O
desconfiado pezinho da Maria
Em
1981, sumaria-se o país “Como és belo, meu Portugal”, no álbum “Marginal” de Luís Cília: “Pelo Banco
mundial / que dá o seu capital / como prenda de Natal / e é reforço
fundamental, / p’rá independência nacional. / Como és belo, meu Portugal.” [1]. Que belo Portugal era. País a preto e branco, às
vezes, às cores. No domingo, 1 de março, trepa 20% a taxa da televisão, “aumento
previsto no acordo de saneamento económico-financeiro da RTP, (…) os
trabalhadores foram aumentados, em novembro de 1980, em 23,5%”. “As taxas
anuais de televisão são de 960 escudos e 1 920 escudos, respetivamente para os
recetores a preto e branco e a cores”. E a cores ou a preto e branco os espectadores
verão dois factos, históricos, cômpares: dia 9 de janeiro toma posse o VII
Governo Constitucional liderado por Pinto Balsemão e sustentado por uma maioria
formada pelo PSD, CDS e PPM, e dia 4 de setembro toma posse o VIII Governo
Constitucional liderado por Pinto Balsemão e sustentado por uma maioria formada
pelo PSD, CDS e PPM. Pinto Balsemão foi amigalhaço de Sá Carneiro, fundaram um
partido político, juntinhos, o PSD, para bem governar Portugal, conheceram-se
nas bancadas do Parlamento em 1969: “e foi aí que nos conhecemos, entre outras
razões, porque ambos, sendo Francisco, ficávamos sentados ao lado um do outro,
mas também porque comungávamos de várias preocupações sobre a necessidade de
uma reforma rápida das instituições em Portugal e sobre a instauração da
democracia, e portanto uma reclamação pela liberdade. E acho, penso, que ala
liberal, foi chamada liberal, não tanto por expressar uma ideologia liberal,
mas sobretudo pela luta que teve ou que tentou travar pela liberdade”.
Cavaco
Silva, silvando que “tenho um estilo próprio de exercer o meu cargo de ministro
(…). Manifesto muita firmeza – defendo mesmo com alguma dureza e teimosia,
reconheço-o – as ações que estou convencido serem as mais corretas”, recusou-se
pintar no Governo de Pinto Balsemão, que lhe balsamou outra razão: “custa-me a
compreender que o atual ministro das Finanças diga que não ficou por não dispor
de condições … Estou convencido de que nunca vingarão em Portugal projetos de
poder pessoal, porque o povo português ao escolher quem quer para o governar
escolhe um conjunto de medidas, um modelo de sociedade, e não o cidadão A ou B.
Santa Comba Dão, em 1980, não é concebível”. Cavaco Silva era um pacato
professor de Finanças e as Finanças nunca esquecem, uma bela inimizade escavacou-se
desde estas declarações ao Diário de Notícias do dia 1 de janeiro, e a vingança
terá requintes de “cavaquez”. A caravela portuguesa em 1981 navegava em doca
seca, uma bancarrota avistava-se no horizonte, e a meteorologia amarinhava, não
chovia: “em algumas localidades a estiagem já originou situações críticas no
abastecimento de água, tendo algumas populações chegado ao ponto de organizar procissões
e mandar rezar missas para ‘pedir a Deus que faça chover’”, noticiava o Diário
de Lisboa, quarta-feira, 18 de fevereiro: “árabes prometem dinheiro a Balsemão.
Em resposta ao apelo do executivo de Pinto Balsemão, relativamente à prolongada
seca que se vive em Portugal, três países do Médio Oriente, a Arábia Saudita,
os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait prometeram dar o seu apoio ao nosso país”.
Na quinta-feira, 26 de março: “arroz 40% mais caro. Carolino a 50$00 e
mercantil a 27$50”, na quinta-feira 30 de abril, os destroços do punk nas ruas portuguesas tiram a
barriga de misérias com os Clash
no Pavilhão Dramático de Cascais, na primeira parte, os Táxi (dizem, pagos a quinze
mil escudos) e a Pearl
Harbour [2].
