Luz
negra
Diógenes
de Sínope arrojou um galo depenado aos discípulos de
Platão iluminando-os: aqui tendes o Homem de Platão! O mestre brunira a
essência humana de paquife quididade no “Político”: “a
política é a arte de criar rebanhos de animais que não são nem aquáticos nem
aéreos mas terrestres, que não são cornúpetos mas sem cornos, que não são
quadrúpedes mas bípedes, que não são plumados mas têm a pele nua. A política é
a arte de criar rebanhos de bípedes implumes” [1], implume, duas pernas calandradas, como a Doda: “XXX” [2]. Bestificar toda uma espécie só porque vive
organizada sob líderes não é descomedido, mensura o pacto urnário entre
governadores e governados, uns põem ovos, os outros fazem omoletas. Quando, pela crisofila
madrugada, o cocoró de Passos Coelho: “nós sabemos, só vamos sair desta
situação empobrecendo em termos relativos, em termos absolutos até, na medida
em que, o nosso PIB está a cair” [3], o povo,
fiscalizador, cacarejaria: onde estão as condições para essa penúria? O povo imiscui-se
nos affairs públicos. Isto não é
1963: “não era possível esperar que as massas aceitassem parcimoniosamente a
perda das suas conquistas, o seu empobrecimento, para pagar as libertinagens e
preservar os privilégios da classe dominante”, (nas “Actas Tupamaras – uma
experiência de guerrilha urbana no Uruguai”), e lhes “despertar
a consciência e fuzil” (hino do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros)
[4].
A
imiscuição popular acravará a lista de reivindicações para a boa consecução das
políticas dos pastores. O povo vacinou-se de que os líderes caranguejam, de que
se lhes extinguiu a velha cepa, “os homens conhecem-se pela palavra e os bois
pelos cornos”, e falam, falam, e de palavra? nada, nem uma marrada acertada. Desta
vez, a força está no povo, para reclamar as condições para empobrecer, e só tem
que sacholar nas tradições muito nossas, extemporaneamente abolidas, e exigir:
a reinstalação das lixeiras a céu aberto, um monte de oportunidades para as
classes mais baixas de acesso ao consumo e de verdadeira reciclagem nacional; a
restauração dos terrenos baldios para construção de barracas para desgarre dos
impostos contra o património; fim da videovigilância para agilizar roubos nos
supermercados; olhos fechados dos fiscais aos sifões para desviar água e às baixadas
dos postes de eletricidade… e com o “saber governar bem” [5] dos eleitos: a morte dos velhos para sustentabilizar
a Segurança Social e a emigração dos jovens para assear as estatísticas do
desemprego, e Cavaco Silva: “a situação atual no nosso país não é uma
fatalidade e os portugueses devem de facto pensar isso mesmo, não é uma
fatalidade. Se nós cumprirmos rigorosamente os compromissos que assumimos
perante as entidades internacionais, há uma grande possibilidade de melhores
dias chegarem no futuro”, se não chegarem, sempre haverá a caridade: “Too many florence nightingales / Not enough robin hoods”: “Flag Day”, dos Housemartins [6].
Povo
marinho, “Sail” [7] (rock
eletrónico americano, AWOLNATION) – por
40 anos, seus dirigentes embarcaram no frenesim de contrair dívida e aldrabar
as contas, emparelhando com a Grécia, num destino padejado nas estrelas do
firmamento, Kasia Struss foi
capa da Vogue
grega de fevereiro 2010 e da Vogue
portuguesa de março 2010 [8] – para toda a eternidade
[9]. O marinheiro (Kevin Costner) deparar-se-á
com os destroços, fundidos na língua, o portugrego, falada no entreposto
comercial em “Waterworld”
(1995). Povos saldunes, apesar da pernada de Passos Coelho: “eu espero que
Portugal se possa aplicar ainda com mais determinação e mostrar, quer à União
Europeia, quer ao mundo, que nós não seguiremos estes exemplos (ameaça
de Papandreou de um referendo ao segundo resgate), não queremos ser
confundidos com o que se está a passar na Grécia e isso depende inteiramente de
nós”. Sotopostos salvadores: Herman Van Rompuy, diz-se, presidente do Conselho
Europeu, depois do perdão de 50% da dívida grega: “queremos pôr a Grécia no bom
caminho, de modo a que, em 2020, tenha reduzido a sua dívida pública para 120%
do PIB”, e cujo final: “We goin’ light it up / Like it’s dynamite” (pop americano, China Anne McClain [10]).
E os estilhaços já escabujam. Alain Badiou apanhou-os na sua declaração “Vamos
salvar o povo grego dos seus salvadores!”: “25 000 sem-abrigo vagueiam pelas
ruas de Atenas … os novos pobres disputam o lixo em aterros sanitários” [11].
Nos
apertos da crise, a invenção remirá: os gregos, com 55 mil polícias no ativo,
remoinho de fundos públicos, parados nas esquadras, projetam alugá-los para
serviços de segurança, preçário:
bófia 30 €/hora; mota 20 €/hora; carro blindado 40 €/hora; barcos patrulha 200
€/hora; helicóptero 1500 €/hora. O município catalão de Rasquera aprova,
num referendo, uma proposta do alcaide para pagar dívidas: alugar um terreno de
7,5 hectares ,
(7 estádios de futebol), à Associação Barcelona Cannábica de Autoconsumo, para
plantar marijuana. A concessão criaria 40 postos de trabalho e renderia mais de
um milhão de euros em dois anos ao município. Portugal tem 10 estádios de
futebol a crescer ervas daninhas, 21 mil bófias gordos e bem pagos a bacorizar
nas esquadras, e a linha solucionista dos eleitos não lhes roça, é: inventar um
imposto ou multa por dia. E, na política big
picture, o furente líder da oposição
e o adeleiro primeiro-ministro, em contubernal discorde, assinaram a inscrição
da “regra
de ouro” na Constituição ou em lei de valor reforçado, esquecendo-se da
regra que deveriam sinetar a ouro, diamante, platina, lítio, dívida pública: a obrigatoriedade
de pedir a vinda do FMI cada lustro ou, no máximo, uma vez por década.
