terá garantido aos deputados que o Governo não tenciona aumentar a carga fiscal no OGE/82”. Sábado, 7, o FMI está em Lisboa para renegociar a Carta de Intenções. “Encontra-se neste momento em Lisboa, uma delegação do FMI que veio a Portugal renegociar a ‘carta de intenções’ relativa a um empréstimo de 1,3 mil milhões de dólares, pedido pelo primeiro Governo de Pinto Balsemão” [9]. “As grandes opções do plano 1981-84, adotadas durante a vigência do anterior Governo (de Sá Carneiro), apontavam para um crescimento do PIB de 4,8% e para um défice de 1,5 mil milhões de dólares na Balança de Transações Correntes. Por razões relacionadas, segundo Morais Leitão, com as difíceis condições climatéricas, com a revalorização de 20% do dólar americano, e com as elevadas taxas de juro nos mercados internacionais, o primeiro Governo Balsemão viu-se obrigado a corrigir alguns desses números. No fim de outubro, Cavaco Silva, diretor do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal, tornou públicas estimativas que indicavam um défice de dois mil milhões de dólares na Balança de Transações Correntes para este ano e uma taxa de inflação de 20%”. No OGE para 1982, menos 11 milhões de contos para os Assuntos Sociais, “em contrapartida, o OGE atribuirá quase 14 milhões para pagamento de indemnizações, dos quais se destacam cerca de 10 milhões a conceder aos grandes acionistas e latifundiários”.
O “Sabadabadu” estreia dia 7 de novembro de 1981. Este país é um colosso, está tudo grosso! está tudo grosso! Terça-feira, 17, “por um lugar atrás do balcão. Têm entre 16 e 19 anos. Aguardavam esta manhã, em longa bicha, uma entrevista na tentativa de arranjar emprego. Respondiam a um anúncio. Não manifestavam grande esperança. Outros empregos? ‘Já fui empregada de balcão e relações públicas mas tive de sair. Terminou o contrato a prazo’. Outras procuram o primeiro emprego. Ordenado? Não sabe. ‘Pagaremos segundo a idade e a categoria abrangidas pelo contrato’, refere o gerente”. Sexta-feira, 27, “mais taxas e mais impostos – entre os quais avultam dois mil escudos por cada saída ao estrangeiro, por via aérea ou marítima, e novo aumento do preço do tabaco. (…). A transformação da taxa de radiodifusão em imposto de 720 escudos”. “A proposta de Orçamento Geral do Estado para o ano de 1982 foi ontem entregue na Assembleia da República prevendo um défice das contas públicas na ordem dos 150,7 milhões de contos, o que eleva a dívida do Estado português para 750 milhões. O défice será coberto por recurso ao crédito interno e externo. Em empréstimos externos o Governo conta recolher 35 milhões de contos e em empréstimos internos 152,7 milhões provenientes de obrigações do Tesouro, certificados de aforo e obrigações a colocar no sistema bancário. (…). Só em juros de amortização da dívida os portugueses vão pagar no próximo ano quase 100 milhões de contos, ou seja, cerca de um quinto de todas as receitas fiscais arrecadadas pelo Estado".
Sábado, 19 de dezembro, "a Assembleia da República fechou as suas portas às cinco horas da madrugada de hoje, com a aprovação, na especialidade, do Orçamento, devendo reabrir, apenas, a 5 de janeiro para a maratona da revisão constitucional. (…). O Parlamento eliminou, da proposta governamental, o imposto de radiodifusão e a taxa sobre saídas ao estrangeiro, nomeadamente sobre os bilhetes de transporte aéreo. Para compensar esta perda de receitas, que João Salgueiro previa vir a recolher, foi agravado o imposto sobre o tabaco (que passou dos 15% da proposta para 20%) e aumentado o imposto de selo sobre os bilhetes de transporte”. Quarta-feira, 23, “para a consoada deste ano há bacalhau mas faltam as batatas”. “’Batata existe’ – diz um retalhista. ‘Só que a gente chega ao mercado e os batateiros querem vendê-la a preço superior ao da tabela e sem passarem as faturas’”. “O preço da batata foi aumentado há cerca de dois meses, tendo então sido estabelecida uma maior margem de comercialização para armazenistas e retalhistas. De acordo com esta tabela, a batata deveria ser paga ao produtor, neste momento, a 12$60 o quilo. A verdade, porém, é que em Trás-os-Montes, a concorrência entre os intermediários já levou a que esse preço subisse aos 14 escudos, inviabilizando, portanto, o preço de 16 escudos que a portaria governamental fixou para a venda ao público”.