O
Poço da Lúcia, em Aljustrel, local da segunda aparição do anjo, também foi
afetado pela seca, “uma boa gestão da parte de uma sobrinha de Lúcia evitou o
pior, a sua exaustão”, do outro lado da rua, vivia Maria dos Anjos, irmã da
vidente, pilar de Portugal: “uma vez estava ali naquela casa, da irmã Lúcia, um
homem qualquer que entrou na cozinha e perguntou-me se tinha fé em Deus. Fé porquê? –
perguntei-lhe. Alguma vez o viu? – perguntou ele. Eu já, disse. Quando? Todos
os dias, disse eu. Todos? Onde, quando? – perguntava ele. Bonda olhar para esta
abóbada celeste para saber que há Deus”. Deus pusera os portugueses na linha da
frente dos serviços de informação com o terceiro segredo de Fátima: “eu nunca
lhe pedi para ela me dizer o segredo. Mas uma vez procurei a maneira e
disse-lhe assim: às vezes vejo-me atrapalhada com as pessoas a perguntarem-me.
E ela disse-me para eu responder que se vai sabendo a pouco e pouco. E vai, que
ela em pequena dizia: ai o Santo Padre, tenho tanta pena dele. Ela sabia o que
ele estava para passar”. “Naquele tempo, o Santo Padre ninguém lhe fazia
nenhum. Mas agora vê-se”. No dia 13 maio, o turco Mehmet Ali Ağca disparara
sobre João Paulo II na Praça de São Pedro, em Roma, e o Santo Padre reconheceu “uma
mão materna”, de Maria,
que o amparou, retendo-lhe o sopro da vida, para salvar o mundo do comunismo. Em
Portugal, houve comunhão de fiéis no sábado, 23 de maio: “a febre do ‘rock and
roll’ e a solidariedade para com o malgrado defesa-direito do Sporting, o
loiro, duríssimo e espetacular Artur, inutilizado para o futebol por uma
trombose, levaram esta manhã ao estádio Alvalade, em Lisboa, uma multidão
calculada entre 30 e 35 mil pessoas”. Nessa manhã, nas escolas secundárias, os
azarentos com aulas ao sábado desertaram para o Campo Grande, os retidos,
ouviam a transmissão via rádio do programa “Febre de sábado de manhã”, de Júlio
Isidro [3], com Mário Mata, CTT, Tantra, Adelaide
Ferreira, Táxi… e a atração internacional Fischer Z [4].
Com
a seca severa, em maio, as emissões de televisão encerrarão pouco depois das
23:00 horas para poupar energia, embora a determinação governamental seja para
encerrar antes das 23:00 horas. O país liquefaz-se no verão, escachado na relva
dos jardins. Serão dez dias, entre 10 e 20 de junho. Segunda-feira, 15: “a
grande maioria dos citadinos não conseguiu suportar em casa a canícula. Praias,
matas, jardins, cervejarias, foram literalmente invadidas, enquanto milhares de
galinhas poedeiras soçobravam à violência climatérica”, no dia anterior
arquearam com 43º, no dia seguinte: “dezanove mortos por desidratação”. “Metade
do parque avícola nacional dizimada em quarenta e oito horas”. E no dia 17 falta
água nas zonas altas de Lisboa. “Lisboa e Porto quase esgotaram as reservas de
cerveja nos últimos dias. Em Lisboa, a Sociedade Central de Cervejas vendeu 40
mil grades (…). No Porto as duas principais fábricas de cerveja e refrigerantes
esgotaram as reservas”. A onda de calor de 2003, entre 29 de julho e 15 de
agosto, foi mais extrema e de maior duração, esta de 81 foi de extensão
espacial superior. Em 1991 haverá outra grande onda de calor entre 10 e 18 de julho.
– Amainado o calor, trabalhar é mais fácil. Na quarta-feira, 1 de julho:
“durante ‘maratona’ parlamentar de 22 horas deputados aumentam-se quase 100 por
cento”. A governação sempre conluiada com a economia real do país. Sexta-feira,
17 de julho: “custo de vida sobe outra vez. Transportes mais caros (até 25 por
cento) em setembro.
Combustíveis , eletricidade e juros subiram hoje. Por detrás
do ‘pacote’ hoje anunciado, instruções bem precisas do Banco Mundial”.
