Gambozinos
No dia 18 de Julho de 1969, Richard Nixon, numa mensagem ao Congresso, fez contas à vida… no planeta. Relatou que, no ano de 1830, um bilião de seres humanos palmilhavam a Terra. Em 1930, o número subira para dois biliões. Em 1960, para três biliões. E, nos seus dias, a contabilidade de almas ia em três biliões e meio. Ele trocou por miúdos. Ou seja, a Humanidade demorou milhares de anos para produzir o primeiro bilião de cabeças, mas depois tomou-lhe o ferro nos dentes e apressou o passo. Um século bastou para o segundo bilião, trinta anos para o terceiro, e o quarto bilião será gerado em apenas quinze anos. Nixon previa sete biliões de habitantes para o final do século XX. Falhou por pouco. (É muito gaiteiro).
[Gaita irlandesa tocada por Séamus Ennis, considerado um virtuoso da “uilleann pipe”. Na década de 50 seria um dos percursores do folk britânico. Outro fundador da música folclórica britânica moderna foi Ewan MacColl, escritor de canções, dramaturgo, actor, poeta, com ficha no MI5, por ligações aos comunistas, e pai de Kristy MacColl – (ela com os The Pogues). Ewan causou escândalo em 1956, por encetar uma relação com Peggy Seeger, ao mesmo tempo que mantinha a segunda mulher, mãe de Kristy e do irmão, Hamish. Peggy, meia-irmã de Pete Seeger, nos anos 50, em pleno macartismo, visita a China, como represália o Governo americano retira-lhe o passaporte. Ela decide ir viver para a Inglaterra onde tocava banjo. Conheceu Ewan, vinte anos mais velho, durante um espectáculo e começaram uma relação de três décadas. – Ewan MacColl em “My Old Man”; com Peggy em “Hughie the Graeme”. Peggy Seeger, num comício contra a guerra de Tony Blair, em Albert Square].
Um mundo sobrepovoado não tem apenas como consequência viajarmos mais aconchegados nos transportes públicos. George H. W. Bush, (bendito pai do melhor presidente dos Estados Unidos), em 1986 era vice-presidente doutro estupendo estadista, Ronald Reagan. Nessa qualidade, Bush Daddy coligiu um relatório sobre terrorismo. Na descrição do perfil do terrorista enumera: “grosso modo 60% da população do Terceiro Mundo tem menos de 20 anos, metade tem 15 anos ou menos. Esta pressão populacional cria uma mistura volátil de esperanças juvenis que, quando confrontadas com frustrações económicas e políticas, ajuda a formar uma grande zona de potenciais terroristas”. Os jovens, excluídos do McDonald’s, Coca-Cola e Buick, perpassam-lhes pela cabeça, ideias de choque e pavor, contra o lado certo da Humanidade. (O lado com canções de sucesso como “Cumberland Gap”).
[de Lonnie Donegan, foi a primeira canção tradicional a atingir o top britânico, em 1957. Lonnie, apelidado o “rei do skiffle”, era um escocês influenciado pelo blues e pelo jazz de Nova Orleães. – Ele em “Grand Coulee Dam”; “Hard Travelling”; “Gamblin' Man”. Os filhos, David e Peter, formam a Peter Donegan Band. O baterista desta banda é Ray Laidlaw dos Lindisfarne, conhecidos pela fusão entre o folk e o rock nos anos 70. – Eles em “Meet Me on the Corner”. No ano de 1978 com “We Can Swing Together” e “King’s Cross Blues”; “Winter Song” (1984); “Clear White Light” (1995)].
