Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sábado, janeiro 30, 2010

Desnuar
Estética, do grego “aisthetiké”, “aquilo que aparece aos sentidos”, significa, desde
A. G. Baumgarten, a teoria do Belo. Conceito untuoso: para uns, o belo será Bar Raffaeli (Wiki): para outros, Candice Swanepoel ou Landi Swanepoel: outros, Alejandra Cata: outros, HRP-4C*. Platão, no Fedro, orbita-o para uma “ideia pura”, existente num hipotético Mundo Inteligível: “é pelo Belo que as coisas bonitas são belas”. No Filebo, conclui que a beleza sensível, aquela que nos é acessível, identificamo-la, por que contemplamos nos objectos, elementos dessa “ideia pura”: linhas, pontos, medida, proporção, simetria, cores. Resumindo, existe uma Ideia de Belo, autónoma, imutável, perfeita, exterior a nós, da qual as coisas participam, que as faz belas. Existe? Existia! O arquétipo platónico pulou a cerca. Saltou do Mundo Inteligível e caminha no Mundo Sensível. Não veio da Suécia**, como associam os libertinos. A Ideia de Belo, pela qual os filósofos empíricos bradariam: “ó Platão vem cá ver isto!”: é Donatella Versace em topless.
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Desenhada para parecer uma japonesa média”.
** Ingmar Bergman e a sua
Liv Ullman? Lasse Hallström e os seus Abba? Nada disso! A maior beleza sueca é Christina Lindberg. Nascida, polpuda, dia 6 de Dezembro de 1950 para deleite do ecrã de prata – “Maid in Sweden” (1969) Θ “Anita: Swedish Nymphet” (1973) Θ “Thriller: A Cruel Picture” (1974) – entumecendo a cultura europeia. E não só. Carl Gustaf, na época príncipe coroado, após galá-la no segundo filme, “Rötmånad” (1970), fê-la dar umas voltas no seu Volvo P1800. No início da década de 70, Christina editou, apenas na Suécia, um single: “Alt Blir Tyst Igen / Du Ar Min Enda Karlek”.
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A câmara dos fotógrafos, das imagens paradas ou em movimento, tem captado algum Belo residual do quotidiano. Entre os retratistas, o casal
Morris Engel e Ruth Orkin imprimiu distintos riscos na película de meados do século XX. No cinema, são pioneiros da Nouvelle Vague, reconhecidos por François Truffaut, com o filmeLittle Fugitive” (1953), sobre a sobrevivência de um catraio em fuga por Coney Island*. Ruth Orkin é autora de “American Girl in Italy” (1951), um ícone da fotografia de rua, que “recria os problemas das mulheres quando viajam sozinhas: perguntar por direcções, pagar em moeda desconhecida, pedir comida, e lidar com o impulsivo fogo dos jovens”. Orkin fotografou a sua amiga Jinx Allen, estudante de arte, na esquina da Piazza Della Repubblica, como um provocador do piropo, tradicional instituição das culturas latinas: “i vostri pantaloni devono essere TMN, perché avete un culo che è un Mimo”**. Entretanto, no século XXI, a teclada proximidade das estrelas, escapando aos trabalhos mesquinhos pré-fama***, essas vedetas viraram a câmara para si, e as mulheres esqueceram-se de vestir a roupa, como Cassie, cujas fotos nua, subtraídas via Gmail, se globalizaram ▬ “Official Girl” Θ “Sometimes”.
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* Imagens de Coney Island em
1940 Θ 1944 Θ 1952.
** No
Inimigo Público: “as tuas calças devem ser TMN, porque tens um cu que é um Mimo”.
*** Gwen Stefani esfregou chãos; Keith Richards apanhou bolas num clube de ténis; Ozzy Osbourne trabalhou num matadouro; Warren Beatty caçava ratos…
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Bianca Ryan – uma das modas da indústria da TV, que os telespectadores veneram, mais do que a moda dos vampiros, (por favor, mordam-me… 75 cm abaixo do pescoço!!!), são os concursos com júris idiotas, exibindo expressões tontas, verbalizando cretinices, Bianca venceu um desses, America's Got Talent, em 2006. Nascida dia 1 de Setembro de 1994, o pai, fã dos Rolling Stones, baptizou-a com o nome da consorte nicaraguense de Mick Jagger, e não quer apenas 15 minutos de fama ▬ “And I Am Telling You I’m Not Going” Θ “I Believe I Can Fly].
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O Belo pinga nos anúncios de
Carl Erik Rinsch, ou na fast food sexy, mas esse não é um Valor da nossa sociedade, sôfrega, infatigável, extrapassando-se na estética, naquilo que exibe aos órgãos dos sentidos*. O acaso, não a necessidade, desencadeou a “vontade de mostrar”**, esta informalidade, esta despreocupação, colada ao “pronto a servir” sepultou a noção de Belo. A nossa sociedade contenta-se com o Bonitinho: e o telemóvel reina. Em 2007, Vanessa Hudgens, vedeta da Disney, endereçou maliciosas fotos, com nu frontal, para o namorado, que requeimaram na Net. Ela pediu desculpa: a Disney, um canal de bons modelos pra família, na sua infinita bondade: perdoou. Bonitinho! a atitude e as fotos. Dois anos depois novas fotos vazaram, apesar dela não vestir mal roupas de marca, promete despi-las no papel certo. Bonitinho! As moças da sociedade das sopas Maggi*** querem “Do Your Thing” (dos Powerman 5000), isto é, desnudar-se. Jennifer Love Hewitt, declina-lhe o corpo, confessou numa entrevista: “gostaria de ter nus desde os 12 anos até aos 28. Estava fantástica!”. O museu Tate Modern suspendeu a exposição “Spiritual America”, de Richard Price, contendo uma imagem de Brooke Shields**** nua aos 10 anos. Bonitinho! quem define a Arte, no século do Iluminismo Néon, é o polícia: “os agentes têm experiência especializada”.