O
país, como um desarrumado quarto
de adolescentes, encaminha-se para o caos, além fronteiras nacionais, o mundo
livre ordena-se. Quarta-feira 29 de julho, Carlos
e Diana casam-se na St. Paul’s Cathedral, “um conto de fadas”, acerta-lhe o
bispo de Canterbury, o padreca celebrante da cerimónia. Mil milhões de pessoas sonharam
plebeiamente através da televisão, nas ruas, um conto de fadas más: “tumultos
em Liverpool antecederam boda real. Enquanto mais dois grevistas do IRA estão à
beira da morte no Bloco H e em Liverpool se registaram esta madrugada, pela
terceira vez consecutiva, violentos tumultos, em Londres, um ambiente de
‘Carnaval’ envolveu esta manhã o casamento de Carlos e Diana”. No dia 1 de
agosto, para um público-alvo adolescente e jovem adulto, perenes, estreou a MTV:
o primeiro vídeo, “Video
Killed the Radio Star” dos Buggles e o segundo “You Better Run” da Pat
Benatar. Em 1991 censurarão “Jesus Christ Pose” dos
Soundgarden. Para ascenderem à perfeição televisiva no século XXI com “My Super Sweet 16” (2005-08):
onde se documenta os preparos e festa do décimo sexto ano de um aniversariante
com pais porcos de ricos. Como Audrey, que apetece-lhe
como prenda um Lexus (67 mil dólares). No stand,
o vendedor gaba: o carro tem sistema de navegação ativada por voz, ela, sentada
ao volante diz: “shopping mall”. A progenitora descuidou-se, sacou o carro
antes do momento dramático: “estúpida, idiótica mãe. Estragaste tudo ao entregar
o carro no dia errado … arruinaste a minha vida, foda-se, odeio-te, vou-me embora,
a festa está cancelada!” (para a qual contratara Los
Primeros que lhe ensinaram os seus moves
para o vídeo “Eslow Motion”).
No continente europeu, a MTV Europa, atamancada em Amesterdão, terá uma estreia
mais pudim, a 1 de agosto de 1987, com um concerto ao vivo de Elton John. O
primeiro vídeo transmitido, “Money For Nothing” dos Dire
Straits, agasalhava a empresa com a frase “I want my MTV”, dita por Sting. – No
ano de 1981, os portugueses sobrevêm as peripécias de “Kilas, O Mau da Fita” (1980),
estreado dia 27 de fevereiro no Éden e no Quarteto, e a 9 de outubro, as
recolhas arqueológicas do dr. Indiana Jones em “Os Salteadores da Arca
Perdida” (1981).
Nesse
ano também desabrolhará o bom da fita que arcará muitos enchedores, achados da
condução do Estado e da economia. Cavaco Silva, uma formiguinha, quando Pinto
Balsemão se empoleira no cargo de primeiro-ministro, demite-se do Parlamento,
dedicando-se a enodar o presidente do seu partido [5].
Abstergendo a voz com chá de perpétua roxa, no 8º Congresso do PSD, (20-22 de fevereiro),
pela uma da manhã, arrabunha 20 minutos de discurso e nasceu uma estrela [6]. Nesse congresso Cavaco Silva ganha a sua presunção
de inteligência, louvado por pares, ímpares, números primos, tios partidários,
tias-avós independentes, tanto mérito lhe matraquearam, competência, qualidades,
dons, que se entranhou na voz geral e todos acreditaram. Os doze meses de
ministro das Finanças engravidaram-no para a política, confessa ele “interesse
pela política maior do que aquele que tinha”, sob a proteção de um pé conjugal [7] formigou por reuniões partidárias na reta pelo
partido e pelo Estado. Em 1981
a RTP emitia “… E os resto são cantigas”
[8].
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[1] O país de todos. Teena
Marie, de origem portuguesa, italiana, irlandesa e índia americana, publicou o
seu quarto álbum, “It Must Be Magic”, no dia 14 de maio de 1981. Nele, “Portuguese Love”, uma
homenagem às suas origens portuguesas.
[2] Dez mil compareceram. E
os Clash regressaram três vezes ao palco. No concerto, Joe Strummer fumou de um
charro rodado pelo público e caraterizou depois Portugal. Num giro pela
Marginal, para fotografar murais de partidos políticos, entre copos e charros,
com Belino Costa: “qual é a primeira impressão sobre Portugal?”; Joe Strummer:
“é parecidíssimo com a Jamaica”; Costa: “com a Jamaica?!”; Strummer: “sim, lá
também há assim muita confusão nas estradas. Há muitas construções. É parecido
com a Jamaica ou outro país da América do Sul”.
