
.
Parte 9
.
Os quiosques dos grandes povos engonçam os fiapos da auto-estima, espessam a raigota de tremelicadas genealogias, ventanejam anélito pátrio sobre esmorecidos cidadãos [1]. Zote povo, lendo jornais, príncipes da Pérsia, faraós do Egipto, princesas Disney, é. É, obviamente, no cavaqueado Portugal – (faraute da gestão, português de sucesso no estrangeiro, Horta Osório, presidente do Lloyd’s em Londres, explica numa vinda à santa terrinha: “a pergunta, que toda a gente me faz é: Portugal vai, requerer, ajuda, externa? Esta é a pergunta que neste momento se pergunta em Londres”) – que a confusão na tabacaria, para comprar diários, aumentou com a zaragalhada de juízes recolhendo indícios para análise, na deslindação do “caso” dos voos da CIA [2]. Os jornais caprificam os magistrados lusos: jornal, bica, biscoitos, garrafinha de água, gentileza do contribuinte, amadurece-os na investigação. E, na Itália, molinham “a coisa Berlusconi” [3].
--------
[1]
[2] Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, divulga a maranha dos segredos da peritagem judicial: “obviamente o DCIAP tem feito, ou está a fazer, a análise da documentação, enfim, das notícias que têm vindo a lume a propósito dos voos da CIA… até sábado. Hoje ainda não li a imprensa, apesar de a ter ouvido, mas não li com cuidado, até sábado, enfim, eram informações genéricas, tinha a ver com o regresso de Guantánamo e não da ida para lá. Portanto, e aliás, sempre foi assumido o papel de Portugal na recepção de pessoas que tinham de, enfim, de ter um país e se quisessem optar por ele, portanto isso não tem nada a ver com os voos da CIA. O problema é para lá, até sábado não havia nada. Hoje eu sei que vêm notícias novas, vou lê-las e obviamente que serão objecto de análise”.
[3] José Saramago: “desde há vários anos, a coisa Berlusconi comete delitos de gravidade variável mas sempre provado. E que mais é, ele não transgride as leis, mas bem pior, com efeito fabrica-as para proteger os seus interesses públicos e privados, o do político, do empresário, e do acompanhador de menores”.
.
Berlusconi: “a Esquerda não tem gosto, mesmo quando se trata de mulheres”, apalpou a via da Direita. Os seus meetings políticos decorriam a céu aberto, nos jardins da Villa Certosa, Porto Rotondo, na Sardenha, decoração feminina, com a qualidade Gianpaolo Tarantini. Tarantini, um lúcido empresário de Bari: “a prostituição e a cocaína são a chave do sucesso na sociedade”, elucidava ele o juiz Giuseppe Scelsi, defendendo-se das acusações de corrupção, tráfico de droga e proxenetismo. Berlusconi papa mas de borla. Tarantini confirma: “apresentei-as como minhas amigas, e não disse que às vezes lhes pagava”. Num desses meetings, o paparazzo Antonello Sapparu fotografou o ex-primeiro ministro checo Mirek Topolanek, de Direita, de pau direito. Berlusconi bloqueou a publicação das fotos na Itália e Sapparu refugiou-se na Colômbia. E foi Bernard Cahen, advogado de Berlusconi em França, quem arrematou: “os métodos deste fotógrafo sardenho não conhecem escrúpulos e põem em risco a paz de espírito do Sr. Berlusconi, que pensa que a imprensa o persegue em questões do foro privado. A minha opinião? não têm qualquer impacto no panorama político italiano”, registando a “sencionalização” da imprensa dita séria: “processei o Nouvel Observateur, como já fiz à Voici, à Gala e ao Closer. Porquê? (…) O Nouvel Observateur escolheu o populismo, escolheu efectivamente aparecer como concorrente destes jornais tablóides”.
.