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* As celebridades
tuítam nuas introduzindo a instantaneidade. Nos sonhos, listam-se aquelas que queremos ver nuas. E, ultrapassou-se a última fronteira, mostrar o interior do corpo: já se comercializam janelas para os dentes.
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Hinda Wassau, nascida Hinda Warshaw, em Milwaukee, dançarina de burlesco, no princípio do século XX, reclama-se inventora do striptease quando, em 1928, no State Congress Theatre de Chicago, por acidente, as alças do seu vestido se partiram e a assistência aplaudiu entusiasticamente.
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Campbell’s, nos meios intelectuais museológicos.
**** A actriz que perdeu, para sempre, a
virgindade aos 22 anos.
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Na actualidade, não há nada mais bonitinho do que o
Haiti. País afamado pela rica culinária de bolinhos de lama, subsidiado pelo grande coração do FMI*, de jornalismo barriga cheia e sólidas construções arquitectónicas. E depois? Depois a terra tremeu. Debaixo das pedras rastejaram as velhas comissárias, subcomissárias, altas funcionárias da ONU, e das instituições da caridadezinha: ó coitadinhos, que sofrimento, vamos mobilizar! Há sangue, enter the business**. Os iates atracam; as organizações humanitárias posam para a fotografia; Hillary Clinton comanda: “é importante que nos vejamos como parceiros do Haiti, não como mecenas, e que trabalhemos em conjunto, e de forma intensa, para produzir resultados, que possam ser vistos e sentidos pelos haitianos”***, e os mercenários americanos entrouxam as armas para mais uma oportunidade de negócio; o FMI exercita segundo salvamento com 100 milhões de dólares, agora, com as condições naturais para a Doutrina do Choque**** progredir na criação de riqueza, por enquanto, a função pública haitiana não terá aumentos. Bonitinho! todos help, de pura bondade, séculos de bondade.
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* O Haiti era um país auto-suficiente na produção de arroz. Em 1986, o FMI
emprestou 24.6 milhões de dólares, com a condição do Governo haitiano consentir no “mercado livre, reduzindo as tarifas de protecção do seu arroz, e outros produtos agrícolas, resultado”: o mercado foi inundado pelo arroz norte-americano: dois anos depois os agricultores haitianos faliram, incapazes de concorrer com os preços dos produtores americanos, subsidiados pelo seu Governo.
** No filme “
Inside Man” (2006), de Spike Lee, Madeleine White (Jodie Foster) cita para o detective Keith Frazier (Denzel Washington), o barão de Rothschild: “quando há sangue nas ruas, compra propriedade”
*** No marketing obâmico significa: diz-se uma coisa: as pessoas acreditam, piamente: e faz-se
outra.
**** A imposição do “mercado livre”, quando as pessoas estão abanadas por desastres, naturais ou humanos.
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Robbie Fulks – músico country (e bloguista), improvável nos hit parades e nas cornetas da fama dos críticos, por cantar o desprezo pelo country convencional e o seu covil, a cidade de Nashville, como na canção “Fuck This Town” do álbum South Mouth (1997). Mais tarde, lamentará tê-la escrito, e devido a exaustação repetitiva, já não a toca mais; explica numa entrevista: “ponho muita porcaria nos meus discos, que alguns anos depois, de certa forma, me arrependo, (…) é mais ou menos autobiográfica, acerca de estar farto do meu trabalho, que é escrever canções para um editor de Nashville”. Escreveu também uma canção que, melódica e estruturalmente, enganaria as mães dos Fountains of Wayne*, chamada: “Fountains of Wayne Hotline”: uma linha telefónica de valor acrescentado, para músicos com bloqueios criativos, onde os Fountains of Wayne aconselhariam, com os seus truques, saídas, na composição de canções de estrutura pop ▬ “Cigarette State” Θ “That Bangle Girl”, declaração a Susanna Hoffs, boazona vocalista das Bangles Θ “Countrier than Thou” Θ “Georgia Hard” Θ “Lotta Lotta Women” Θ “Parallel Bars” Θ “She Took a Lot of Pills and Died”.
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Fountains of Wayne – grupo pop iniciado por Adam Schlesinger e Chris Collingwood, como um duo, em 1996, e rebolado pela revista Rolling Stone como: “a voz da Generation X sobre o colapso dos Nirvana”. Experimentaram vários nomes, “Are You My Mother?” ou “Woolly Mammoth”, e fixaram-se no de uma loja de loiça decorativa para jardins, filmada num episódio dos Sopranos, e falida em 2009, situada no cruzamento da U.S. Route 46 e da New Jersey Route 23, em Wayne, New Jersey“, perto da casa de Schlesinger ▬ Stacy’s Mom” Θ “Someone to Love” Θ “Mexican Wine” Θ “Hackensack” Θ “No Better Place”)].
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Nos debates quinzenais do Governo, com os parlamentares, não
voam dildos, mas a interlocução é afável: – o primeiro-ministro José Sócrates: “a Sra. deputada quando estava no Governo criou o PEC*, quando está na Oposição acaba com o PEC. Isso é simplicíssimo. Simples. É dar uma pirueta, Sra. Deputada. Dar uma pirueta”; a idosa líder da Oposição, na bancada, microfone desligado, vocifera: “não é não! não é não!”. A rotatividade do poder, nas democracias bi-partidárias, não é o eterno retorno, é a roda do hamster: roda o mesmo: 360º sem pecado. A idosa Sr.ª Leite, quando calçava os sapatos de ministra das Finanças, contratou por 25 mil euros/mês, um milagroso gestor para cobrar impostos. O milagroso gestor não fez um bom serviço. Assegurou para as Finanças os poderes de polícia, juiz e jurado, cobrando sem avisar, nem preocupação de redução dos erros: o contribuinte que reclame, pois o país é produtor mundial de advogados; introduziu o trabalho por objectivos, gratificando quem os alcança ou ultrapassa: finalmente Pavlov aterrou em Portugal; construiu um bunker burocrático fechado aos contribuintes. E a idosa Sr.ª Leite não foi responsabilizada, nem obrigada a devolver, dos seus rendimentos, os salários gastos no milagroso gestor. Bonitinho! – festeja o desnudo pagador de impostos.