Os jovens do Primeiro Mundo, (Portugal é o único país merecedor desta designação. Os nossos pobres comem somente salmão e cherne ultracongelados), nascidos com o rabo para a lua, não lhes atormenta desejos de bombástica destruição, contentam-se com reproduzir a vida do pai biológico ou político. Pedro Passos Coelho, enquanto jovem, foi domesticado no aparelho do Partido Social-Democrata, confessou-se: “fumei haxixe e não gostei do sabor”. (Atendendo ao nível de conhecimento da realidade, na classe política, provavelmente era louro prensado). Mas nos países subdesenvolvidos, mocidade sem nada para fazer, excepto coçar a micose, com uma palhoça num subúrbio de uma metrópole, como horizonte de vida, para não cair no caldo explosivo, originador de terrorismo, requer um líder carismático: religioso, que não seja como o reverendo Jeremiah Wright; ou político, com mão forte e amigo do Ocidente. (Que não beba “Whiskey in the Jar”).
[dos The Dubliners. No começo da década de 60 chamavam-se The Ronnie Drew Group. – Em “McAlpine's Fusiliers”. Como The Dubliners – “Wecha Wailia”; Barney McKenna, depois de muitos anos de álcool, canta “I Wish I Had Someone To Love Me”; também tocaram com os The Pogues e André Rieu].
Na película “She” (1965), produção da Hammer Films, com os inevitáveis Peter Cushing e Christopher Lee, Ursula Andress interpreta o papel da princesa Ayesha, líder de uma cidade perdida nas montanhas, possuidora de uma chama mágica, que lhe concede imortalidade. Ayesha governa os Amahagger com mão-de-ferro, tomando decisões extremas, em nome do poder, e para o bem do povo. Ela é o equivalente, na novela de H. Rider Haggard, a Manuela Ferreira Leite, na literatura de cordel portuguesa. A Sra. Leite justifica as suas acções: “sou dama de ferro nos valores”. Ayesha também se rege por valores. Explica aos estrangeiros, que assistem horrorizados a uma bárbara execução, como sendo uma demonstração do seu poder absoluto. Perante as objecções dos abalados visitantes, sobre a moralidade de reinar através da indução do terror nos súbditos, Ayesha contra argumenta, se governar pelo medo, será pior que o mundo deles, que mata milhões em nome da Liberdade. (“The Half-Remarkable Question” – 1968).
[dos escoceses The Incredible String Band, precursores do electric folk. Designação da música tradicional celta e britânica, tocada num estilo rock, derivado da electrificação dos instrumentos. Eles em “Painting Box”; no festival de Woodstock (1969) em “This Moment”; “You Know What You Could Be” (2003)].
As sociedades exportadoras de Liberdade excluíram o cagaço das suas preocupações. Nelas não há medo de perseguições da Administração Pública, das agressões policiais, da prisão ilegal, da proliferação de impostos, de ficar sem emprego, da perda do poder de compra, da total falência pessoal. Líderes carismáticos encarregaram-se disso. Cavaco Silva, primeiro-ministro responsável pelas melhores cargas da polícia sobre a população, na época da chuva (não dourada mas adiamantada) de dinheiro da Europa, teve o condão de enterrar o país. Ele também tem uma boa explicação: “aquilo que fiz, foi na convicção que estava a fazer o melhor pelo MEU país”. De uma maneira geral, toda a população mundial teve sorte com os seus líderes. Nunca algum veio a público dizer: “eu sou um perfeito cretino. Não devia ter ocupado o cargo”. Todavia, na perspectiva daqueles que nasceram iluminados pela sabedoria do que é melhor para os outros, certos povos foram mal servidos. E, como no dizer de Mark Twain, “somos todos iguais, por dentro”, é um dever libertar esses nossos semelhantes. Aliás, a Liberdade cresce como um pão-de-ló, que em breve aparecerá um Exército de Libertação da Liberdade, para a combater. Por enquanto este é um anúncio holandês, alertando para os perigos do fogo de artifício, mas um dia, tanta Liberdade existirá, que anulará a condição de ser livre. (Lá se vai porta fora o casamento ideal, cidadão / liberdade, da Revolução Francesa. “Wedding Dress” – 1972).