[3] Júlio Isidro: “eu já
fazia um programa chamado Grafonola Ideal, onde comecei a fazer emissões no
exterior. Gostava de testar o feedback
dos ouvintes. Entretanto, lembrei-me de ouvir em miúdo o Companheiros da
Alegria, onde também se trabalhava na rua. Propus a ideia de fazer um programa
ao vivo ao meu director - João David Nunes - e ele aceitou, ainda eu não tinha
acabado de explicar o que era. O nome teve origem no filme Febre de Sábado à
Noite e a ideia passava por divulgar e estrear bandas. O primeiro espetáculo
foi no Noite e Dia, onde fizemos um concurso de noivos. Só depois é que fomos
para o Nimas”.
[4] O mais alto dos
estadistas portugueses, Marques Mendes, no futuro (2012), relembra a
importância de relembrar: “temos que tentar sobreviver, ser otimistas, manter a
esperança, e esta festa e este convívio ajuda bastante a que uma pessoa perceba
que apesar dos sacrifícios pode haver uma luz ao fundo do túnel e este ambiente
ajuda muito”. Alentava esperança em Viseu, na festa “Os melhores anos”, com serviço
de mesa, sob a temática dos anos 60, Pedro Abrunhosa era cabeça de cartaz.
Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu: “dancei muito e continuo a
dançar. Eu conheço as músicas dos anos 60, da maior parte dos dos dos conjuntos
da época, e naturalmente que sempre aproveito esta este dia para de certo modo,
com uma certa nostalgia, matar recordações desse tempo”. – No 23 de janeiro de 1982,
10 000 pessoas, no Pavilhão de Alvalade, assistiram a outro “Febre de sábado
de manhã”, com Paulo de Carvalho, Dany Silva, Grupo de Baile, Trovante, Táxi,
Rock & Varius e Lobo. Em 2006, mais barriga, menos cabelo, o programa renasce
no Pavilhão Atlântico, com UHF, Lena D’ Água, Trabalhadores do Comércio, Jáfumega,
Adelaide Ferreira, Grupo
de Baile e a atração internacional Fischer Z.
[5] Paulo Portas, jornalista
do semanário Tempo, 19 anos, militante do PSD, entrevista Cavaco Silva, 42
anos, e o fascínio do jovem, o efebo, pelo velho, o educador, tece-se ao
respirar “trabalho e pacatez” no cavaquiano gabinete “numa pacata rua da Lapa
citadina, num branco e vulgar prédio”. Cavaco Silva, como bom conspirador, não
contesta a liderança: “é óbvio que, como militante, acredito nela. O dr. Pinto
Balsemão foi escolhido pelos órgãos do partido de forma totalmente democrática,
resultou da vontade claramente expressa dos seus militantes”.
[6] Marcelo Rebelo de Sousa
no Expresso, 28 de fevereiro, desenhava-lhe os raios: “que Cavaco Silva saiba
esperar pelo momento adequado de projeção política, não caindo no erro de um
passo em falso cedo demais, que lhe pode vitimar as hipóteses de liderança partidária
ou de afirmação governamental. A ver vamos de Cavaco Silva, este ano que se
segue, consegue projetar-se dentro do PSD e manter-se avesso à tentação de uma
hostilidade prematura contra Balsemão, condições essenciais para que a sua
estrela, ainda insuficiente neste congresso de 81, possa subir nos anos que se
seguem”.
[7] A secção Gente do
Expresso de 24 de janeiro notou a roda-viva: “nos últimos tempos não para uma
noite em casa, em reuniões basistas no partido”. E por causa desta nota mundana
o diretor do jornal, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu uma carta de Maria Cavaco
Silva: “Vossa Excelência, como diretor do jornal Expresso, que tão sabiamente
dirige, talvez me possa aliviar algumas dúvidas trágicas que me assaltaram
depois da leitura de uma nota da ‘Gente’ da sua edição de hoje, 24-1-81. Diz-se
aí, a propósito dos entusiasmos políticos do homem com quem partilho a vida há
mais de 17 anos, ‘que nos últimos tempos não para uma noite em casa’. Ora, here
is the rub! Como o visado se deita comigo todas as noites, grandes problemas
familiares surgiram abruptamente, com tendência para agravamento (como no
boletim meteorológico), caso V. Ex.ª não se digne a dar uma ajudinha, com um
esclarecimento oportuno. Ao acordar a meio da noite, estendo o pé e ‘ele’ está
lá! Quando acordo de manhã, estamos de novo os dois lá. Que se pode passar
então? Hipóteses várias me atormentam o espírito, até agora tranquilo: ‘ele’
dá-me um soporífero, veste-se sorrateiramente e sai, suave e fantasmagórico,
para essa frenética atividade partidária noturna. Como criatura ‘superiormente
inteligente’ que é, antes de sair, ‘ele’, constrói habilmente um boneco que põe
no seu lugar, ao alcance do meu desconfiado pé conjugal, no caso de o
soporífero abrandar os seus efeitos, lá a meio das suas noitadas. Regressa sorrateiramente
e quando eu acordo, aquela cara repousada é fruto não de uma bela noite de sono
tranquilo a meu lado, mas de uma cuidada sessão de maquilhagem a que teve de se
submeter antes de regressar aos lençóis”.