No mês de dezembro de 1981, dos Xutos & Pontapés, sai “Sémen”: “Semente dum corpo que sai / Do corpo da gente / Velha disputa do sexo / Nunca é quem se espera / Terá isso nexo / Será menino ou menina / Ao pai pouco importa / É mais um anexo”. De Manoel de Oliveira, dia 3, sai “Francisca” “a história de uma paixão funesta”. Da televisão, na abertura, às 16:00 horas, aos sábados, sai viagens pelo “Cosmos”, estreadas dia 7 de outubro, uma série de Carl Sagan, com música de Vangelis. Neste ano, os adolescentes portugueses entram no furor aeróbico da década de 80 através da dança jazz.
_________________________________
[1] Para um pacato professor de Finanças, Portugal, “no auge da loucura política e económica”, assemelhava-se à cidade de Sonora. Onde os “gatos go loco en la cabeza”, e esgotam a lotação da El Casa Del Gato rest home for neurotic cats, durante as férias de Speedy Gonzales, o pequeno e carismático roedor – em “Daffy Rents”.
[2] No futuro (2012) será uma tocha condutora de homens. Cavaco Silva na aldeia olímpica portuguesa em Londres: “eu sei que… nos momentos que antecedem a participação nas provas se vivem… alguma ansiedade. Sei isso por experiência própria, quando participava nas minhas provas de atletismo, mas encontro os nossos atletas bem dispostos … eles, pelo contrário, acho que vão atuar por forma a dar ânimo! aos portugueses num tempo que é difícil para todos e, nós gostaríamos que pudesse traduzir nalguns resultados destacados”.
[3] Basílio Horta, ministro do Comércio e Turismo, no VI Governo Constitucional; diálogo com jornalista: “quando é que os portugueses podem voltar a passar férias no Algarve?”, Basílio H: “quais eram os portugueses que passavam férias no Algarve e agora não passam?”, J: “aqueles que não podem pagar 100 escudos por uma bica, sr. ministro”, Basílio H: “ora bem, olhe, eu quero dizer que, aqueles que hoje não podem pagar 100 escudos por uma bica, e não são muitos sítios que é 100 escudos, que a bica custa 100 escudos, eram aqueles que eventualmente, há bem pouco tempo, não é? talvez não pudessem comprar carne, não pudessem comprar peixe, e viviam, e ainda há muitos deles, vivem em condições muito difíceis. O problema que se nos coloca é tentar equilibrar a necessidade de receitas turísticas e divisas estrangeiras para equilibrar a nossa balança de pagamentos, com um direito fundamental dos cidadãos que é o seu direito a férias. Posso no entanto dizer que neste momento, fora da época alta, o Algarve é uma região acessível, fora da época alta se se conseguir um sistema, e para isso temos de contar com a colaboração das instituições hoteleiras, das agências de viagens, de forma a rentabilizar as unidades existentes fora dos meses de verão, suponho que já será possível mais portugueses passarem férias no Algarve”.