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* Pagamento Especial por Conta, o imposto mínimo garantido, pelas empresas, ao Estado.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Pepineira

Latíbulo de forças perversas, espurcícia gotejando-lhe das profundidades, fedegoso nevoeiro velando-lhe a luz, o mundo actual afistula no mal maior. Peritos enfiam-lhe o tanatómetro detectando os cadavéricos 20º.
George Bataille, intelectual francês, condição sine qua non nas miúdas giras*, numa entrevista, solarizou: “a Literatura permite ver o pior” da condição humana. E, nas luso-livrarias soçobradas em livros de padres e polícias, confirma-se, a moral morreu! Michael Knight, intelectual rodoviário americano, analista laminar, automobilizou: isto é “um mundo de criminosos que operam acima da lei”. Escuta-se a monódia da tragédia, pífio destino aguarda o cidadão, é que para os criminosos que operam “dentro da lei”, as sociedades estão protegidas por juízes e advogados, mas aqueles “acima da lei”, percorrem os caminhos sombrios da taradice, e os psicólogos / psiquiatras / laboratórios farmacêuticos, patinham na cura e não há manicómios** suficientes.
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* Versos dos
of Montreal: “I fell in love with the first cute girl that I met / who could appreciate Georges Bataille / Standing on a Swedish festival / Discussing, ‘Story of the Eye’”.
** Krafft-Ebing, em “Psychopathia Sexualis”, a sua recolha das abominações, para uso dos médicos e polícias, descreve o “fetichista das tranças”, que atacava incautas vítimas em Berlim: “essas pessoas tão são perigosas que seria absolutamente necessário interná-las por muito tempo num manicómio, até eventual cura. (…) E quando penso no imenso desgosto de uma família que vê uma jovem assim privada dos seus belos cabelos, é-me impossível compreender como é que tais pessoas não ficam para sempre num manicómio”.
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A primeira linha de defesa pessoal é a família, apoiada pela Ciência, na escolha do sexo da criança: comer
bananas faz meninos. Mas ninguém protege mais a família do que o Estado, e dentre deles o russo apadrinha e amadrinha mais. O grande líder Dmitri Medvedev, nas vésperas da sua “eleição”, em 2008, foi homenageado pelo grupo de arte Voina (“guerra”), numa instalação artística chamada: “Fuck for the heir Puppy Bear!*. Ocuparam uma sala do Museu Estatal de Biologia Timiryazev, em Moscovo, despiram-se, – quando se aliam actores anarquistas e estudantes de Filosofia a nudez não é excluída –, neste caso copularam em público, enaltecendo mais um farol do ex-proletariado. A arte precedeu a vida, no ano passado, Medvedev numa grande charanga televisiva, com o objectivo de aumentar a população, distribuiu a “Ordem da Glória Parental”, por oito famílias, muito visitadas pela cegonha. Stalin, em 1944, para contrabalançar os 23 954 000 mortos na guerra, ideara algo semelhante, a “Ordem da Mãe Heroína**, atribuída às solícitas camaradas que parissem 10 ou mais filhos***.
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* Em russo, “medved”, significa “urso”.
** A
T-shirt.
*** As russas emprenhavam através do método normal, do emancipado “favorzinho” aos camaradas, na América,
Nadya Suleman adora bucho cheio, mas sem cuecas rasgadas, frenesim, suor e esgares, raparia as medalhas todas. Mãe de seis filhos, concebidos por inseminação artificial, encomendou outra fertilização in-vitro, desovando mais oito. Um trânsito nas partes baixas bastante lucrativo. Arrecadou casa nova e show de TV. As produtoras de filmes pornográficos, sensíveis a esta invulgar vivacidade púbica, acenaram-lhe contratos e fraldas descartáveis.
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[Intervalo para harmoniosos sons com
Chris Dodgen].
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A maternidade é a solução. Durante as filmagens de uma série de TV*, se a
actriz principal engravida, incluem-na no enredo, difundindo bons modelos aos espectadores, que salvarão o Planeta, povoando-o do número ideal de habitantes. Na orgiástica** ordem de Deus aos peixes e aos pássaros, ao macho e à fêmea, quanto mais melhor – apregoam os políticos, e os políticos evoluem no mesmo sentido das proteínas, sempre para a frente. Inteligência soma-se a inteligência + inteligência + inteligência...
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* A televisão, universidade aberta do nosso tempo – diz o provérbio: “uma telenovela vale mais que mil professores” – tem especial atenção dos responsáveis, que modificam
diálogos de filmes, para construírem o carácter nos alicerces certos.
** Os
personagens Disney já não dispensam a sua bambochata.
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Depois de nascidos, a educação dos descendentes é levada muito a sério pelas famílias modernas, norteadas, por exemplo, pela
Psychoanalyst TV, para que os filhos sejam esclarecidos “Sadobabies: runaways in San Francisco”, sem distúrbios mentais. Ou pelos nutricionistas, para que não abusem do Lollipop (dos Framing Hanley), cresçam com pernas robustas e participem em cenas sexy no cinema ou webcams. Não só a Ciência empurra o carrinho da educação, as indústrias também. Brinquedos pedagógicos ensinam a trabalhar, e os Taselers corrigem comportamentos desviantes. Os casais que não comem bananas parem filhas, uma fonte de preocupação, numa época onde, como preveniu o Santo Padre Bento XVI, o sexo descasado da procriação pode tornar-se “como uma droga”. Elas, ainda na idade dos pensos higiénicos Pokemon, nos nossos enevoados dias de perversão, são cobiçadas pelos “criançófilos”*. Felizmente há pai… e mãe!
