
Faça chuva! Faça sol! Neve! Orvalhe! Granize! Trambolhe o Gestor! o Governo! o Contribuinte! algo extraordinário, tão extraordinário como a entrada na Bolsa do templo Shaolin, está prestes a acontecer. As últimas doze badaladas retinirão “tlim-tlão” para um ano novo obviamente… português. Precatava o Dr. Salazar: “nunca houve uma boa dona de casa que não tivesse muito que fazer”. Este doméstico empenho nacional recompensará, na aurora da nova década, em mais-valias.
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Moscas levarão bem alto, mais alto que um mastro de 100 metros, o nome de Portugal. Os feitos das suas gentes serão cantados pelos jipes. A “memória olfactiva” dos egrégios manará dos confins, fidelizando o orgulho no presente, ouvindo-se nos cybercafés, ambientados pelos Scum of the Earth, perfumosos encómios: “cheiras a Diogo Cão” ou “a marquesa de Alorna”. Como fortes indícios da retoma as casas de penhores fecharão e a primeira estação para uma cerveja no TGV abrirá. Os cartazes publicitários entrelaçar-se-ão para desenganar os que não vêm por bem para golfe e serviço de mesa. As mulheres de armas na tropa defenderão as fronteiras do turista sem cheta. As cândidas banhar-se-ão, lavadas sim para as páginas da Maxim. A lista de espera das coisas boas que arrimarão a Portugal, não agracia apenas o árduo trabalho, mas também o facto dos melhores vaticinadores possuírem CU (Cartão Único) português. Qualquer face culta pátria é maior que Kurt Gödel e Alan Turing juntos. Estes fundiram o tutano* para provar que não existe uma teoria matemática para tudo. Aqueles são a prova vivente de que há um teoria portuguesa para tudo.
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* Ambos se suicidaram. Alan Turing, principal decifrador do código Enigma, inventor do computador, depois de um roubo na sua casa, admitiu uma relação homossexual com um dos assaltantes, acto sexual ilegal na Inglaterra, condenaram-no a prisão ou castração química. Dois anos de tratamento hormonal provocaram-lhe obesidade e depressão. Turing suicidou-se com uma maçã envenenada de cianeto tal como no seu filme favorito “Branca de Neve”. Kurt Gödel vivia no terror de ser envenenado, apenas aceitava comida da mulher Adele Nimbursky, quando ela adoeceu e foi hospitalizada, ele recusa comer e morreu de fome com 30 kg.
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Um desses estranhíssimos renques de vaticínios germinou das casas projectadas por José Sócrates, engenheiro diplomado. Comentaristas posicionados no lado certo da Arquitectura desataram o molho do escárnio e maldizer. Botaram-se abalizadas sentenciúnculas sobre elas: atentados à paisagem conquistada por D. Afonso Henriques; sacrilégios nas fragas de Nossa Senhora; heresias ao espaço expandido pelo Infante D. Henrique; coisas feias a leste do gosto português treinado no estilo clássico greco-romano laivado de mourisco. Os empréstimos bancários para aquisição de casa em Portugal destinam-se a Taj Mahal e Frank Lloyd Wright e não a mamarrachos. O horizonte estético dos portugueses aninha-se na beleza em si, depois personalizada com bandeiras nacionais nos dias do futebol, azulejos, figuras de loiça e estendais. Gosto comparável ao dos soldados americanos que só vivem em palácios de Saddam* decorados com ginásio e estúdios de TV. Razão abarracava-se nesse novelo de críticas, pois os caixotes do Eugénio dos Santos para o marquês de Pombal, património municipal, são obviamente… diferentes das casas de Sócrates.
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* Fotos de Richard Mosse.
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Outro vaticinador, “smartportuguês” no segmento dos terminais de telecomunicações, é José da Silva Lopes. Ex-ministro das Finanças de Vasco Gonçalves e Nobre da Costa, sumidade na debelação de berbicachos, prescreveu para a “crise”: “acho que se deve congelar salários acima dos salários mínimos e reduzir os salários que estão cá em cima”. Dar cartas na cura da Economia é como andar de bicicleta, quando se aprende, nunca mais se esquece. Silva Lopes inova “numa lógica de”, menos dinheiro em circulação, expande a economia de um país. Um bom vaticínio de um homem com currículo. Ele poisou como presidente do Conselho de Administração do Montepio, onde auferia 410.249,21 €/mês, e por quatro anos de estafante trabalho temporário somou mais uma pensão de cerca de 4 mil.