Ao
povo mais cumpridor da Europa, numa madrugada de nevoeiro regressarão os 13º e
14º meses, recompensados do Alto pela filoginia de Cristiano Ronaldo: “os
golos, como um lendas do futebol me ensinou, os golos é como o ketchup, quando aparece, aparece tudo de
uma vez, por isso não estou preocupado”. Autobiografa-se: “como uma pessoa q’é
sincera, ingénua muitas das vezes, mas q’isso faz parte da minha personalidade,
e por isso as pessoas gostam de mim, às vezes, se calhar, com esta carinha eh
eh eh eh ou não, mas tudo enquadra-se”. O jogador tem uma nova amiga Malena Costa [12]. Um colchão de ideias peregrina a Europa de como resgatar
países, espremendo os povos na verdade económica suprema: não há enriquecimento
sem exploração. O povo não tem novos amigos que lhe disjunja, Bakunine:
“desenvolveu-se no seio da Internacional mais ideias do que as necessárias para
salvar o mundo, se as ideias apenas pudessem salvá-lo e desafio quem quer que
seja de inventar uma nova. O tempo não é mais para ideias, ele é para factos e
para atos”, qualquer recurso à ação proporcional expiraria com o Estado a abater
cabeleireiras nas ruas: Petra
Schelm [13].
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[1] Em “Refutação
da filosofia triunfante” (1976) de Orlando Vitorino,
filósofo, pré-candidato
às eleições presidenciais de 1986 com estranhas propostas: “deixar de remunerar
a classe política”. As traduções antigas portuguesas coloriam-se para terem
mar, muito mar, no diálogo “O Político”, a definição,
tirada a ferros pela parteira Sócrates, é: “eu digo que deveríamos ter começado
por dividir os animais terrestres em bípedes e quadrúpedes, e uma vez que o
bando alado, e apenas esse, aparece na mesma categoria que o homem, deve-se
dividir os bípedes entre aqueles que têm penas e aqueles que não têm, e quando
eles tiverem sido divididos, e a arte da administração da humanidade é trazida
à luz, terá chegado a altura de produzir o nosso Estadista e governante, e
colocá-lo como um carroceiro no seu lugar, e entregar-lhe as rédeas do Estado,
porque isso também é uma vocação que lhe pertence”.
[2] Dorota “Doda” Rabczewska, 1,69 m , 88-63-88,
cantora polaca nascida a 15 de fevereiro de 1984; na juventude treinou
atletismo durante quatro anos, venceu os campeonatos no Voivodeship nos 1000 e 600 metros e no lançamento
do peso; aos 16 anos era vocalista dos Virgin ► “To Ty”
(“és tu”) ♪ “Mam Tylko
Ciebie” (“eu só te tenho a ti”). Doda está quatro furos abaixo de Einstein
com um QI
de 156; por ter duvidado da Bíblia:
“porque é difícil acreditar em algo que foi escrito por alguém emborrachado de
vinho e a fumar algumas ervas”, foi multada em 5 000 zlotys (1.110 €) e a
Televisão Nacional Polaca (TVP) rescindiu-lhe o contrato, o administrador
Wojciech Bosak justificou: “é impossível para as pessoas que insultam os
cristãos aparecerem na TVP”. {Tatuagens –
no antebraço esquerdo, um erro
gramatical, em vez de “eu amo Radek”, tatuaram-lhe “para amar um Radek”, o
amor evaporou-se, e ela reciclou-a por outra em sânscrito}. Divorciou-se do
guarda-redes Radosław Majdan em 2008, e em 2009 namorava Nergal, o vocalista e
guitarrista do grupo de death metal Behemoth, a quem foi
diagnosticado leucemia: “a minha primeira reação foi dramática, tipo, ‘foda-se
é cancro!’. Foi muito emocional obviamente. Mas cinco minutos depois eu estava
tipo ‘ok, acorda porra’. Comecei a telefonar e a enviar SMS aos meus amigos, a
explicar com o que estávamos a lidar, como podíamos enfrentar este filho da
puta, e como foda-se podíamos vencê-lo”. (…). “No momento em que fiquei
internado e saiu para o público, tive esta reação de pessoas, tipo, ‘oh, isso é
provavelmente porque rasgaste uma Bíblia no palco e agora estás a pagar por
isso’. Então eu fiz uma declaração no nosso site
onde basicamente expliquei que, não, não me estou a converter; vou ficar ainda
mais anti-religioso e anticristão
no hospital do que eu era antes. E estou ainda mais determinado nestes dias. É
um paradoxo – tenho mais amor para algumas pessoas do que costumava ter, mas
pelo outro lado, tenho mais ódio e nojo pela treta religiosa”, na revista
Terrorizer nº 213. Quando ele saiu do hospital em 2011 finou-se o noivado: “quando
abandonei o hospital, simplesmente distanciamo-nos”, disse ele ► “Bad Girls” ♪ “Nie Daj Sie” (“não se
deixe”) ♪ “Katharsis”.
[3] Passos
Coelho em outubro de 2011: “não vale a pena fazer demagogia sobre isto. Nós
sabemos, só vamos sair desta situação empobrecendo em termos relativos, em
termos absolutos até, na medida em que, o nosso PIB está a cair. Mas isso vai
ser feito para sair desta crise e para recuperarmos o trajeto de crescimento
económico e não para ficarmos, como se costuma dizer, no buraco orçamental,
em que as medidas restritivas, retroalimentam consecutivamente, a perda de
competitividade e a recessão económica. O que estamos a fazer é para sair da
recessão não é para agravar a recessão”.
