Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quinta-feira, abril 22, 2010

Drogaria Portugal &Lta
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Meia-tigela, tigela cheia ou tigela e meia? “Meia-tigela” – retorquiria o bloguista e primeiro-ministro despedido, Santana Lopes*. Enquanto os dois ansiados submarinos, Tridente e Arpão, não aparcarem no Tejo, por Potamos e as Oceanides das loiras defensados**, a tigela não está cheia. Sobra prá tigela e meia. Portugal nunca entrou em recessão epistemológica, os indígenas sobalçam a tabuada do management encefálico: Deus não pensa como Euclides ou Riemann***: pensa português! Essa de Queiroz: “já estamos em competição, já estamos no Mundial”, acusa líderes de passo em frente, que extravasam a tigela, dirigentes, como fluidos sob pressão, as moléculas colidem com mais frequência, aumentando a temperatura do: empenhamento. Durante a pressão das pressões, o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, suflava: “ninguém se atreve a pressionar-me”. Durante a pressão para salvar a economia, o Candidato a primeiro-ministro, Passos Coelho, reguingava: “a Caixa Geral de Depósitos privatizada seria mais transparente”. Despressurizado, a maior figura da cultura nacional, a proa e o bico, José Castelo Branco, trinfou: “era um drama quando partia um unha”.
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* Em 2008, num comício de campanha para presidente do PSD, em Monte Gordo, aludindo ao primeiro-ministro José Sócrates: “este socialista ‘de meia-tigela’ – perdoem-me a expressão mas é mesmo assim – tirou as reformas, tirou o emprego, castigou os mais fracos e anda todo contente e ainda se ri quando eu lhe digo que há pessoas com fome no País, como aconteceu esta semana na Assembleia da República”.
** Do inquérito científico: quantas loiras são necessárias para afundar um submarino? Duas!... uma bate à porta e a outra abre.
*** Aldous Huxley: “aprendemos que nada é simples e racional, excepto o que nós próprios inventámos; que Deus não pensa como Euclides nem como Riemann”, em “Views of Holland”.
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Líderes habemus! Encher a tigela é outra conversa. Propaga-se um corriqueiro desabafo: “fim de mês. Recebi apenas de ordenado 60 escudos. O patrão parece que está a chuchar comigo” – não é um operador de call center ou uma colaboradora de store, no break para coffee e tobacco, mas o adolescente David Mourão-Ferreira, acrimónias da luta de classes desafogando nas suas “Memórias de um Mau Estudante”. O vindouro poeta, insigne por fazer um Picasso a Penélope e a outras icárias e descasadas Marias*, aos 12 anos, numa Agenda Para Algibeira, 1939, da Livraria Barata rabiscava: “vou começar este diário ao menos enquanto estou a escrever nele não me ocupo dos estudos (…) o pai ainda tem esperanças em eu ser doutor, coitado. Hei-de ser um carroceiro, como o pai diz, mas que importa, ao menos não estudo”. Esta aversão ao banco de escola fermentou: “o pai hoje de manhã zanga-se muito comigo e diz que me vai pôr como caixeiro numa drogaria. Que importa. Assim já tenho mais liberdade. Adeus aborrecidos exercícios de matemática e monótonas traduções de francês”.
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* Pilar Mourão-Ferreira, ex-aluna e segunda mulher: “foi meu professor no primeiro ano e depois fomos viver juntos” – explicou que “ele parecia que tinha, assim, um imã, novas, velhas, isto quando digo velhas é velhas mesmo”. Francisco Simões, escultor, autor dos desenhos nas várias capas de “Um Amor Feliz” (1986): – o alto ponto da cultura lusa da década de 80, com escândalo e homilia de condenação numa missa em Braga: confirma esse magnetismo sexual: “depois de cada aparecimento de David na televisão choviam cartas, algumas delas que traziam fotografias das próprias autoras das cartas em atitudes e em posições deveras insólitas”.