“As pequenas borboletas” de Berlusconi: Verónica Lario: a esposa, nos tribunais, por um divórcio com “pagamento de 4,95 milhões de dólares por mês”. Nicole Mineti: higienista dental, que lhe consertou a boca, depois dos estragos da catedral de Milão. Graziana Capone: “a Angelina Jolie de Bari”, formada em Direito. Elena Russo: actriz, “ela está praticamente desempregada”, angariava-lhe Berlusconi emprego. Karima Keyek: dançarina erótica, 17 anos, humedecida com dinheiro, um colar de diamantes de 7 000 € e um Audi desportivo. Naomi Letizia: “chamo-lhe papi, mas com certeza, ele é um segundo pai para mim”. Angela Sozio: concorrente do Big Brother que sentou no colo do papi. Mara Carfagna: modelo topless, ministra da Igualdade de Oportunidades. Barbara Matera. Patrizia D’Addario [1]. As gémeas Marianna e Manuela Ferrera. Camilla Ferrant. Eleonora Gaggio. A modelo venezuelana Aída Yéspica: “contigo vou para qualquer lado, mesmo para uma ilha deserta”, confidenciou-lhe Berlusconi.
--------
[1] Call girl no portefólio de Tarantini.
.
Pergunta: “teve algum tipo de relação precisa e pessoal com o proletariado?”; resposta de Rainer Werner Fassbinber: “relações eróticas, quer dizer, suponho? Sim, com certeza!”. Proletários na cama com realizadores de cinema. “Nas cidades capitalistas, o cinematógrafo faz actualmente parte integrante da vida quotidiana, ao mesmo nível que os banhos públicos, os restaurantes locais, a igreja ou outras instituições necessárias, louváveis ou não. A paixão pelo cinematógrafo é ditada pelo desejo de se divertir, de ver qualquer coisa de novo, de desconhecido, de rir e mesmo de chorar, não sobre os nossos próprios infortúnios, mas sobre os dos outros” Leon Trotsky em “As Questões do Modo de Vida”:
Annette Kellerman (1887-1975) – “sofrendo de uma fraqueza nas pernas que requeria pinos de sustentação, Annette começou a nadar como terapia para superar a sua deficiência, aos 15 anos, já dominava todos os cursos de natação e venceu a sua primeira corrida”. Apelidada de a “sereia australiana”, “a Vénus do mergulho”, “a mulher mais perfeitamente moldada do mundo”, “rebelou-se contra o rígido código de vestuário predominante nos fatos de banho, no início da sua carreira, argumenta que um vestido de banho longo ou calças apertadas, é pesado para a natação”. Em 1907, quando a sua tournée “chega a Bóston eventos conspiram para disparar Kellerman numa fama ainda maior. Ela é presa por vestir um revelador fato de banho, apertado, de peça única, na Revere Beach e acusada de indecência e atentado ao pudor”. O Dr. Dudley A. Sargent de Harvard, após estudar 3 000 mulheres, declarou-a em
.
Os derradeiros Ferrero Rocher de Natal: hot girls nos filmes de Natal: Lauren Graham e Billy Bob Thornton dentro do carro: “fuck me Santa. Fuck me Santa. Fuck me Santa…”, “no filme “Bad Santa” (2003) ou K. D. Aubert, a “Angelina Jolie preta”, em “Friday After Next” (2002). O Natal na Playboy. Ou o festivo girl on girl na publicidade: o anúncio, vagamente lésbico, ao Twingo Miss Sixty da Renault, proibido na Mediaset de Berlusconi e na RAI também.
O balancete dos anos: os melhores álbuns nos últimos 25 anos; com “Achtung Baby” (1991) dos Udois, no primeiro lugar, impõe-se uma exorcização auditiva com o mapa do metal, para os 10 melhores discos nacionais de 2010 não há macumba que lhe fade. As piores 20 canções roçam pelo melhor: “Who’s Your Daddy”, Joss Stone e o beatle genial Ringo Starr. Nos vídeos com a imprópria nudez: realizado por Michael Reich, “Rubber”, dos Yuck, Ariela Marin encharcada com cães: “então, foi apontado por alguém uma vez que eu estou sempre nua”.