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Os valentes portugueses, de peito à intempérie, sorverão o seu cafezito nas esplanadas de 2010, circundados de mais-valias. Sendo formiguinhas trabalhadeiras e vaticinadores com olhão, acumulam outra mais-valia, vivem numa sociedade exclusivamente eclesiástica. E o Supremo Fã do Desporto Jesus velará pelo cumprimento do único propósito nacional o FUTEBOL. A vitória no Campeonato do Mundo é uma certeza. O espólio – taça, dinheiro, mulheres – virá para Portugal, numa batalha que nem aquecerá o Mister. Mas há mais-mais-valias. Em 2010 será esfregado o “frasco da gama”, versão local da lâmpada de Aladino, concedendo benesses, que catapultarão o optimismo, juncando o melhor ano de Portugal. Do boião largarão aviões vermelho-touro que sulcarão os capitais céus do país. Primeiro, a quermesse dos 100 anos da República, festarola da rija, um salsifré durante todo o ano, de classe, traje formal, como se o povo frequentasse um clube Playboy*, e nada de farturas, torrão de Alicante e tendas de frango assado. Segundo, a vinda do Papa, os jornais açucaram a boca para a hóstia, “Cavaco vai acompanhar toda a visita do Papa”, o acólito certo para lhe segurar o báculo e buzinar o papamóvel e, pelo ancestral desprendimento da Igreja, das coisas materiais, o “ministério das Finanças vai ser sacristia do Papa”, o homem certo, no lugar certo. E terceiro, os submarinos rasgarão o Tejo.
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(* Playboy revista de muito bons artigos fundada em 1953. Artefacto fundamental de Hugh Hefner na Revolução Sexual dos anos 60, desvendando o mistério da mulher, em papel – a Playmate do mês decorava os cacifos – e em mais carne que osso, nos clubes.
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Em 64 inaugura-se uma filial do clube Playboy em Hollywood. Hugh Hefner é um fruto da ética protestante no novo mundo: investiu 600 dólares, oito anos depois, multiplicavam-se num império no valor de 20 milhões. Mas as feministas, por regra uns coiros, nunca engoliram a exposição de carne, embora sejam os (bons) ordenados que libertam a mulher. A jornalista Gloria Steinem, para uma reportagem publicada em 1963, infiltrou-se no meio das coelhinhas, sendo contratada pelo clube de Nova Iorque. Escreveu um relato menos atractivo do ambiente, perseguições de clientes, exames médicos compulsivos, pressões para acompanhar os VIP, que resultou no documentário “A Bunny’s Tale”, em 1985. Despindo o roupão de seda, Hugh Hefner e a filha Christie defenderam a imaculabilidade e o saudável entretenimento dos clubes, e a sua acomodação aos tempos com bunnies masculinos. O “queijo” mudou-se, isto é, o mercado deslocou-se, da apreciação das curvas femininas, para a lambarice de musculados corpos masculinos. Concursos dos desactualizados queijos perderam cliques. Não mais “carne saída da Playboy”, como Jayne Mansfield, no filme “Promises! Promises!” (1963). Em vão muitas outras enregelaram a epiderme nas sessões fotográficas. La Toya Jackson, o membro da família com cara de Michael, mas com (talvez) mamas e vagina, desvestia-se como peixe. E ainda Denise Richards 10 Drew Barrymore 10 a bomba búlgara Nikoleta Lazanova 10 Malina Rojel 10 Koa Marie Turner.
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O acesso directo, a tecnologia de ponta, não sacodem o mercado do produto feminino, sobretudo desde que os gentlemen nem os loiros preferem, qualquer cor de cabelo ou carecas, marcha, o desemprego acossa as Cyber Girls da Playboy: Mariela Henderson 10 Kristen Lynn Gorano 10 Jenny Reid 10 Daniella Mugnolo 10 Addison Miller).
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2010 odisseia no Portugal. Ano maravilha, contrapartida dos outros, que ficaram em águas de robalo. Retorno do investimento absoluto nos pastorinhos. Ano de frutuosos diálogos inter-partidários do sexo oposto. O português entre gajas nuas caminhará. Cessou a estafante tarefa de pôr-se a adivinhar tetas. Até os homens umas terão.
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A chuva dourada da felicidade cairá, aquietando o clima de tensão, desmoronando totalmente as instituições do vestuário: Kamilia Dupont 10 Aida Yespica 10 Nadia del Valle 10 Lory del Santo 10 Adele Jergens (strip no filme de Roger Corman “The Day the World Ended” (1956), para os sobreviventes da terceira guerra mundial) 10 Irán Eory (actriz nascida no Irão, nas “Historias de la Frivolidad” (1967), programa de Narciso Ibáñez Serrador, para a TV espanhola) 10 Jeanne Moreau e Brigitte Bardot (no filme “Viva Maria” (1965) de Louis Malle).
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Cada português terá o “direito adquirido” a 77 virgens, seus nomes são: Katrin Kozy 10 April O'Neil 10 Teresa Moore 10 Ida Iveliz 10 Anna Benson 10 Bianca Beauchamp 10 Imogen Thomas 10 Kirsty 10 Victoria 10 Gisele 10 Vika 10 Lena 10 Camille 10 Mona 10 Nicca 10 Conie 10 Rima 10 Eden e… mais 69, (dez não são virgens), que pediram anonimato, por biscatearem também no Paraíso muçulmano.
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