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E, David trocou as traduções pelo trabalho: “fui hoje pela primeira vez à drogaria. O trabalho é puxado mas não faço traduções”, encolhendo ombros ao título de “doutor”. Quebrada a inocência, no costado, ele implora o regresso ao colégio, arrependido: “tenho vergonha das minhas acções passadas, mas espero que não hei-de de ter das futuras. Não rasgo este diário porque ele pode vir a ser exemplo a muitos rapazes”. Certificado liceal na parede, o pai destinava-o ao estudo do Direito, Agostinho da Silva demoveu-o, aconselhando Literatura. Não se doutorou: doutoraram-no, por obra feita, tal como ao padre Manuel Antunes: e viveu uma vida de esteta, não como Crowley, porque não enroscava o frasco*; aclarou Urbano Tavares Rodrigues: “tinha um fascínio pela homossexualidade feminina, de facto, o que eu me lembro dele dizer da homossexualidade masculina, é que eles estavam a perder o melhor da vida”.
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* Aleister Crowley: “depois de ter pensado numa carreira diplomática, preferiu uma vida de esteta abastado” com “quatro centros de interesse: viagens, alpinismo, literatura e ocultismo. A eles juntou uma vida amorosa intensa, com parceiros femininos e masculinos, apesar do seu casamento com Rose Kelly, em 1903”, Prefácio, em “O Livro da Lei”.
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No volume do conteúdo das tigelas, o prebendado businessman Belmiro de Azevedo, como builder de work, tem compras no cartório e filosofia empresarial bebível. Afirmou ele: “o país precisa é que de facto se crie riqueza, sejamos competitivos, gastarmos o dinheiro bem gasto, empregos razoáveis, baratos, para empregar mais, se não, qualquer dia temos problemas complicados de natureza social e um país não se governa sem coesão social”. Parece que está a chuchar connosco mas não. Na crista da crise financeira (americana), os políticos tiveram os seus 30 cm de fama*, saltaram debaixo das secretárias: “olhem pra nós! Quem prescrevia menos Estado enganou-se! Somos imprescindíveis. Vamos salvar os países da bancarrota remendando a Banca rota, com a massa dos contribuintes”. O breve sonho morreu no sobressalto da realidade. Cavaco Silva, Presidente da República e economista de escola, expõe em termos técnicos: “eu sei muito bem que às vezes os mercados, que os especuladores, filam num país e atacam-no fortemente para, por essa via, conseguir lucros extraordinários”. Depois da falência do Comunismo**, não há “o beijo das filhas do proletário”, nem opção de outro regime que não Capitalismo, e neste os beijos dos mercados controlam os Estados: o cidadão está condenado ao “azevedismo”, “empregos razoáveis, baratos”; tal como os “infinitos localizados”, os electrões ou os buracos negros, os vencimentos elevados são uma “singularidade”, noticiada pelo Diário de Notícias: “António Mexia foi mais bem pago que Steve Jobs”.
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* No tempo, não no espaço. Isto é, não significa que se lhes acometeu por detrás um homem valido – (na corte de Nicolau II rumorejava-se que os 30 cm do pénis de Rasputine seriam a causa suficiente da influência do “monge louco” sobre o czar e a czarina). Neste caso, trinta centímetros é a distância percorrida pela luz num nanossegundo. Andy Warhol enganou-se na duração da fama distribuída por cada um: 15 minutos são uma eternidade, todos se contentam com a milésima parte da milésima parte do segundo.
** Milhares de livros escoaram as causas do fim do Comunismo: estrangulamento da iniciativa privada, o travão da burocracia, a falta de liberdade de expressão, ditadura violenta, a guerra de Osama bin Laden no Afeganistão contra os russos e até Ronald Reagan. A causa é muito mais simples. O Comunismo é regime para anjos e não para humanos, compromete os cidadãos numa existência solidária, altruísta, honesta: o governante não conspiraria contra os eleitores, o gestor não inventaria esquemas de lucro fácil, o banqueiro não desviaria o dinheiro para o offshore, o trabalhador não mandriaria, o padre não pecaria… … o vizinho cederia o ramo de salsa à vizinha.