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* A maior catástrofe da primeira década do século XXI foi a
sexualização das crianças. Por culpa da lidação lorpa das indústrias do jornalismo, policial e judicial, um problema do foro criminal e psiquiátrico, transformou-se num problema de costumes. As crianças adquiriram estatuto de objecto sexual, endureceram-se leis, não para condenar devassos, mas para prevenir tentações dos normais. Perdeu-se a inocência. No século XXI, a “Venusfest” de Rubens é uma obra debochada, e Cupido e Psique, infantes, uma imoralidade.
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Tallulah Belle Willis, 15 anos, filha de Bruce Willis e Demi Moore, de rabo ao léu, tetas desbragadas, provocou uma guerra-tweet entre a mãe e a bicha-mor de Hollywood, Perez Hilton. Tweetou Demi: “como se chama quando alguém diz às pessoas para olharem para ‘tetas & rabo’ de uma criança mostrando fotos?”. A figura do “criançófilo” aliviou os pais, da burqa da educação, permitindo-os defender a Moda nos filhos. As indústrias cinematográfica e discográfica são muito aplaudidas por não explorarem o sexo ou a sugestão sexual. Por isso, Taylor Momsen, 16 anos, actriz de “Gossip Girl”, vocalista dos Pretty Reckless, veste-se recatada com freirais fishnet stockings, com certeza, amparada pelos pais, aos 15 anos, já foliava como as big girls. A Disney nunca explorou a coisa sexual em Miley Cyrus, nem para vender televisão ou discos, vendem-se pela qualidade e modelo para os jovens. Ela fotografa e fotografa-se e o seu mamilo de décimo sétimo ano pula com naturalidade. No Teen Choice Awards de 2009 cantou esfregando-se num poste de stripper, o pai, Billy Ray Cyrus, justificou: “sabem o quê? Eu penso que Miley gosta de entreter as pessoas (…). Eu digo-lhe sempre para gostar daquilo que faz, e ficar focada no amor à arte, e não se preocupar muito com a opinião dos outros”. A irmã de Miley, Noah Cyrus, 9 anos, abraça-lhe os passos e enfarpela-se condizendo para a festa. Os jornais relatam: “há meninas de 8 anos a entrar na puberdade”, a sociedade, com um olho no “criançófilo”, outro na “saudável educação”, não há idade limite para torcer o pepino.
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Gospel – as origens deste estilo musical embrulham-se na génese da racionalidade, sabe-se que é posterior ao Ardipithecus ramidus e anterior ao war-bot, não se reúnem consensos numa data exacta, no entanto a responsabilidade está bem delimitada. Ele deriva da mais antiga peta feminina (documentada), enfiada num homem, para explicar a ausência do selo de inviolabilidade*. Maria culpou Deus, safando o vizinho malandreco, o bomzudo samaritano ou o primo atrevidote: “querido, estava na horta regando as couves e um anjo anunciou-me que engravidei”, e ele: “okay Maria casamos na mesma”. O gospel celebra a sequência de eventos subsequentes. Tal como o conhecemos hoje, data das missas do século XIX, da feliz evangélica união entre o pregador Dwight Lyman Moody (1837-1899) e o músico Ira D. Sankey (1840-1908) e do pentecostalismo.
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* O Concílio de Éfeso, em 431, designou, oficialmente, este gorro mariano como “
Theotokos”.
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Thomas Andrew Dorsey, (1899-1993), compositor e pianista de blues nos anos 20, sob o nome de Georgia Tom, (“Things ‘Bout Comin’ My Way”), nos anos 30 muda-se para o gospel, (“Precious Lord, Take My Hand”). “Inventa” o toque de piano do gospel negro, funda uma casa de publicação de música, e é-lhe creditado o título de “pai da música gospel”. Não foram facilidades, explica ele: “pedi emprestado 5 dólares e enviei 500 cópias da minha canção “If You See My Savior” para as igrejas através do país… três anos antes de receber a primeira encomenda. Apeteceu-me voltar aos blues”. Escreveu mais de 800 canções: “quando compreendi quão duro algumas pessoas lutavam contra o conceito gospel, eu estava determinado a carregar a bandeira”.
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Sallie Martin, (1895-1988), começou a cantar nas igrejas do Movimento da Santidade, é alcunhada “a mãe do gospel”, pela sua divulgação da música de Dorsey, (“I’ll Tell It Wherever I Go”, com Thomas A. Dorsey, no piano). Desentendem-se, nos anos 40, e ela forma as Sallie Martin Singers, com a filha Cora Martin, Ruth Jones, (mais tarde conhecida como Dinah Washington) e o irmão Joe May – “It’s A Long, Long Way” ■ “Working on a Building”.
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Reverendo James Cleveland, (1931-1991), aproximou o gospel do jazz e da música pop valendo-lhe o título de “o rei do gospel” – “I Don’t Feel no Ways Tired” ■ “This Too Will Pass”. Nos anos 50 Cleveland trabalhou para Albertina Walker, “a rainha do gospel” – “Don’t Let Nobody Turn You Around”■ “Lord Keep Me Day By Day”. Os brancos também deram a sua boquinha de dança no género como Albert Edward Brumley, (1905-1977), cantado pelo filho Al Brumley Jr – “Turn Your Radio On” ■ “I’ll Fly Away”.
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Arizona Juanita Dranes, (1891?-1963?), antes de Thomas Dorsey, nos anos 20, introduziu o acompanhamento de piano na música gospel, principalmente cantada a cappella, e foi a primeira cantora a transportar a música religiosa das igrejas para o público através de discos e actuações – “I Should Wear a Crown” ■ “Crucifixion”.