[4] Grupo marxista-leninista que
lutou pelo socialismo no Uruguai. “A guerrilha faz a luta armada para
conquistar as massas e por sua vez continuar a avançar. Depende vitalmente do
seu objetivo pois, se não vai conquistando, fenece. A luta armada é ao mesmo
tempo uma resposta e uma proposta política. ‘Se somos partidários da
omnipotência da guerra revolucionária, isso não é mau, é bom, é marxista’ (Mao
Tse Tung)”. Resolução das contradições em 1968 na Segunda Convenção Nacional: “aspira-se
à proletarização de todos os militantes através de uma alta cota de trabalho
manual, o trabalho ideológico, a prédica e a prática da austeridade para
evitar as deformações da luta armada urbana, anular os efeitos nocivos do
individualismo próprio da pequena burguesia e da classe média onde se recrutam
muitos militantes, formar o homem novo e aumentar a confiança mútua”. Uma das
suas ações foi o assalto à Rádio Sarandi, para transmitir um chamamento à luta
armada, durante o jogo para a taça dos Libertadores da América, entre o
Nacional uruguaio e o argentino Estudiantes de la Plata em 1969: “a respeito
da planificação só resta dizer que o ato de assaltar a emissora se efetuará
poucos minutos antes de finalizar o primeiro tempo da partida de futebol, de maneira
a poder irradiar a mensagem sem interferir com o relato”. Precedia a mensagem “Cielito de los Tupamaros”:
canção
composta em 1959 para o filme falhado “Ismael”
e proibida durante a ditadura. “A partida terminou com a eliminação do Nacional
por 2-1. Mas um tricolor fanático, que apesar de tudo parecia contente,
comentava à saída: ‘que me interessam os dois golos dos Estudiantes depois
deste golão dos Tupas…’”.
[5] Pedro Mota Soares, ministro
da Segurança Social, segura: “numa situação de austeridade, temos de saber
governar bem com os poucos recursos que temos. Esta crise, nesse sentido, é
também uma lição p’a todos os políticos, porque a partir daqui não é possível
continuar a governar mais lançando dívida que os outros pagam. Eu acho que os
eleitores também se apercebem disso muito claramente”.
[6] Canção sobre a redução da dívida pública, trespassando a responsabilidade
pelos pobres, do Estado, para as instituições de caridade. Os Housemartins traçaram a revolução marxista
(com influência cristã), em vários singles:
“Build”, o mercado livre
do imobiliário demolindo as habitações sociais; “Five Get Over Excited”, o
capitalismo compassivo dos conservadores
britânicos. Na tournée Adopt-A-Housemartin encorajavam os fãs a abrigá-los
depois dos espetáculos: “‘lembro-me de ir para a casa de uma rapariga’,
recorda Stan Cullimore. Ela acordou os pais para dizer: ‘ei, vejam quem temos
para passar a noite’. No dia seguinte, porque as minhas calças estavam sujas,
ela deu-me um par do pai dela. E ela escreveu-me a dizer que, na vez seguinte,
que estive no Top Of The Pops, ele disse: ‘fogo, aquele gajo está a usar as
minhas calças’”, na revista Mojo nº 190.
[7] Vídeo de Nanalew, um canal YouTube criado pela
canadiana Shawna Howson, e
realizado por Tessa Violet.
[8] Kasia
Struss, nome verdadeiro Katarzyna Strusińska, 1,79 m , 81-60-88, olhos
castanhos, cabelo castanho claro, modelo polaca,
nascida em Ciechanów a 23 de Novembro 1987.
[9] Vítor Gaspar, Setembro de
2011, na universidade de verão do PSD; apresentado como um homem austero; hobby: a leitura; animal preferido: o
cão; qualidade que aprecia: a sinceridade; a comida preferida: salada: “David
Westbrook diz isso por uma razão muito simples. Os países perduram sempre.
Não há qualquer espécie de dúvida que Portugal superará a crise. A questão que
depende de nós é, como e quão depressa seremos capazes de superar a crise?”. A
receita: “a nossa estratégia para sair da crise, vai ter de ser, baseada em
três elementos: a consolidação orçamental, a diminuição do ind e a diminuição
do endividamento, primeiros dois aspetos, e em terceiro lugar, uma estratégia
para ganhar de novo o potencial de crescimento da economia portuguesa”
[10] Do elenco da série do
canal Disney “A.N.T. Farm”,
nascida dia 25 de agosto de 1998 é atriz, cantora e compositora ► “Calling All the Monsters”,
com as irmãs mais velhas, Lauryn Alisa McClain e Sierra Aylina
McClain, (no vídeo), formam as McClain Sisters ► “Rise”.
[11] Alain
Badiou: “num momento em que um em cada dois jovens gregos está
desempregado, onde 25 000 sem-abrigo vagueiam pelas ruas de Atenas, onde 30% da
população desceu abaixo da linha de pobreza, onde milhares de famílias são
forçadas a dar os seus filhos para que estes não morram de fome e frio, onde
novos pobres e refugiados disputam o lixo nos aterros sanitários, os
‘salvadores’ da Grécia, sob o pretexto de que os 'Gregos' não fazem um 'esforço
suficiente' impõem um novo plano de ajuda que duplica a dose letal
administrada. Um plano que elimina o direito ao trabalho, e que reduz os pobres
à miséria extrema, tudo isto fazendo desaparecer do cenário as classes médias”.
[12] Malena
Costa
Sjögren,
1,76 m ,
89-67-92, sapato 41, olhos castanhos, nascida a 31 de agosto de 1989, em
Alcudia, Maiorca: “Miranda Kerr, Rosie Huntington y Blake Lively son mis iconos
de estilo”. Ela pertenceu a um dos grupos mais importantes da humanidade,
porque, esvaziando-os, estimula o rendimento: as namoradas de desportistas. É ex-namorada de Carles
Puyol, que a rifou por Giselle
Lacouture, e ela ficou desolada:
“pensei que Carles quisesse ficar sozinho”. É fã do conforto e das marcas low cost: “me encanta la moda, pero
también me gusta ir cómoda. No soy de las de sufrir por llevar el zapato más bonito”. {Blogue}.
[13] Os vates escreveram-lhe versos.