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Uma drogaria ilimitada, trabalhar por meia tigela de arroz, propõem os empresários. Os políticos retraem-se para a sua função natural: cobrar impostos, que sem um plano, sem uma ideia que seja, para aplicar esse dinheiro, não vale a pena. Na última vez de dinheiro a sério no território, no século XVIII, quando as naus descarregavam o ouro do Brasil, os dirigentes tinham um objectivo visionário: construir igrejas e paços de morgadetes; as primeiras, para no século XXI, os seus descendentes rezarem pela equipa de futebol; os segundos, para as Câmaras Municipais terem sedes apalaçadas. Com elites tigela e meia, Portugal é mesmo “o país que se segue”, talvez não fosse má ideia escrever testamento …
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… Quando a economia da Islândia morreu, o seu último desejo foi que as suas cinzas fossem espalhadas por toda a Europa.
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[Hypermusic Prologue, A Projective Opera in Seven Planes” – : libreto de Lisa Randall; música de Hèctor Parra; cenografia do artista plástico Matthew Ritchie. Uma ópera originada da maluquice, por este género musical, da física teórica americana Lisa Randall – autora do best-sellerWarped Passages” – e do fascínio do compositor espanhol Hèctor Parra pela Física Quântica: que, depois de ler o livro, cruzou-se com Randall em Berlim e pediu-lhe para escrever um libreto. Nos novos modelos cosmológicos, os belicosos e caprichosos deuses criadores do Universo substituem-se por partículas, pontos, linhas, curvaturas, ilimitado, finito e infinito: instrumentos teóricos construtores de paisagens estrambóticas, inóspitas, sobretudo, invisíveis, contudo, habitadas por humanos. Não humanos que alugam gueixas, fintam cornadas de touros ou “Uma Vaca Flatterzunge”, mas criaturas que experienciam hiperespaço. Estrutura dimensional*, irrealizável nos cenários de papelão da “Aida” ou “Nabuco”; na “Hypermusic Prologue”, duas personagens movimentam paixões entre projecções de vídeo: o barítono James Bobby interpreta o newtoniano, inserido em imagens industriais, representando o universo tetra-dimensional, enquanto que a soprano, Charlotte Ellett, partidária da física subatómica, é muitas vezes rodeada por projecções de formas cristalinas coloridas, insinuando a realidade expandida de uma quinta dimensão.
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* Na Teoria das Cordas deduziram-se modelos matemáticos de onze dimensões; as três dimensões, percepcionadas pelos órgãos dos sentidos – comprimento, largura, altura –, são apenas um aspecto da realidade. Lisa Randall teoriza sobre esta hipótese que pretende solucionar a contradição entre a Mecânica Quântica e a Teoria da Relatividade Geral, e é considerada um passo na Teoria do Tudo: a científica ambição de unificar a matéria e as forças conhecidas – gravidade, electromagnetismo, interacções fortes e fracas – num único sistema teórico matemático, que explicasse todos os fenómenos físicos: deduzidos de um único princípio].
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[Wanda Jackson – nascida dia 20 de Outubro de 1937 e ainda a espernear. O músico country Hank Thompson tropeçou nela quando, estudante de liceu (Capitol Hill High School), cantava na estação de rádio KLPR, da cidade de Oklahoma, em 1954, e convidou-a para uma sessão com a sua banda, his Brazos Valley Boys. Dessa cantoria, o dueto com Billy Gray, “You Can't Have My Love”, subiu ao 8º lugar do top country: apesar da caixa registadora tilintar, a editora de Thompson, a Capitol Records, recusa-lhe um contrato, “dolarizada” no empresarial argumento do produtor Ken Nelson: “gajas não vendem discos”. Wanda assina pela Decca Records vendendo o suficiente para ser entronizada “rainha do rockabilly”. Percorria ela a via country; em 1956, numa tournée com Elvis Presley, o futuro líder da máfia de Memphis, convence-a a mudar para um estilo musical que “ainda não tinha nome”, o rock ‘n’ roll: – (“Hard Headed Woman” ■ “Rock Your Baby” ■ “Funnel of Love” ■ “Fujiyama Mama”). Cristã-renascida desde a década de 70, fã de gospel, enjeita qualquer contradição entre Jesus e a rebeldia das letras do rock primordial. Quando este género musical desfalece ela regressa ao country. No ano passado Jack White (White Stripes) produziu-lhe um disco: – “You Know I'm No Good”, das 8:45 pm, bêbeda que nem um prado inglês, Amy Winehouse ■ “Shakin’ All Over”, da banda rock inglesa dos anos 60 Johnny Kidd & the Pirates.