[4] Representante da esquerda a jacto, 1ª classe, palácios, hotéis de luxo, lordismo republicano, Mário Soares relata às câmaras da RTP uma comovedora visita à China em 1980: “a minha visita na China foi de facto uma visita muito variada, porque tive a oportunidade de ver bastante o país e de con, e de contactar com as grandes realizações que se estão a fazer de facto naquele grande país. Posso dizer que me surpreendeu o estilo de vida dos chineses e que me surpreendeu favoravelmente a liberdade com que se nos dirigem, com que atuam e estão, e sobretudo o esforço extraordinário de desenvolvimento que está a ser feito. De facto é de toda a evidência para quem atravessa a China, que por toda a parte as pessoas conseguiram aquele mínimo vital que é necessário para viver em condições de decência e dignidade, coisa que não existia naturalmente antes da Revolução, e que é uma grande conquista da Revolução Chinesa. Também depois de ter percorrido várias cidades, como sabe, e ter utilizado vários meios de transporte e ter estado em Xangai e Cantão entrei por terra, portanto numa viagem de automóvel, em Macau, onde tive a ocasião de encontrar as duas comunidades, a comunidade chinesa e a comunidade portuguesa, que vivem de uma maneira harmónica e com uma grande confiança em relação ao futuro, visto que o melhoramento das relações e a cooperação que existe hoje, real, não só no plano político, mas também no plano cultural e das relações diplomáticas e até comercial, entre a China e Portugal naturalmente tem repercussões muito favoráveis relativamente a Macau. É esse, aliás, o pensamento do governador, general Melo Egídio, com quem tive longas conversas e que me pareceu uma pessoa com uma grande visão da situação de Macau e das perspetivas que se põe ao desenvolvimento de Macau”. – Mário Soares regressou no “comboio da liberdade”, em 1974, dos hotéis de luxo em Paris, onde se exilara do Governo de Salazar, para viver em Portugal do erário português. Em Washington, em 18 de outubro de 1974, Henry Kissinger enfurecia-se que Portugal, um país da NATO, galgava para o comunismo. Mário Soares protesta que não. Kissinger profetiza-o como o Kerensky português. Soares geme: “mas eu não quero ser Kerensky” (primeiro-ministro do Governo Provisório russo, após a abdicação do czar Nicolau II, derrubado depois na Revolução de Outubro de 1917). Kissinger corta-lhe o pio: “nem Kerensky haveria de querer”. No final desse mês sai a sorte grande a Mário Soares. Kissinger envia a Lisboa Alan Lukens, diretor da secção dos Assuntos Ibéricos, que no seu relatório defende que é possível travar o comunismo em Portugal apoiando economicamente o Partido Socialista e o confiável Mário Soares. Kissinger substitui o embaixador Stuart Nash Scott, um moderado, por Frank Carlucci, um duro experiente em situações revolucionárias, que canalizará dinheiro americano para a compra de sedes do PS e a sua implantação o país. Soares agradece metendo o socialismo na gaveta nas suas trapalhadas como primeiro-ministro, apesar disso, o povo gostou e bisou-o na Presidência da República (1986-1996). Foi um bom presidente. Fundou a Emaudio. Rui Mateus, em “Contos proibidos”: “no dia 17 de fevereiro encontrar-me-ia, como combinado, em casa de Mário Soares onde Ivanka Corti era convidada para o almoço. Ali, embora ainda sob a emoção da vitória, Soares explicaria que tinha ideia de aproveitar os recursos de algumas fundações partidárias que lhe eram afetas, para participar na tão falada privatização dos meios de comunicação social e abertura da TV ao sector privado. Queria primeiro estudar melhor o assunto, mas desde logo pediria à convidada italiana que transmitisse um convite seu a Silvio Berlusconi para vir a Portugal. Este não perderia tempo e chegaria pouco tempo depois a Lisboa, no seu avião pessoal acompanhado de Ivanka Corti. (…). Entretanto em Lisboa, no dia 18 de março de 1987, tinha sido constituída na avenida António Augusto de Aguiar, na sede da Fundação de Relações Internacionais, a Emaudio, S.A., Sociedade de Empreendimentos Áudio Visuais para ir ao encontro dos acordos que estávamos em vias de concretizar com a News International de Rupert Murdoch”. O presidente Soares viajou 922 809 km, equivalente a 22 voltas ao mundo, visitando 57 países, 24 vezes a Espanha e 21 vezes a França. Contribuindo para a História nacional com um único facto: montar um tartaruga, na sua viagem de 24-28 de novembro de 1995 às ilhas Sheychelles. Finda a comissão presidencial continuou a servir o país com um subsídio de 500 mil contos do Governo de Guterres para a criação de uma biblioteca, auditório e arquivo num prédio cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, onde seu filho, João Soares, era presidente.