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Rosetta Tharpe, (1915-1973), é a grande vedeta do gospel no final da década de 30. Aos 4 anos acompanhava a mãe, a evangelista Katie Bell Nubin, que tocava mandolim, como "Little Rosetta Nubin, the singing and guitar playing miracle". Nos anos 20 a família muda-se para Chicago, ela tocava blues e jazz em privado, e gospel em público. Gravou pela primeira vez em 31 de Outubro de 1938 com Lucky Millinder and his Orchestra (“The Lonesome Road”■ “Four or Five Times”. Lucky Millinder and his Orchestra – “Chew Tobacco Rag” com John Carol ■ “Big Fat Mama” com Trevor Bacon ■ “Hucklebuck”). Os seus discos provocaram horror entre os papa-missas, pela mistura de música religiosa e profana. Em 1944 grava, com Samuel “Sammy” Blythe Price, pianista texano de boogie-woogie, “Strange Things Happening Everyday”, para alguns, a primeira canção de rock ‘n’ roll*. Durante a guerra, ela, e os Dixie Hummingbirds, (“Standing by the Bedside of a Neighbor” ■ “When the Gates Swing Open”), foram os únicos artistas de gospel a gravar V-Discs para as tropas. Muitos reclamam da sua influência como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Isaac Hayes, Aretha Franklin, Little Richard nomeou-a como a sua cantora favorita quando era criança. Em 1945, cruzaram-se na Geórgia, num concerto, ela ouviu-o e convidou-o para actuar e no final pagou-lhe. No fim da guerra, a editora Decca juntou-a a Mary Knight (1925-2009) num negócio que rendeu (“Up Above My Head”) até ao fracasso da entrada no mercado do blues, no início da década de 50 – “Down By the River Side” ■ “Up Above My Head”■ “Didn’t It Rain”■ “Trouble in Mind” ■ “That’s all”■ “I Do, Don’t You”.
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* Anterior a “Rocket 88” (1951) de Ike Turner, que enterrara, com a chegada dos pretos à História, o “Rock Around The Clock” (1954) de Bill Haley and the Comets, como possível origem].

sábado, janeiro 09, 2010

O sabonete

Wbush era all about petróleo* e armamento. Oh!bama é todo sobre marketing político e jornalistas de bolso. Pisando um chão mediático Báráque separou as águas entre lixívias e detergentes. Distinguia-os
Roland Barthes nas “Mitologias”: sobre as lixívias “a lenda implícita deste género de produtos assenta na ideia de uma modificação violenta, abrasadora da matéria: os agentes são de natureza química ou mutilante: o produto ‘mata’ a sujidade”. Os detergentes “são elementos separadores: a sua função ideal é a de libertar o objecto da sua imperfeição circunstancial: ‘expulsa-se’ a sujidade, sem a matar”. O lixivante Wbush matava iraquianos, ressequia a vida à sua volta**, o mais que premiado Báráque deterge as máculas do mundo, vivificando-o purificado. (O jornal Público parangona: “Obama promete levar à justiça os envolvidos”***, embora, de facto, os esteja a matar, sem distinguir homens, mulheres ou crianças, no Iémen, no Afeganistão e Paquistão).
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* Rogava-o
barato aos sarracenos para as companhias cristãs encherem o tanque de lucros.
** Os números das guerras em
money.
*** No caso da tentativa da explosão das cuecas no avião em Detroit.
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Nas tripas de Wbush digladiavam-se as forças do Apocalipse Gog e Magog*,
aliviou-as para Jacques Chirac, justificando a invasão do Iraque: “esta confrontação é desejada por Deus, que quer usar este conflito para apagar os inimigos do seu povo antes da Nova Era começar”. A administração Wbush era uma legião ao serviço de Deus. Donald Rumsfeld embelezava os memorandos com citações da Bíblia para injectar a bondade do Velho Testamento nos corações do seu exército. E Wbush atendia o telefone vermelho do Altíssimo: “e agora, outra vez, sinto as palavras de Deus, dizendo: ‘vai arranjar um Estado para os palestinianos e dá aos israelitas a sua segurança, e pacifica o Médio Oriente’. E, por Deus, vou fazê-lo”. Não fez, mas legou a esperança, em muitos, de que é possível dois Estados. (Abdullah II, rei da Jordânia, empolgado pela “obâmica” eleição, discursou no Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais: “agora é o momento para os Estados Unidos liderarem, para assegurar que não é perdido mais tempo”, entretanto Israel propõe “o desenvolvimento económico dos territórios palestinianos” em vez da independência).
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* O cristalino S. João clarifica: “e quando mil anos expirarem, Satanás escapará da sua prisão, e enganará as nações que estão nos quatros cantos da terra, Gog e Magog, para reuni-los para a batalha… e o fogo virá de Deus, do céu, e devorá-los-á”.
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[Uma pausa para “kitkatiana” fofura:
Mindaugas Piečaitis, compositor e maestro lituânio, escreveu “CATcerto”, para a Nora the piano cat e orquestra].
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Fofo, fofo é o presidente Báráque. Os povos antigos perscrutavam, nas estrelas, a sua vinda,
desenhando-o nas suas paredes, mas só lucky nós testemunhámos o seu advento. Possuidor do carisma de Pink*, o olhar penetrante, o mesmo charme de palanque nos discursos, ele é o tijolo diferente que o muro necessitava, rendendo confortavelmente catatónicos os seguidores. Arrebenta-chãos (“groundbreaking”), ele alargou o conceito de groupie aos homens, que bacanalizam por uma olhadela no seu antegabinete. Báráque insuflou uma lufada de ar fresco nas anedotas. Contam os políticos polacos: “porque é que Obama tem raízes polacas? Porque o seu avô comeu um missionário polaco”. Pintaram-no como uma mancha negra na galeria dos presidentes americanos. Ou associaram-lhe a esposa a um antepassado muito remoto na árvore genealógica humana.