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Na corte do rockabilly, bravos cavaleiros de brilhante armadura, desembainharam espadas, apeando sua gesta aos pés de donzelas: – o arauto saxofone de Roy Montrell convoca para o torneio ■ Mr. Cat Talk Lew Williams engancha o baile ■ antes conduzido pelo músico de blues, precursor do rock ‘n’ roll, Wynonie Harris ■ o bobo da corte Unknown Hinson ■ os revivalistas The Polecats dos anos 80 ■ os suaves Lone Justice da veludínea Maria McKee ■ todos pugnaram para que o rei, Deus verdadeiro, Lemmy Kilmister (Motörhead), protegesse a castidade das donzelas, sem lágrimas*, com The Head Cat ■ e o catafractário som vitorioso dos punks Dead Boys.
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* E… para não descriminar, também os donzéis. No século IV, recomendava o bispo a Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, solução para pear a depravação do valdevinos amado filho: “continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”. No século XXI reza-se, no tears, por Saint Lu (banda da austríaca Luise Gruber)].

quinta-feira, abril 01, 2010

Viril feminino
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As boas vontades enchiam o Inferno, quando lhe roçaram pelo gorgomilo, o Diabo, cívico, meteu-as no seu ecoponto: a Terra; desde aí, a boa vontade excede o número de hOmens no planeta. Um dos almejos, mais perto do coração dos hOmens, que muitos esfalfou, foi o igualamento: escrevia Gracchus Babeuf* no “Manifesto dos Iguais” (1797): “que entre os homens não exista mais nenhuma diferença do que aquela que lhes é dada pela idade e pelo sexo”. Homem de boa vontade mas má previsão. Não anteviu o século XXI: o século da Verdade: da verdadeira igualdade, que passeou em frente, essas duas residuais dissemelhanças. A idade foi fácil, o creme baba de caracol impede o hOmem de avançar além de os doces 16. O sexo, resistiu engolir a diferença, agasalhado em excessos de rendimento feminino de 84 por 4**, do “biquinado” banho de sol, das belas americanas, das feias italianas… Mas, na época da consciência ebuliente… mulheres de farronca voz – como Rachel Heyzer-Kloosterwaard, ex-vocalista dos Sinister, Angela Gossow dos Arch Enemy ou a síntese das canadianas Kittie – apagam intervalos na vibração vocal, e os homens, ingerindo brometos e nenúfares***, esbatem na figura corporal.
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* A Revolução Francesa, além de meia dúzia de poucas ideias, que impressionaram um quarto no seminário de Tubinga, ocupado por Hegel, Schelling e Hölderlin (cerca de 1788), inventou aquilo que o povo realmente estimou: a guilhotina: acotovelavam-se nas primeiras filas para receber os salpicos de sangue. Babeuf escreveu uma canção: “Morrendo de Fome, Morrendo de Frio”, que fervia a guelra nos botequins, quando a Conspiração dos Iguais falhou, obteve a honra suprema: – dar prazer ao povo: guilhotinaram-no dia 27 de Maio de 1797. Finou a sua última carta: “adeus para sempre! Mergulho no seio de um sonho virtuoso”.
** Número de homens (84), pelo número de horas (4), putativamente despachados pela actriz porno russa, Katja Sambuca.
*** Receita de André Marcueil, herói d’ “O Supermacho”, de Alfred Jarry, para restringir a sua incomum potência sexual ao trivial: “durante cinco anos comeu brometo, bebeu nenúfar, tentou extenuar-se com exercícios físicos”.