Mollie Wells, residente no Ohio, do grupo post-industrial
Funerals: descrito como “oceanos cinzentos e a terrível espera pelo sol”,
dedicou-lhe um projeto paralelo post-punk
e darkwave homónimo Petra Schelm
► “Buried Deep”. Cabeleireira,
nascida numa família operária de Berlim, militou na Außerparlamentarische
Opposition, onde conheceu Ulrike Meinhof e Horst Mahler, juntou-se, com o
namorado, Manfred Grashof, à Facção do Exército
Vermelho (RAF): fundado em 1970 por Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrike,
Mahler… nesse ano, ela viajou para a Jordânia, com alguns companheiros para
treino em guerra de guerrilha urbana, com a Organização de Libertação da
Palestina. O seu nome de guerra era Prinz. Procurada desde a primavera de 1970,
foi abatida aos 20 anos pela polícia de Hamburgo. No dia 15 de julho de 1971,
num carro com Werner Hoppe, esbarram num controlo da polícia. Hoppe consegue
fugir, mas Petra
Schelm é abatida com uma rajada de metralhadora. Uma bala penetra abaixo do
seu olho esquerdo. A polícia alega que disparou porque Petra abriu fogo com uma
9 mm . Em maio
de 1972 o Comando
Petra Schelm explode uma bomba no quartel-general do 5th Army Corps.
Andreas
Baader, condenado a 3 anos por fogo posto, obteve autorização para escrever
um livro sobre “organizar os jovens à margem da sociedade”, numa ida à
biblioteca do Instituto de Pesquisas Sociais, é libertado por quatro membros da
RAF.
Inicia-se uma luta pela destruição do Estado e o modo de produção capitalista. Emile
Marenssin: “o objetivo estratégico não será mais a conquista do poder do Estado,
enquanto estrutura mediadora entre a separação e a totalidade, mas a sua
destruição. O objetivo estratégico, visado pela classe média-proletária, é a
destruição da separação e portanto, imediatamente, a destruição das relações de
produção”, em “Da pré-história à história”. Uma luta armada: Ulrike Meinhof, (crê-se
escrito por ela), no jornal anarquista 883: “as balas atiradas sobre Rudi
(Dutschke) puseram fim ao sonho da não-violência. Quem não se arma morre.
Quem não morre é enterrado vivo: nas prisões, as casas de reeducação, nos buracos
(das cidades satélites), nas sinistras pedras dos novos imóveis, nos jardins-de-infância
e escolas sobrepovoadas, nas cozinhas perfeitamente organizadas, nos
inumeráveis palácios quartos de dormir”.
Textos
teóricos da RAF: “Sobre a concepção da guerrilha urbana”: “a guerrilha urbana tem por objetivo de tocar o aparelho de
Estado em pontos precisos, de os pôr fora de uso, de destruir o mito da
omnipresença e da invulnerabilidade do sistema. A guerrilha urbana supõe a
organização de um aparelho clandestino: alojamentos, armas, munições, carros,
papéis. É preciso ter presente o que Marighella descreve no seu ‘Mini manual de
guerrilha urbana’; o que nós sabemos a mais, por pouco que seja, estamos
prontos a dizê-lo a quem quiser pô-lo em prática”.
“Sobre
a luta armada na Europa ocidental”, julga-se escrito por Horst Mahler: “uma dúzia de combatentes que se empenham
verdadeiramente, e não discutem sem fim, podem fundamentalmente mudar a cena
política e desencadear uma avalanche. Na primeira fase, a tarefa consiste, por
ações apropriadas, demonstrar que é possível formar grupos armados e enfrentar
o aparelho do Estado, e que ataques surpresa podem ser um meio de fazer valer
com sucesso os interesses legítimos face a um sistema repressivo”.
cinema:
“The Darkest Hour” (2011), produção russo-americana: “em Moscovo,
cinco jovens lideram o ataque contra uma raça alienígena que atacou a Terra
através da eletricidade”, c/ Emile
Hirsch, Olivia
Thirlby: 1,63 m ,
76-58-83,
Rachael
Taylor: 1,73 m ,
76-66-86,
Veronika Ozerova,
Anna Roudakova: 1,83 m… aviso
legal: “todas as personagens que aparecem nesta obra são fictícias. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência”. A raça que
ataca Portugal através da eletricidade não é alienígena, é de trazer por casa. António
Mexia, presidente executivo da EDP, mais um ano, mais uma justificação de cevados
lucros, contrários ao lânguido mercado interno: “efetivamente temos um ano de
lucro recorde, mas porquê? porque todos os anos também temos vindo a investir,
portanto é normal que consigamos esse esse objetivo. Mas que essa subida dos
resultados se deve a um crescimento de 11% dos resultados operacionais fora e a
uma descida em
Portugal. Esta é a questão essencial.
Resultam da capacidade de internacionalização da companhia. Mas são
efetivamente os melhores resultados, ou seja, subimos em relação ao ano anterior,
que tinham sido os melhores resultados da companhia”. (1
079 milhões de euros em 2010 / 1
125 milhões em 2011).
A
pitança abonada pela eletricidade saliva empreendedores e políticos – Paulo
Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, treteia no Parlamento, a pirueta
de 6% para 23% no IVA desse bem de consumo: “com este incremento, Portugal
segue a tendência da esmagadora maioria dos Estados membros da União
Europeia, que já tributam a eletricidade e o gás natural à taxa normal de
IVA. Relevo aliás, sendo o IVA um imposto harmonizado ao nível da União
Europeia, a eletricidade e o gás natural não se incluem, sequer, na categoria
de bens e serviços, constantes do anexo III da Diretiva do IVA, a que são
aplicados as taxas reduzidas”. Não somos nós, são os europeus! No parágrafo
seguinte da taxa do
IVA não relevou sequer o dependente de ministro: “os Estados-Membros podem
igualmente, após consulta do Comité do IVA, aplicar uma das taxas reduzidas aos
fornecimentos de gás natural, de electricidade e de aquecimento urbano”. A
tarifa da eletricidade é cherinola de que o povo não escapa, glândula mamária de
políticos cobradores de impostos, paveia engorda investidores. No total, um
ninho de ratazanas que um estudo de avaliação dos custos da universidade de
Cambridge, “Rents in the electricity generation sector”, remexeu com um pau
técnico: “o Estado estará a pagar 3.9 mil milhões de euros a grandes produtores
de eletricidade em rendas excessivas”,
logo saltou o ratão António
Mexia: “o estudo tem erros grosseiros, básicos, que o tornam basicamente
inútil, e inutilizável… ao que julgo saber, também não gosto porque não, o
próprio Governo terá considerado a sua não utilização por causa daquilo que são
as conclusões claras, os erros crassos, deste estudo”.