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* Personagem do filme “
The Wall” (1982) de Alan Parker.
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O
sorriso consistente de Báráque conquistou os fortes de espírito* que esperançavam por um novo herói. Duro, estilo William Holden, que lhes explodisse as peúgas, como na cena mais sexy do cinema, apesar do estragador bafo a álcool**, ao som da versão instrumental de “Moonglow” (composto em 1934, por Will Hudson, Irving Mills e Eddie DeLange – uma versão de Benny Goodman Quartet; com letra – Doris Day). Um herói que não amaricasse pela Democracia, como Humphrey Bogart em “Casablanca”, que sacrifica o lucrativo Rick’s Café Américain, por um bilhete para Lisboa, para salvar o herói da resistência, e no final não fica com a gaja… “começa uma bonita amizade” com o capitão da polícia... ♥ ... em Brazzaville. A plateia dos malucos da máquinas políticas, almejava um herói que faz as coisas para si e não pelos outros, mas que não perde a noção de decência pelo mundo livre como Sefton, o facilitador do campo de prisioneiros, que tudo trafica entre os guardas e presos, perseguindo o lucro pessoal, no filme “Stalag 17” (1953) de Billy Wider, mas que no final safa os colegas.
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* E alertou
Meghan McCain, boazona filha de John McCain, para as góticas filhas de Zapatero.
** Em “Picnic” (1955), de Joshua Logan, entre William Holden, Kim Novak e Susan Strasberg. Tempestades interromperam as filmagens da cena no cenário natural, no Kansas, completaram-na em Burbank, na Califórnia. Segundo alguns, Holden já entradote, 37 anos, enfrascou uns valentes copitos para acalmar os nervos perante uma ainda non blonde
Kim Novak de 23 polposos anos.
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A independência do presidente Báráque* (ele decide pela sua cabeça, enquanto Wbush era um títere manipulado por forças obscuras) é aquecida em lume quente por um impecável marketing político. Ele mete a pata na poça, logo os especialistas reconstroem a imaculada imagem. Nesta gestão, cativar os jornalistas é essencial, qualquer voz dissonante causa mossa. A Fox News** tomou-o de
ponta, torcendo as notícias, deturpando, mentindo, arvorando o grande terror americano do socialismo e Estaline na Sala Oval. A Casa Branca declarou-lhes guerra, primeiro com o boicote aos jornalistas da Fox, mas o elevado nível de audiências do canal, determina inversão na estratégia, e o presidente Báráque cede-lhes um entrevista, para controlar os danos na sua imagem. O marketing político é principal diferença entre Báráque e Wbush, que faz as pessoas acreditarem num e não no outro. Para o corpo de Umar Farouk AbdulMutallab pouco importa que Báráque jure que a América não tortura, no entanto os atentos do mundo acreditam. Na guerra ambos são semelhantes (só que o dirigível do Pentágono, para vigiar os subdesenvolvidos inimigos, será aperfeiçoado).
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* O aportuguesamento do nome é uma questão de luso-justiça. Ele é quase nosso, até tem um
sobretudo, como o José Mourinho.
** O correspondente americano da Moura Guedes. As notícias são curtas-metragens ficcionadas. As imagens não ilustram a “notícia”. Predefine-se um objectivo, e montam-se as imagens para justificar essa ideia inicial, justapondo-lhe um texto, lido pelo jornalista, que conduz o espectador para aquilo que ele deve “ver”.
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Para o presidente Báráque, os espectadores da política abaixaram-se para apanhar o sabonete, e a sensação, os franceses chamam-lhe
la petite mort.
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E depois uma petite soirée musicale:
(Milemarker – “New Lexicon” B “Cryogenic Sleep)  (Chiodos – “The Undertaker's Thirst For Revenge Is Unquenchable)  (Attack! Attack! – “Stick Stickley) ♫ (The Lonely Island ft. T-Pain – “I'm On a Boat) ♫ (Intro5pect – “Sustainable Yield) (Ra Ra Riot – “Ghost under Rocks” B “Dying Is Fine)  (Dirty Projectors – “Stillness Is the Move) (Air – “La Femme D’Argent) (EAR PWR – “Future Eyes) (Nile – “Execration Text” B “Sarcophagus” B “Papyrus Containing the Spell to Preserve Its Possessor Against Attacks from He Who Is in the Water) (The Mae Shi – “Run to Your Grave) ♫ (Sexual Earthquake in Kobe – “Futuristic Failure) (Team Robespierre – “Black Rainbow” B “88th Precinct)  (Avenue D – “Do I Look Like a SlutB “X-Mas Song)  (Breathe Carolina – “Diamonds) ♫ (Blood on the Dance Floor – “Slash Gash Terror Crew Anthem” B “Diamonds in a Rhinestone) (Gallows - “Misery” B “I Dread the Night” B “London Is the Reason” B “Staring at the Rude Bois) ♫ (Anal Cunt – “Hitler Was a Sensitive Man” B “I Sold Your Dog to a Chinese Restaurant” B “I Respect Your Feelings as a Woman” B “I Like Drugs and Child Abuse” / “I Paid Jim Howell To Rape You).