[5] Hoje reformado com 351 000 euros / ano e ainda útil como cadeira-homem (“chairman”) na Fundação Gulbenkian. Em 1978 tinha o sonho de ser banqueiro. Fora oficial da marinha, professor universitário, diretor bancário, secretário de Estado do Tesouro, vice-governador do Banco de Portugal e, sobretudo, fundador do PPD/PSD. Esta fundação, refundava-lhe favores do poder político, Cavaco Silva, Francisco Balsemão, Sousa Franco, Morais Leitão, para que alterassem a legislação de 1975, do pacto MFA/Partidos, que estabelecia o princípio da irreversibilidade das nacionalizações. 98% da banca fora nacionalizada pelo decreto-lei nº 132-A/75 de 14 de março, só três bancos estrangeiros escaparam, a inexistência de mercado de capitais, só o Estado emitia obrigações, cortava o sonho de Santos Silva de bancar o banqueiro. Cavaco Silva, em 1980, por duas vezes lhe vagiu que abrir a banca à iniciativa privada “era um dossier muito sensível”. Até que a lei da delimitação dos setores público e privado, alterada por Cavaco Silva, abre uma luz para a sua Sociedade Portuguesa de Investimento (SPI). Pinto Balsemão, já primeiro-ministro, dirá sobre privatizar bancos: “dependerá bastante da regulamentação que, quando venha a ser promulgada a lei dos setores, que delimita os setores produtivos, da legislação complementar que regulamentará por parte do Governo a possibilidade de bancos privados, essa regulamentação vai ser uma regulamentação muito cuidada, porque nós, ao contrário do que temos vindo a ser acusados, não pretendemos de maneira nenhuma entregar este país a banqueiros, o Governo é o Governo, isto explica muito”. Em 1981, Morais Leitão, ministro das Finanças do VII Governo Constitucional, do primeiro-ministro Pinto Balsemão, (o ministro das Finanças do VIII Governo, também de Balsemão, será… João Salgueiro) amanteiga o quadro legal permitindo a constituição formal da SPI. No projeto SPI, em 1979, embarcou a fina-flor empresarial do norte, empreendedora de comprar Porsches e ter salários em atraso, num total de 16 empresas: Têxtil Manuel Gonçalves, Riopele, RAR, Quintas & Quintas, Corticeira Amorim, Coelima, Empresa Industrial de Santo Tirso, Somelos, Sogrape, o grupo Rola, Auto-Sueco, o grupo Pinto de Azevedo… No projeto SPI, os acionistas seriam empresas portuguesas assessoradas por know-how estrangeiro. Para tal, meteu-se Santos Silva num avião e foi apresentar o projeto à Internacional Finance Corporation (IFC), ligada ao Banco Mundial: “o empenhamento da IFC era vital, já que a instituição dispunha de uma enorme experiência em situações similares em países num estádio de desenvolvimento idêntico ao nosso, sem mercado de capitais e um nível elevado de estatização da economia”. A IFC aplaudiu-o e apresentou-o ao suíço UBS, o maior banco mundial de investimentos e aos especialistas ingleses de capital de risco da 3i. O amigo Ernâni Lopes, colega do curso de cadetes no Alfeite, embaixador em Bona, apresentou-lhe os alemães da DEG. E um amigo do Crédit Lyonnais apresentou-lhe o diretor-geral da instituição. Em 1985 a SPI, como estava subentendido desde a sua legalização, transforma-se no Banco Português de Investimento (BPI), o primeiro banco privado depois do 25 de abril. – No início da década de 80, a banquização de Portugal enrubesce, entrouxando elite empresarial e poder político num gang que afogará a economia, falindo o Estado em 2011. O Chase Manhattan Bank abre um escritório de representação em Portugal em 1980, diz o seu encarregado português: “o Governo quando precisar de alguma coisa, nós, eu estou cá em Lisboa precisamente para contactar com o Governo e com todas as entidades, empresas públicas e privadas, e com os bancos correspondentes”. O acionista do Chase, o 3º maior banco do mundo, David Rockfeller, de 75 anos, da fortuna Standard Oil, presidente do ramo americano da Comissão Trilateral, que quer controlar o mundo através das multinacionais, na ocasião, visitou Lisboa. A portaria nº 675/84 de 5 de setembro de 1984, assinada pelo primeiro-ministro Mário Soares e pelo ministro das Finanças e do Plano Ernâni Lopes autoriza a abertura da primeira sucursal do Chase Manhattan Bank.
[6] João Cravinho em 1980 concluía num conclusivo colóquio sobre a adesão de Portugal à CEE: “a ideia é fundamentalmente perceber que políticas industriais, que objetivos que, enfim, finalidades, se podem dar a um esforço coletivo, no sentido de prosseguir uma via de industrialização, que permita uma dupla tarefa: a inserção no mercado mundial, portanto o aumento do comércio mundial, mas também com o objetivo de melhorar o nível de vida das populações. Aliás, este último aspeto é que é o fundamental. (…). O alargamento da Comunidade de modo a incluir Portugal, a Espanha e a Grécia vem introduzir profundas alterações no padrão de comportamento da CEE, não só dentro da própria Comunidade, como nas suas relações com outros países. Portugal, a Espanha e a Grécia são países semi-industrializados e, naturalmente, há quem receie que a integração destes países na Comunidade Europeia possa alterar, possa dificultar, o acesso ao mercado da Comunidade de produtos industriais que são produzidos fora desta área, não é? portanto, esse foi um ponto que foi muito discutido e, enfim, não se chegou a uma conclusão definitiva. Apontaram-se razões que levam a considerar este receio não fundado, como se apontaram razões que levam a pensar que em alguns casos assim sucederá”.