Crebro
gracejo se ouve de “repartição de sacrifícios”, e até o Governo declara estado
de emergência nacional para cortar despesa, e cortou-se nos rendimentos de
funcionários públicos, pensionistas e desempregados quando a tesoura arrombou
nos 2 500 milhões de rendas excessivas pagas pelo consumidor ao setor
energético. Henrique
Gomes, ex-secretário da Energia, embateu em cidadãos com direitos
adquiridos, os operadores do setor energético, não atendeu ao apelo de S.
Paulo, se não fosse casto, fosse cauto, e apagou-se-lhe a luz no Governo.
Doudejou ele numa entrevista: “o Estado tem de impor o interesse público, ao
excessivo poder da EDP” e que, na questão das rendas, o Estado deveria
atropelar os invioláveis direitos adquiridos, impondo “uma decisão
unilateral e soberana”. “Seria revolucionário, mas não legítimo de um Estado de
direito”, disse em tempos Carlos
Zorrinho, um socialista. Num Estado de direito Henrique Gomes seria
internado, num Estado entortado demitiu-se, pelas razões amoedadas por Carlos Moedas,
secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro: “confirmo essa demissão
por razões pessoais e familiares do sr. secretário de Estado, mas sabe, um
Governo funciona como uma equipa. O trabalho que o secretário de Estado da
Energia começou e que tem a ver com as medidas que estavam no memorando da troika,
porque aquilo que nós temos p’a fazer na área da energia já estava nesse memorando
da troika e portanto nada muda … nada muda”.
A
troika tropeçou no chorume do Estado, as rendas excessivas, e ordenou-lhe o fim
no memorando: “sobrecustos
associados à produção de eletricidade em regime ordinário: 5.6. tomar
medidas de modo a limitar os sobrecustos associados à produção de eletricidade
em regime ordinário, nomeadamente através da renegociação ou de revisão em
baixa dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC) paga a
produtores do regime ordinário e os restantes contratos de aquisição de energia
a longo prazo (CAE)”. O preço da eletricidade em Portugal não decorre da
produção, de operadores a competirem no mercado livre, mas de políticas
energéticas dos estadistas. Os governantes têm eleições a ganhar e, depois de
darem o melhor de si à causa pública, desandam para as empresas privadas, e as
do setor energético desembolsam balúrdios pelo marketing de um ex-ministro nos seus sofás, então, enquanto estão
ativos, optam para um saco multicolorido chamado custos
de interesse económico geral. Bela antonímia, o interesse é de um grupo
restrito, aquele que se amaquia da maior parcela, do sobrecusto (a diferença
entre o que custa comprar no mercado e aquilo que é pago aos produtores através
de bombons como CMEC e CAE); nesse saco há outros custos como a taxa para que o
preço na Madeira e Açores seja igual ao do continente, a portagem paga aos
municípios pelo uso do solo e ar, e mais outras 14 bicadas na fatura da luz,
que somariam 2.5 mil milhões.
Na
fatura da luz, 58,6% são para CMEC, CAE e outras rendas, 31% para a
eletricidade, e o resto distribui-se pelos impostos e outros encargos. Uma
conta de 60 €, se cessassem os subsídios aos produtores, baixaria
automaticamente para 24,84 €, e se concorressem no mercado livre, como em
Portugal há excesso de oferta de eletricidade, pela lei da oferta e da procura,
o preço desta decairia. Desde 1994, os governantes, para protegerem o dinheiro
dos investidores, têm-nos mimado com lucro garantido nos contratos de aquisição
de energia (CAE). Nesses tranquilos anos 90, um produtor tinha rentabilidade
assegurada de 8,5% acima da inflação durante 15 anos, no mínimo, que iria para
a fatura da luz, se os Governos não lhes pedissem por favor que adiassem a
cobrança, por causa do impacto sobre os eleitores, e assim se foi construindo
um monstro chamado défice tarifário: em 1999 era de 200 milhões, atualmente são
2.4 mil milhões, sempre a subir, com juros que rondarão os 300 ou 400 €. A
responsabilidade deste pulo nos euros devidos à EDP & friends é a política energética da romaria que escabulhou os fados
do país desde o palácio de S. Bento.
A
opção das energias renováveis foi a grande catástrofe. Os políticos tinham algo
para “obra feita”, algo que caía no goto dos eleitores: a salvação do planeta,
e para canalizarem investimento, da alcatra alta da sociedade, que não é tola
para correr riscos com o seu dinheiro, garantiu os lucros a todo o bicho careta
que montasse um parque eólico no cimo de uma fraga. José Sócrates visionou-lhe
a meta dos 5 500 megawatts / hora de capacidade eólica, como o país consome
quase isso e os outros produtores, das centrais elétricas clássicas, carvão ou
gás, ou da cogeração etc. também têm os lucros protegidos por contratos mesmo
que não produzam, a solução, para não aumentar a conta da luz nas percentagens
noticiadas, é atirar para o défice tarifário. No horizonte do mercado ibérico de
eletricidade (MIBEL), os operadores do setor energético protegem os seus lucros
numa troca de CAE por CMEC, e a garantida rentabilidade original de 8,5% acima
da inflação amplia-se para 15%. Quando o mercado abriu em 2007 o Governo de
José Sócrates recebeu o manguito quando sugeriu aos produtores que vendessem e
competissem nesse mercado. Só um pateta trocaria 15% certos pela incerteza do
mercado. E o valor do défice tarifário soma e segue para o impossível de pagar.
A
troika assustou-se com o berro que o défice tarifário dará e obrigou o Governo
a travá-lo até 2013 e a extingui-lo até 2020. Só há duas formas de travar esse
défice: cortar nas rendas pagas aos operadores ou aumentar desvairadamente os
preços da eletricidade aos consumidores, extingui-lo é outra conversa,
requererá mais impostos. Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia: “quando
nós chegámos ao Governo estava projetada uma subida da eletricidade, 30% para os consumidores e de 55% para as empresas. Nós temos estado a
trabalhar com muito empenho para que tal não aconteça, não vai acontecer”. O
aumento foi “somente” de 4%.