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A despropósito de sabonetes. Manuel Luís Goucha, homem sensível, desenhador de
coraçõezinhos nos cadernos da escola, incapaz de impróprios olhares para a namorada (aliás como Andrea Bocelli), não é uma “Bombshell from Hell”, nem aprovará Sabrina the go-go dancer, mas como cidadão de um país no Atlas Obscura, engoliu a ideia corrente de que vivemos num Estado de Direito. Ora, moramos num Estado de licenciados em Direito, que é diferente. Eles competem pelos clientes disponíveis, emaranham o seu calão numa algaraviada incompreensível, criam novos nichos de mercado, viciam os consumidores nos “produtos” da sua indústria. Manuel Luís foi galardoado, pela Filomena Cautela, no programa “5 Para a Meia-Noite”, com o título de “A Melhor Apresentadora de 2009”. Foi aos arames, talvez porque esperava um prémio pela década, e assegurou: “vou processa-los. Já dei ordem para isso. Vou tratar o assunto nas instâncias próprias”. Enfiou as chinelinhas havaianas no dedo e lá vai ele pedir castigo ao juiz.
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A propósito de roupa branca na aldeia.
Os Anjos* também volitam n' “a força de acreditar” do Ruca, no Estado de Direito, difamados na sua arte de “foleiro, azeiteiro, brega”, por um seu igual, no programa “Ídolos”, ponderam processar…
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* Canção “Perdoa”, escrita pelo João Baião, o verso “também p’ra nós Amália cantou o fado”, foi sugerido por Rita Ferro Rodrigues, presente durante a criação da obra... prima da qualidade.

domingo, janeiro 03, 2010

Diferenças

António Vitorino, chichisbéu, engatatão, dom-joanesco pilrete socialista, um
docinho, empandeirava com a maioria absoluta, boquejando para os jornalistas: “habituem-se!”. Quatro anos volvidos, chuchando uma minoria no Parlamento, bradeja “ó tio, ó tio”, presidente da República alforria-nos da oposição da Oposição que entaipou a “governabilidade”. Pedíssequo do Governo nos meios de comunicação, não abre a boca para sandejar, noutra revista à portuguesa, ele diria, como Laura Alves, “aguenta que é serviço”, pois o presidente é de outra “família política”, mas naquela em cartaz, Vitorino está amodernado. Numa democracia bi-partidária civilizada, o poder alterna-se, e nas casas de alterne – instituições, assembleias ou fóruns políticos – as diferenças não são ideológicas, são “gajológicas”. O balde é o mesmo, a substância fecal, a mesma, o que muda são os gajos, são diferentes, o resto é igual.
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Com orgulho, no país do arroz de favas, a
unidimensionalidade marcusiana concretizou-se. A política publicada, que o povo carinhosamente chama de chachada, é a expressão oral da integração dos vários estratos sociais, consequência do crescente nível de vida*, amplificado pela particularidade dos maiores empresários nacionais serem apenas merceeiros, e tratarem do corpinho popular com recheadas prateleiras**. O país da canja com moelas e fígado*** falqueia as dissemelhanças, reduzindo tudo ao Uno de Plotino, alteando-se ao “lugar” um dos Muse, em mais uma (possível) exportação – a cosmovisão. Os entretidos jogos de diferenças serão curiosidade de salão e na sala da vida abscindirão discrepâncias: por exemplo, entre o cinema canadiano série B ou pelo mundo afora; as cenas nuas, nos filmes, entre boas e más.
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* “… sobre a base material e muito sólida da fugaz produtividade do trabalho e sobre um crescente nível de vida, teve lugar a integração da oposição tradicional – particularmente das classes trabalhadoras industriais – uma integração no sistema estabelecido”, Herbert Marcuse, em “Exigir o Impossível”.
** “O conflito e o contraste entre as necessidades – formas de satisfação socialmente exigidas – e as capacidades – formas de satisfação genuinamente individuais – são obscurecidos, e deste modo a sociedade estabelecida assenta nos próprios pensamentos, nos próprios sentimentos e inclusivamente nos próprios corpos da maioria dos indivíduos”. Herbert Marcuse, idem.
*** A primeira refeição de Eça de Queirós na casa de Tormes: arroz de favas, canja com moelas e fígado e frango.
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O presidente Cavaco Silva,
icástico daguerreótipo, apontou outra diferença esbatida. Inquiriu-lhe uma jornalista: “os casamentos entre homossexuais não são uma prioridade para si?”. Retrucou ele: “eu preocupo-me são com os desempregados, são 500 e muitos mil. Esses sim é que eu me preocupo”. Ora, “500 e muitos mil” é exactamente o número de larilas, e o esguelhão feminino, na estatística não-paramétrica do país do frango, aguardando amor de perdição. Cavaco, no entre dentes, afinal notifica que ama todos. A tradição de espalhadores de amor vem de longe nos presidentes da República Portuguesa. Na festa de Natal de 1959, o colega antecessor Américo Thomaz, mais esposa, filhas e outras figuras do Estado, entretiveram na Sala das Bicas, no Palácio de Belém, a pequenada com as peripécias dos palhaços Vasquito e Lisboa. Na Sala dos Azulejos, onde estava a enfeitada árvore, esposa e filhas distribuíram os presentes, e noticia o locutor da RTP: “sorridente o Sr. almirante Américo Thomaz acariciou os mais pequeninos”. No fim, serviram uma merenda abundante de guloseimas.
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Jorge Lacão, ministro menor, amotinava-se: “atitudes unilaterais do, ou queres ou morres, não fazem qualquer sentido nesta fase da vida política portuguesa, e certamente os eleitores, e os cidadãos em geral, não seriam capazes de compreender este tipo de radicalidade”. Embirrações numa época de unicidade são “inaceitáveis”. Somos todos irmãos e… irmãs.
Ruth Marlene confessa os seus defeitos de envergonhada e dorminhoca, mas não de fuinha e casmurra em qualquer “tipo de radicalidade”. Nesta maré-alta de nível de vida, quando os portugueses só auferem milhões, ela imergida de responsabilidade política, para não defraudar os "cidadãos em geral", desnuda-se para a Playboy* de Janeiro por 800 euros, com a mana Jéssica.