[dos Pentangle, outro antecessor do electric folk. Em 1968 – “Travelling Song” e “Let No Man Steal Your Thyme”; em 1970 – “Light Flight” e “House Carpenter” e “Hunting Song”. O guitarrista formou o John Renbourn Group – em 2005 – “Great Dreams From Heaven” e “Walking The Dog” Parte 1 e Parte 2; a vocalista, Jacqui McShee, a solo em 2007 – “She Moves Through The Fair” e no Festival Folk de Cropredy].
Se os dirigentes políticos são os modernos apinários, os chefes espirituais concorrem na mesma área do entretenimento, mas lidam com outro material. Retiram a matéria-prima, para a razão da sua existência, da superstição, resultante da ignorância. A religião não é outra coisa, senão a superstição racionalizada e institucionalizada, e como a ignorância nunca abandonará o ser humano, os pastores não faltarão. Entre as crenças a la carte, os budistas ocupam um lugar especial. Eles são o Belenenses das religiões. As pessoas pertencentes a outras fés engraçam com eles, como benfiquistas e sportinguistas simpatizam com a equipa do Restelo. Angariaram fama de conhecimento e sabedoria falando por enigmas, e palavras soltas da língua páli são chupadas, no Ocidente como, rebuçados. Contudo têm uma vantagem. São amigos do seu amigo. O Dalai Lama, um líder para consumo de intelectualóides, afirmou sobre Wbush: “apesar da minha discordância com algumas das suas políticas, como pessoa, amo-o. Nós ficamos amigos imediatamente. Ele é uma pessoa muito amável”. (“Time Will Show the Wiser” – 1967).
[dos Fairport Convention, com Judy Dyble, como vocalista, substituída mais tarde por Sandy Denny. Em “Who Knows Where The Time Go”. No ano de 1970 ela já não fazia parte da banda – “The Hanging Song” (1972); “Matty Groves”; “Meet On The Ledge” (2007). Sandy Denny, após a saída, formou os Fotheringay – “Gypsy Davey”(1970). E depois enveredou por uma carreira a "Solo"; “The Quiet Joys of Brotherhood”].
Esta amizade extravasa o humano. O Núcleo de Beja, da União Budista Portuguesa, tem sede num moinho recuperado, onde venerandos mestres, embrulhados em lençóis, impregnaram de amor, compaixão e sabedoria. Os seguidores de “Udâna” (palavra de Buda), em meditação no Alentejo, para escapar ao “samsâra” (ciclo das reencarnações), quando os cofres lhes permitem fazem a “libertação de animais”. Isto é, vão ao supermercado comprar caracóis para soltar nos campos. Dizem eles, que os alentejanos são gulosos pelo molusco, mas a sua morte é cruel, atirados na escaldante caçarola, sem nenhuma preocupação paliativa. Esta compaixão pelo sofrimento impressiona tal como a sua paciência. No Japão, na cidade de Naha, no templo Shuri Kannondo, o monge Joei Yoshikuni ensina um cão a meditar. O cão, um Chihuahua, chamado Conan, já acompanha o seu mestre juntando as patas em sinal de reverência. Excepto no Sri Lanka, onde fazem algo mais do que desenhar “thangka”, e tratam da “sankhâra” (resíduos kármicos) da etnia Tamil, o respeito por todas as formas de vida, parece ser um dominador comum nos simpáticos budistas. (“Gaudete”).
[dos Steeleye Span – “All Around My Hat” (1975); em 1987 no Festival Folk de Filadélfia – “King Henry” e “Misty Moisty Morning”. O guitarrista, Martin Carthy, considerado o padrinho da comunidade folk, influenciou Bob Dylan e Paul Simon, também tocou com a mulher Norma Waterson e a filha, Eliza Carthy. Eliza Carthy, Martin Carthy, Norma Waterson & co. Martin & Eliza Carthy – “The Wife of Usher's Well” (2001) e “Bows of London”; Eliza Carthy e Soul Rose no Festival da Primavera de Shepley (2007); Eliza Carthy & the 3/2 Five (1) e (2) (2008)].