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Reposição da verdade será a característica principal, que a nossa época legará aos futuros: verdade desportiva, judicial, governamental, fiscal, policial, paroquial, comercial… A verdade sexual içará amaviosos cálices aos lábios masculinos, drinks de felicidade e não de morte como Harmódio e Aristogíton, os tiranicidas de Atenas, porque haverá também verdade virginal. – Pisístrato, em 546 a.C., instaura uma ditadura em Atenas. Foi um bom tirano*, o seu programa de estabilidade e crescimento enriqueceu a cidade. Depois da sua morte, os filhos Hípias e Hiparco conservam-se no poder, preservando as paternas políticas. A sua aura declina quando Hiparco abusa do poder. Cai de amores por Harmódio, eromenos** de Aristogíton, e, ao levar uma tampa vinga-se de forma cruel. Convoca a irmã mais nova de Harmódio, para a função de canéfora, no Festival Panatenaico, para publicamente a recusar, alegando que ela falharia no teste da tinta azul e vermelha e da moca***. Uma vergonha ilimitada para toda a família, Harmódio, para lavar a honra, e Aristogíton por ciúme, resolvem matar Hiparco e terminar a tirania. O tirano morre apunhalado. Harmódio morreu no local trespassado pelas lanças dos guardas de Hiparco. E Aristogíton mais tarde, torturado por Hípias, que se transforma num tirano cruel.
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* Em grego, tyrannos, significava apenas um soberano que tomou o poder pela força.
** Significa “amado”. Um jovem, companheiro de um adulto (erastēs), não limitado só aos prazeres eróticos. Também participavam juntos na actividade política, social, intelectual e até na guerra.
*** Isto é, não seria virgem, condição obrigatória para o cargo. O teste de virgindade, posterior aos gregos, obedece à seguinte posologia. Certo dia um futuro esposo, desconfiando do estado de conservação da noiva, consultou o médico: – Sr. Doutor, como posso ter a certeza que ela é virgem? O clínico, após auscultar o problema, recomendou: – você compra duas latas de tinta, uma azul e outra vermelha, e uma moca. Pinta um testículo de uma cor e o outro da outra. Na noite de núpcias, quando se apresentar nu perante a sua esposa, se ela exclamar “é a coisa mais estranha que já vi na minha vida”, você dá-lhe com a moca.
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O reino animal acomoda-se na nova virilidade feminina – a síntese do melhor de ambos os sexos: a perfeição da selecção natural*. Roy e Silo, dois pinguins do zoo de Nova Iorque, associaram-se, chocaram um ovo, educaram uma cria e divorciaram-se, ao fim de seis anos de vida em comum. No zoo de S. Francisco, outro casal de pinguins, Harry e Pepper, separaram-se depois de um arranjinho, também de seis anos, com a intromissão de Linda, uma viúva “com um plano”, de não estacionar o carro. Nos animais ou nos humanos, a ocasião faz a opção… sexual. Lindsey Lohan, actriz de lábios renovados, família comível, com pancada pela Marilyn Monroe, enfeitiçou-se por Samantha Ronson. Uma paixão, pobre em rendimento financeiro mas, pela embalagem dentro do biquíni, rica na passagem do corredor a pano: expira em porrada no ano passado. Em Fevereiro de 2010, Lindsey declarava na Inglaterra: “nunca tinha pensado em mulheres antes, aconteceu com Samantha. Foi uma surpresa para mim (…) se não fosse por Samantha, provavelmente estaria com um rapaz. Ela é a única mulher pela qual me senti atraída. Nós amamo-nos. Talvez nos reconciliemos, talvez”.
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* Charles Darwin: “enquanto a selecção natural actua unicamente por e para o bem de cada ser, todo o ambiente corpóreo e mental tende para a perfeição”.