[7] Menezes Pimentel, ministro da Justiça: “se o Carlos Antunes, refiro agora o nome dele, se recusar, como se recusou ao tratamento, é evidente que nós não temos, nós, administração penitenciária ou prisional, não tem qualquer possibilidade de o obrigar. Se o Carlos Antunes, contra a minha expetativa, e entrar em fase de inconsciência, será um problema que se terá então de resolver dentro da deontologia médica e da filosofia em geral do Direito”.
[8] Régis Debray é um caso de sucesso do sistema prisional. Em abril de 1967, desloca-se à Bolívia, como correspondente do semanário mexicano Sucessos e da editora Maspero, para transmitir informações sobre as frentes de guerrilha. É preso, acusado de colaboração com os guerrilheiros e condenado a 30 anos. É libertado em 1970. Debray apancado de marxista, será um homem recuperado, útil à sociedade, um leitor do tempo, um homem realista, de ir à costureira avessar a casaca. No seu livro “Depoimento dum preso político”: “o tempo político move-se mais depressa nos períodos de crise e estagna nos de regressão: aprendemos mais numa semana de revolução do que em dez anos de status quo, e assim sucessivamente. Mas se encararmos o tempo em termos do que é ou não do momento, como a adaptação de uma linha política à situação, veremos essa adaptação como consistindo na escolha do objetivo apropriado. A ciência dos objetivos é a ciência do que é relevante para o momento; o que ainda ontem era acertado tornou-se absolutamente errado hoje: reconhecer o que há de diferente no dia de hoje, em que aspeto hoje é igual a ontem, equivale a descobrir o que existe de especial no momento atual, identificar as caraterísticas únicas e distintas desse momento”.
[9] Uma regra de ouro está em falta na Constituição Portuguesa: a obrigatoriedade da vinda dos técnicos do FMI de 5 em 5 anos verificar as contas do Estado. Foi esta falha que permitiu a fuga de António Guterres, em vez de chamar o FMI, e a falência do Estado em 2011. Em 1981, Pinto Balsemão explica que o FMI é uma necessidade intrínseca da governação nacional: “a Carta de Intenções não é uma imposição do exterior aos portugueses. É antes uma opção feita por nós, por razões internas para beneficiar de créditos em boas condições”. Confirmada na televisão em 2012 pelo mais alto político da nação, Marques Mendes: “quem vai assessorar o Governo na elaboração do estudo para a reforma do Estado vão ser técnicos do FMI”. “Já chegaram esta semana a Portugal, já cá estão, já reuniram com os ministérios da Administração Interna e da Defesa e vão ser a assessoria técnica especializada no estudo e na definição do esqueleto e das medidas desta reforma”. Um corte de 4 mil milhões de euros na despesa do Estado, engordado por quatro décadas de má governação, repartidos: 500 milhões na Justiça, Defesa e Segurança; 3 500 milhões na Segurança Social, Saúde e Educação. “Isto significa uma redução de funcionários públicos da grandeza de dezenas de milhar”.