Não admira pois a onda geral de simpatia pelo Tibete quando as câmaras de televisão focaram a tocha olímpica. O governo tibetano no exílio, em Dharamsala, na Índia, aproveitou para mandar mensagens de torturas e refugiados. Falaram de protestos pacíficos de monges contra a administração chinesa. No entanto, da cidade de Lhasa vieram imagens estranhas da contestação. Viram-se sobretudo ataques a chineses fixados no território e as suas lojas a arder. É compreensível. Mesmo os piedosos, sensíveis ao sofrimento dos outros, professos do sábio ideal “ahimsâ” (não-violência), “num dia claro”, mostrarão a sua verdadeira natureza, que enterraram sob rezas e civilização. Todos os povos anseiam por uma “noite das facas longas” para libertarem o ódio contra os seus inimigos. No Ocidente da Liberdade para dar e vender, a causa tibetana possibilitou aos protestantes profissionais uma razão de ser. Estes seres, agitadores de cartazes e t-shirts com dizeres, destrambelhados por não acertarem na fórmula da sociedade perfeita, abraçam qualquer coisa que lhes dê a sensação de lutar por um mundo melhor. E uma marcha pelas ruas é um óptimo exercício para um sono angélico. (“One of Those Days in England”).
[de Roy Harper. Ele faz parte do grupo dos puristas do folk, que tentava conciliar tradição e inovação, e criticava a submissão ao rock. Em “Drawn To The Flames” no Festival de Glastonbury (1982); “Little Lady” no filme “Made” de John Mackenzie (1972). Também pertence ao mesmo grupo Nic Jones – “Wanton Seed”. Davy Graham – “Cry Me a River” no documentário da BBC, sobre a popularidade da guitarra na Inglaterra, dirigido por Ken Russell, em 1959; no documentário “Cain's Film” (1969) de Jamie Wadhawan sobre o poeta e escritor Alex Trocchi; Davy Graham com Tony Reeves ao vivo em Janeiro de 2008; Shirley Collins e Davy Graham – “Hares on the Mountain”. E por último June Tabor – “The Water is Wide”; “Hughie Graeme” (2003); e com a Oysterband – “Love Will Tear Us Apart” (2006)].
Os atletas gregos participavam nos Jogos Olímpicos antigos nus ou de “kynodesme”, (etimologicamente a “trela do cão”. Era uma correia que imobilizava o pénis para que não atrapalhasse durante as provas desportivas). Vestidos com roupa de marca registada, nos jogos modernos, são moeda de troca política. A China esmerou-se na organização dos próximos. Querem apresentar uma festa para os olhos. As raparigas para entregar as medalhas são escolhidas segundo critérios de beleza ocidental. Têm de ser altas (entre um 1,68 m e um 1,78 m), magras, entre os 18 e 25 anos, universitárias, saudáveis e com boa aparência. Mas, pelo andar da carruagem, vão desfilar para o boneco. Os líderes mundiais, responsáveis directos pela crise económica, e por situações insuportáveis dentro dos seus próprios países, vão boicotar a cerimónia de abertura. O recém-casado Sarkozy quer condições prévias. A “das Mädchen” de Helmut Kohl, Angela Merkel, não vai. Até o bazófias Gordon Brown fica de pantufas em casa. A birra destes governantes, não fará nenhum povo sonhar com Liberdade, é mais uma reedição do mito de Sísifo. Um rotineira caça / soltura de gambozinos. Da costa americana, Wbush vai numa boa, como se fosse um rei. (“Brian Boru” – 1999. Brian Boru foi um rei irlandês do início do século XI).
[de Alan Stivell, apesar de ser francês, a sua música é de influência celta e bretã. “Tri Martolod”; “Suite Sudarmoricaine”. Com Dan Ar Braz – “Pop Plinn”. Gilles Servat / Dan Ar Braz / Stivell / TriYann formaram o grupo L'Héritage Des Celtes – “An Alarc'h” e “Borders Of Salt”].