Que milagre foi este? fanfarrear de ministro derrota o poder económico? O povo fantasia
egrégios heróis, dirigentes atomatados, que agarram os cabrões da EDP pelos
postes de alta tensão e os obriga a não roubar. Uma quimera de povo com
História. Depois do cálculo do aumento anual da eletricidade publicado pela
ERSE, os dirigentes vão respeitosamente negociar. O respeitinho é muito bonito
pois no futuro provavelmente estarão nos quadros da empresa, então dialogam: não
aumentem tanto, pensem nas famílias, que tal 2%? O quê? vocês andam na coca
marada? nem pensar! ficaríamos com problemas de tesouraria e os acionistas sem
dividendos. Palavra puxa palavra, umas garrafas de água depois e lá concordam
nos 4%. E os 26% que restaram? vão para a folha de couve? o cubo de gelo? as
areias de Alcácer-Quibir? Vão para mais perto. Vão para o défice tarifário. Nem
o novo
imposto arcabuzará este pato.
“O
crescimento global dos preços de electricidade de 2012 para 2013 não será
inferior a 11%”.
Que não, balbucia o Governo, que os aumentos serão de 1% ou 2%, ou seja, irão mais
10% ou 9% para o crédito que os consumidores têm na EDP & friends, mais uns 850 milhões. E, numa
avaliação lúcida, porque não querem cá voltar, dentro de uns anos, com outro
empréstimo, para o Estado português pagar à EDP & friends, a troika ordenou que o Governo termine com esta
brincadeira cara aos consumidores. E, quem está familiarizado com a jogatina
nesta tavolagem, facilmente antevê as renegociações das rendas excessivas. Ao
fim de extenuantes sessões de trabalho: ok, aceitamos descer dos 15% para 7,5%.
Vitória! Vitória do Governo! Escondido nas entrelinhas estará que a renda, em vez
de se estender pelos 15 anos, estender-se-á por 30, ou que o Estado ficou mais
pobre noutro lado qualquer. O mistério adensa-se: quem pagará o défice tarifário?
Ninguém acredita que sejam os consumidores.
música:
Sons de
Londres – “no
passado, a música era algo que se escutava e se sentia – era tanto um evento
social como puramente musical. Antes de a tecnologia de gravação existir, não
se podia separar a música do seu contexto social. Canções épicas e baladas,
trovadores, entretenimentos da corte, música de igreja, cânticos xamanísticos, cantorias
nos bares, música cerimonial, música militar, música de dança – estava praticamente
tudo ligado a funções sociais específicas. Era comunitária e frequentemente
utilitária. Não se podia levar para casa, copiá-la, vendê-la como uma
mercadoria (exceto como partitura mas isso não é música). A música era uma
experiência intimamente intricada com a sua vida. Você podia pagar para ouvir
música, mas depois de o fazer, acabou-se, foi-se – uma memória. (…). A
tecnologia alterou tudo isso no século XX. A música – ou o seu artefacto
gravado, pelo menos – converteu-se num produto, uma coisa que podia ser
comprada, vendida, comerciada e reproduzida infinitamente em qualquer contexto.
Isto inverteria a economia da música, mas os nossos instintos humanos
permaneceram intactos”, David
Byrne.
Uma
mercadoria tão grande como a vida renderá lucros maiores que a própria.
Empresas piratearão a fraqueza humana pelos sons muito para além do limite da
extorsão. Cegos pela cupidez os seus gestores, ultrapassados pela economia e
tecnologia, no século XXI, assanham-se contra o consumidor, estripando-o de
qualquer direito, exceto abandejar-lhes dinheiro ad aeternum. Para o Universal Music Group
“a questão aqui é quem possui os CDs. A Universal argumenta vigorosamente que
nunca transferiu a propriedade quando os distribui e que os discos são apenas
‘licenciados’ àqueles que os recebem. Cada disco inclui texto que deixa claro
que ‘este CD é propriedade da gravadora e é licenciado ao pretendido
destinatário apenas para uso pessoal’”. As editoras fonográficas acovilham-se nos
inimigos imaginários: “eles são o bicho-papão
das companhias discográficas: o jovem de 15 anos, no seu quarto, a roubar o
mais recente álbum de uma vedeta e partilhando-o com os seus amigos tem sido
acusado por trazer uma indústria de joelhos” – para encobrirem a sua negação de
que a “pirataria
é um problema de serviço”, que a venda de música a preços razoáveis reduziria,
e o aspeto lucrativo da partilha de ficheiros: “quando os Plushgun lançaram o
seu álbum ‘Pins andPanzers’, foi o álbum mais descarregado no popular site peer-to-peer What.cd,
com mais de 10 000 músicas descarregadas ilegalmente. ‘É apenas uma questão de
se adaptar’, disse Dan Ingala. ‘Ao mesmo tempo, está a ajudar-nos a criar um público’”.
A
dança histérica dos números, pelos líderes do mercado das cançonetas, os EUA
e o Reino Unido, embarra a
atenção com um absurdo comercial: baixam as vendas, acrescem os lucros, enfardelando,
pela porta do cavalo dos relatórios de contas, os novos filões do negócio como as
bandas sonoras de filmes ou videojogos. (No Portugal, país subdesenvolvido, de
subdesenvolvidos gestores, capazórios de vender apenas fado, o bitoven luso Tózé
Brito quer sanções, quando a produção musical é lixo e os mercados não
mentem: “venda da música em Portugal caiu 40% no 1º semestre de 2011” ). Com o puro roubo aos
consumidores, compensam, as editoras, a pura incompetência e gestão danosa: “Kevin Cogill
foi preso no verão de 2008 sob ameaça de arma e acusado de fazer upload de nove faixas do álbum Chinese
Democracy no seu site de música –
antiquiet.com. O álbum, que custou milhões e demorou 17 anos a ser concluído,
foi lançado dia 23 de Novembro de 2008 e alcançou o número 3 nos tops”: custo superior a 13
milhões de dólares, 928,571 cada faixa. A sentença
não foi muito cruel, dois meses de prisão domiciliária, pior seria se fosse coagido
a ouvir, sem ver, a ass music americana,
o valor acrescentado por um bom rabo, como Ciara – Jean-Luc Godard:
“primeiro houve a civilização grega. Em seguida, houve o Renascimento. Agora
estamos a entrar na Era do Rabo”.