[8] “… E os resto são
cantigas” um programa de: Raul Solnado, e de: Fialho Gouveia, que o apresenta:
“bom, o programa vai utilizar uma linha extremamente simples, e terá como
objetivos base fazer reviver aqui algumas das cantigas mais populares da música
ligeira portuguesa, bem assim como algumas das rábulas mais engraçadas, mais
divertidas da nossa revista, da revista à portuguesa”.
na sala de cinema
“Heavenly Bodies” (1984), um filme sobre a
febre aeróbica dos anos 80. Os impacientes pés de “Samantha Blair” (Cynthia Dale) saltaricam debaixo da
secretária ao som dos Sparks: “Breaking out of prison baby / Breaking out of
prison girl / I know you can”, enquanto os ponteiros do relógio se aproximam
das 16:30, do fim de um dia a picar o ponto, da fuga da prisão de um bulimento
com patrão, e para o seu sonho de possuir com duas amigas uma academia de
dança. “10
grandes montagens dos anos 80”: “Scarface”
(1983), dirigido por Brian De Palma, escrito por Oliver Stone. O editorial do jornal
cubano Granma de 7 abril de 1980 exclamava: “que se vão os lumpen!”, “que se vão os delinquentes!”, “que se vá a escória!”. Em
maio, discursava Fidel Castro: “aqueles que não têm coragem, aqueles que não
querem adaptar-se ao esforço, ao heroísmo da revolução, que se vão, não os
queremos, não precisamos deles”, e abriu o porto de Mariel
para que 125 000 refugiados partissem para os Estados Unidos. Desses, “marielitos”,
1 200 foram presos pelas autoridades americanas por suspeita de crimes graves
em Cuba, 600 foram diagnosticados com doenças mentais graves e um número
indefinido de homossexuais. Um de los
bandidos a desembarcar em Miami seria
Tony Montana (Al Pacino): “este é o paraíso, estou-te a dizer. Esta cidade, como
uma cona bem grande, apenas esperando para ser fodida”, politizado: “sabes o
que é o capitalismo? Ser fodido!”, e focado: “mato um comunista por
divertimento, mas por uma Carta de Residência Permanente (green card), vou
retalha-lo realmente bem”. A montagem da sua ascensão, dinheiro aos sacos, casamento
acima da sua zona, mulher na coca à pazada e no álcool à litrosa, faz-se com “Push it to the Limit”, escrita por Giorgio Moroder e Pete Bellotte, e
cantada por Paul Engemann. “The
Karate Kid” (1984), o jovem “Daniel LaRusso” (Ralph Macchio) transfere-se,
por causa da mobilidade laboral da mãe, de Newark para o bairro de Reseda, em San Fernando Valley ,
Los Angeles, para se apaixonar por uma cheerleader,
Ali Mills (Elisabeth Shue), enfurecendo o namorado, praticante de antiético karate, até à batalha final, treinado
pelo gentil Mr. Miyagi: “esfrega a cera… retira a cera”. A montagem da eliminação
nos combates faz-se com “You’re
the Best”, escrita por Bill Conti e Allee Willis, cantada por Joe Esposito [1]. “Commando”
(1985) um arraial de ação onde explodem maquetas e bonecos ao som
de balas e James Horner. O “coronel John Matrix” (Arnold Schwarzenegger),
cauteloso, arma-se: uma
metralhadora ligeira finlandesa Valmet M78, uma metralhadora Uzi, uma
espingarda de combate Remington Modelo 870, uma pistola automática israelita Desert
Eagle, uma metralhadora de fita M60E3, uma espingarda de assalto M16A1, um
lança rockets M202 FLASH, uma faca
balística russa… para resgatar a filha “Jenny” (Alyssa Milano). A casa onde os
raptores a aprisionam e que ele invade, supostamente em Val Verde , foi
construída nos anos 20 por Harold Lloyd em Beverly Hills. “Top Gun” (1986), o mundo, sob a asa protetora de Ronald
Reagan, os alunos de uma escola de pilotos de caças numa saudável competição surram
os russos e sossegam o Ocidente: “a marinha dos Estados Unidos afirmou que,
após o lançamento do filme, o número de jovens que se alistaram, querendo ser
aviadores navais, subiu 500%”. A montagem da camaradagem máscula no jogo
de voleibol de praia entre “Maverick” (Tom Cruise) e “Goose” (Anthony Edwards)
contra “Iceman” (Val Kilmer) e “Slider” (Rick Rossovich) faz-se com “Playing
with the Boys” de Kenny Loggins; no filme Meg Ryan é a mulher de Goose, “Carol
Bradshaw”: “leva-me para a cama ou perde-me para sempre”. “The Naked Gun: From the Files of Police Squad!”