No dia 18 de Julho de 1969, Richard Nixon, numa mensagem ao Congresso, fez contas à vida… no planeta. Relatou que, no ano de 1830, um bilião de seres humanos palmilhavam a Terra. Em 1930, o número subira para dois biliões. Em 1960, para três biliões. E, nos seus dias, a contabilidade de almas ia em três biliões e meio. Ele trocou por miúdos. Ou seja, a Humanidade demorou milhares de anos para produzir o primeiro bilião de cabeças, mas depois tomou-lhe o ferro nos dentes e apressou o passo. Um século bastou para o segundo bilião, trinta anos para o terceiro, e o quarto bilião será gerado em apenas quinze anos. Nixon previa sete biliões de habitantes para o final do século XX. Falhou por pouco. (É muito gaiteiro).
[Gaita irlandesa tocada por Séamus Ennis, considerado um virtuoso da “uilleann pipe”. Na década de 50 seria um dos percursores do folk britânico. Outro fundador da música folclórica britânica moderna foi Ewan MacColl, escritor de canções, dramaturgo, actor, poeta, com ficha no MI5, por ligações aos comunistas, e pai de Kristy MacColl – (ela com os The Pogues). Ewan causou escândalo em 1956, por encetar uma relação com Peggy Seeger, ao mesmo tempo que mantinha a segunda mulher, mãe de Kristy e do irmão, Hamish. Peggy, meia-irmã de Pete Seeger, nos anos 50, em pleno macartismo, visita a China, como represália o Governo americano retira-lhe o passaporte. Ela decide ir viver para a Inglaterra onde tocava banjo. Conheceu Ewan, vinte anos mais velho, durante um espectáculo e começaram uma relação de três décadas. – Ewan MacColl em “My Old Man”; com Peggy em “Hughie the Graeme”. Peggy Seeger, num comício contra a guerra de Tony Blair, em Albert Square].
Um mundo sobrepovoado não tem apenas como consequência viajarmos mais aconchegados nos transportes públicos. George H. W. Bush, (bendito pai do melhor presidente dos Estados Unidos), em 1986 era vice-presidente doutro estupendo estadista, Ronald Reagan. Nessa qualidade, Bush Daddy coligiu um relatório sobre terrorismo. Na descrição do perfil do terrorista enumera: “grosso modo 60% da população do Terceiro Mundo tem menos de 20 anos, metade tem 15 anos ou menos. Esta pressão populacional cria uma mistura volátil de esperanças juvenis que, quando confrontadas com frustrações económicas e políticas, ajuda a formar uma grande zona de potenciais terroristas”. Os jovens, excluídos do McDonald’s, Coca-Cola e Buick, perpassam-lhes pela cabeça, ideias de choque e pavor, contra o lado certo da Humanidade. (O lado com canções de sucesso como “Cumberland Gap”).
[de Lonnie Donegan, foi a primeira canção tradicional a atingir o top britânico, em 1957. Lonnie, apelidado o “rei do skiffle”, era um escocês influenciado pelo blues e pelo jazz de Nova Orleães. – Ele em “Grand Coulee Dam”; “Hard Travelling”; “Gamblin' Man”. Os filhos, David e Peter, formam a Peter Donegan Band. O baterista desta banda é Ray Laidlaw dos Lindisfarne, conhecidos pela fusão entre o folk e o rock nos anos 70. – Eles em “Meet Me on the Corner”. No ano de 1978 com “We Can Swing Together” e “King’s Cross Blues”; “Winter Song” (1984); “Clear White Light” (1995)].