Os
amauróticos políticos europeus satisfazem ordens dos seus donos, a indústria
americana, e marralham. “David
Lammy, ex-ministro
trabalhista para a propriedade intelectual, disse: ‘o download ilegal rouba a nossa economia de milhões de libras a cada
ano, seriamente prejudicando comércio e inovação em todo o Reino Unido. É algo
que precisa de combate e estamos empenhados em fazer isso”. Papagueio malsão de
uma indústria de embustice:
“você está a matar as nossas indústrias criativas. Descarregar custa biliões,
disse o Sun. ‘Mais de sete milhões de britânicos usam sites de download ilegal
que custam à economia biliões de libras, assessores do Governo dizem hoje.
Investigadores descobriram mais de um milhão de pessoas a usar um site de download num dia e calcularam que num ano eles usariam material num
valor de 120 mil milhões de libras”. Se esse material fosse iPodável, com
qualidade bastante para ser conservado num leitor digital, estes números seriam
“reais” e catastróficos, e não uma trapaça. O acesso ao ficheiro protegeu o
consumidor de espatifar o seu dinheiro num engodo qualquer da indústria, que
aforçura o vómito à segunda audição, e o fim de maior parte desse material é delete – salvo os Orlando Riva Sound, eurodisco alemão.
A
limitada inteligência cibernética dos políticos europeus – Stephen
Timms, num e-mail: “proprietários de copyright têm atualmente capacidade de
ir on-line, procurar por material de
que possuem o copyright e identificar
fontes não autorizadas para esse material. Eles podem então procurar
descarregar uma cópia desse material e, fazendo isso, capturar informação
acerca da fonte, incluindo o endereço Intellectual Property (IP)” – conluiou-os
num ataque aos cidadãos. Como não são eleitos, nem lhes delegaram poderes,
amaltam-se com quem lhes paga férias, iates, carros, e negociaram secretamente,
conspiratoriamente, e assinaram a 22 janeiro as imposições de Hollywood, no ACTA (Anti-Counterfeiting
Trade Agreement): a disseminação da figura do polícia no tráfego da Internet. Helena
Drnovšek-Zorko, ministra dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, trasteja: “não
relacionei o acordo que me mandaram assinar e o acordo que, na minha opinião de
cidadã, limita e suspende a liberdade de uso da maior e mais importante rede da
história humana, e que vai limitar o futuro dos nossos filhos”. E Martin
Schulz, presidente do Parlamento Europeu, borrifa: “tal como está, não me
parece que seja positivo”. – A joldra política europeia amoderna o controlo
social, afuroar com a polícia normal é dispendioso, e na política de austeridade,
insuficiente, então trina o chamamento de cada um polícia dos outros, e o povo
sem pão nem circo… “Ooh, YesI Do”, (“a melhor exportação da Holanda”, as Luv’) / “TrojanHorse”: a Inspeção-geral de Atividades Culturais (IGAC) e a treda
Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) assinaram um acordo em 2010 para o
espalhamento de honeypots,
dissimulados de ficheiros de música, para caçar piratas.
Um
negócio de biliões de euros, espeleólogos da alma humana sofraldam-lhe razões: Nietzsche
(1871): “o simbolismo cósmico da música resiste a qualquer tratamento adequado
através da palavra, seja pela simples razão de que a música, referindo-se à
contradição e ao sofrimento primordiais, simboliza uma esfera que ao mesmo
tempo é anterior à aparência e se situa além dela”. Claude Lévi-Strauss (1964):
“pensar mitologicamente é pensar musicalmente. De todas as linguagens, só a
música une os atributos contrários de ser e ao mesmo tempo inteligível e
intraduzível”. Jimi Hendrix (1969): “a música em si é uma coisa espiritual. Não
se pode cortar uma fatia de uma onda perfeita do mar e levá-la para casa. A
música está em movimento o tempo todo. É a maior coisa eletrificando a Terra”. Os
preços desmedidos das editoras discográficas, lucros absurdos, mais as
perseguições judiciais, outros lucros fáceis e milionários, acossa o consumidor
a ouvir as pedras da calçada… ou o silêncio de uma “DeadFall” (metal
feminino de São Paulo, HellArise).
Dizia
Dizzy Gillespie: “não me importo muito com a música. O que eu gosto é de sons”,
e os sons das ruas são um excelente produto de marca branca ao preço /
qualidade das edições musicais atuais; – em Londres: “Day
Sound Map”.
Nas
ruas tocaram os Destroy All
Monsters, grupo de Detroit, (1973-1985), descrevem a sua música como antirock. “Influenciados por Sun Ra,
Velvet Underground, a editora
ESP-Disk, filmes de monstros, a cultura beat
e o futurismo. (…). No fim de ano de 1973, o primeiro concerto dos Destroy All
Monsters realizou-se numa convenção de BD em Ann Arbor , Michigan. Na
época, os instrumentos eram um violino, um saxofone, um aspirador e uma lata de
café. Tocaram uma versão demente de ‘Iron Man’ dos Black Sabbath e foram
convidados a sair após dez minutos. O grupo apresentava-se guerrilla style,
construindo-se de borla em festas e tocando por comida ao longo das
fraternidades de estudantes de Ann Arbor. Eles usavam instrumentos modificados,
uma drum box, loops gravados,
brinquedos eletrificados, teclados baratos e dispositivos eletrónicos partidos”
→ “Paranoid
of Blondes” ♫ “Nov
22nd” ♫ “Party Girl”.