na sala de cinema

Desperately Seeking Susan” (1985), o melhor filme da década de 80; na banda sonora: “Into The Groove”: “Only when I'm dancing can I feel this free / At night I lock the doors where no one else can see / I'm tired of dancing here all by myself / Tonight I wanna dance with someone else // Get into the groove / Boy, you've got to prove / Your love to me, yeah / Get up on your feet / Yeah, step to the beat / Boy, what will it be?”. No elenco vários músicos: John Lurie dos Lounge Lizards, Richard Hell, Arto Lindsay dos DNA, Richard Edson baterista dos Sonic Youth, Ann Magnuson dos Bongwater, Annie Golden dos Shirts. Uma história citadina plausível: “uma entediada dona de casa suburbana, à procura de aventura na sua vida, é atingida acidentalmente na cabeça, desperta com amnésia e confundida com uma boémia de espírito livre nova-iorquina chamada Susan (Madonna)” [1]. Diálogos corriqueiros quotidianos: Roberta (Rosana Arquette): “Gary, lembras-te dos teus sonhos?”, Gary (Mark Blum): “não sei, nunca pensei nisso”. A moça dos cigarros no Magic Club (Ann Magnuson), no tabuleiro tem maços de Lucky Strike: “meu Deus, pensámos que morreste!”, Susan: “não. Estive em New Jersey”. Gary: “que trazes vestido?”, Roberta: “um casaco, era do Jimi Hendrix”, Gary: “compraste um casaco usado? Agora somos pobres? Que se passa?”. O taxista (Rockets Redglare): “toda a vida vivi em Nova Iorque. Tínhamos restaurantes chineses, italianos… agora, temos estes restaurantes de sushi. Todos querem sushi. Sushi… detesto. Se bem que experimentei há dias. Levei para casa, cozinhei… nem era mau. Sabia a peixe”. Leslie (Laurie Metcalf): “deves orgulhar-te de andares enrolado com a Becky Shuman”, Gary: “não sabia que sabias. E não andamos enrolados. Temos um caso perfeitamente respeitável!”. Roberta: “Dez, não sou a Susan. Sou uma dona de casa e vivo em Fort Lee, New Jersey. Sou casada há quatro anos. O meu marido, o Gary… vende banheiros e saunas”. Gary: “a Leslie disse-me que muitas prostitutas são lésbicas”, Roberta: “Gary, não estás a ouvir-me. Não sou prostituta nem lésbica!”, Gary: “vamos arranjar um terapeuta. O preço não importa”. Filme de baixo orçamento: “a Camel retirou o patrocínio de 5 000 dólares por causa da cena onde Dez diz a Roberta que ela 'deveria deixar de fumar'”, e altas roupas. Comédias de sexploitation dos anos 80: “Private Lessons” (1981), “Philip ‘Philly’ Fillmore (Eric Brown) é o filho de 15 anos de um homem de negócios rico de Albuquerque, que partiu da cidade numa prolongada viagem de verão, deixando o jovem ao cuidado de Nicole Mallow (Sylvia Kristel), uma voluptuosa governanta francesa, e Lester Lewis (Howard Hesseman), o motorista da família. Philly enrabicha-se por Nicole. Quando ela o apanha a espreitar para o seu quarto, diz-lhe para ele fechar a porta. Para choque total de Philly, ela quer dizer para fechar a porta do lado de dentro e vê-la a despir-se. Contudo, é demais para ele quando uma Nicole sem soutien lhe pede que a toque nos seios. Quando ele protesta, ela recua e contrariando tira a roupa interior. Philly entra em pânico e foge”. Filmagem driblada por questões legais: “enquanto a maior parte do filme foi rodado em Phoenix, Arizona, a produção teve de atravessar a fronteira para o Novo México, para filmar as cenas de amor, porque a idade de consentimento no Arizona é de 18 anos e no Novo México é 16”. “Fraternity Vacation” (1985), “um totó ganha a amizade de dois dos seus colegas de fraternidade quando o seu pai lhes oferece o apartamento, por uma semana, em Palm Springs, e também oferece à fraternidade uma banheira de hidromassagem e jacuzi, se eles ajudarem o filho a enganchar uma moça”. “Private Resort” (1985), “Jack (Johnny Depp) e Ben (Rob Morrow), amigos adolescentes, que estão na caça sexual de raparigas bonitas e ricas num resort chique de Miami, onde são hospedes de fim-de-semana”. “Hot Times at Montclair High” (1989), “Sean (Ross Hamilton) é um atleta popular que luta para manter as notas altas para ficar na equipa da escola. A namorada de Sean, Jenny (Kim Valentine), luta com a sua extrovertida amiga Susan (Leslie Owen) que a misturou na vida de drogas e devassidão da banda rock local. Ziggy (Johnathan Gorman) é um marrão finalista que tenta encontrar a mulher certa para estar apesar da sua falta de aptidões sociais. Jason (Brent Jasmer) é um punk duro e mau rapaz residente que luta para sobreviver e descarrega a sua agressividade nos outros para fugir da sua abusiva vida em casa”.