Os jovens do Primeiro Mundo, (Portugal é o único país merecedor desta designação. Os nossos pobres comem somente salmão e cherne ultracongelados), nascidos com o rabo para a lua, não lhes atormenta desejos de bombástica destruição, contentam-se com reproduzir a vida do pai biológico ou político. Pedro Passos Coelho, enquanto jovem, foi domesticado no aparelho do Partido Social-Democrata, confessou-se: “fumei haxixe e não gostei do sabor”. (Atendendo ao nível de conhecimento da realidade, na classe política, provavelmente era louro prensado). Mas nos países subdesenvolvidos, mocidade sem nada para fazer, excepto coçar a micose, com uma palhoça num subúrbio de uma metrópole, como horizonte de vida, para não cair no caldo explosivo, originador de terrorismo, requer um líder carismático: religioso, que não seja como o reverendo Jeremiah Wright; ou político, com mão forte e amigo do Ocidente. (Que não beba “Whiskey in the Jar”).
[dos The Dubliners. No começo da década de 60 chamavam-se The Ronnie Drew Group. – Em “McAlpine's Fusiliers”. Como The Dubliners – “Wecha Wailia”; Barney McKenna, depois de muitos anos de álcool, canta “I Wish I Had Someone To Love Me”; também tocaram com os The Pogues e André Rieu].
Na película “She” (1965), produção da Hammer Films, com os inevitáveis Peter Cushing e Christopher Lee, Ursula Andress interpreta o papel da princesa Ayesha, líder de uma cidade perdida nas montanhas, possuidora de uma chama mágica, que lhe concede imortalidade. Ayesha governa os Amahagger com mão-de-ferro, tomando decisões extremas, em nome do poder, e para o bem do povo. Ela é o equivalente, na novela de H. Rider Haggard, a Manuela Ferreira Leite, na literatura de cordel portuguesa. A Sra. Leite justifica as suas acções: “sou dama de ferro nos valores”. Ayesha também se rege por valores. Explica aos estrangeiros, que assistem horrorizados a uma bárbara execução, como sendo uma demonstração do seu poder absoluto. Perante as objecções dos abalados visitantes, sobre a moralidade de reinar através da indução do terror nos súbditos, Ayesha contra argumenta, se governar pelo medo, será pior que o mundo deles, que mata milhões em nome da Liberdade. (“The Half-Remarkable Question” – 1968).
[dos escoceses The Incredible String Band, precursores do electric folk. Designação da música tradicional celta e britânica, tocada num estilo rock, derivado da electrificação dos instrumentos. Eles em “Painting Box”; no festival de Woodstock (1969) em “This Moment”; “You Know What You Could Be” (2003)].
As sociedades exportadoras de Liberdade excluíram o cagaço das suas preocupações. Nelas não há medo de perseguições da Administração Pública, das agressões policiais, da prisão ilegal, da proliferação de impostos, de ficar sem emprego, da perda do poder de compra, da total falência pessoal. Líderes carismáticos encarregaram-se disso. Cavaco Silva, primeiro-ministro responsável pelas melhores cargas da polícia sobre a população, na época da chuva (não dourada mas adiamantada) de dinheiro da Europa, teve o condão de enterrar o país. Ele também tem uma boa explicação: “aquilo que fiz, foi na convicção que estava a fazer o melhor pelo MEU país”. De uma maneira geral, toda a população mundial teve sorte com os seus líderes. Nunca algum veio a público dizer: “eu sou um perfeito cretino. Não devia ter ocupado o cargo”. Todavia, na perspectiva daqueles que nasceram iluminados pela sabedoria do que é melhor para os outros, certos povos foram mal servidos. E, como no dizer de Mark Twain, “somos todos iguais, por dentro”, é um dever libertar esses nossos semelhantes. Aliás, a Liberdade cresce como um pão-de-ló, que em breve aparecerá um Exército de Libertação da Liberdade, para a combater. Por enquanto este é um anúncio holandês, alertando para os perigos do fogo de artifício, mas um dia, tanta Liberdade existirá, que anulará a condição de ser livre. (Lá se vai porta fora o casamento ideal, cidadão / liberdade, da Revolução Francesa. “Wedding Dress” – 1972).