(1988) sem “Frank Drebin” (Leslie Nielsen) a longa vida de Elizabeth II teria
sido encurtada. A montagem da felicidade, pós-consumação
do ato sexual, faz-se com “I’m Into Something Good”, escrita por Gerry Goffin e
Carole King, cantada por Peter Noone. “Bloodsport” (1988), “Frank Dux” (Jean-Claude Van Damme) treinado
desde a juventude na via do ninjutsu
viaja para Hong Kong para um torneio que foge aos impostos e aos direitos humanos.
A montagem de rebentar
fuças faz-se com “Fight To Survive”, escrita por Shandi Sinnamon e Paul
Hertzog, cantada por Stan Bush, a voz de “Touch”, para a banda sonora do filme de animação “Transformers” (1986).
__________________________________
[1] A censura na China não tem
sido pato doce para os produtos de Hollywood. Na versão 3D de “Titanic” (2012), os
censores barbearam a cena de Kate Winslet posando
nua para Leonardo DiCaprio; justifica um funcionário: “considerando os
vívidos efeitos 3D, tememos que os espectadores possam estender as mãos para
tocarem e, assim, atrapalhar a visualização das outras pessoas”.
A versão original, de 1997, rendera 44 milhões de dólares, a 3D, 74 milhões.
Quando o dólar fala, o cego vê, o coxo anda. Ben Fritz e John Horn, no Los
Angeles Times: “Hollywood aprendeu da maneira mais difícil que, manchar a
imagem da China no ecrã, pode ter implicações a longo prazo para os muitos
braços de um conglomerado de média moderno. No final de 1990, os estúdios Walt
Disney, a Sony Pictures e a MGM, todas, enfrentaram uma paralisação temporária
nos seus negócios com o país, depois de lançarem os filmes ‘Kundun’, ‘Seven
Years in Tibet’ e ‘Red Corner’, respetivamente, que eram críticos do Governo comunista”.
Por isso o plano americano abandonou as chinesices. “Com o anúncio de que a
DreamWorks Animation, de Steven Spielberg, bordejará para a China no ano que
vem para criar a Shanghai Oriental DreamWorks Film & Television Technology
Company, Hollywood dá sinal de que está a ultrapassar a era de simplesmente
vender no mercado chinês a partir do exterior”.
“Durante a última década, as coproduções têm sido vistas como uma maneira de
sair deste tipo de dilema (baixa qualidade da produção nacional), porque elas
normalmente costumam obter melhores resultados nas bilheteiras que as versões
domésticas, disse Gao Jun, director-geral da Beijing Shengshi Huarui Film
Investment & Management Co.: ‘quando você não pode mudar o mundo, você
muda-se a si próprio para se adequar ao mundo. Coproduções são um esforço nessa
direção’”.