Um ano, que as vedetas suprimiram as roupas: Paris Hilton topless num iate; por ela ter contactado com CRonaldo, a Amália da democracia, simboliza o luxo e a riqueza do Portugal século XXI. Os notáveis rabos de 2009, rachados em arredondadas batalhas: Jessica Alba vs. Kate Hudson: readquirem este ano a sua função fisiológica primária; melhores nádegas do ano: Karissa Gilham ou a brasileira Aryane Steinkopf? A beleza americana sobrevalorizada: Ashley Tisdale, exceptuada. Os fascinantes americanos: por causa dos étnicos lábios, pelos europeus tão venerados, Will Smith aconselhou o filho, Jaden, protagonista de “Karate Kid” (2010): “tenta não manteres a tua boca aberta. Se abres a boca demasiado pareces uma baleia”. A filha, Willow, sacode a cabeça: “Whip My Hair”.
As 11 fotos sexy do desporto: porque a Espanha é campeã mundial e Portugal é… Ronaldo. As novas áscuas: de Brno, República Checa, Petra Cubonova. A mulher mais escaldante: a escocesa-australiana Isla Fisher. Calendários 2011: os mais sexy, a flotilha feminina russa e… Vikki Blows, pin-up sensação britânica: site, Myspace, Twitter.
Colheita do ano: Hollywood longos 18 anos expectante [1] pela sua vitis vinifera (vinho de mesa e… de cama), mas 2010 é de vindima vitis labrusca: as vedetas do canal Disney: Demi Lovato, Selena Gomez, Brigit Mendler, Meaghan Jette Martin [2], estão legais para consumo. E, também, Kaya Scodelario, a perturbada Effy Stonem, na série inglesa de TV “Skins”: – Effy: “quer que diga às pessoas que só tirei vintes?” – Mr. Blood, o director da escola: “ pela minha experiência, miss Stonem, estamos todos a viver mentiras. A realidade, como os sofistas nos informaram de forma tão elegante, é relativa”.
--------
[1] Taylor Momsen (17 anos), vocalista dos Pretty Reckless, embora ainda ilegal, já vangloria não vãs tetas em palco.
[2] Miley Cyrus publicitava aos 15 anos: “tenho de me manter em forma, então bebo leite”; aos 17 anos, no Rock in Rio Lisboa 2010, as objectivas dos fotógrafos fixavam-lhe as mais rentáveis partes… da idade adulta; na party da maioridade fumava, não marijuana, mas salvia divinorum (“ska María pastora”, “erva de Maria”, “erva dos deuses”): “quero mais dessa merda”; planta de efeitos psicotrópicos, legal na Califórnia, que se vendeu mais do que merchadising da Hannah Montana, depois de ela chupar no cachimbo.
.
[Thomas McIntosh: “arquitecto e artista de instalações” e Emmanuel Madan: “compositor e artista de som” compõem [The User]: “retira o nome de um termo utilizado pela nossa sociedade tecnológica, especialmente nas zonas relacionadas com o design, como engenharia, arquitectura e desenvolvimento de software. O termo ‘utilizador’ objectiva e reduz a individualidade a um ideal abstracto e genérico. Esta redução é empregada sempre que a metodologia abstracta racional é aplicada a situações envolvendo pessoas reais. Os preceitos da produção em massa e as economias de escala necessitam de uma ebulição baixa da individualidade do sujeito, uma redução ao anonimato genérico e um constrangimento da diligência do sujeito e da sua possibilidade criativa” }}}}___ “Os projectos em que o duo colabora re-imagina as relações entre os sistemas tecnológicos, a cultura e as experiências humanas em formas marcantes” }}}}___ Em 1997-1999 “recrutaram três especialistas para operar um programa de computador através de um servidor que sincronizava as impressoras dot matrix e lia complexos ficheiros de texto ASCII para criar composições musicais”: resultado: “Symphony # 1 For Dot Matrix Printers”* & “Symphony # 2 For Dot Matrix Printers”: “é um trabalho que transforma tecnologia de escritório obsoleta** em instrumentos para performances musicais”*** }}}}___ Em 2000: “Silophone”: “transformaram o silo #5 num instrumento musical, instalando microfones e altifalantes no interior de quatro câmaras do elevador de armazenamento de cereais vazio, tornando-o acessível ao mundo exterior através da Internet, telefone (+1.514.844.5555) …” }}}}___ Em 2008: “Coincidence Engines”: “primeira de uma série de homenagens a György Ligeti” »»»» “Coincidence Engines One. Audio Environment 2008-9” %-- “Coincidence Engines Two. Audio Environment 2008-9” %-- “Symphony # 2 For Dot Matrix Printers”.