[dos Pentangle, outro antecessor do electric folk. Em 1968 – “Travelling Song” e “Let No Man Steal Your Thyme”; em 1970 – “Light Flight” e “House Carpenter” e “Hunting Song”. O guitarrista formou o John Renbourn Group – em 2005 – “Great Dreams From Heaven” e “Walking The Dog” Parte 1 e Parte 2; a vocalista, Jacqui McShee, a solo em 2007 – “She Moves Through The Fair” e no Festival Folk de Cropredy].
Se os dirigentes políticos são os modernos apinários, os chefes espirituais concorrem na mesma área do entretenimento, mas lidam com outro material. Retiram a matéria-prima, para a razão da sua existência, da superstição, resultante da ignorância. A religião não é outra coisa, senão a superstição racionalizada e institucionalizada, e como a ignorância nunca abandonará o ser humano, os pastores não faltarão. Entre as crenças a la carte, os budistas ocupam um lugar especial. Eles são o Belenenses das religiões. As pessoas pertencentes a outras fés engraçam com eles, como benfiquistas e sportinguistas simpatizam com a equipa do Restelo. Angariaram fama de conhecimento e sabedoria falando por enigmas, e palavras soltas da língua páli são chupadas, no Ocidente como, rebuçados. Contudo têm uma vantagem. São amigos do seu amigo. O Dalai Lama, um líder para consumo de intelectualóides, afirmou sobre Wbush: “apesar da minha discordância com algumas das suas políticas, como pessoa, amo-o. Nós ficamos amigos imediatamente. Ele é uma pessoa muito amável”. (“Time Will Show the Wiser” – 1967).
[dos Fairport Convention, com Judy Dyble, como vocalista, substituída mais tarde por Sandy Denny. Em “Who Knows Where The Time Go”. No ano de 1970 ela já não fazia parte da banda – “The Hanging Song” (1972); “Matty Groves”; “Meet On The Ledge” (2007). Sandy Denny, após a saída, formou os Fotheringay – “Gypsy Davey”(1970). E depois enveredou por uma carreira a "Solo"; “The Quiet Joys of Brotherhood”].
Esta amizade extravasa o humano. O Núcleo de Beja, da União Budista Portuguesa, tem sede num moinho recuperado, onde venerandos mestres, embrulhados em lençóis, impregnaram de amor, compaixão e sabedoria. Os seguidores de “Udâna” (palavra de Buda), em meditação no Alentejo, para escapar ao “samsâra” (ciclo das reencarnações), quando os cofres lhes permitem fazem a “libertação de animais”. Isto é, vão ao supermercado comprar caracóis para soltar nos campos. Dizem eles, que os alentejanos são gulosos pelo molusco, mas a sua morte é cruel, atirados na escaldante caçarola, sem nenhuma preocupação paliativa. Esta compaixão pelo sofrimento impressiona tal como a sua paciência. No Japão, na cidade de Naha, no templo Shuri Kannondo, o monge Joei Yoshikuni ensina um cão a meditar. O cão, um Chihuahua, chamado Conan, já acompanha o seu mestre juntando as patas em sinal de reverência. Excepto no Sri Lanka, onde fazem algo mais do que desenhar “thangka”, e tratam da “sankhâra” (resíduos kármicos) da etnia Tamil, o respeito por todas as formas de vida, parece ser um dominador comum nos simpáticos budistas. (“Gaudete”).
[dos Steeleye Span – “All Around My Hat” (1975); em 1987 no Festival Folk de Filadélfia – “King Henry” e “Misty Moisty Morning”. O guitarrista, Martin Carthy, considerado o padrinho da comunidade folk, influenciou Bob Dylan e Paul Simon, também tocou com a mulher Norma Waterson e a filha, Eliza Carthy. Eliza Carthy, Martin Carthy, Norma Waterson & co. Martin & Eliza Carthy – “The Wife of Usher's Well” (2001) e “Bows of London”; Eliza Carthy e Soul Rose no Festival da Primavera de Shepley (2007); Eliza Carthy & the 3/2 Five (1) e (2) (2008)].