“Algumas companhias de cinema estão a fazer o mínimo absoluto, como adicionar
um ator chinês num filme num papel secundário, para integrar os seus filmes
numa classificação que era suposto beneficiar ambos os mercados, o relatório
cita o vice-chefe da Administração Estatal da Rádio, Filme e Televisão da
China, Zhang
Pimin”. No filme “Cloud
Atlas” (2012) “o único elemento chinês visível até agora no material
pré-publicitário é a atriz Zhou Xun, que interpreta ‘Yoona-939’ . Zhou trabalhou como
assalariada, não com participação acionária. Ainda é incerto se o filme será classificado
na China como uma coprodução ou como uma importação. No caso de coprodução, não
só contorna a quota (limite para a exibição de filmes estrangeiros), mas também
proporciona um maior retorno para os investidores”. Hollywood espertou, em vez
de desafiar a censura chinesa, os industriais do cinema agora praticam a “incensura”,
isto é, censuram eles próprios os filmes para um mercado de 1 300 milhões de esverdeados
consumidores. No remake de “Red Dawn” (2012), os
produtores alteraram a nacionalidade dos vilões, dos invasores dos Estados
Unidos, de soldados chineses, para coreanos e não cortar lucros na China. A
Disney achinesou o seu “High
School Musical: College Dreams” (2010), e a indústria em geral migrou para
novo amor: “An American in
China” (2008) – a China já tem os seus momentos hollywoodescos: a atriz principal
deste filme, Sun Feifei, nos Prémios Esquire em 2011, a anfitriã, Fang Ling,
acidentalmente pisou uma faixa do seu vestido branco, expondo-lhe o soutien
cor de pele,
não é teta ainda, como seria em Hollywood, é um pequeno passo para a China, um
grande passo para o espetáculo. O remake
de “Karate Kid” foi realizado para a realeza
americana: Will Smith e família, e para o mercado chinês. Sabedoria, no
filme, de “Mr. Han” (Jackie Chan): “o kung
fu vive em tudo o que fazemos xiao (pequeno) Dre. Vive no modo como
vestimos o casaco, no modo como o despimos, e vive no modo como tratamos as
pessoas. Tudo é kung fu”; “chi, energia interna. A essência da vida. Move-se dentro de nós,
flúi através do nosso corpo, dá-nos força a partir de dentro”; “estar quieto e
não fazer nada, são duas coisas muito diferentes”; “wu ji bi fan,
quer dizer: tudo o que é demais, é mau. Treinas muito, precisas de descansar”: “Karate Kid” (2010), o
jovem “Dre Parker” (Jaden Smith) transfere-se, por causa da mobilidade laboral
da mãe, de Detroit para Pequim, para se apaixonar por uma violinista, Mei Ying
(Wenwen Han), enfurecendo o quasi-namorado, praticante de quasi-antiético karate, até à batalha final, treinado
pelo gentil Mr. Han: “veste o blusão! despe o blusão!”.
no aparelho de televisão
“Fábulas da Floresta Verde” (1972-73), série
de anime da Zuiyo Eizo, antecessora
da Nippon Animation, estreada em Portugal em 1985, e baseada nos contos
infantis de 1910 e 1920 escritos por Thornton W. Burgess.
Música de Tozé Brito, letra de António Pinho: “É bom ver na floresta o sol
nascer, / é bom imaginar o que irá acontecer, / são tantas amizades, / são histórias
de amizades, / que vão nossos amigos animais viver.”: Pompom o coelho (voz:
Irene Cruz), Avelar o gaio (voz: António Feio), Quico o esquilo (voz: José
Gomes), Mara e Joca as marmotas (vozes: Isabel Ribas e Luísa Salgueiro), Gugu o
guaxinim, e outros animais, fintam o Raposinho (voz: João Perry) que os quer
caçar. “Sport
Billy” (1979): “é do planeta Olympus (gémeo da Terra no lado
oposto do sol), que é habitado por atléticos seres semelhantes a Deus. O
próprio Billy tem uma sacola de desporto mágica, que muda de tamanho, o Saco
Omni, que produz várias ferramentas quando precisa delas. Ele viaja para a
Terra com a missão de promover o trabalho de equipa e o espírito desportivo.