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* Photochuparam tanto as fotos, que vendem material digital (do bom??), por Marlene e Jéssica.
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Emily Loizeau – nascida 7 de Fevereiro de 1975, pai francês, mãe inglesa, neta de Peggy Ashcroft, (a actriz no papel de Margaret, mulher do caseiro, no filme “The 39 Steps”, versão 1935, de Alfred Hitchcock), vem incluída na legião nacional da chanson française que o presidente Sarkozy-Bruni aspira difundir no mercado internacional da música – L’Autre Bout du Monde” L “Je Suis Jalouse L “Jasseron” com Cyril Aveque.
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Há muitos muitos anos… os franceses seguravam uma quota significativa no mercado dos produtos culturais. Música, cinema, literatura,
lingerie, femme fatale, Laetitia Casta*, até filosofia** vendiam-se bem. Certo dia a sua lucrativa casa de gengibre é manjada pelos americanos, comercializando produtos mais atractivos e interessantes, impuseram uma estética e outro gosto no consumidor. Os franceses negam a evidência, que a sua produção cultural evoluiu numa merde, simplesmente intragável e invendável, então acriminaram o papão download ilegal pela descida nas vendas. “Sarki”, “o presidente que ama óculos Ray Ban, celebridades e a cor do dinheiro dos bilionários”, encavalga o ginete dianteiro da indústria musical. Aprova leis duras contra quem partilha ficheiros, bloqueando burocraticamente, sem ordens judiciais, o acesso à Net aos transgressores, mais penas de multas e cadeia. “Sarkô”, numa visão simplória sobre a circulação da informação, propõe-se restaurar a ida influência cultural do Frère Jacques no mundo, mas consumir francês foi chão que já deu champanhe, e teria melhor sorte se lançasse um SOS aos belgas.
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* Fotos
Bryan Adams.
** O casalinho Gilles Deleuze / Félix Guattari produzindo inconsciente pró rizoma.
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Os belgas safaram inúmeras vezes a cultura vendida por francesa como o… cof! cof! … punk de Bruxelas
Plastic Bertrand. Ele encetou carreira a solo em 1977 com o sucesso internacional “Ça Plane Pour Moi”, afrancesamento de “Jet Boy, Jet Girl”, encantadora melodia, com o cabeceante verso “ele dá-me cabeça” (“he gives me head”), dos Elton Motello, grupo punk inglês e pseudónimo do vocalista Alan Ward. A versão francesa monopolizou o mercado ofuscando o original. Em franciú promoveu Gossip Girl e cantaram-na os caubóis de Berlim BossHoss, os Vampire Weekend, as suíças talentosas Tears ou num estonteante eurodance, a rapper sueca de ascendência marroquina Leila K (o diapasão do ritmo europeu – “Open Sesame” L “Electric” L “C’mon Now). Plastic tanto impulsionou Paris que até representou o Luxemburgo no festival da Eurovisão. E, antes do percurso a solo, em 1974, contribuía para a francofonia, em inglês, na banda punk Hubble Bubble (Born A Woman” L “Faking Bad Trashing). Um belga que empratou os ingredientes, na interligação certa, pra mesa dos “Sarkis” vender farta no mercados dos coisinhos culturais – “Le Hula Hop” L o bailante dilema “pogo, tango ou ballet” de “Slave to the Beat” L “Plasticubration” L “Machine”.
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Na santa guerra da protecção dos direitos de autor, nem o trevo de
Heidi Klum escapou da persecução legal por plágio da Van Cleef & Arpels, a fantástica série de TV “Californication”, por direito da paternidade* do nome, pelos Red Hot Chili Peppers, e na Letónia pretendem cobrar dos bloguistas os vídeos YouTube engastados nos blogues. A “original” liderança de Sarkozy-Bruni contagiou o Parlamento Europeu, que ratificou os cortes de acesso à Net, mas não proibiu o uso de calças aos que vestem marcas contrafeitas, porque mudou o inquilino da Casa Branca. No querido Portugal, numa fase histórica de “internetização” a preços baratíssimos, estas mudanças estratégicas são líquidas. A administração Wbush assestou os GNRs, de cu pró ar, nas feiras, catando falsificações das suas marcas registadas, o presidente Báráque, financiado pelo poderoso lóbi da indústria do entretenimento, transfere a batalha para o campo do digital e do controlo da Internet, e os GNRs assentam o cu na cadeira pra trancar o IP.
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* O autor, Tom Kapinos, defende-se que conhece a expressão do autocolante da década de 70 “Don’t Californicate Oregon”.
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Tózé Brito, um luso-compositor de doce baba de camelo, o Mozart da Abelha Maia, o Strauss do Urso Jackie, o Wagner da Pipi das Meias Altas, em suma um Beethoven com orelha, “sarkónico”, desfechou o conflito pelos direitos de autor: “quando as pessoas ou as empresas compreenderem que o fornecedor de Internet lhes veda o uso, por causa de downloads ilegais, o fenómeno desaparecerá” colmata “a prisão de meia dúzia de pessoas que agem ilegalmente, de forma sistemática, também teria efeitos positivos”. Mais uma guerra resolvida por um português! A pródiga moeda a casa torna, gestores e patrões recebem-na de algibeiras abertas. No mesmo país dos solucionistas, a Sony Music mercadejando as Docemania, único êxito do Rock in Rio 2008, destapa uma anomalia no mercado. Enquanto todos julgavam que no despir é que está o ganho, a Sony comprova o contrário. Para atulhar o cofre vistam-lhes umas calças tigresa, vistam “Chiclete”, vistam “Quente, Quente, Quente”, nem que o pano lhes magoe].
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Apesar de Dmitri Medvedev ter duplicado o preço da vodka, o futuro é esperança. Neste ano, o pingue-pongue (dos lituanos Metal on Metal).