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[Jeliya (singular: jeli; feminino: jelimusow) – casta de músicos / historiadores / oradores / mediadores de disputas / assessores no Império Mande: centrado no Mali, estendendo-se ao longo do rio Níger, fundado, algures no século XIII, pelo mansa (“rei dos reis”) Sundiata Keita: – contratados pelos nobres, transmitem informações genealógicas e acontecimentos históricos da família e os feitos actuais do seu patrono, e exortam-no a uma conduta moral modelar, para não denegrir o bom nome da sua linhagem. Certo dia o imperador Sundiata confiou ao seu jeli, Diakouma Doua, uma missão de espionagem do seu inimigo Soumaoro Kanté, da tribo Soso, na Guiné: durante essa incumbência Doua descobriu um instrumento, o soso bala (ou balafon), fonte de grande poder do feiticeiro de Soumaoro; a sua mestria desse instrumento impressionou Soumaoro que o nomeou “bala fasséké kouyaté” (“mestre da bala”); desde essa época, a sua família é guardiã do soso bala, conservando-se o original, com cerca de 800 anos, na cidade de Niagassola. Se o centro do império era o Mali, cada região especializou-se nos seus próprios instrumentos, diz o jeli Lamine Soumano: “se querem aprender bala vão para a Guiné ou Mali. Se querem aprender kora vão para a Gambia e o Mali. Se querem aprender n’goni só têm de ir para o Mali”. Os jeliya, por serem uma casta de jograis endógena (casam-se entre si), mantêm o mesmo apelido: Kouyaté, Soumano, Kanté, Diabaté…
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Alguns jeliya do Mali: Abdoulaye DiabatéAfel BocoumBaba SissokoCheick Hamala Diabaté ♪ nascido no Mali, e falecido em Abidjan, na Costa do Marfim, produziu sons perto do funk, o saxofonista Moussa Doumbia. Entre as jelimusow: Hawa Dramé perpetuou a cultura musical Bambara (alistada na escala pentatónica*), secundada pela sua filha Assa BagoyogoOumou SangaréKandia Kouyaté ♪ – e, desse capitolino território de avestruzes políticas europeias, o Sahara Ocidental, Mariem Hassan.
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* Comparação com a escala dodecafónica na Toca do Brontops.
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Essoutras jogralices por África: no Zimbabué, na década de 70, Simon Chimbetu e o irmão Naison (e John Chibadura) percorriam os hotéis e clubes nos Sungura Boys*. No calor revolucionário da independência, Karl Marx traduzido em Pequim, em papel bíblia, estropiava mentes impressionáveis, e os irmãos Chimbetu formam banda própria, pró combate ideológico, os Marxist Brothers ► “Ndiyamure Mukoma” ♪ “Samanyika”. Em 1988 a realidade bate à porta: separam-se; em 89 Simon Chimbetu é condenado, por roubo de um carro, a quatro anos de cadeia, enquanto dentro, a mulher abandona-o; de regresso à vida civil recompõe a sua carreira musical com os Dendera Kings, – nome da fazenda, distribuída por Robert Mugabe, durante a subtracção de terras aos colonos brancos, para empretecer a produção agrícola do país; em 2000 não pagava aos trabalhadores; morreu em 2005.
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* Sungura um género musical zimbabueano que mistura rumba, reggae e jit.
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Noutros alegres trópicos dança-se a sério: da música do Benin, o Ocidente, não livre, de caprichos editoriais, elogia e laureia Angélique Kidjo, mas, quem mexe o terreiro é Alekpehanhou, “o rei do zinli renovado” ► “Mi No Ko Di Hèssi” ♪ “Nou Wa Boyi Mè”. – Da África do Sul, o Ocidente, não livrado do Paul Simon, ouviu “isicathamiya* através dos Ladysmith Black Mambazo, no álbum “Graceland” (1986). No lar Jeppe, refúgio de migrantes zulus em Joanesburgo, os residentes organizam concursos de “isicathamiya”, em paralelo com a escolha do mais bem vestido, competição entre os “swankas”, isto é, homens vaidosos dos seus movimentos e da aprumada fatiota, em suma, estilosos.