Descrito pela canção tema como um ‘herói de outro planeta’, Billy enfrenta a
malvada rainha Vanda e o seu capanga, semelhante a um gnomo, Snipe. A missão de
Vanda é destruir todos os desportos na galáxia visto a fairness (o lenço de batalha de Durão Barroso) a enojar”. “Transformers” (1984-88) estreados em
Portugal em 1989. “Toda a série foi baseada nas linhas de brinquedos Diaclone e Microman, originalmente criadas pelo
fabricante de brinquedos japonês Takara, que foram desenvolvidos na linha de
brinquedos Transformers
pela empresa americana Hasbro”. Dois grupos do planeta Cybertron, os heróis que
amparam os humanos, os Autobots: Bubblebee, Prowl,
Sunstreaker, Round, Trailbreaker, Ironhide, Mirage, Wheeljack, Jazz,
Cliffjumper, Ratchet, Sideswipe, liderados por Optimus Prime, e os
vilões, os Decepticons: Starscream, Shockwave, Soundwave, Reflector, Thundercraker,
Ravage, Rumble, chefiados por Megatron, lutam pelos recursos energéticos da
Terra. – Anúncio: “Double A”
c/ a atriz sul-coreana Park
Han-Byul. “He-Man
e os donos do universo” (1983-84), o homem mais poderoso do
universo, alter-ego do príncipe Adam,
protege os segredos do castelo de Grayskull, depositário da sabedoria do
planeta Eternia, governado pelo rei Randor e a rainha Marlena, e atacado pelas
forças maléficas de Skeletor. Estreou na RTP em 1986. – Redesenhados
p/ Adrian Riemann. “Ursinhos
Carinhosos” / “Care Bears” (1985), personagens criadas em
1981 pela American Greetings Corporation para postais de boas-festas e de
aniversário, pintados por Elena Kucharik: os ursinhos vivem no distante Reino
do Carinho, na Nuvem Rosa (Care-a-Lot), repleta de nuvens e arco-íris, difundem
bons sentimentos nas pessoas e guardam a Terra do mal e do execrando Professor
Coração Gelado que quer extinguir o amor. “Os Super-Gatos” / “ThunderCats” (1985-89) estreou em Portugal em 1988:
gatos humanóides alienígenas fogem do seu moribundo planeta Thundera. A frota é
atacada pelos seus inimigos os mutantes de Plun-Darr que destroem as naves. No
entanto, poupam a nave-almirante do Senhor dos Super-Gatos, Lion-O, na esperança
de capturar a Espada Justiceira, que tem no cabo o Olho de Thundera, a fonte do
poder dos Super-Gatos. Os danos na nave, aumenta o tempo de viagem até à
Terceira Terra, Jaga, o mais velho dos Super-Gatos, voluntaria-se para a pilotar,
enquanto os outros dormem em
cápsulas. Ele morre de velhice, mas o piloto automático
leva-os à Terceira Terra, onde o feiticeiro Mumm-Ra recruta os mutantes para
destruir os Super-Gatos para que o mal prevaleça.
na aparelhagem stereo
Stock
Aitken Waterman (SAW) focaram-se, no final dos anos 80, nas suas contratações de
jovens artistas através da etiqueta PWL. “A PWL (Pete
Waterman Limited) foi inicialmente defendida pelos jornais de música pelo seu
som fresco e estética aparentemente underground,
mas não por muito tempo. Eles provocaram a ira da imprensa musical britânica,
quando fizeram braço de ferro com o grupo M/A/R/R/S, num acordo judicial, sobre
um sample que M/A/R/R/S havia tirado
da gravação dos SAW, ‘Roadblock’,
e usaram-no no seu êxito surpresa ‘Pump Up the Volume’. Pete
Waterman escreveu uma carta aberta para a imprensa musical chamando a essas
coisas ‘roubo por atacado’. A imprensa contra-atacou que Waterman estava
atualmente a usar uma linha de baixo de ‘Trapped’, do Colonel
Abrams, no ‘Never Gonna
Give You Up’, do Rick Astley. Na realidade, ‘Trapped’ em si, poderia ser
descrita como inspirada no sucesso clássico ‘Pick Up the Pieces’, dos
Average White Band. A empresa de produção de Waterman até plagiou o arranjo
rítmico inteiro de ‘Pump Up the Volume’ (completo com o refrão) numa mistura
para um disco de Sybil
(sabiamente intitulado ‘Red Ink Remix’). Como resultado, as relações entre a PWL
e grande parte da música underground
do Reino Unido, foram por muito tempo azedas. Waterman disse que era uma
questão de princípio, em vez de lucro, e prometeu doar todos os royalties do processo judicial para
caridade”.
Ritmo SAW:
O’Chi Brown → “Whenever You Need Somebody”
(1985) ♫ The Three Degrees → “The Heaven I Need” (1985)
♫ Phil Fearon → “I Can Prove It” (1986) ♫ E.G. Daily → “Mind Over Matter” (1987)
♫ Debbie Harry → “In Love with Love” (1987)
♫ Pet Shop Boys → “It's A Sin” (1987) ♫ Dolly Dots → “What A Night” (1987) ♫ Shooting Party
→ “Safe In the Arms of
Love” (1988) ♫ Giant Steps → “Into You” (1988) ♫ Band Aid II → “Do They Know It's Christmas?”
(1989) ♫ Blue Mercedes → “I Want To Be Your Property”
(1989).