__________________________________
[1] No início da década de 80, uma desconhecida Madonna fez um teste vocal para a faixa dos Was (Not Was), “Shake Your Head (Let's Go To Bed)”, do álbum de 1983 “Born To Laugh At Tornadoes”, com a voz principal de Ozzy Osbourne. A etiqueta de Madonna, Sire Records, não autorizou e ela foi excluída na versão final. Em 1992, o produtor de house music Steve “Silk” Hurley regrava e remistura a faixa, com a ideia de usar as gravações de Madonna e regravar a voz de Ozzy Osbourne. Madonna desta vez recusou a autorização e foi substituída por Kim Basinger. No entanto, a faixa com Madonna emergiu em várias compilações. No século XXI, uma protetora da Cabala e das criancinhas do Malawi. “I Am Because We Are” (2012), filme escrito, produzido, narrado por Madonna e realizado pelo seu antigo jardineiro Nathan Rissman: “o filme usa a sicofanta celebridade de Harvard, Jeffrey Sachs, e um número de funcionários do governo do Malawi e mistura-os com pessoal e filosofia da Cabala. Até Bill Clinton é atirado lá para dentro. O resultado é que todas essas pessoas parecem implicitamente patrocinar a Cabala. O que Madonna e Rissman convenientemente deixam de fora de ‘I Am’ é que SFK, uma filosofia adotada pelos malawianos no filme, significa Spiruality For Kids, que é o currículo ensinado pelo Centro de Cabala Philip Berg em Los Angeles. O Centro de Cabala não tem nada a ver com o judaísmo. É um processo totalmente original concebido por Berg e a esposa, Karen. Alguns podem dizer que é um esquema de pirâmide. No mínimo, é um culto. (…). É um pouco chocante, depois de ver toda a pobreza e doenças que lhes tem sido impostas, ouvir as crianças do Malawi, em seguida, recitar a máxima da Cabala/SFK que eles próprios ‘são responsáveis pelas suas escolhas’ e que ‘as suas ações podem influenciar positivamente a qualidade das suas vidas’. É a moral do filme de Madonna: subam pelas vossas próprias iniciativas?”. E tem uma filha que fuma.

no aparelho de televisão

Publicidade. “Conan, um rapaz do futuro” (1978), estreou na RTP 2 em 1982. Série de anime produzida pela Nippon Animation, adaptada do livro de ficção científica “The Incredible Tide” de Alexander Key. “A história começa em julho de 2008, durante uma era em que a humanidade enfrenta a ameaça de extinção. Uma guerra devastadora travada entre duas grandes nações com armas ultra-magnéticas, muito mais poderosas do que qualquer coisa vista antes, traz o caos total e destruição por todo o lado, resultando em vários terramotos e maremotos, a Terra deslocada do seu eixo, a sua crosta abalada por enormes movimentos, e os cinco continentes sendo completamente rasgados e afundando-se nas profundezas do oceano. “Os Estrumpfes” (1981-89), vivem na floresta em casas com forma de cogumelo e a sua rotina diária é acautelar-se de Gargamel. “Nos arredores da aldeia dos Estrumpfes, vive o feiticeiro e alquimista Gargamel e seu gato Cruel. O feiticeiro persegue os Estrumpfes. Inicialmente, Gargamel queria apenas comer os Estrumpfes, mais tarde descobriu uma fórmula para obter ouro que precisava de Estrumpfes como ingrediente (no mínimo seis), mas depois de repetidos falhanços, a simples possibilidade de vingança é motivação suficiente”. Em 2011, a Columbia TriStar Warner impôs aos povos subdesenvolvidos europeus, consumidores de cultura americana, a renomeação dos engraçados bonecos para Smurfs, numa americanização estandardizada do produto (original do belga Peyo). Excluíram da ordem: a França e a Bélgica, Les Schtroumpfs; a Espanha, Los Pitufos; a Itália, I Puffi. “Heathcliff e Marmaduke” (1981), estreou na RTP em 1985. Personagens de BD criados, Heathcliff, por George Gateley e Marmaduke por Brad Anderson: Heathcliff era um gato com atitude, vivia com Iggy e os seus avós e infernizava a vida aos cães locais, especialmente Spike; Marmaduke era um cão com sentimentos, viva com a família Winslow, desastrado, só atraía problemas. “Lucky Luke” (1983), estreou na RTP em 1987. O cowboy solitário, o cavalo Jolly Jumper, o cão Rantanplan, percorrem o oeste salvando órfãos, viúvas, bancos, criadores de carneiros.... Lucky Luke fumava de enrola e Morris, para entrar no mercado americano, foi forçado a substituir o cigarro por uma palha, desistindo da sua resposta de sempre: “o cigarro faz parte do perfil do personagem, como o cachimbo de Popeye ou Maigret”. Terence Hill dirigiu e interpretou o filme “Lucky Luke” (1991). “Defensores da Terra” (1986-87), estreou na RTP em 1988. Flash Gordon, o Fantasma, Mandrake e Lothar e os seus filhos, Richard “Rick” Gordon (Flash Gordon), Jedda Walker (Fantasma), Kshin (filho adoptivo de Mandrake) e Lothar “LJ” Junior (Lothar) defendem a Terra dos planos do imperador Ming do planeta Mongo. “Denver, o último dinossauro” (1988-89), estreou na RTP em 1989. Um grupo multicultural de quatros adolescentes, praticantes de BMX, Jeremias, Hugo, Mário e Chico, caem num terreno sobre um ovo de dinossauro, um Corythosaurus, que eclode. Eles escondem-no na casa de Hugo para o proteger da cobiça do promotor de concertos Morton Fizzback.