A música computorizada já tem chips brancos. O CSIR Mk1 / chamado CSIRAC: “um dos primeiros computadores com programa de armazenamento digital electrónico”, construído na Austrália, por Trevor Pearcey e Maston Beard, nos finais dos anos 40 do século XX, foi programado pelo matemático Geoff Hill para tocar melodias populares no início dos anos
Outras portas USB 2.0: David Cope criador de Alice (ALgorithmically Integrated Composing Environment): no seu livro “The Algorithmic Composer” (2000): “com Alice tentei iniciar estratégias que, conquanto muito provavelmente não legitimassem a inteligência (ver Turing 1950), usa processos que eu acredito paralelos a alguns dos que conduziram à inteligência”. Em 1985, noutro programa de computador, Emmy (carinhoso de EMI: Experiments in Musical Intelligence), concebeu a ópera “Cradle Falling”, desconhecendo-lhe a paternidade cyborg, os críticos rejubilaram: “obra-prima!”. Nos anos 90, Emmy pariu “a brilhante filha mais nova”, Emily Howell: “uma interface interactiva que permite comunicação musical e linguística”, que “escreve música moderna original, em vez de simplesmente recriar o estilo de uma época passada”. Cope numa entrevista sobre computadores versus humanos: “hoje, o meu programa produz música que soa como uma criação humana e que é significativa, ao menos para algumas pessoas. No futuro, haverá menos preconceito com esse tipo de coisa. Na música popular isso já acontece: muitas vezes não sabemos quem compôs certas canções, e garanto que não foram humanos. Já há artistas a ganhar muito dinheiro com elas” »»»» “Glasswork for Two Pianos and Computer-Generated Tape”.
Jóhann Jóhannsson, músico, compositor, produtor islandês: “um dos mais ambiciosos projectos é inspirado no primeiro computador trazido para a Islândia – o IBM 1401 Data Processing System – em 1964, e baseado numa gravação no computador IBM que o seu pai fez” »»»» “IBM 1401, a User's Manual Part I - IBM 1401 Processing Unit” %--“The Rocket Builder”.
Música produzia na HP ScanJet 4c's SCL (Scanner Control Language) »»»» Star Wars %-- Vivaldi %-- Beethoven %-- Nightwish }}}}___ Ou na drive de disquetes 1541 do Commodore 64.
--------
* Uma faixa de “Symphony #1”: impress@ pelos Radiohead em “Skyscape [10]”.
** Bandas de tecnologia obsoleta: “Nude”, pelo artista de vídeo James Houston: instrumentos: ZX Spectrum, impressora Epson LX-81 Dot Matrix, HP Scanjet 3c e uma matriz de discos rígidos }}}}___ Younnat, projecto do teclista da banda ucraniana Luk, Oleg Serdyuk »»»» “Dot Matrix Printer Etude” }}}}___ Mistabishi »»»» “Printer Jam” }}}}___ a australiana Sue Harding: “a minha música cresceu de um interesse contínuo nas qualidades musicais dos sons ambiente” »»»» “Dot Matrix Music” }}}}___ Cornelius »»»» “Toner” }}}}___ &&& outros periféricos }}}}___ & os Tree Wave: Paul Slocum e a vocalista Lauren Gray: instrumentos: consola Atari 2600 de 1977, computador Commodore 64 de 1983, portátil 286 PC de 1986 e uma impressora Epson Dot Matrix de 1985, todos re-programados como geradores de som »»»» “Sleep” %-- “May Banners”.