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* Do verbo zulu “cathama” = “andar felino”, “mover-se suavemente”; estilo de canto a capella harmónico, misto zulu e gospel, sucessor do “mbube”, mais rude na ligação entre as vozes. “Mbube” significa “leão”, e deriva da canção homónima escrita em 1939 por Solomon Linda, popularizada no Ocidente, livre de propriedade intelectual dos subdesenvolvidos, sob o título “The Lion Sleeps Tonight” (a versão vídeo dos Tight Fit termina no happy end: o gorila, expressão marota nos olhos, embrenha-se na selva com a heroína da fita). Solomon morreu dia 8 de Outubro de 1962 na miséria, a lápide para o túmulo, só lha compraram 18 anos depois; e só em 2006 os herdeiros venceram a batalha judicial pelos direitos de autor].
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[Gamelan – (do javanês “gamel” = bater) conjunto de instrumentos, na música do Bali ou Java, apinhoados, segundo a lenda, pelo deus Sang Hyang Guru. Habitando um palácio no monte Mahendra, em Medangkamulan, (actual monte Lawu), para comunicar com os outros deuses inventou o gongo, consoante as mensagens se complicavam, adicionava outros instrumentos, até concluir o teclado do divino mountaintop*vídeos.
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* Mítico antepassado do desktop, do laptop e do Froot].
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[Música do Equador – reparte-se, como bananas, para os mais intelectuais, sob incarnação de Pasillo ou ares tradicionais: “Sombras” ♪ “Guitarra Vieja” ♪ “Vajira de Barro” ♪ “Cumandá”. – Os ainda mais intelectuais, leitores de livros “calhamaçudos”*, sôfregos de peças de teatro e cinema estrelado pelos críticos, descarregam nos seus terminais digitais mulheres carnudas, sereias na orla marítima, de botonas acima do joelho, ou o Grupo Deseo ► “La Otra Mosita” ♪ “El Guararey” ♪ “Morocho Sin Sal”.
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* Muitas letras e chatos empoeirados nas estantes das bibliotecas].
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No Portugal, as récitas, tão compaginadas são, que abrem com as pancadas no Molière. Sobe o pano: quem sintonizar o Canal Parlamento beneficia de um êxito: Jaime Gama, presidente da Assembleia da República, numa estafante linha de produção, como Chaplin no filme “Tempos Modernos” (1936); Gama não aperta parafusos, consume seu dia: “pode concluir Sr. deputado” … “pode concluir Sr. primeiro-ministro”... estafando-se mais do que o Charlot. - Quem lê Filosofia aplaude o nascimento de um filósofo luso em 2009: Reis Ágoas, Comandante da Zona Marítima do Sul, explicou, pés chapinhando no formalismo lógico, a proibição de massagens nas praias: “toda a gente sabe como começa uma massagem mas ninguém sabe como vai acabar”. - Quem aprecia o garfo, deleita-se, que os funcionários do SEF não sejam meros almotacés das arcas frigoríficas e das feiras de ciganos, e ajuntem almotaçar e almoçar: seus capacíssimos abdomens forrados e regados; na Casa da Dízima, Paço d’Arcos, cinco funcionários comeram: 2 pratos de lombinhos de tamboril; 2 pratos de peixe-galo frito c/ açorda; 1 bife à portuguesa; 2 queijos de Estremoz; 3 garrafas Quinta das Panças; 2 águas Vitalis; 3 frutas da época – total 116.00 €... palitando os dentes, pediram para enviar a conta, pois era uma “refeição em serviço”. - Quem enternece pelas respostas do líder Cavaco Silva: sobre a dupla personalidade cidadão / presidente da República: “é muito diferente do Aníbal Cavaco Silva. Eu gosto de uma vida simples. Gosto de comida simples. Sopa de feijão. O bacalhau cozido. O peixe assado na brasa. Gosto de passear com a minha mulher à beira-mar”; no Luxemburgo, sobre a recandidatura: “o futuro a Deus pertence. Falta tanto tempo. Um ano. 12 meses. 369 dias. Falta ainda muito tempo er… er… os senhores não acreditam aquilo que eu digo e por isso eu não insisto, é assunto em relação ao qual, eu não dediquei ainda um minuto da minha ponderação”; – os “doutores vira o bico ao prego” (“spin doctors”) ordenaram-lhe conte anedotas e sorria muito e ele zarpou de Belém em campanha eleitoral (mas é segredo: "tabu", como ele diz).