– No grupo expandiam-se dois artistas: Mike Kelley (27 de outubro 27,
1954 / 31 de janeiro, 2012) e Niagara
(Lynn Rovner): a “rainha
da pop art de Detroit”, “com um estilo que parece girar em torno do arquétipo
da femme
fatale”; ela sobre o barbudo género: “homens a sério gostam de punk. É engraçado como o termo
sobreviveu. É uma versão hard-core,
áspera, esfarrapada do rock and roll de
músicos incultos”;
também pertenceu aos Dark
Carnival; e, numa homenagem aos Gun Club, cantou com os Demolition
Doll Rods: banda c/ a pouco vestida Margaret
Doll Rod,
voz, guitarra, composição; Danny Doll Rod, voz, harmonias; Christine Doll Rod,
também conhecida como The Thump / Thumper / Thumpurr, bateria, substituída em
2006 por Tia “Baby T” Doll Rod → ao vivo
♫ “Spoonful”.
Dentro
portas há sons substitutos da música. Nattefrost, músico do verdadeiro, primitivo,
de vistas curtas, black metal, o anticristo norueguês, vocalista
dos Carpathian Forest, Bloodline e World Destroyer, grava as suas inspirações fisiológicas: “Nattefrost Takes a Piss”, 9ª faixa do CD “Blood and Vomit” (2004); e “Eine Kleine Arschmuzick”, 6ª faixa de “‘Terrorist’ (Nekronaut PT1)” (2005).
Ou então um anónimo
no freesound:
uma enorme coleção de sons quotidianos – rouxinol ♠ socos e estaladas
♠ ribeiro
♠ granada ♠
ressonar ♠
grito ♠
fogo
florestal ♠ folhear
jornal ♠ grito
Wilhelm.
Em
Lisboa, os sons das ruas são metálicos, uma atração turística destacada nos
roteiros high class: “a
day in the life of a photojournalist in Lisbon”. No dia 22 de março, uma
viciosa, insana, raivosa, cruenta carga da Polícia de Choque à imota, ordeira,
inofensiva, cordata esplanada da Brasileira. Cadeiras fracturaram-se, mesas
sangraram, guarda-sóis equimosaram-se. Da pátina de sua cadeira Fernando
Pessoa: “a doida partiu todos os candelabros glabros”. Do verdete de seu
cadeirão Cavaco Silva: “lamento profundamente que dois fotojornalistas tenham
sido atingidos durante os distúrbios que as forças de segurança portuguesas
tiveram que fazer face. E como é do conhecimento público, as entidades
competentes já determinaram a realização dum inquérito para que tudo seja
clarificado, e penso que é importante que todos saibamos, que o povo português
saiba bem tudo aquilo que aconteceu nos distúrbios que ocorreram no Chiado”; o poeta
António Ribeiro “O Chiado”, em “Auto da natural
invenção”, respondera-lhe no século XVI: “Tu vilão, todo és mistérios, /
tenho logo quem tem tudo, / quem manda grudo (contração popular de graúdo) e
miúdo, / os mares e os impérios, e faz doudo do sisudo!”.
Azorragar
nas ruas com a Polícia de Choque fardada de anteolhos será mais uma despesa, em
gaze e mercurocromo, para as associações de solidariedade com os sem-abrigo,
quentados na calçada portuguesa: “as famílias entregam 37 casas ao Banco por
dia, 6 900 devolvidas em 2011” .
Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, esbambeia preocupações:
“houve arremesso de pedras, arremesso deeeee louça que estava em mesas de
esplanadas, houve agressões a polícias. Hão de compreender que aquilo que
aconteceu ali não aconteceu por que de repente alguém se lembrou de fazer
aquilo que fez da forma como foi apresentado (…) eu não confundo uma situação,
por lamentável que seja, e é! como aquela que ocorreu, com o que aconteceu no
país, com manifestações em todo o lado sem que tenha havido incidentes de maior,
na maior das tranquilidades, com grande civismo”. O ministro aciona o marcador
genético democrático: “a abertura / encerramento de um inquérito”, no hermético
calão técnico causídico: “ficar em águas de bacalhau”. O poeta “O Chiado”,
outra vez: “Irra! Fora! Vá de pulha; / justiça que faz barbulha / fará cajado
da vara”. Alberto João Jardim, no congresso do PSD, convizinho: “graças a Deus
temos forças da disciplina democrática que estão preparadas para defender a
democracia”. Fernando Pessoa, outra vez: “E sente-se chiar a água no facto de
haver coro…”. E, a esplanada da Brasileira, atacada sem provocação, e sem
homem-cadeira (“chairman”), como a Galp: “não sou pacífico, mas não sou
turbulento”, avaliza-se Américo Amorim, na próxima carga policial, apanhará no
toldo e not “Fight” (rock galês,
na Universal Records, The Dirty Youth).
Algo
deveras insólito aconteceu nas ruas de Lisboa. Jessica Benavides
Canepa, ao serviço do Traveler’s Digest, cruzou-se com “cavalheiros altos,
carismáticos e atléticos que poderão causar surpresa com o seu firme
conhecimento não só da sua própria cultura, como da de outras nações”, e
classificou os portugueses no 4º
lugar dos homens mais bonitos do mundo. As explicações empilham: uma pane
aérea e o avião aterrou noutro país; do aeroporto diretamente para a ginjinha emborrachou-lhe
o tablet; ou embrumou-se no país do celícola
Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros: “nós estamos a pensar criar
um visto especial. Um visto de investimento, nos termos do qual, uma pessoa,
estrangeira, que, coloque aqui mais de um milhão de euros, em depósitos, que
faça compras imobiliárias acima de 750 mil euros, ou que crie investimento com
postos de trabalho, pelo menos 30, fazendo isto estavelmente, tenha direito a
um visto muito rápido e competitivo para residir em Portugal. Isto
significa atrair para o nosso país dinheiro, investimento, emprego, criação de
riqueza e ajudar a dinamizar a economia”. Nas ruas do país c’um “visto de
investimento”, como nas passerelles, um gajo aformoseia-se e “MovesLike Jagger”, Maroon 5, no 2011 Victoria’s Fashion Show: modelos: Miranda Kerr, c/ o marido, Orlando Bloom, na plateia a aplaudi-la, Sui He, Constance Jablonski, Caroline Winberg, Lindsay Ellingson, Anne Vyalitsyna, namorada (ex) do vocalista dos Maroon 5, Adam Levine, Liu Wen, Anais Mali, Erin Heatherton, Joan Smalls, Maryna Linchuk e Karlie Kloss - (c/ Christina
Aguilera).