Não admira pois a onda geral de simpatia pelo Tibete quando as câmaras de televisão focaram a tocha olímpica. O governo tibetano no exílio, em Dharamsala, na Índia, aproveitou para mandar mensagens de torturas e refugiados. Falaram de protestos pacíficos de monges contra a administração chinesa. No entanto, da cidade de Lhasa vieram imagens estranhas da contestação. Viram-se sobretudo ataques a chineses fixados no território e as suas lojas a arder. É compreensível. Mesmo os piedosos, sensíveis ao sofrimento dos outros, professos do sábio ideal “ahimsâ” (não-violência), “num dia claro”, mostrarão a sua verdadeira natureza, que enterraram sob rezas e civilização. Todos os povos anseiam por uma “noite das facas longas” para libertarem o ódio contra os seus inimigos. No Ocidente da Liberdade para dar e vender, a causa tibetana possibilitou aos protestantes profissionais uma razão de ser. Estes seres, agitadores de cartazes e t-shirts com dizeres, destrambelhados por não acertarem na fórmula da sociedade perfeita, abraçam qualquer coisa que lhes dê a sensação de lutar por um mundo melhor. E uma marcha pelas ruas é um óptimo exercício para um sono angélico. (“One of Those Days in England”).
[de Roy Harper. Ele faz parte do grupo dos puristas do folk, que tentava conciliar tradição e inovação, e criticava a submissão ao rock. Em “Drawn To The Flames” no Festival de Glastonbury (1982); “Little Lady” no filme “Made” de John Mackenzie (1972). Também pertence ao mesmo grupo Nic Jones – “Wanton Seed”. Davy Graham – “Cry Me a River” no documentário da BBC, sobre a popularidade da guitarra na Inglaterra, dirigido por Ken Russell, em 1959; no documentário “Cain's Film” (1969) de Jamie Wadhawan sobre o poeta e escritor Alex Trocchi; Davy Graham com Tony Reeves ao vivo em Janeiro de 2008; Shirley Collins e Davy Graham – “Hares on the Mountain”. E por último June Tabor – “The Water is Wide”; “Hughie Graeme” (2003); e com a Oysterband – “Love Will Tear Us Apart” (2006)].
Os atletas gregos participavam nos Jogos Olímpicos antigos nus ou de “kynodesme”, (etimologicamente a “trela do cão”. Era uma correia que imobilizava o pénis para que não atrapalhasse durante as provas desportivas). Vestidos com roupa de marca registada, nos jogos modernos, são moeda de troca política. A China esmerou-se na organização dos próximos. Querem apresentar uma festa para os olhos. As raparigas para entregar as medalhas são escolhidas segundo critérios de beleza ocidental. Têm de ser altas (entre um 1,68 m e um 1,78 m), magras, entre os 18 e 25 anos, universitárias, saudáveis e com boa aparência. Mas, pelo andar da carruagem, vão desfilar para o boneco. Os líderes mundiais, responsáveis directos pela crise económica, e por situações insuportáveis dentro dos seus próprios países, vão boicotar a cerimónia de abertura. O recém-casado Sarkozy quer condições prévias. A “das Mädchen” de Helmut Kohl, Angela Merkel, não vai. Até o bazófias Gordon Brown fica de pantufas em casa. A birra destes governantes, não fará nenhum povo sonhar com Liberdade, é mais uma reedição do mito de Sísifo. Um rotineira caça / soltura de gambozinos. Da costa americana, Wbush vai numa boa, como se fosse um rei. (“Brian Boru” – 1999. Brian Boru foi um rei irlandês do início do século XI).
[de Alan Stivell, apesar de ser francês, a sua música é de influência celta e bretã. “Tri Martolod”; “Suite Sudarmoricaine”. Com Dan Ar Braz – “Pop Plinn”. Gilles Servat / Dan Ar Braz / Stivell / TriYann formaram o grupo L'Héritage Des Celtes – “An Alarc'h” e “Borders Of Salt”].