na aparelhagem stereo

Vidal Sassoon (1928-2012), desde os anos 60 que revolucionava os penteados nas cabeças femininas em muitos estilos: “asymmetrical bob”, “pixie cut”, “inverted bob”, “five-point bob”, “box bob”, “quiff bob”, “long bob”, “acute angle”: “a minha ideia era cortar forma no cabelo, para usá-lo como tecido e tirar tudo o que era supérfluo”, inspirava-se ele na escola Bauhaus: “quando vi a arquitetura, a estrutura dos edifícios que estavam a ser construídos no mundo, vê-se um aspeto totalmente diferente, na forma”. “Vidal Sassoon: The Movie” (2010): “Vidal Sassoon é mais do que apenas um cabeleireiro, ele é uma estrela rock, um artista, um artesão que ‘mudou o mundo com um par de tesouras’. Com os penteados geométricos inspirados na Bauhaus ele foi pioneiro nos anos 60, e a sua filosofia ‘lavar e usar’ que libertou gerações de mulheres da tirania do salão, Sassoon revolucionou a arte do penteado e deixou uma marca indelével na cultura popular”. Laura Kitty, historiadora de moda: “ele realmente conseguiu explorar a ideia de anseio por produtos do mercado de massas para cabelo. Era como se você estivesse a comprar um corte de cabelo no seu salão”, os seus produtos entusiasmam até carecas como Andy Warholanúncio: “obrigado, Vidal!” ▫ 1988anúncio, JapãoCarol Alt. “O seu champô dois em um combinado e amaciador Wash & Go (lançado em 1986) ‘foi o produto de cabelo mais vendido nos anos 80, diz Sali Hughes, colunista do Guardian”. Com o Wash & Go a revolução aterrou nas cabeças masculinas, na zona capilar liberta os cabelos, 1 cm abaixo, no cérebro, desaferrolha o desejo pela linha Vidal Sassoon: os homens também sassooning: champô + hidratante + enxaguante (três frascos separados: Shampoo + Hair Re-Moisturizer + Finishing Rinse). E as emaranhadas, baças, espigadas gadelhas dos anos 60, a trunfa, escoam-se no ralo do chuveiro e do duche reaparece um homem novo nos anos 80, de belas melenas, tamanho, volume, brilho, soltura, muitos, para esguedelharem no hard rock:
Mari Hamada ► “Xanadu” (1984) ► “Come and Go” (1986) ► “Nostalgia” (1990) ♫ Quiet Riot ► “Bang Your Head” (1984) ♫ Mötley Crüe ► “Home Sweet Home” (1985) ♫ Vow Wow ► “Rock Me Now” (1988) ♫ Ratt ► “Lay It Down” (1985) ♫ Cinderella ► “Shake Me” (1986) ♫ TNT ► “Everyone’s a Star” (1987) ♫ White Lion ► “Wait” ♫ Poison ► “Nothing But A Good Time” (1988) ♫ KixBlow My Fuse” (1988) ♫ Skid Row ► “Youth Gone Wild” (1989) ► "I Remember You" (1989) XYL ► “Inside Out” (1989) Warrant ► “Heaven” (1989) ♫ Vain ► “Shouldn’t Cry” (1989) ♫ Slaughter ► “Fly To The Angels” (1990) ♫ House of Lords ► “Can’t Find My Way Home” (1990) ♫ Steelheart ► “She’s Gone” (1991) ♫  Shadow King ► “Danger In The Dance Of Love” (1991) ♫ Tyketto ► “Wings” (1991) ♫ 21 Guns ► “Knee Deep” (1992) ♫ Firehouse ► “Reach For The Sky” (1992).